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Quercus elege desinvestimento nos transportes públicos como um dos piores factos ambientais de 2011
30.12.2011
PÚBLICO
O desinvestimento nos transportes públicos, no âmbito do plano estratégico apresentado pelo Governo, está entre os piores factos ambientais de 2011 eleitos pela associação Quercus.
A associação refere, em comunicado, o corte de linhas ferroviárias, nomeadamente no interior do país, o que “ameaça de forma irreversível a coesão territorial e também social, afectando as populações mais frágeis e aumentando o seu isolamento”. Além disso, a Quercus denuncia o fim de várias carreiras urbanas e o aumento do preço dos transportes, medidas que vão “diminuir ainda mais a competitividade dos transportes colectivos face ao transporte individual”.
A lista dos piores factos ambientais inclui também o acidente na central nuclear japonesa de Fukushima, a 11 de Março, e a continuação do Plano Nacional de Barragens que, para a associação, é uma “teimosia” do Governo. “A atitude de prosseguir com a construção da Barragem do Tua, mesmo após todos os avisos, poderá colocar o Património da Humanidade do Douro Vinhateiro em risco”.
O rol segue com o atraso superior a dois anos nos planos de região hidrográfica, a falta de fiscalização na área dos resíduos, os transvases realizados em Espanha – que “retiraram água em excesso ao rio Tejo” - e com a falta de controlo do nemátodo da madeira do pinheiro, que causa a “murchidão e um declínio acentuado nas áreas de pinhal-bravo em Portugal”.
A associação critica ainda o fim dos incentivos fiscais às energias renováveis e à eficiência energética em sede de IRS e a falta de recursos afectos ao controlo da qualidade do ar e da água, o que ameaça a saúde das populações.
Sobreiro entre o que de melhor aconteceu
Mas 2011 também ficou marcado por aspectos positivos. Na lista dos melhores factos ambientais, a Quercus coloca o “abandono de várias obras públicas que não se encontravam suficientemente justificadas e não eram realmente necessárias”. Tal é o caso do Novo Aeroporto de Lisboa e algumas das vias rodoviárias previstas, como a Estrada Regional 377-2 que iria atravessar a Mata dos Medos e as Terras da Costa.
Outro aspecto positivo foi a declaração, por unanimidade, pela Assembleia da República do sobreiro como árvore nacional, a transposição da Directiva europeia sobre resíduos e a declaração da Região Autónoma dos Açores como Zona Livre de Transgénicos.
A Quercus assinala como positiva a celebração de 2011 como Ano Internacional das Florestas e a “expansão do fenómeno das hortas urbanas (...) que alastram de Norte a Sul do país” porque, no seu entender, “promovem a eco-sustentabilidade e complementam a subsistência e/ou o rendimento das populações, para além de terem um papel relevante ao nível do lazer e coesão social”.
Para 2012, a Quercus receia a “expansão das áreas de eucalipto em Portugal e a promoção de novas plantações intensivas” e as consequências da compra da participação estatal da EDP (21,35%) pela empresa China Three Gorges. “Esta empresa chinesa foi responsável pelo polémico projecto de barragens no rio Yangtzé, denunciado pela Amnistia internacional devido à falta de respeito pelos direitos humanos e ambientais, mas sendo as condições sociais e o enquadramento legal em Portugal, substancialmente diferentes dos da China, será de acompanhar com vigilância e sentido crítico, o rumo que a EDP no seu todo irá tomar”, escreve.
A Quercus diz ficar atenta à intenção do Ministério do Ambiente em limitar a exportação de materiais recicláveis e assim defender a indústria portuguesa de reciclagem e ao reforço da “produção agrícola nacional mas de forma sustentável”.
2012 será ainda um ano “para que se opte com mais frequência, e sempre que possível, pelo transporte a pé, de bicicleta e de transportes públicos, evitando o uso do automóvel e contribuindo assim para ganhos na saúde individual e na luta contra a emissão de gases com efeito de estufa e as consequentes alterações climáticas”.
Na cena internacional, a Quercus chama a atenção para o Ano Internacional da Energia Sustentável para Todos, que se celebra em 2012, e para a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável – Rio + 20, a decorrer de 20 a 22 de Junho.
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A imagem foi acrescentada ao artigo do Público ...
António Sérgio Rosa de Carvalho
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