19/03/2010

Ainda sobre o mono do Rato

É bom que o promotor saiba que a população está CONTRA aquele prédio ser construído naquele local. E é bom que a CML saiba que PODE CONTAR com a população (pelo menos pela parte que nos toca, aqui) nesta batalha, para o que der e vier.

E está contra aquele prédio ali, por contra o agravamento da descaracterização da cidade, ano após ano, sem respeito por nada; zona histórica ou zona consolidada, tem sido sempre a eito. É disso que se trata, independentemente das eventuais ilegalidades, erros e omissões de parte a parte. São anos a mais de descaracterização continuada. As pessoas estão fartas! E uma CML ao lado dos lisboetas, ai isso há muito, muito tempo que não existe, e já é tempo de existir.

26 comentários:

Julio Amorim disse...

Olhando para a imagem, aquele prédio lá ao fundo...ainda é bem pior !

Francisco Costa disse...

Caro Paulo, vou tratar-te por tu, porque tu tomaste a iniciativa de tomar posições em meu nome, sem eu saber e com as quais eu não concordo, e se tens essa confiança comigo é o mínimo que posso fazer por ti.

Tenho uma série de perguntas para te fazer:

Qual população? Quem é que te legitimou e de que forma para representar a população de Lisboa? Foste a votos? Então fala por ti ou cala-te.
Onde estavas tu quando foi aprovado e construído o mamarracho do Taveira a eixo da Fontes Pereira de Melo, na Praça Duque de Saldanha. Esse era o maior atentado à nossa cidade até começar a ser construída a Igreja do Restelo do Troufa! O que fizeste tu para parar estas obras que já hoje avançam a grande ritmo?

Entre estes dois atentados e o projecto do Rato vai todo um universo, que pelos vistos tu desconheces. Chama-se Arquitectura.

1º. O Largo do Rato hoje não é nada. Como espaço público é um amontoado de muros de azulejos e 9 faixas de rodagem. Nem uma auto-estrada tem tantas. Ironia ou não das melhores coisinhas que lá se encontram é o edifício sede do PS. No lote em questão existe hoje um edifício medíocre e degradado que vira as suas traseiras para o próprio largo. Mais atrás um mamarracho pós-moderno da Fidelidade tem o dobro da altura do edifício do Ventura Terra e encosta-se a ele sem a mínima sensibilidade. Onde estavas tu a protestar quando este foi construído? E o que se encontra mesmo em frente da Federação Portuguesa de Futebol. É absolutamente asqueroso e mais recente. Protestaste contra este também?

O Slogan “Salvem o Largo do Rato” aqui tanto utilizado é errado logo à nascença pois não há lá nada para salvar. É preciso existir alguma qualidade num espaço para que ele possa efectivamente ser salvo.

2º Não conheço nem o projecto em profundidade, nem sequer li qualquer memória descritiva, tenho apenas visto as imagens que ilustram as notícias dos jornais e vi uma vez de passagem uma maqueta numa exposição da Trienal de Arquitectura de Lisboa.
Não sendo um projecto de rasgo genial (e que perigosos podem ser esses), apesar disso reconheço-lhe algumas qualidades.
Se não vejamos: Faz o fecho do quarteirão onde se insere, materializando-se como uma grande pedra de fecho compacta ou um cunhal, que por ser ao mesmo tempo revestido a pedra reforça esta ideia e as relações que estabelece com a envolvente – O muro em pedra da Procuradoria Geral da República, e mais a cima o enorme volume de pedra da mãe de água.
O Edifício eleva-se do chão já no Largo do Rato de forma a criar um acontecimento que proporcione um lugar de estadia minimamente qualificado, que hoje claramente não existe no Largo do Rato.
Respeita a cércea dos edifícios envolventes, coisa que os mamarrachos acima citados não fazem.

3º. Segundo as tuas palavras “independentemente das eventuais ilegalidades, erros e omissões de parte a parte” depreendo que a única coisa que podias contestar, recusaste terminantemente a fazê-lo. Assim visto que aparentemente não tens conhecimento do resto (do “Universo”), não sei porque me queres representar para ladrar contra um projecto que para ti o principal crime que comete é ter alguma qualidade e ter uma assinatura. Se fosse qualquer outro projecto cuja mediocridade mais ou menos anónima é gritante, daqueles que todos os dias crescem pela nossa cidade, estavas calado.

Não te percebo Paulo, mas visto que já tens confianças comigo para me representar, juro que gostava.

A.lourenço disse...

os dois, que medo!

Ferreira arq. disse...

Claro que este 3D é do promotor.
E foi feito para PROMOVER a dita "peça", realçando as suas "mais-valias", principalmente no enquadramento.

