06/02/2010

REPÚBLICA DE FACHADA: Rua Ivens 21 a 33


A Rua Ivens parece estar condenada a ficar reduzida a bonitas fachadas pombalinas. A recente demolição do imóvel com os números 21-25 e 27-33 é mais um exemplo a juntar à longa lista de vítimas de "fachadismo". Este Loteamento (51/URB/2004) foi aprovado pela Vereadora Eduarda Napoleão em 17 de Maio de 2005 com vista à construção de apartamentos de luxo.

O Processo 1360/EDI/2005 (alterações e construções) teve projecto de arquitectura aprovado em 5 de Junho de 2006 pela Vereadora Gabriela Seara. O licenciamento foi deferido em 10 de Fevereiro de 2009. O Proc. 1998/EDI/2006, para demolições com contenção de fachada, foi aprovado também a 10 Fevereiro de 2009.

O estacionamento da praxe, a raíz principal da escolha da demolição, atinge neste projecto uma escala obscena. A CML aprovou a execução de sete caves para estacionamento! É a preversão do conceito de reabilitação de centros históricos. Um imóvel de habitação pombalino, com 5 pisos, vai com este projecto ficar reduzido a uma fachada que depois irá esconder uma construção nova com mais pisos para estacionar carros do que para pessoas habitarem. Imóvel de Interesse Público? Conservação do Património? Reabitar o Centro Histórico? Mobilidade Sustentável?

Um detalhe denunciador da ganância do promotor: no decorrer da apreciação do plano de escavação e contenção periférica, foi necessário reduzir a área de implantação da cave -7. Porquê? Devido à existência das instalações do Metropolitano de Lisboa! Não deixa de ser uma ironia bem reveladora da má gestão da nossa capital: dezenas de viaturas de transporte particular irão ficar, literalmente, por cima de uma estação de Metropolitano onde se cruzam duas linhas (já para não falar das dezenas de autocarros que servem a zona).

O IGESPAR? A única exigência, para além da óbvia superficial manutenção da fachada, foi a de reconstruir o núcleo de escadas e conservação de azulejos. Quanto à gaiola pombalina, um dos critérios para a classificação da Arquitectura pombalina como de Interesse Nacional, foi mais uma vez ignorada. Raramente se reconstroi a gaiola pombalina - e quando isso acontece é na maior parte das vezes por iniciativa do promotor. Quando é que a CML / IGESPAR irão ouvir as recomendações dos especialistas e passar a valorizar efectivamente o sistema estrutural pombalino? A sua manutenção/recuperação - ou reconstrução quando o estado de conservação é mau - devia ser um dos critérios para a Baixa e Chiado. De cada vez que deixamos destruir uma gaiola pombalina Lisboa fica mais pobre.

8 comentários:

Anónimo disse...

A gaiola pombalina não passa de uma estrutura interna, escondida por baixo de todo o estoco das paredes. Não me parece que seja o ponto fulcral.

Anónimo disse...

vergonha, é a unica coisa que me vai á cabeça.

lmm disse...

Deixando de lado a questão do fachadismo, com a qual também não concordo (mas o que se diria aqui se nem se mantivessem as fachadas? talvez que a preservação das fachadas fosse imperativa!....adiante), há uma coisa que ainda não percebi. A sanha persecutória contra o estacionamento criado nos edifícios reabilitados. E não o percebo devido a algumas razões:

1. Uma dos temas mais queridos do Cidadania LX não é o facto de Lx ser uma cidade feita para os carros? Estacionemento não ajuda a libertar as ruas dos carros?

2. O estacionamento não ajuda a que as ruas envolventes possam ser melhor disfrutadas pelo peão?

3. Querem que Lx seja habitada no seu centro, mas é inaceitável oferecer estacionamento abundante?

4. Quer-se forçar as pessoas a mudarem radicalmente de estilo de vida e trocarem o carro por outra forma de locomoção? Ideia com mérito, mas claramente irrealista...

A meu ver, se não houver estacionamento, as pessoas não compram casas. Ou se comprarem,irão ocupar as ruas com os carros, se tal for possível.

Se as pessoas não compram casas, estas não são reabilitadas.

Se as casas não são reabilitadas, o centro e a cidade degrada-se.

Se a cidade se degrada, será mais uma razão para não se se comprar casas.

Pode ser que aí, tenhamos uma cidade livre de carros...O problema é que também será livre de pessoas.

Luís Marques

Anónimo disse...

Será fulcral em caso de sismos uma vez que a estrutura deixa de se comportar como uma peça única.

Anónimo disse...

lmm

É tão óbvio tudo o que escreveu que muitas vezes penso que são alguns pretensos defensores da cidade que a estão a matar, com ideias perfeitamente idiotas.

Anónimo disse...

o carro não serve apenas para ir para o trabalho... eu moro num edifício na zona histórica que foi desventrado, a fachada mantida, e claro que tem estacionamento. se não tivesse nunca teria comprado. nunca ando de carro durante a semana. levo os miúdos à escola a pé. compro quase tudo nas lojas da rua. tenho vários cartões Lisboa Viva que uso nos transportes públicos. mas no fim de semana costumo pegar no carro e ir passear ou visitar família fora de Lisboa.

Xico disse...

Toda a razão lmm.

Tambem já não predios do tempo da ocupação muçulmana e ninguem se queixa.

Por mim as fachadas velhas tambem iam abaixo e fazia-se os predios novos exactamente iguais ao que eram.

Anónimo disse...

Sem palavras!

E pensar que actualmente havia mais respeito pelo património...