Artigo de Rui Tavares no Público
"A direita é a derrotada das eleições em Lisboa. Foi uma derrota feita de mediocridade e ligeireza. Carmona Rodrigues é o símbolo desse descalabro, até na forma como finge que não é nada com ele e se oferece para governar.
Com um sexto dos votos, os comparsas de Carmona festejaram a sua vingança sobre o PSD com tal profissionalismo que, passado alguns minutos, os jornalistas lá na sede já perguntavam a Gabriela Seara o que achava da "vitória" da candidatura e chamavam a Carmona "o grande vencedor da noite". Os apoiantes gritaram "vitória". Mas qual vitória? Provavelmente, a vitória da falta de matemática e de decoro. Há dois anos, Carmona Rodrigues e o PSD tiveram juntos 42 por cento dos votos. Hoje, mesmo juntando os votos de Carmona e do PSD, não chegariam aos 30 por cento. Mas não se pode juntar estes votos, não é verdade? Carmona encarregou-se disso: envergonhou Lisboa e a sua Câmara Municipal; mergulhou-a em suspeições, favoritismos e velhacarias; destruiu o PSD na capital; está ainda amarrado a processos judiciais. Dois anos bastaram para descer de presidente eleito com 42 por cento para candidatura derrotado com apenas um sexto dos votos.
Carmona, no entanto, falou de resultado histórico e disponibilizou-se para "ajudar". Fontão de Carvalho, ex-vereador das finanças de toda a gente; Pedro Feist, ex-vereador das finanças, ex-CDS e ex-PSD; Gabriela Seara - todos falaram em "contribuir para a governação" e "cumprir tarefas". Ninguém duvida de que Carmona e os seus vereadores colocariam ao serviço do PS os mesmos talentos que usaram com o PSD, envenenando a próxima vereação com a sua incompetência, os seus processos pendentes e o seu despudor agora em roda livre - sem sequer um partido para lhes retirar a confiança política. O eleitorado foi claro: "ajudem" na oposição.
O resto da direita foi mais digna, embora desnorteada. Os seus comentadores justificavam a derrota falando da abstenção, como se apenas os eleitores de direita fossem de férias em Julho. A abstenção, meus caros amigos, não nasce do acaso: com esta espécie de candidatos, é mais do que natural que os vossos eleitores se abstenham, e se abstenham mais do que os da esquerda. Apresentar candidatos medíocres é sinal de que não se compreende a importância do que está em jogo. Acima de tudo, é uma falta de respeito pelos eleitores. Não se queixem do resultado.
Juntando todos os votos, a direita não passa de um terço do eleitorado na capital do país. É um resultado trágico, até quando comparado com as anteriores tragédias: PSD e CDS tiveram 37 por cento nas europeias e 36 por cento nas legislativas com Pedro Santana Lopes. O CDS não merece mais do que uma frase: perde o seu vereador e tem de contentar- se com cerca de metade dos votos do Bloco de Esquerda. Já o PSD sofreu uma derrota amarga que coloca Marques Mendes à mercê dos seus adversários internos.
Essa diversão vai desviar a atenção das razões mais fundas desta derrota. Entretanto, Pacheco Pereira bem tentou alegar que António Costa teve uma vitória fraca. Vejamos então se nos entendemos: António Costa fez o PS subir de 26 por cento para 30 por cento, mesmo tendo ao lado a candidatura de Helena Roseta com mais de 10 por cento. Simplesmente, a esquerda conseguiu arranjar espaço para que quatro candidaturas se apresentassem e tivessem sucesso. Foi assim que a esquerda ganhou, ponto final parágrafo."
16/07/2007
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4 comentários:
A esquerda não ganhou assim tanto. Os movimentos de cidadãos é que parecem estar em alta. A ver o que traz a nova Câmara.
The winner is!
Mr. Abstenção
E o Óscar "Arguido & Desavergonhado" vai para: Mr. Carmona Rodrigues!
RT esqueceu-se de mencionar, em toda a sua análise, o resultado da CDU.
Esquecimento ou silenciamento?
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