07/05/2010

Contra a peixeirada no Bairro Alto, um pedido sentido: deixem as nossas cabeças descansar

In Público (7/5/2010)
Por Carlos Filipe

«Falta de estacionamento, segurança e higiene foram as principais críticas atiradas pelos munícipes em mais uma reunião descentralizada da Câmara de Lisboa

Maria Duarte Silva, de 65 anos, moradora na Rua da Atalaia, no epicentro borbulhante dos fins-de-semana no Bairro Alto, é apenas um dos munícipes que todos os dias se queixam às autoridades contra a falta de respeito de quem ali se diverte e permanentemente perturba a vida e o sono de quem ali reside. Ali, ou na Bica, no Cais do Sodré, ou em Santos, apenas alguns dos bairros históricos onde muitos se desforram do dia-a-dia até às tantas - oficialmente até às 2h, mas informalmente pela madrugada fora.

A Câmara de Lisboa ouviu-os novamente, anteontem à noite. Foram apenas 20, poucos de dez freguesias, de um universo superior a 67.500 munícipes. Mesmo assim, a sala de extracções da Santa Casa da Misericórdia foi pequena para acolher tão interessada assistência. Mas foi uma reunião pacífica, sem peixeirada, e que acabou com os vereadores a degustar línguas de bacalhau cozidas, compradas na Rua do Arsenal, gentileza de uma cidadã que também protestou, por ter o sono perturbado diariamente, não tanto pelo tecno e mais pelo prosaico ruído dos transportes públicos que entopem a artéria desde que o Cais do Sodré entrou em modo de circulação a atirar para o caótico.

Foi altura de os munícipes do Bairro Alto - uma vez mais - dizerem que estão fartos e que querem acção. Esses, e os das freguesias vizinhas, de Santa Catarina. Não só pediram respeito, como também mais policiamento, limpeza nas ruas - sempre sujas ao romper do dia - e estacionamento.

Fecha esquadra, abre esquadra

Resposta do executivo camarário? Grosso modo, as mesmas de sempre: "os senhores têm razão"; "vamos averiguar"; "o policiamento não é connosco"; "não há estacionamento para todos, mas vamos ter um novo plano"; "os graffiti vão ser erradicados"; "os jardins vão ser arranjados". Tudo isto sobre um (acertado) denominador comum: falta civismo. E, também, com uma novidade: as esquadras da PSP das Mercês e da Rua da Boavista vão fechar, mas vai abrir outra na esquina da Rua da Atalaia com a Travessa da Água da Flor. "Bem no centro do bairro", sublinhou o vereador Manuel Salgado, que dirigiu a sessão, na ausência de António Costa.

Civismo. Ora disso se queixou Maria Duarte Silva, que lhe acrescentou, num tom suplicante: "Mas precisamos de descanso para as nossas cabeças. Vivemos emparedados por bares que passam música ao vivo. É infernal..."

Manuel Salgado, de novo: "Vamos averiguar o ruído do estabelecimento. Mas noto que no último levantamento verificámos que existem 514 estabelecimentos [no Bairro Alto]. Destes, 107 são restaurantes, um é discoteca e 90 são bares. É muito difícil regular esta situação. Os interesses dos residentes colidem com os interesses de quem explora estes estabelecimentos. Os serviços têm feito o controlo do ruído e das licenças."

A senhora, porém, contra-atacou: "Mas nós precisamos de descansar. Mesmo depois das duas, quando fecham os bares, aquela gentinha fica toda na rua e continua a não haver descanso. E ficam ali os copos e as garrafas. É horrível. E quando chega a altura de parar a música é quando eles fazem muita força, muita força. E a minha cristaleira abana muito. Acho que não têm licença..."

Novamente Manuel Salgado: "A senhora tem toda a razão, vou alertar os serviços e verificar se têm licença, se não tiver licença o estabelecimento será encerrado."

Depois, Cláudia Faria, que disse morar na Baixa/Chiado há 12 anos, "por opção". Sente-se desiludida, queixando-se da limpeza, da insegurança e da falta de estacionamento. "É altura de a câmara definir a sua política: se quer a classe média de volta ao centro, ou se quer os visitantes de fim-de-semana que nos tiram os lugares."»