Ora imaginem lá o enquadramento oposto, onde se vissem melhor as edificações características dessa área histórica, por exemplo as que se encontram quase escondidas do lado direito da foto!
É este "derreter" da velha urbe que é uma estupidez.

Vão lá fazer os edifícios de nova aparência, sem cuidar de património histórico ou humano, lá para mais longe... onde ainda há terreno disponível, e podem criar espaços urbanos característicos de cidades novas com fartura.
Mas não aqui, onde temos uma mais-valia a defender, bem superior aos €'s que Vªs Exªs irão capitalizar com isso.

Aliás, podem bem capitalizar muitos €'s com um projecto integrado na actual malha do local, e com respeito pela cidade velha, coisa que os autores desta "peça" muito bem sabem fazer, se for isso que lhes derem para fazer!

Respeitar e valorizar a cidade não é estropiar da mesma a capitalização imediata de uma maximização de áreas.
É valorizá-la no seu conjunto, e com isso valorizar o próprio edifício e a cidade.

È isso que aqui deveria acontecer, pois não estamos noutro local: - estamos no Largo do Rato, uma das velhas e principais praças da cidade que, embora transformada em cruzamento de vias automóveis, continua a ter o seu carisma; e a ser uma das principais entradas da velha cidade.

Até a própria configuração da volumetria deste edifício se assemelha à "ponta de lança", que vai penetrar o velho burgo.

Este poderá ser um bom edifício numa nova praça, que poderão muito bem criar em qualquer área nova.

E com isto não digo que uma obra nova, aqui, tenha que ser uma imitação de um dos velhos prédios, porque nem sequer o deve ser.

Mas deve ter algo do carinho, da escala, da história, da vivência deste local.
Ou seja: - tem que respeitar o local e a população da cidade - e com isso não perderá a sua dignidade!

E não acuso este edifício de falta de dignidade; acuso de falta de identidade local! Estará tão bem num arrabalde de Lisboa, como em qualquer arrabalde de uma outra cidade europeia ou americana, onde se faça uma PRAÇA NOVA.

Cabe aos senhores Vereadores mandá-lo para lá.
Não o deixem ficar aqui.

Xico disse...

Em minha opinião ficam os dois bem.

Filipe Melo Sousa disse...

eu sou morador, e não sou contra o projecto

Julio Amorim disse...

"Faz o fecho do quarteirão onde se insere, materializando-se como uma grande pedra de fecho compacta ou um cunhal, que por ser ao mesmo tempo revestido a pedra reforça esta ideia e as relações que estabelece com a envolvente – O muro em pedra da Procuradoria Geral da República, e mais a cima o enorme volume de pedra da mãe de água. "

Puhhhh...gabo-lhe a imaginação Sr. Francisco !!!!
....mas continuo com a impressão de que o que lá está hoje, está ainda melhor em termos de cérceas....e envolvente !?

M Isabel G disse...

A zona do Rato está miserável. zona de atravessamento caótica, tudo horrível, um descampado.
Não precisava daquele mono para ficar pior.
Ainda não percebi esta pulsão nacional para a fealdade e para a criação de zonas abarracadas.

Anónimo disse...

Apoiado Francisco, subscrevo integralmente e não diria melhor!

Não percebo o complexo do "o pédio até não é feio... mas noutro lugar"!

Não percebem que este edifício "É" este local, ele reflete uma leitura deste local como ele é hoje e não uma visão româmtica de um Largo do Rato com carroças saloias cheias de couves e varinas de cesto á cabeça.

f.

Julio Amorim disse...

....pois é Sr. f., a mesma retórica que se poderia aplicar a qualquer bairro histórico de Lisboa...
"carroças saloias cheias de couves e varinas de cesto á cabeça."

Parece que os "complexos" andam por outras paragens...!?

Francisco Costa disse...

Não, caro Júlio, não pode. Concordarei consigo numa situação em que existe reconhecidamente uma qualidade individual ou colectiva do edificado como património construído, que este deve ser a todo o custo preservado. Como expliquei extensamente em cima, não é aqui o caso. O edifício que existe hoje no lote em questão é medíocre e o conjunto em que este se insere também. Diga-me sffv que qualidades tem hoje o largo do rato como espaço público?! Além disso o conjunto do edificado há muito que perdeu uma qualquer unidade que pudesse existir.

Se quiser viver entre "carroças saloias cheias de couves e varinas de cesto á cabeça" já não pode, porque felizmente a evolução da humanidade já as elevou a uma condição de vida mais digna. Mas se quiser viver por entre ruínas pode sempre ir para Conímbriga e ser feliz.

