03/07/2007

«Eleições Viciadas» questiona autárquicas de 2001 em Lisboa

"Os resultados eleitorais para a Câmara de Lisboa anunciados pelas entidades oficiais na noite de 16 de Dezembro de 2001 «não coincidiram com os valores constantes das actas das secções de voto», revela o livro «Eleições Viciadas».

Da autoria do jornalista João Ramos de Almeida, o livro, colocado hoje à venda, é o resultado de uma investigação às eleições autárquicas de 16 de Dezembro de 2001, em que o social-democrata Pedro Santana Lopes conquistou a Câmara de Lisboa e derrotou o socialista João Soares por 856 votos, contribuindo assim para a demissão do primeiro-ministro de então, António Guterres.

João Ramos de Almeida, que escreveu o livro partindo das suspeitas de Alberto Silva Lopes (entretanto falecido), salienta que «alguém, algures entre o apuramento nas freguesias e a comunicação ao Governo Civil, alterou os resultados eleitorais de 27 das 53 freguesias do concelho de Lisboa».

«Ao nível da secções de voto, registaram-se discrepâncias significativas entre o número dos votantes descarregados nos cadernos eleitorais e os eleitores que terão votado, segundo as actas das secções de voto», destaca a autor, adiantando que «as anomalias abrangeram 47 das 53 freguesias e cerca de metade das secções de voto do concelho de Lisboa».

O jornalista escreve ainda que o conjunto das diferenças «foi mesmo superior à vantagem de 856 voto com que a lista do social-democrata Pedro Santana Lopes venceu a noite das eleições para a Câmara Municipal de Lisboa».

O incidente na Junta de Freguesia de Marvila, que divulgou os resultados só perto das 23:00, e as mudanças nas imagens nos monitores que difundiam os resultados eleitoras são alguns dos episódios retratados por João Ramos de Almeida, que fez uma análise dos documentos eleitorais e falou com responsáveis pelo acto eleitoral.

O autor do livro escreve igualmente que «apenas é possível afirmar que não há certezas sobre qual terá sido efectivamente o resultado final das eleições autárquicas em Lisboa, sobretudo devido ao deficiente trabalho das assembleias de apuramento geral».

Ramos de Almeida realça que «o vasto conjunto de irregularidades detectadas não é suficiente para acusar alguma lista ou dirigentes», uma vez que os boletins de voto foram destruídos em 2002.

«Não se pode ser categórico e afirmar que apenas uma lista violou a lei eleitoral. Muito menos se poderá concluir que Pedro Santana Lopes ocupou indevidamente a cadeira de presidente da Câmara Municipal», escreve o autor.

Com este livro, o jornalista pretende alertar para a «extrema fragilidade em que decorre todo o processo de escrutínio eleitoral».

De acordo com o autor, «é mesmo muito fácil defraudar eleições».

Em combates eleitorais, nos quais por um voto se ganha, por um voto se perde, «a vitória poderá pertencer à força política que estiver disposta a defraudar as eleições», salientou Ramos de Almeida, adiantando que «garantir a verdade eleitoral é o primeiro acto da democracia».

A investigação do Ministério Público, desencadeada após suspeita de fraude eleitoral, produziu 14 volumes e, de acordo com o processo, «os indícios revelam-se fundados»"

2 comentários:

Nuno Santos Silva disse...

Esta situação apenas me surpreende pela falta de repercussão que teve.
Logo na altura se falou nisso, creio mesmo que João Soares denunciou essa situação, mas ter-se-á conformado com o resultado.
Nunca percebi porquê.

Anónimo disse...

O escandalo maior chamou-se Junta de Freguesia de Alvalade, onde os resultados nunca foram reconhecidos.