04/01/2012
"Teríamos muita dificuldade em dar socorro adequado num incêndio como o do Chiado"
Por Ana Henriques in Público
"A vereadora dos Recursos Humanos da câmara tem sido a coveira do regimento", acusam a associação e o sindicato em comunicado enviado ao PÚBLICO
Associação Nacional de Bombeiros Profissionais faz retrato dramático das condições de trabalho dos Sapadores, que não descartam prolongar greve por tempo indeterminado
A Associação Nacional de Bombeiros Profissionais e o Sindicato Nacional de Bombeiros fazem um retrato dramático das condições de segurança da cidade de Lisboa. "Esperemos que não aconteça um incêndio como o do Chiado, porque teríamos muita dificuldade em dar o socorro adequado", diz o presidente da associação, Fernando Curto.
Numa altura em que o Regimento de Sapadores Bombeiros está a meio de uma greve de dez dias que pode vir a ser prolongada por tempo indeterminado, por causa do fim do pagamento de horas extraordinárias, o dirigente associativo chama a atenção para as consequências da falta de condições de trabalho da corporação. Em Novembro os bombeiros salvaram a vida a uma mulher encurralada pelas chamas numa varanda da Rua Barão de Sabrosa, mas o acto heróico podia ter-lhes corrido mal, segundo contam: "Podia ter morrido toda a gente, vítima e bombeiros, porque não havia homens suficientes para cortar a luz e o gás."
Os relatos de Fernando Curto e do presidente do Sindicato Nacional de Bombeiros Profissionais, Sérgio Carvalho, sucedem-se. "Uma bombeira que partiu um maxilar em serviço teve de fazer um empréstimo para ser operada, porque o seguro não cobre isso - nem sequer cobre queimaduras, nem em Lisboa nem no resto do país. Como o casaco dela se estragou no acidente deram-lhe outro com 16 anos, que era de um colega que se reformou", recorda Sérgio Carvalho. A associação estima que neste momento sejam necessários no regimento 355 casacos de fogo e que existam 270 pares de calças em falta. "É vestuário de protecção que ou não existe ou está já degradado pelo uso de quem entretanto se reformou", explica Fernando Curto.
"Não há registo de controle dos nossos aparelhos respiratórios e os carregadores das garrafas de ar estão avariados, estando a ser usados compressores portáteis para essa função", descrevem os bombeiros. "É inadmissível o que está a acontecer. Não somos carne para canhão!", indigna-se o presidente da associação. Vários dos carros que andam na cidade a combater fogos têm mais de 20 anos, prossegue. Nas oficinas do regimento estão 20 veículos parados. "Têm peças avariadas que às vezes nem cem euros custam". Noutros casos, saem para a rua mesmo com problemas: "Há um veículo de combate a incêndios no quartel da Avenida Rio de Janeiro que está ao serviço com a bomba de água avariada. O motor pode gripar a qualquer momento".
Concursos lançados pela autarquia para renovar parte da frota foram anulados por suspeitas de corrupção. As auto-escadas são outro problema: apenas há três ao serviço para a cidade inteira, mais uma plataforma que os bombeiros asseguram ser uma autêntica relíquia museológica: data dos anos de 1950. Na véspera do Natal as três auto-escadas foram mobilizadas para um incêndio na Rua Braancamp. Se houvesse um incêndio noutro andar alto da cidade dificilmente lá chegariam a tempo, alertam o sindicato e a associação. Povoadas de prédios com mais de dez andares, zonas como a Alta de Lisboa e o Parque das Nações "têm uma carência de socorro brutal".
"Vereadora é coveira"
O previsto aumento do número de turnos nos Sapadores, decidido pela autarquia para acabar com o pagamento de horas extraordinárias, irá piorar mais ainda uma situação já aflitiva, asseguram os bombeiros. Um relatório elaborado pelo regimento dá conta do que poderá representar o fim das horas extras, caso não surja ao mesmo tempo um reforço de 200 homens: veículos como o que acorre a acidentes com matérias perigosas ou o que intervém em acidentes na zona portuária deixarão de poder sair, por falta da tripulação mínima.
"A câmara está a negar aos cidadãos de Lisboa um socorro efectivo e a pôr em causa a integridade física dos bombeiros", acusa um dos dirigentes. Sobre os elevados custos das horas extraordinárias dos Sapadores - a verba inscrita no orçamento camarário do ano passado ultrapassava os 7,2 milhões para os cerca de 900 funcionários do regimento -, o sindicato garante ter apresentado ao município uma proposta alternativa de pagamento que orçava em menos de 2,5 milhões, mas que não foi aceite. "A vereadora dos Recursos Humanos da câmara tem sido a coveira do regimento", acusam a associação e o sindicato em comunicado enviado ao PÚBLICO. Discordam, no entanto, da greve em curso, decretada por outra estrutura, o Sindicato de Trabalhadores do Município de Lisboa, por entenderem que a paralisação não resolverá estes problemas.
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A imagem foi acrescentada ao artigo do Público.
António Sérgio Rosa de Carvalho.
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1 comentário:
http://www.youtube.com/watch?v=y-vBJ8cS08U
Retrato cru dos sindicatos de bombeiros de lisboa... Combatem só aquilo que não deviam.
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