Uma cidade que não sabe evoluir e substituir aquilo que não têm objectivamente qualidade por qualquer coisa melhor, pura e simplesmente morre.

Julio Amorim disse...

Não defendo o edificado que vai ser substituído....mas critico o que o vai substituir....

"Diga-me sffv que qualidades tem hoje o largo do rato como espaço público?!"

A falta das tais "qualidades" não depende do edificado existente e, sobre isso, já algo aqui se escreveu:

http://cidadanialx.blogspot.com/2009/09/ex-pessimos-de-espaco-publico-4.html

Já agora diga-me sffv que qualidades terá o largo do rato como espaço público (só) após a construção deste edifício?!

Anónimo disse...

Bem, caro Júlio:

Em reposta à sua pergunta, julgo que o Largo do Rato após a construção deste edificio, sairá a ganhar.

Tomo de empréstimo as palavras do Francisco: "O Edifício eleva-se do chão (...) de forma a criar um acontecimento que proporcione um lugar de estadia minimamente qualificado, que hoje claramente não existe no Largo do Rato" - precisamente aquilo que a entrada do metro não soube fazer, em nenhum dos três pontos, quer aqui, quer junto à Igreja, quer com o elevador junto à sede do PS.

Ganha habitação (e habitantes), 45 fogos - o que entre escritórios e armazéns de lojas, devem ser mais do que todos aqueles que se encontram actualmente habitados no largo.

Ganha carácter e identidade, e um remate para a ferida aberta pela pela Rua Alexandre Herculano que nunca se soube rematar (esta junto com a Rua D. João V e a Av. Álavares Cabral destruíram quaisquer vestígio que pudesse haver do Largo castiço, porta da cidade até ao séc XIX).

... e talvez assim, ganhe o impulso necessário para se reinventar o Largo, como Praça e não como nó rodoviário.

cumps.
f.

Xico disse...

Até que enfim uma opinião decente. Obrigado f. 2:32PM.

Anónimo disse...

Ganha habitação, concordo; ganha habitantes, discordo totalmente. Lisboa perde 10.000 habitantes/ano e não será certamente este prédio que vai contribuir para o seu retorno, nem outros projectos com "assinatura", porque os mesmos estão inacessíveis a 95% da população portuguesa.
Os 100.000 habitantes perdidos na última década não mais regressarão a Lisboa. A cidade tem de ser redimensionada à sua nova escala populacional e precisa de mais espaços verdes, melhor mobilidade e reabilitação urbana, tudo isto considerando as reais necessidades e procura do mercadoa e a custos mais ou menos controlados.
Luís Alexandre

Anónimo disse...

Luís:

Comecemos por trazer 45 famílias, abastadas é certo, para o Largo do Rato, é um princípio não?

Ou vamos "cuspir na sopa" e dizer que não os queremos cá porque são ricos?

E se um jardim com pouco mais de 500 m² (a custar 1,8 milhões de Euros) faz tanta diferença que se abra ao publico o Jardim da PGR...

f.

Xico disse...

Luís Alexandre tem razão que a maioria desses moradores já não vão voltar para Lisboa. Contrairam emprestimos para o resto da vida. Mas Lisboa vai continuar a receber habitantes que vão esvaziando o resto do país. Lisboa tem que continuar a criar habitações, não é dizer: se os habitantes se vão embora as casas já não fazem falta! Vão uns mas vêm outros, embora o saldo final seja negativo.
Há ainda outro fenómeno: a maioria da população de Lisboa é idosa, a maioria dos que vão viver para os novos apartamentos são adultos com crianças. Sempre jevunescem a população. Lisboa nem precisa de perder jovens habitantes para a periferia para a população diminuir. O numero de mortes em Lisboa é bastante superior ao de nascimentos.

Luís Alexandre disse...

Caro "f.",
Naturalmente não quereria nunca cuspir na sopa e gostaria muito de ver Lisboa com os tais 500.000/600.000 habitantes, de todos os extractos sociais. No entanto, e como referi, não é com projectos destes que se irá recuperar a população perdida, mesmo sendo abastada.
Pessoalmente aliás, e mesmo se fosse abastado, o Largo do Rato seria o último local de Lisboa onde gostaria de morar, tanto mais que uns metros acima, está o Jardim das Amoreiras, que é, para mim, um dos locais mais agradáveis de Lisboa (mas também um dos mais caros).
Na zona do Jardim das Amoreiras salvo raras excepções (refiro-me ao Pateo Bagatela e aos terrenos do antigo "Maristas") reabilitou-se quase todo o edificado degradado existente.
Aliás, neste pedaço de Lisboa, verificou-se o maior caso de sucesso de reabilitação de uma zona de Lisboa. Para quem não se recorda ou não sabe, nos anos 80 início de 90 o Jardim das Amoreiras era uma zona decadente, com muitas bolsas de pobreza (o actual pateo bagatela albergava então dezenas de famílias em poucos m2), toxicodependência e alguma criminalidade e em 20 anos tudo mudou.

