Terreiro do Paço está a entrar em obras que só terminarão daqui a quase dois anos -PUBLICO-07.01.2009, Ana Henriques

Barulho, confusão e mau cheiro serão os cartões-de-visita da Praça do Comércio até 2010. António Costa mostra-se impaciente com lentidão da Sociedade Frente Tejo

Estes são os últimos dias para ver o Terreiro do Paço como ele é. Dentro em breve uma das praças mais nobres de Lisboa vai entrar em obras que só deverão terminar lá para Outubro de 2010, a tempo das comemorações do centenário da implantação da República.
São, na sua maioria, obras subterrâneas aquelas que vão decorrer daqui até à Primavera do ano que vem: trata-se de refazer o sistema de saneamento de forma a que os esgotos de mais de cem mil habitantes da cidade deixem de correr para o Tejo sem qualquer tratamento, como até aqui acontece, e de aproveitar a ocasião para renovar as condutas de abastecimento de água da zona. De caminho, são ainda reforçadas as fundações do torreão poente do Terreiro do Paço, que graças à instabilidade dos terrenos já nasceu torto. Responsáveis pela coordenação destas empreitadas, o Ministério do Ambiente e a Câmara de Lisboa estimam que elas estejam prontas na Primavera de 2010, o que deixa cerca de seis meses para o arranjo da placa central da praça e das arcadas.
O projecto arquitectónico de requalificação do Terreiro do Paço foi encomendado ao autor do Plano Director Municipal de Lisboa, Bruno Soares, mas ainda não está pronto, reconheceu ontem o presidente da sociedade responsável pela reabilitação da frente ribeirinha, Biencard Cruz, durante a cerimónia destinada a marcar o início das obras subterrâneas. Ficará tudo pronto a tempo? Biencard Cruz dá uma resposta cautelosa: "Vamos ter pronto a tempo aquilo que for possível", sendo que as arcadas e a praça central estão no rol das prioridades.
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Pandemónio que aí vem

Mas o presidente da autarquia, António Costa, mostrou-se impaciente com a lentidão da Sociedade Frente Tejo. Depois de frisar que a autarquia "aguarda com grande expectativa" os trabalhos que esta há-de desenvolver entre Santa Apolónia e o Cais do Sodré", o autarca instou a Frente Tejo a abrir rapidamente concursos para a ocupação dos espaços que estão a ser libertados pelos ministérios nos pisos térreos do Terreiro do Paço, destinados a lojas e esplanadas. "Não é preciso esperar que as obras [subterrâneas] estejam concluídas, e assim poupa-se tempo", sugeriu.
Acontece que, além de o projecto de Bruno Soares não estar pronto, o estudo de urbanismo comercial para a ocupação dos pisos térreos e das arcadas da praça também ainda não foi encomendado: está a ser seleccionado de entre vários concorrentes.
Nem António Costa nem o ministro do Ambiente escondem o pandemónio que se avizinha nos próximos tempos: cortes de trânsito, mau cheiro por causa das valas de esgoto a céu aberto, corredores especiais para peões, o centro da praça intransitável. "Mas estas intervenções vão acabar com algo que, se não fosse invisível, era um dos maiores escândalos nacionais", disse o autarca. Referia-se ao despejo dos esgotos no Tejo - que, além de tudo, é também ilegal. Tudo somado, as obras subterrâneas vão custar perto de 34 milhões de euros.
Foi há 20 anos que o então candidato social-democrata à Câmara de Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa, mergulhou no rio. Nadou, saiu... E não apanhou nenhuma doença. Preveniu-se com vacinas, que o objectivo da acção de campanha já na altura era precisamente chamar a atenção para os elevados índices de poluição do Tejo. Teve de pedir uma autorização especial: é proibido nadar no rio. O mergulho não lhe granjeou votos suficientes para ganhar a autarquia, que passou para as mãos de Jorge Sampaio. O rio, esse, continuou sujo. Até hoje.