21/01/2012

Ribeira das Naus ou dos carros?

Por Paulo Ferrero in Público
É surpreendente a notícia recentíssima que dá conta da alteração de última hora ao denominado Projecto de Requalificação da Ribeira das Naus, prevendo este, a partir de agora (suponho que por vontade indómita de alguém que não os autores do dito cujo, muito menos dos que aprovaram aquele em reunião da Câmara de Lisboa), a construção de um silo com 3 andares (!) para estacionamento automóvel no Corpo Santo, mais precisamente na zona delimitada pelo edifício do Arsenal da Marinha, a Rua do Arsenal e o bloco de edifícios que se estende até ao Cais do Sodré, ou seja onde hoje existem árvores que dão sombra, por acaso, aos automóveis que ali estacionam desde o tempo, pelo menos, em que o Metro prolongou a sua linha Verde. E é surpreendente a vários níveis. Desde logo, insisto, porque os termos do protocolo assinado em 24 de Novembro de 2010 pela CML, a Frente Tejo e a Marinha, em cuja cláusula 2.ª, ponto 1.F, se cedia à Marinha, "para sua utilização exclusiva, o parque de estacionamento localizado no Largo do Corpo Santo". Não será necessário outro protocolo para legitimar esta alteração? É também surpreendente que uma decisão formalmente aprovada, e bem (independentemente de alguns pormenores de estética, uso e viabilidade discutíveis), em reunião de CML - a aprovação do Projecto de Requalificação da Ribeira das Naus - seja alterada desta maneira, de um dia para o outro, em jeito de nota de imprensa tout court . Depois, trata-se de uma notícia surpreendente em termos de estratégia camarária, já de si confusa em termos de mobilidade (a CML continua perigosamente a confundir estacionamento dissuasor com estacionamento em plena Baixa), e agora, também, em termos de reabilitação urbana e de espaço público. No projecto original, estava previsto um estacionamento subterrâneo junto aos edifícios das agências europeias e não neste local, em que há árvores e a vista está desimpedida desde o Corpo Santo até ao Tejo. Que estética resultará para aquele local com a construção de um previsível mono em pleno centro histórico? Como justificar mais este atentado ao equilíbrio urbanístico do local, que a CML invoca, e bem, como sendo de salvaguardar? E o que dirão os serviços do pelouro do espaço público da CML, ou nem sequer foram ouvidos? Também em termos de obra, esta notícia é surpreendente. A EMEL é que decide o que fazer na cidade? Haverá aqui alguma manobra sub-reptícia em prol da sobrevivência da EMEL a todo o custo? Mais, tendo em conta os casos exemplares, no mau sentido do termo, de construção de parques de estacionamento subterrâneo que têm ocorrido na Baixa, e não só, com procedimentos opacos, motivações duvidosas, subexploração evidente, etc., é de prever mais uma operação desastrosa para a cidade e para o erário público. Por fim, que dirão os autores, conceituados, do Projecto de Requalificação da Ribeira das Naus? Ser-lhes-á indiferente se o Corpo Santo tem um silo de três andares, ainda que modernaço e sustentável energeticamente, ou se tem árvores e espaço livre para os peões, esplanadas e o pouco estacionamento automóvel à superfície para a Marinha? Que raio de Arquitectura Paisagista. Que raio de fazer cidade.

Membro do Fórum Cidadania

11 comentários:

Anónimo disse...

Os serviços do pelouro do espaço público da CML que dirão? Essa fé no Zé que lá não fazia a menor falta é de todo em todo surpreendente...

o Zé diria cobras e lagartos se um atentado deste calibre fosse de outra autoria, agora está, como todos sabemos, caladinho e agarrado ao tacho.

Anónimo disse...

Assinem a petição contra o Silo a decorrer aqui e divulguem divulguem por favor:

http://www.peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=P2012N19416

obrigado

Anónimo disse...

