05/03/2013

Imagens de Marca - Lisboa/Portugal (continuação)

Qual é o estilo decorativo que podemos afirmar ser de génese lusitana e está mais difundido? Alguns dirão que é o Manuelino, que plasmou nas fachadas e interiores as aventuras das navegações e que, no séc.XIX, quando urgiu encontrar o estilo que nos representaria como povo-nação, foi revisitado em edifícios iconográficos como na CM Sintra de Adães Bermudes - no mais exuberante neo-manuelino - ou no corpo ocidental do Mosteiro dos Jerónimos.
Mas não. Outro estilo ergue-se como o preferido dos portugueses, que está nos seus corações e que perpassa campos e urbes, aldeias e cidades: O Estilo Abarracado.
O Estilo Abarracado tem na sua génese duas caraterísticas, o "Faça Você Mesmo" e o "Substitui pelo Moderno", contribuindo em medidas semelhantes para as formas imaginativas e surpreendentes como este estilo se expressa nos interiores e exteriores das nossas casas, nas ruas, enfim, por todo o lado. E como o povo português tem como cartilha de vida as três máximas "Mais Barato; Mais Prático; Mais Moderno", o Estilo Abarracado prospera, dilata-se, conquista e faz-se padrão, diante dos nossos olhos e enquanto uns (poucos) não se conformam e esperam algo melhor diferente. Como o espaço é curto aqui e para não continuar a abusar da vossa paciência, divido o meu artigo em algumas partes, sendo que nesta trago alguns exemplos do Estilo Abarracado em espaços que saltam à vista de todos se tivermos atenção: as portas e janelas da nossa cidade.
  

Neste edifício da Avenida Almirante Reis, para impedir o acesso de sem-abrigo à galeria , acharam por bem estes moradores de fechar com vulgar rede. O resultado é, além de seguro, muito estético. Está licenciada esta obra de arte?
Contem quantos intercomunicadores se vêm nesta porta. O antigo está naquele estado, os modernos são o que são.

Quando se parte um vidro é muito mais prático colar com fita-cola. Casos destes há às centenas, por Lisboa.
Está assim há anos! Sem comentários.

Os nossos antepassados pensavam de uma forma estética. Aqui remataram as cantarias das janelas com azulejos. O que fazem os descendentes? Substituem a porta por uma outra de alumínio.
O que fica bem com uma porta encimada por um medalhão neo-renascentista? Um porta de alumínio metalizado, claro!
Quando a cantaria de uma porta se estraga, o cimento é o material de eleição para resolver a situação
Podem não acreditar mas este é o portão de garagem de um edifício pombalino, para os lados do Teatro Romano
No próximo artigo vou continuar a mostrar mais exemplos desse estilo tão nacional que é o Estilo Abarracado, deste feita em lojas e espaços comerciais.

10 comentários:

Cidadão Anónimo disse...

Falta aqui um dos exemplos mais emblemáticos na cidade de Lisboa desta forma de intervir tão tipicamente portuguesa, a Sé de Lisboa.
Por outro lado, nada contra as três máximas da cartilha de vida portuguesa: "Mais Barato; Mais Prático; Mais Moderno", salvaguardando o entendimento de "Mais Moderno", como mais adequado a contemporaneidade. Desenvolvimentos importantes para a história do povo português resultaram da aplicação dessa "cartilha", como por exemplo o desenvolvimento dos instrumentos de navegação na época dos descobrimentos.


Julio Amorim disse...

"Os nossos antepassados pensavam de uma forma estética"

É isso mesmo ! Mas em que raio de data é que este povo perdeu essa noção ????

Anónimo disse...

Quem falou em antepassados?
Na Grécia antiga já se reflectia sobre o BELO.
Nas Universidades nestes últimos 40 anos fomos estudando e ganhando sensibilidade.
O que estudámos dá-nos o direito de comparar e perceber de conceitos.
Sendo sempre relativo e pessoal o conceito de beleza e de gosto.
Mas as cidades, como o corpo, devem ter e sentir equilíbrio.
Quanto aos interesses e políticas são outras abordagens.
Deveremos ter cuidado ao abordar, comparar tudo, épocas e conceitos, é complicado.
Entre viver numa barraca ou numa casa "horrível" construída por uns patos-bravos, não devemos comparar.
A degradação de valores e de condições de vida não devem ultrapassar determinados limites, porque senão numa situação de miséria, as preocupações passam a ser de subsistência.
Mas aqui estamos a falar de estética e de regulamentação que os responsáveis autárquicos deveriam acompanhar.
O bom gosto não pode ficar nas escolhas do automóvel ou do casaco.
Falamos de arquitectura e de engenharia.
Os gregos não tinham os recursos da ciência que temos hoje.
Na pobreza não pode haver bom gosto?
Prioridades e desvarios para ganhar eleições serão compatíveis?

Inês B. disse...

Tudo isto é brutal...

Anónimo disse...

Também me interrogo sobre esse aspecto...?

Anónimo disse...

Quando chegou a "querida" Républica das Bananas e a bicharada tomou conta do trono!
Ahh...sim.. porque a bicharada também é gente...

Um povo que ignora e que corta por completo relações com uma linhagem e movimento que deu origem a Portugal (o mais antigo Estado da Europa) e que conduziu o mesmo durante 800 anos de história é um povo que apresenta uma consciência que foi completamente lavada!
Não é preciso dizer mais nada!

100 anos de Républica é o equivalente a:

50 anos de ditadura e censura.

E quase 50 governos que alternadamente e pactuados com outros interesses (que não o de Portugal) roubam, incivilizão e analfabetizão o povo à décadas em relação à sua verdadeira origem e identidade!
Viva a Républica....

Paulo Ferrero disse...

Triste. Mas mais um post na mouche.

Unknown disse...

Portugal sempre teve este desinteresse pelo património. Usa recursos que por vezes não tem para construir o melhor do mundo, mas depois não faz manutenção e depois destrói. O Mosteiro da Batalha foi salvo do camartelo pelo D. Fernando II, a custódia de Belém (Tesouro Nacional) estava num cofre para ser derretida e foi salva pelo mesmo príncipe. Mas pensei que tivesse havido uma evolução...não houve.
Eu pergunto-me o que andam a fazer o IGESPAR e os técnicos de património da CML, para além de contribuirem para o défice?

Anónimo disse...

Antigamente a Polícia Municipal de Lisboa intervinha quando alguém fazia uma marquise ou ocupava umas águas furtadas multando e impondo a reposição do original...possivelmente muitas vezes sem sucesso.
Hoje é o que se vê:ocupação de quintais e saguões com construções/anexos sem licenciamento,abertura de janelas para terrenos contíguos e que ganham direitos por usucapião...enfim o desrespeito pelo património e pelas marcas que tornam esta cidade única...não há fiscalização eficaz e tudo fica reslovido nas águas de bacalhau...e é a todos os níveis:não há responsabilização de políticos/empresários pela ascensão fraudulenta na riquesa e poder com habilitações falsificadas.Enfim quando grassa a impunidade e se aplaudem os que prevaricam não há quem se importe com estas coisas.

Unknown disse...

Lotacao esgotada no cpo dos pombalinos