In Diário de Notícias (8/2/2010)
por ROBERTO DORES
«Cidades, agricultura e pastorícia não são uma antítese. Mas o betão e o alcatrão estão a ganhar terreno
Criação de cavalos no centro de Lisboa - mesmo que um dos animais fuja, como aconteceu na madrugada da passada terça-feira - ou o rebanho que cruza uma aldeia entre o redil e a pastagem, passando pelo meio dos moradores, têm um significado muito semelhante para o arquitecto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles: "São as nossas origens agrícolas, que, infelizmente, estão tão esquecidas. A agricultura urbana deveria ter integração obrigatória no planeamento urbano, e o gado e a pastorícia são peças fundamentais nesse processo", alerta.
Segundo Ribeiro Telles, Portugal regista um "atraso secular" nesta matéria, o que está a provocar, garante, o despovoamento das aldeias e consequente procura dos subúrbios das grandes cidades, com elevadas concentrações humanas. Loures e Estoril, onde ainda resistem alguns pastores, depois de debandada geral das últimas décadas, são exemplos de desertificação apontados pelo arquitecto às portas de Lisboa. "Embebedamo-nos com problemas como o TGV, sem nos apercebermos da gravidade em que caiu o nosso abastecimento", insiste, defendendo que os animais domésticos "têm de ter cabimento nas nossas cidades, vilas e aldeias".
E não interessa se são "cavalos, ovelhas, galinhas ou porcos". Nem tão-pouco se atravessam aldeias, estradas ou cidades. "Os animais dão vida, porque uma terra que tenha animais, tem pastoreio, tem casas habitadas, tem escolas e futuro. Hoje só vemos velhos nas aldeias, escolas fechadas e os caminhos por onde o gado passa totalmente destruídos. Estamos a criar um deserto para viabilizar a monocultura industrial do eucalipto e do pinheiro", lamenta.
Para Ribeiro Telles, não é por acaso que as universidades americanas há muito que debatem o problema da agricultura urbana, que começou a disseminar-se por toda a parte. "É triste, mas nós não conhecemos nada desta realidade. Há quem defenda que a cidade e Lisboa não comporta vegetação e agora até há o perigo de aparecerem as casas ecológicas com telhados cobertos de plantas para haver mais espaço para construção em massa", diz o especialista.
O arquitecto admite que o debate em Portugal sobre a recuperação do pastoreio nas cidades "está mais do que feito". Porém, dá um exemplo de como todos os argumentos têm caído em saco roto: "Quando se quer promover uma parcela de terreno, põe-se uma menina bonita ao lado", refere, lamentando que ninguém invista num outdoor com os utilizadores da paisagem, que seriam os pastores. Chegámos ao cúmulo de ver placas à beira da estrada afixadas nas melhores várzeas do país", aponta.»
08/02/2010
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8 comentários:
Então mas o protegido do sr. Arquitecto Ribeiro Telles que está na vereação tem afinal feito o quê, se tudo está na mesma ou pior?
bem intencionado mas sem visão realista e sem argumentos sólidos.
É mais do que confrangedor ver este homem, que teve um percurso de referência, agora manipulado pelo "Zé", ao ponto de encomendar um "parecer" à "CARAPINHA", antiga discipula de Évora e depois à Ana Vaz Milheiro para defender o impossivel ... ou seja a intervenção no Principe Real ... Patético ...
hortas? deixem-se de paranóias e vão viver para a província se tanto gostam dela e dos seus estilos de vida
'Agricultura tão esquecida em portugal'? Não sei bem porque é que o sr. Telles diz isso. Eu, pelo contrário acho que portugal nunca deixou foi o espírito e pensamento provincianos que sempre nos caracterizaram.
De facto existe uma forte desertificação do interior em detrimento dos suburbios mas isso nada tem haver com a agricultura ou pastoricia nas cidade. Tem antes pelo facto de o governo (não querendo 'por as culpas no mesmo') não realizar investimentos de dinamização do interior, criação de infra-estruturas fixas e de transporte (que fique aqui esclarecido que sou contra a politica de uma auto-estrada por terriola para-trás-do-sol-posto, mas estou antes a referir-me a transporte colectivo, tipo comboio). O que falta aqui é uma nova filosofia de canalização de ideias e uma nova metodologia de aplicação das mesmas. Porque Portugal não é só Lisboa, Porto e 'Allgarve'.
Se é dificil o português apanhar as fezes de um cão, esperimente-se pôl-o a apanhar as fezes de um cavalo ou de um rebanho de ovelhas--
Não é desertificação é despovoamento. E as fezes dos animais são apanhadas, para adubar terras.
Lisboa sempre teve hortas e continua a ter, não sei qual o espanto. Parece que é alguma novidade.
Inúmeras cidades europeias europeias têm investido na agricultura urbana, para lazer e consumo. Veja-se o caso do Porto, com o programa "Horta à porta", com lista de espera a chegar ao milhar...Também a FAO (Food and Agriculture Organization) tem cada vez mais programas a nível mundial de incentivo à produção hortícola.
Já repararam nas laterais do IC19, pejadas de hortas de gente que, claramente, cultiva estes pedaços de terra por necessidade e não por desporto? Passem lá ao fim de semana.
Um dos senhores acima bem que podia alargar a sua cultura urbaníssima e pesquisar sobre este tema, ou melhor ainda, ir ele próprio para a província. Pelo comentário provinciano, talvez fosse mais útil com uma enxada na mão.
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