In Jornal de Notícias (20/7/2007)
«Candeeiros da polémica
Os moradores e comerciantes da Avenida de Madrid, uma zona residencial nas traseiras da Avenida de Roma, em Lisboa, não compreendem por que é que os candeeiros colocados em Março ainda não estão a funcionar e reclamam mais iluminação para aquela artéria. Em Março, uma empreitada de substituição dos antigos candeeiros de betão por novos candeeiros de metal foi suspensa pela Câmara de Lisboa, depois de alguns moradores e do movimento Fórum Cidadania terem contestado a troca dos postes, alegando que estavam a desfigurar a arquitectura do bairro.
Ontem, o "Fórum Cidadania" enviou para as redacções um e-mail dando conta de que a empreitada tinha sido retomada e contestando que a decisão fosse tomada numa altura de transição do Executivo. Numa visita ao bairro, o JN constatou que os trabalhos em causa se destinavam a fazer a ligação dos novos candeeiros à rede da EDP, operação que a Comissão Administrativa alegou desconhecer.
Contudo, a maioria das pessoas queixou-se de que os candeeiros antigos são "muito altos" e "dão pouca luz à rua", pelo que mostraram concordar com a mudança. José Manuel Silva, dono de um café na avenida, defende que "o que é preciso é iluminar a rua e não os prédios" e não concorda com as críticas que levaram à suspensão da obra. GP »
A Gina Pereira que me perdoe mas este artigo não foca o essencial:
1. A empreitada estava suspensa e não devia ter recomeçado sem autorização superior, que não houve. Quem ordenou o seu recomeço?
2. Os candeeiros históricos de Lisboa (sejam os de Alvalade, São João de Brito ou São João de Deus, ou sejam os de ferro, nas Avenidas Novas, Rato, etc., sejam os candeeiros propriamente ditos, sejam as consolas) têm vindo a ser substituídos nos últimos anos sem o menor critério técnico, rigor estético ou preocupação de qualidade.
As razões apontadas para as sucessivas empreitadas (que decorrem nos últimos 10 anos) de abate e substituição de candeeiros são altamente discutíveis (é errado dizer-se que os novos candeeiros são mais baratos ou que a sua manutenção é menos custosa!), quando não caricatas (se um automóvel não chocar com um candeeiro, ele não cai!; se o candeeiro ilumina mal a rua, mude-se a luminária!; se a tampa dos fios eléctricos está partida, arranje-se!; se o candeeiro está sujo e em mau estado, contrate-se quem lhe faça a respectiva manutenção!).
3. Os candeeiros históricos de Lisboa têm vindo a ser substituídos sem que ninguém tenha feito nada em contrário, e sempre com o mesmo denominador comum: a empresa Visabeira.
4. Já é tempo dos lisboetas terem respeito pelo seu património. E já é tempo de acabar com trafulhices a vários níveis. Isso só tem sido possível porque a CML não dispõe de um Regulamento do Espaço Público. Tudo começa por um Regulamento.
Enquanto tal não existir continuarems a ver candeeiros da CML a decorar jardins de funcionários da CML.
20/07/2007
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3 comentários:
Concordo.
Em qualquer cidade europeia se preserva a memória da cidade através dos seus candeeiros.
Se os antigos não iluminavam suficientemente, isso não implica abatê-los. Trata-se apenas de mudar a iluminação ou melhorar.
As sucessivas CML tratam lisboa como se a parte histórica se resumisse a alguns bairros, transformando o resto em mero subúrbio.
Esquecem-se que a proximas zonas históricas serão a av. roma, alvalade etc.
Os moradores da avenida de madrid (e eu conheço bastantes) são favoráveis a melhor iluminção, o que não quer dizer o abate dos antigos e a instalação de palitos inestéticos.
É claro que se a CML apenas lhes der opção entre má iluminação e novos candeeiros, a resposta é fácil. Esquecem-se da terceira via...
Que fique bem claro, que nada temos contra uma remodelação da iluminação pública na freguesia de São João de Deus - a questão central nesta empreitada é a falta de consideração pelos critérios históricos e estéticos que também devem orientar este tipo de intervenções no espaço público. Qualquer pessoa, devidamente informada, sabe que não podemos instalar qualquer tipo de candeeiros em qualquer bairro/avenida de Lisboa. Mas é isso precisamente que está a acontecer na Av. de Madrid e um pouco por toda a cidade.
Já anteriormente se divulgou neste blog fotografias de exemplos do que NÃO deve ser feito mas que, infelizmente já é uma realidade em algumas artérias da freguesia de S. João de Deus.
É lamentável que, em Portugal, ainda seja preciso explicar coisas tão simples quanto "integração do mobiliário urbano na arquitectura da cidade". A iluminação pública deve adaptar-se às pré-existências (neste caso um bairro da década de 40) e nunca o contrário. Insistir na lógica do "Pau para toda a obra" envergonha Lisboa.
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