As obras de remodelação no emblemático Mercado de Campo de Ourique, em Lisboa, que desde 2006 avançam aos soluços e com paragens prolongadas, foram retomadas há dias, mas as alterações previstas estão longe de agradar às vendedoras de peixe.
"A mudança não vai trazer melhores condições, pelo contrário. Vamos ficar em espaços mais pequenos, pagando muito mais em taxas, além da água e da luz. Já andei por lá a medir e terei menos um metro", queixa-se ao JN Ana Tavares, uma das vendedoras de peixe do mercado de Campo de Ourique, sector que está a ser remodelado há quase quatro anos.
Explica que as obras de "Santa Engrácia" têm sido um tormento para os comerciantes e para a clientela, que está cada vez mais rara, muito por culpa do pó e do ruído causado pelas marteladas provenientes das obras.
O incumprimento das regras de segurança e de higiene por parte do empreiteiro da obra obrigou à paragem das obras durante muito tempo. A Câmara chamou a atenção da empresa responsável pelos trabalhos, mas esta recusou-se a fazer as alterações pretendidas pela edilidade. A rescisão do contrato foi inevitável. O piso, por exemplo, não era anti-derrapante e tratando-se de uma zona de venda de pescado, o pavimento tinha que ter estas características.
As vendedoras de peixe souberam que a empreitada estava prestes a retomar o seu curso quando o piso inadequado começou a ser retirado. "Agora vamos ter que conviver novamente com o barulho. A poeirada é deixada para o período da tarde, altura em que já não há venda de peixe", diz.
"Não sei como vou suportar tanta despesa. Isto é para acabar com a praça. Já pago 250 euros pelo espaço que ocupo e as bancas de pedra fui eu que as comprei. Disseram-nos que os preços vão duplicar", desabafa, por sua vez, Lúcia Alves, que começou a vender peixe aos 12 anos, para ajudar a mãe e hoje explora o negócio com o marido.
Na sua opinião, "algo tem que ser feito para não deixar morrer aquele que já foi um dos melhores mercados de Lisboa". Defende mesmo o alargamento do horário para garantir clientela.
Rodeados por supermercados
Deolinda Rocha ainda se lembra dos tempos em que a clientela era tanta que "nem tempo tinha para respirar". Vendedora de peixe há 37 anos no Mercado de Campo de Ourique, chegou a ter empregada para ajudar, mas hoje vende o pescado a conta-gotas.
"Não pedimos estas obras e agora querem que sejam os comerciantes a pagar, ainda por cima mais do que o dobro", sublinha, acrescentando que é sufocante a concorrência dos supermercados. "Estamos cercados por eles. São uns oito aqui à volta".
Deolinda Rocha afirma ainda que as novas bancas serão mais baixas, obrigando os vendedores a trabalhar mais curvados e que, por baixo, não há espaço para guardar as caixas do pescado.
in JN
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