Neste espaço vai nascer um silo automóvel de três pisos
Por Ana Henriques in Público
Câmara de Lisboa diz que fica muito caro fazer o estacionamento enterrado que havia anunciado. E precisa de arranjar pelo menos 90 lugares de estacionamento para a Marinha
Destinado a aproximar Lisboa do Tejo, o projecto de requalificação da Ribeira das Naus passou a incluir a construção de um silo automóvel na zona central da frente ribeirinha.
A novidade foi divulgada ontem, na cerimónia de assinatura do auto de consignação das obras, que começam agora e se prolongarão pelo menos até ao fim do ano, numa primeira fase dos trabalhos. Se tudo correr bem, daqui a um ano vai ser possível passear à beira-rio entre o Terreiro do Paço e o Cais do Sodré.
A ideia é fazer avançar a margem para dentro do Tejo com plataformas de relva e de pedra. Também está prevista a criação de um lago no recinto da Marinha, que passará a estar aberto ao público, com os edifícios militares protegidos por um gradeamento amovível. Serão ainda postos à vista vestígios do antigo Arsenal da Ribeira das Naus.
"As duas fases do projecto representam um investimento de 10 milhões de euros, 6,5 milhões provenientes do Quadro Comunitário de Apoio e o restante de capital próprio da câmara", refere uma nota de imprensa da autarquia. Os responsáveis camarários invocam razões financeiras para terem substituído o inicialmente projectado estacionamento enterrado por um silo de três andares, entre o edifício da Marinha e a Rua do Arsenal. A zona é neste momento ocupada por um estacionamento térreo arborizado, por baixo do qual existem vestígios de um faustoso edifício do séc. XVI, o Palácio Corte Real - que deverão agora ser integrados no silo.
"O estacionamento enterrado [que estava previsto para um espaço fronteiro, junto ao Tejo] custaria dez milhões, e teria maiores custos de manutenção, enquanto o silo custa 4,5", explicou o vereador Manuel Salgado. O autarca refere-se ao silo como "uma hipótese", mas um dos arquitectos encarregues do projecto da Ribeira das Naus, João Gomes da Silva, mencionou-o durante a cerimónia como um facto assente. "Terá três andares de altura e capacidade para 300 automóveis", explicou Gomes da Silva aos jornalistas.
Já no Verão passado o presidente da câmara, António Costa, tinha admitido esta alteração: "É necessário concluir o parque urbano da Ribeira das Naus e para isso é preciso o estacionamento. Graças às condições financeiras vamos ter de ser poupados para fazer um parque à superfície e não enterrado". Ontem, o autarca não regateou elogios à Marinha, proprietária do espaço à beira-rio que vai abrir ao público. Segundo o porta-voz da Marinha, Santos Fernandes, no recinto que vai ser cedido havia espaço para 163 viaturas, parte das quais passará a ficar no novo silo. O protocolo para a requalificação da Ribeira das Naus, firmado entre a autarquia e os militares em 2010, estabelece "a cedência à Marinha, para sua utilização exclusiva, do parque de estacionamento do Largo do Corpo Santo", num total de pelo menos 90 lugares. Apesar de o silo anunciado ontem não ser o parque previsto no protocolo, o Estado-Maior da Armada garante que o acordo não foi nem vai ser revisto. A câmara não forneceu esclarecimentos sobre a matéria.
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É nítido que o EGO criador Arquitectónico e a necessidade de deixar “OBRA” marcante e assinada , custe o que custar à Cidade e e ao Erário Público, numa total ausência de elementar bom senso, continua a determinar as decisões do Vereador do Urbanismo.
Porque não, depois de tanto tempo de vergonhosa e decadente espera, simplesmente reconstituir e “cerzir”a passagem ajardinada beira-rio que existia ?
Mais construção Beira-Rio ( Silo 3 andares ) ?
Coerência...?!? ... perante afirmações anteriores, conforme o artigo seguinte do Público ilustra ...?!?
António Sérgio Rosa de Carvalho
11 comentários:
Espertos do cabeça, vão roubar espaço e destiná-lo a tonterias e depois construir um silo para 90 automóveis da Marinha!
E não é por nada, mas não me admirava nem um bocadinho que mais ano menos ano a Marinha abandonasse aquelas instalações, vendidas para se fazerem lá restaurantes, esplanadas, lojas gourmet, desfiles de moda, after-hours, essas coisas...
O planeamento para pópós é que segura a batuta...."destinado a aproximar Lisboa do Tejo"....
O dinheiro não é deles, se o fosse...
Mas o TC (ou outra entidade) não irá a tempo de travar este perfeito desconchavo?
Fiquei sem saber de facto onde vai ficar o silo. No local do actual parque de estacionamento do Corpo Santo?
