Vale a pena dar destaque ao comentário de um lisboeta a propósito da degradação do jardim na Praça José Fontana, denunciado neste blogue no passado dia 21 de Outubro:
«Nasci em Lisboa, no Hospital D. Estefânia. Vivi toda a minha infância e adolescência no Largo D. Estefânia. Em criança, o meu avô levava-me a brincar ao Jardim da Praça José Fontana, a 5 minutos de casa, e a que chamávamos o Jardim do Matadouro (porque teria existido outrora um matadouro no local onde hoje se situa o Fórum Picoas. Foi neste jardim que andei de triciclo pela primeira vez. Foi neste jardim que conheci a minha primeira amiga - a Marisa (a quem perdi o rasto há muito tempo). Brincávamos no coreto e na pequena sala que havia em baixo e que tinha uma pequena porta de duendes. Foi neste jardim que dei o meu primeiro beijo. Estudei no Liceu Camões, defronte do Jardim. Foi neste jardim que eu e os meus colegas e amigos fazíamos as nossas travessuras nos intervalos das aulas, sobretudo no intervalo grande de 20 minutos, a meio da manhã. Lembro-me de nos sentarmos nas escadas do coreto a comer castanhas assadas nas manhãs frias de outono. Lembro-me sobretudo de uma árvore enorme, centenária, que abarcava todo o recanto do jardim junto à Av. Duque de Loulé. Eram necessárias quatro pessoas para a abraçar. Tinha no seu canteiro uma placa com um poema sobre a árvore, dirigido a um eventual viajante. É um poema muito conhecido que se costuma ver pelos jardins, um pouco por todo o país. Mas um dia, sem aviso, cortaram a árvore. Nunca percebi porquê. Mas nesse dia morri um pouco. Hoje sinto que morri um bocadinho mais. C.»
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