14/12/2011

Reflexão comparativa sobre ausência de gestão e investimento responsável sobre um estatuto adquirido ou o velho problema Luso do Prestígio de Fachada



Guimarães merece ser capital da cultura
Editorial Hoje no Público

Se há uma cidade média que merece viver a experiência de uma Capital Europeia da Cultura essa cidade é, sem dúvida, Guimarães. Porque ali, e ao contrário dos avanços e recuos impulsivos que caracterizam a gestão das principais urbes nacionais, persiste há décadas uma estratégia de valorização do património e uma agenda de investimentos culturais que teriam de dar frutos. A aposta na requalificação do magnífico centro histórico seria premiado há dez anos com a sua inscrição na lista do Património Mundial da Unesco e o investimento em eventos de classe internacional (veja-se o Guimarães Jazz, para muitos o melhor festival do país nesta área) foi gerando públicos especializados, procura crescente e envolvimento da comunidade. Perante este trabalho de baixo para cima, só um erro na gestão da Capital da Cultura poderia ameaçar a festa que hoje se inicia. Esse erro aconteceu e esteve perto de dar péssimos resultados. Mas, superado o problema, encaixados os cortes de verbas por efeito da conjuntura, a base cultural da cidade e as suas conquistas recentes fizeram o resto. Com mais património requalificado, com o envolvimento da cidade e com as relações institucionais pacificadas, Guimarães poderá ser a capital da cultura que merece.
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Comparem agora com ... o mesmo problema de “Gestão” … institucionalizado … em Portugal … ilustrado aqui com outro “caso” de gestão, e de prestígio de fachada ... referente a outra classificação de Património Mundial (Douro)...
Apesar de ..."só um erro na gestão da Capital da Cultura poderia ameaçar a festa que hoje se inicia. Esse erro aconteceu e esteve perto de dar péssimos resultados. Mas, superado o problema, encaixados os cortes de verbas por efeito da conjuntura, a base cultural da cidade e as suas conquistas recentes fizeram o resto." ...a qualidade real, resultante do investimento no Património de Guimarães ... prevaleceu …
Boa Sorte Guimarães !!
António Sérgio Rosa de Carvalho.
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Uma década perdida
Comentário por Manuel Carvalho in Público

As personalidades que hoje se reunirão no Museu do Douro para celebrar os 10 anos da região como Património Mundial hão-de falar da realidade na perspectiva do copo meio cheio. Hão-de falar na notícia do New York Times que compara o Douro à Toscana e o elege como um dos destinos a não perder, vão talvez citar números e mostrar que a oferta de hotéis disparou e que o Douro é hoje um lugar de referência no mapa do turismo. Tudo isto é verdade, mas soa a plástico. A realidade profunda é infelizmente mais dura e está bem mais perto do pesadelo do que do sonho com que muitos a querem pintar.
Olhe-se o estado do seu principal alicerce económico, o vinho. Numa década, os preços do vinho do Porto no exterior estagnaram e os valores pagos à produção caíram. Este ano, os agricultores foram obrigados a produzir menos, perdendo cerca de 22 milhões de euros. Em 2010, produziram-se 91.645 pipas de vinho do Douro, mas só se venderam 38.839. Sintoma desta crise persistente, o vale perdeu 7% da população e o envelhecimento acentuou-se (índice 158,1 contra 117,6 da média nacional).
Poderia acreditar-se que tudo isto não passa de um fenómeno conjuntural. Mas não é. O património histórico dos vinhedos antigos foi alvo de um processo de destruição que ninguém sabe avaliar porque ninguém se dispôs a cadastrá-lo e ainda menos a geri-lo. Os agricultores envelhecidos foram deixados à sua sorte, as aldeias continuaram abandonadas e se houve dinheiro para o pavoneio de certames como o Douro Film Harvest, ninguém se preocupou em ensinar aos donos de bares ou dos cafés a diferença entre um Vintage e um Colheita, ou que copos se usam para o vinho do Porto.
A região que produz a maior parte da energia hidroeléctrica e a principal marca da exportação do país fixou-se nas suas cliques e nos seus atavismos. Não mudou e continua a ser das áreas mais pobres do país. O facto de a barragem de Foz Tua ter avançado sem que a região tivesse discutido a fundo os seus riscos é sintomático de que os anos do Património Mundial pouco passaram de uma oportunidade perdida.

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