Quero ver o projecto e o parecer do igespar...
O silo de três andares é para alojar os carros que terão de sair para dar lugar a um lago artificial. Nada como inventar despesas.
É com profunda tristeza e julgo estes projectos de uma enorme irresponsabilidade.
A descaracterização da Baixa Pombalina irá inviabilizar a classificação da Baixa Pombalina como Património Mundial, esta classificação permite a recuperação desta zona da cidade com fundos da UNESCOe UE.
Polvilhar a Frente Histórica Ribeirinha de Lisboa com construções e obras avulso como tem sido feito até hoje irá destruir o nosso maior armazém de memória cultural e de identidade.
Gonçalo C. Silva, arquitecto
PRECISA de meter 90 viaturas?
E os autocarros também não PRECISAM de voltar a circular pela Avenida da Ribeira das Naus, reduzindo significativamente os seus tempos de percurso e os custos que a Carris tem ao circular pela Rua do Arsenal?
CIDADE DE TRISTES!!
c´um caraças! Porra! não conseguem fazer nada sem por sempre os pópos na frente. Deixem-se de mega projectos e dêm um ar digno à zona,não é preciso grandes invenções nem gastar balurdios...
A localização de Lisboa, em colinas que se derramam sobre o lago formado pelo Tejo confere-lhe um carácter único e pouco aproveitado por lisboetas e turistas, afastados do rio por linhas de comboio, docas e contentores.
Esta situação está mais do que identificada e tem vindo a ser corrigida a norte, na zona da Expo e a poente, a partir de Alcântara, mas permanece inalterada na zona histórica com maior potencial turístico, entre o Campo das Cebolas e o Cais de Sodré, cortando os trajectos que poderiam e deveriam existir entre a Alfama, a Baixa ou o Chiado e o rio.
O projecto de recuperação da Ribeira das Naus era por isso um passo na direcção certa: Recuperava-se património, condicionava-se a circulação automóvel, ajardinavam-se os espaços em volta do Ministério da Marinha, criando percursos pedonais agradáveis, junto ao rio e entre este e a Baixa e o Chiado, através da Rua do Arsenal e da Praça do Município.
Esta obra, anunciada com grande pompa antes das últimas eleições autárquicas, está parada há um par de anos, dizem-nos que por falta de verbas, sendo apenas visíveis os cartazes que anunciam os jardins prometidos que, supostamente, iriam substituir o lamaçal do estaleiro que por lá está esquecido.
Não posso por isso deixar de manifestar a minha enorme surpresa com este anúncio, por todas as razões:
- Porque afinal há verba, já não para completar a recuperação da zona ribeirinha, mas para construir um silo para automóveis.
- Porque os previstos trajectos pedonais que deveriam ligar a Baixa e o Chiado à Ribeira da Naus, através da Praça do Município e da Rua do Arsenal são afinal interrompidos pela construção de um mamarracho de três andares.
- Porque numa zona classificada, onde ninguém pode sequer alterar uma janela, se vai autorizar a construção de um silo de três pisos.
- Porque o condicionamento de trânsito nesta zona histórica, tantas vezes defendido, será substituído por um parque de estacionamento, com o consequente e inevitável incentivo à circulação automóvel.- Porque uma alteração desta magnitude é anunciada como facto consumado, na cerimónia de adjudicação da empreitada.
- Porque esta zona está melhor servida por estacionamentos do que a maior parte da zona histórica de Lisboa, só se sentindo verdadeiramente a sua falta nas noites de copos (5ª feiras e fins de semana), o que só espelha um hábito a desincentivar, o de ir (e vir) dos copos a guiar.
- Porque esta zona está muitíssimo bem servida por transportes públicos: Passam na Rua do Arsenal 14 ou 15 carreiras de autocarros, mais 2 ou 3 de eléctricos e duas linhas de metro com 3 estações num raio de 5 minutos a pé.
Mais perigosas que os discursos contraditórios são as decisões contraditórias. Nos últimos anos, em Lisboa e não só, a palavra de ordem tem sido desviar o trânsito particular do centro da cidade. Ora, é senso comum, isso só pode conseguir-se conjugando duas medidas: a construção de parques de estacionamento periféricos e a implementação de uma rede de transportes públicos de ligação ao centro da cidade que seja realmente eficaz. Num pacote de medidas relativas à requalificação da Ribeira das Naus (entre as quais surge uma descabida praia artificial...) a zona é presenteada com o projecto de construção de um silo automóvel de 3 andares. O movimento cívico já começou: "A rua do Arsenal não quer um silo automóvel de três andares!!!" E, perdoem-me o egoísmo, Eu Também Não!
Subscrevam a petição pública contra esta aberração em:
http://www.peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=P2012N19416
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