Anónimo disse...

Pois, caro Luís Alexandre:

Mas aí tudo mudou com novos habitantes de classes favorecidas. Eu também gostaria de morar "na zona do Jardim das Amoreiras", pena é haver lá um "MONO" - o edifício do Arqº Carilho da Graça no gaveto da Travessa da Fábrica das Sedas com a Rua João da Penha (se não conhece pode vê-lo em http://www.panoramio.com/photo/15607128)...

Aposto que esse como tem "assinatura" também é condenável e como não tem a janelinha-beirado-telhadinho, não cumpre os requistos para pasar no crivo aqui dos Critícos de Arquitectura.

Falo nele porque esse é (outro) bom exemplo de como a boa Arquitectura é sempre qualificadora do espaço onde se insere, seja ele cidade histórica, cidade nova, ou não-cidade. Pela sua diferência cria momentos de "dialógo" com os seus vizinhos e o diálogo não surge quando todos falam em coro.

cumps.
f.

PS - Luís Alexandre, numa coisa dou-lhe toda a razão, eu por muito abastado que fosses, não gostaria de morar no Largo do Rato, aquilo é um nó rodoviário sempre congestionado - barulhento e sujo. Mas olhe que no Edifício do Rato os apartamentos da Rua do Salitre com vista para Sul sobre a Rua da Escola Politécnica e o jardim da PGR devem ser sublimes.

Anónimo disse...

Pois é; para gáudio de uns (poucos), destrói-se a cidade dos outros...

Arq. Luís Marques da silva disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Arq. Luís Marques da silva disse...

Esse tipo de argumentação falasiosa e ridicularizante de que aqueles que estão contra a construção do denominado "mono", quererem edifícios de "telhadinho-beirado-janelinha", não colhe por aqui:
Nunca ouviu defender, esse tipo de proposta para o local.
O que aqui sempre se defendeu é que uma intervenção, independentemente da assinatura , seja feita dentro dos parâmetros legais, não estoire com a escala da cidade e do local, que se integre, que respeite a envolvente e as pessoas.

Quero lá saber das palavras e ideias justificativas "vagas", do tipo "nasce", "eleva-se" e mais outras que tal e que só servem, como memória justificativa, o intuito de quem defende o projecto, seja autor ou seja o promotor, não defendendo a qualificação do espaço e da cidade.

O exemplo que deu, do edifício do arq Carrilho da Graça, foi uma ironia mal escolhida:
É que, apesar das dúvidas que me levanta em termos urbanos e legais, remata, integra-se, não colide com a sua envolvente; antes dilui-se na zona e é isso que o torna numa boa (ou melhor), intervenção.
Os projectos para estas zonas da cidade, são tanto melhores quanto sabem respeitar o espaço integrando-se nele e não o contrário, impondo-se teimosamente a ele...

Xico disse...

Escolham o Arquitecto Taveira para fazer um predio para aí e acaba-se a discussão.

Anónimo disse...

Caro Arq.º Luis Marques da Silva:

Por falar em "palavras e ideias justificativas vagas", veja só que as qualidades que vê no edifício projectado pelo arq Carrilho da Graça, eu vejo no Edifício do Rato.

Sem tirar nem pôr, ele "remata, integra-se, não colide com a sua envolvente; antes dilui-se na zona e é isso que o torna numa boa (...)intervenção".

cumps.
f.

Arq. Luís Marques da silva disse...

Caro f.
Claro que até pode dizer que branco é preto e que preto é branco...
Está a tentar colocar o problema na subjectividade do dilema gosto/não gosto, mas não vá por aí; a integração urbana de um determinado projecto, o seu respeito pela escala humana e pela envolvente, são conceitos determinados e perfeitamente enquadrados, inclusivé pela própria legislação e aí, há diferenças nos projectos que referiu.
A verdade é que, subjacente a este projecto do largo do Rato que, em termos do gosto/não gosto e como já referi em posts anteriores, opto pela primeira, desde que noutro local, há, para além das motivações económicas especulativas que envolvem interesses variados, inconformidades legais detectadas e essas terão que ser reformuladas de modo a respeitar a legislação... E isto vai ser assim, quer queiram quer não.

Anónimo disse...

Então, a ver vamos!

Aguardo o desenrolar do processo, na C.M.L. e aqui no Blog.

cumps.
f.