12 comentários:

Anónimo disse...

Não tarda nada, vão aparecer aqui os comentários do costume declarando que quem não está bem que se mude.

Anónimo disse...

Não consigo perceber como é que os interesses de quem explora bares em zonas habitacionais podem colidir com o direito ao descanso dos moradores.

Colocar as duas coisas em pé de igualdade só mesmo de uma cml como a que temos de ter.

tuga-tuga disse...

vivo numa cidade, Paris, onde mais de metade dos habitantes, da classe média-alta, não tem carro. Isto num pais muito mais desenvolvido e rico do que Portugal. E porque sera? Porque não ha estacionamentos suficientes e que nas cidades historicas nao se pode satisfazer ao lema "1 carro por pessoa" ; é assim em todas as cidades historicas desenvolvidas. Querer viver no bairro alto e exigir um lugar de estacionamento nao faz sentido.

Anónimo disse...

Mas em Paris há pelo menos uma estação de metro num raio de 500m de qualquer ponto da cidade (e arredores)...

Anónimo disse...

Pois claro, e morar no Bairro Alto e exigir sossego durante a noite também não passa pela cabeça de ninguém.

Sõ não percebo porque a deputada Inês não foi morar para lá e insiste em ir para Paris. É preciso casmurrice.

Maxwell disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Quem escreved "arcenal" vê-se logo o que tem na numa coisa que lhe fica por cima dos ombros..

Anónimo disse...

E "quém", e "nogento"...

Maxwell disse...

o anónimo das 10.33 não percebeu qual era a rua? chama-se erro não impeditivo e nem num teste de português chegaria a descontar uma milésima porque é um erro que não impede a transmissão da ideia. O anónimo talvez não tenha percebido porque 'vê-se logo o que tem na numa coisa que lhe fica por cima dos ombros'-- Mas visto que o incomoda o Arcenal eu faço-lhe o favor de re-postar o comment para o anónimo entender bem:

Maxwell disse...

E aqui vai:

Agora sou em quem pergunta: quanto é que os habitantes do bairro pagam de renda? Não se mudam porque não arranjam mais nenhum sítio onde paguem quatro ou 5€ de renda-- Temos pena.

E aquela loja de bacalhau na rua do arsenal é algo de nojento. Ontem passei lá e tive que parar uns metros à frente para conter o vómito daquele cheiro nojento. Como a ASAE ainda não a fechou, não sei.


Ao anónimo das 10.35: quem não leva acento.

Anónimo disse...

Querer viver no bairro alto e exigir um lugar de estacionamento nao faz sentido. ????? FAZ SIM SENHOR.
É QUE NEM TODOS MORAM LÁ POR OPÇÃO MAS POR NECESSIDADE OU POR ALI TEREM AS RAIZES.
HAVERIA LUGARES SE A MALTA DA NOITE NÃO INVADISSE GRATUITAMENTE E SEM FISCALIZAÇÃO OS LUGARES DISPONIVEIS
NC

Maxwell disse...

Escrever em letras maiúsculas é considerado gritar e, portanto, um acto rude em qualquer comunidade on-line. Se vive no bairro ‘por ter raízes lá’ então é mesmo opção. Pode sempre escolher sair de casa e ir para outro local mas também não estamos aqui para discutir as suas razões para lá morar. Quem sai a noite para o bairro alto e leva carro dificilmente o estaciona lá. Quem sai a noite no bairro alto deixa o carro no príncipe real e rua da escola politécnica, no parque de estacionamento do largo de Camões, na rua do alecrim/s Pedro de Alcântara. Onde são os lugares de estacionamento para os habitantes do bairro alto? Não têm uma zona de trânsito restrito apenas para moradores? Se vem falar do lixo que é deixado em cima dos carros, aí sim, tenho que concordar consigo em certa parte. Mas, se der conta são inexistentes ou bastante raros os caixotes do lixo nas ruas ‘nocturnas’ do bairro. Não o vejo a pedir por mais caixotes--