In Público (25/10/2007)
Inês Sousa
«Processo de recuperação poderá começar pelo edifício do Hot Club, podendo
seguir-se o Cabaret Maxime e o Ritz Club, este último encerrado há sete meses
E se o antigo e debilitado edifício do Hot Club de Portugal, clube de jazz sito na Praça da Alegria, e mais a sua pequeníssima cave-palco, se transformasse na Casa do Jazz, num prédio recuperado, com direito a auditório, café-concerto, centro de documentação, loja, e a espaço para exposições, tudo por iniciativa de uma junta de freguesia? Mesmo para os mais optimistas, certamente que a simples idealização deste projecto seria como uma miragem no deserto ou mais um conto de fadas na cidade. Mas a vontade é bem real e a responsabilidade é assumida pela Junta de Freguesia de São José, em Lisboa.
No ano passado foi já elaborado pela junta, em colaboração com os serviços de reabilitação urbana da câmara de Lisboa, um estudo preliminar que prevê uma despesa de 750 mil euros no caso do projecto de recuperação avançar. Mas porque o imóvel é municipal, a obra precisa de ter o aval da autarquia e, por isso, a Assembleia Municipal aprovou na última sessão uma recomendação à câmara para incumbir a junta de freguesia e o HCP de encontrarem uma solução para a concretização do projecto de recuperação, que poderá passar pelo apoio de mecenas.
Segundo João Mesquita, presidente da Junta de Freguesia de São José, "a ideia é reabilitar o triângulo cultural da Praça da Alegria, formado pelo Hot Club, que tem o seu público fiel, pelo Cabaret Maxime, a funcionar em pleno, e pelo Ritz Club, que está fechado há sete anos." Planos para este último existem, segundo João Mesquita, mas estão ainda numa fase muito inicial e de negociações.
No que diz respeito ao Hot Club, mais especificamente, o presidente da junta de freguesia realçou a necessidade de "dar o exemplo à cidade", através da recuperação do edifício, não ficando "confinado às dificuldades financeiras". João Mesquita sublinhou ainda que é importante preservar o HCP enquanto fenómeno mundial, que possui "um vastíssimo património" (Luís Villas-Boas doou todo o seu espólio ao clube), que precisa de ser revelado ao público. Da mesma opinião partilha Bernardo Moreira, presidente do Hot Club: "[O projecto de reabilitação] é uma mais-valia imensa, não só para o Hot, como para a cidade de Lisboa e para a própria Câmara Municipal de Lisboa, tanto do ponto de vista cultural como turístico."
Bernardo Moreira revelou ao PÚBLICO muita confiança na concretização do projecto: "As condições estão lançadas, temos estado em sintonia com a junta de freguesia e vamos tentar encontrar uma solução." Mais à frente, o presidente do HCP revelou mesmo não ter dúvidas "de que vai acontecer". " Só não sei se é para o ano, ou se é daqui a dois ou três", acrescentou.
O Hot Club Portugal (HCP) abriu as portas ao jazz e aos portugueses - ou melhor, abriu as portas do jazz aos portugueses - pela primeira vez a 19 de Março de 1948, data que faz deste espaço exíguo o mais antigo clube do género no país e um dos mais antigos do mundo.
Para o próximo ano completará, por isso, 60 anos, desde que Luís Villas-Boas fundou o clube de jazz que é "quente" pelas melhores razões.
Para além dos concertos assíduos que se realizam na conhecida e pequena cave da Praça da Alegria - a bucólica praça ajardinada, na travessa à esquerda de quem sobre a Avenida da Liberdade -, o HCP funciona também como lugar de aprendizagem para novos músicos (assim já acontece desde os anos 80), a partir da Escola de Jazz Luis Villas-Boas, onde se formaram muitos dos actuais músicos de jazz portugueses.»
Assim está melhor, Sr. João Mesquita.
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