O que interesa "...que dirão os autores, conceituados, do Projecto de Requalificação da Ribeira das Naus? Ser-lhes-á indiferente se o Corpo Santo tem um silo de três andares, ainda que modernaço e sustentável energeticamente, ou se tem árvores e espaço livre para os peões, esplanadas e o pouco estacionamento automóvel à superfície para a Marinha?...", autores conceituados? Sr.Paulo Ferrero também o "conceituado arq. Tainha se arrependeu dos "mamarrachos" no Cais do Sodré, e agora temo que gramar aquela vergonhosa obra de arquitectura e que deveria envergonhar a própria arquitectura portuguesa que tantos falam de excelência.
O projecto dos seus "autores conceituados" é uma vergonha, pois vai esconder a fachada dos edificios do Arsenal da Marinha, umas rampas verdes para viabilizar caves (metros quadrados de construção por esse motivo o projecto custa 10 milhoes de euros) e ainda trazer agua salgada para o interior de uma malha urbana estabilizada à 250 anos. Estão loucos e vai obrigar a elevads custos de manutenção.
O projecto dos seus "conceitoados autores" não passa de um exercicio bacouco de vaidade intelectual. Quanto ao silo, venha lá o projecto porque senão fechamos as portas! Sr. Paulo Ferrero já assistimos a atitudes suas mais acutilantes, como o Mono Largo do Rato não perca esta guerra, e diga não a este projecto.
Seu companheiro, com muita consideração

A.lourenço disse...

isto é um massacre constante!

Anónimo disse...

Temos de parar com esse Silo, um atentado ao Património.

E mesmo o estacionamento subterrâneo deveria ser cancelado

Aliás tudo isto é para DAR O NOSSO DINHEIRO AOS EMPREITEIROS, e talvez outros pelo meio ...

Anónimo disse...

Isto é de loucura.

Há estacionamento à superfície tanto no local e como dentro do recinto da Marinha.

Há o parque subterrâneo do Largo do Município a dois passos e andam a construir um ali perto, junto ao Mercado da Ribeira.

Só a gente insana pode ocorrer transformar o parque de estacionamento para os marinheiros num lago e ir construir um silo.

É demais.

Anónimo disse...

Contem comigo pelos dedos.

Ali passam autocarros (variadíssimas carreiras).

Ali passam eléctricos (incluindo aqueles que, se fosse hoje, se chamariam pomposamente metro de superfície - refiro-me aos da carreira Praça da Figueira - Algés).

No Cais do Sodré há uma estação do Metro.

Ao Cais do Sodré chegam os comboios da Linha de Cascais.

Ao Cais do Sodré chegam carreiras de barco de vários pontos da chamada Outra Banda (Cacilhas, Seixal, Montijo).

À Praça do Comércio chegam os barcos do Barreiro.

Em Lisboa há um serviço de táxis.

Quase não há dedos das mãos que cheguem - se usarmos um dedo por cada carreira de autocarro e de eléctrico e por cada destino dos barcos, então, faltam muitos dedos...

Construir um silo para estacionamento automóvel no Corpo Santo é uma aberração total (e uma completa contradição com todas as dificuldades que têm sido colocadas à circulação de carros particulares na Baixa e ao tormento em que foi tornada a travessia da Av. 24 de Julho para a Av. Infante D. Henrique - e vice-versa).

ALENTEJANO E TROPICANO disse...

Depois de 10 anos, atravessei a "grande poça" e voltei à minha Lisboa. Mais uma vez, a exemplo de milhares de vezes anteriores, fiz a pé o trajecto Cais das Colunas - Cais do Sodré. Foi muito triste ver o abandono a que deixaram aquele "cartão postal" da cidade.
Desde que algo urgente e rápido seja feito ali, chegamos ao ponto de aceitar qualquer "elefante branco". Ou não?!...

Anónimo disse...

Exactamente: algo de urgente, rápido, digno e barato devia ser feito ali. Aliás, devia ter sido feito, e há muito tempo. Nunca jamais caríssimas obras a armar aos cágados, nem silos para quem não está para usar os inúmeros transportes públicos que abundantemente servem a zona.

Xico205 disse...

Grande lata! Vivem em democracia (que dizem adorar) e agora põe-se a contestar um executivo escolhido pela maioria dos habitantes!!! Quem é democrata não questiona a escolha da maioria, fica caladinho na sua condição de minoria e manifesta-se de forma ordeira nas urnas nas próximas eleições.

Anónimo disse...

Ah, boa democracia! Um executivo escolhido por maioria só cumpre o que prometeu e está vacinado contra asneiras.

Fiquem quietinhos e caladinhos à espera de novas eleições.

Boa!