15/06/2009

Candidatos à Câmara de Lisboa unânimes a condenar processo de Lisboa unânimes a condenar processo

In Público (14/6/2009)

«Pedro Santana Lopes
PSD

"Como é que a Câmara de Lisboa se verga desta maneira?", interroga Santana Lopes a respeito da falta de poderes formais da autarquia na remodelação do Terreiro do Paço. "É extraordinário como um presidente de câmara abdica do poder sobre a sua própria cidade." A condução do processo por uma sociedade do Estado na qual a câmara não participa é uma "aberração política e jurídica". Depois, "como dizia um dia destes um arquitecto, o Terreiro do Paço não se requalifica - conserva-se". Ao candidato faz impressão a pressa: "Vale tudo, só pelo desnorte causado pela aproximação de eleições e por se tentar à última hora e a todo o custo fazer obras, sejam elas quais forem?", questionou, num artigo de opinião. A sobreelevação da placa central é o que menos lhe agrada no projecto, a cor do piso e a redução do tráfego aquilo de que gosta mais.

Luís Fazenda
Bloco de Esquerda

Para o candidato do BE, a falta de concurso público e de debate público transformam o caso num "processo deplorável", pela "opacidade total" criada em redor de um espaço com tamanho simbolismo nacional. Quanto ao projecto, "é muito discutível, sobretudo no que respeita à sobreelevação da placa central". "Isto não pode ficar assim, de maneira nenhuma", observa Luís Fazenda, mencionando ainda a eventual necessidade de elaborar um plano de pormenor antes de avançar com a remodelação da praça. "Não há urgência que justifique um atropelo processual desta ordem", defende. Quanto ao papel da Câmara de Lisboa, "nem o presidente nem os vereadores se podem esconder atrás da Sociedade Frente Tejo" para se absterem de intervir nesta obra no coração da cidade.

Ruben de Carvalho
PCP

Não é neste projecto de remodelação que se situa a ameaça ao património arquitectónico da Praça do Comércio, considera o comunista Ruben de Carvalho, que refere "a disponibilidade do seu autor para ter em conta as críticas formuladas". Já "deliberações anteriores da câmara" constituem "uma séria ameaça nesse sentido", uma vez que "preconizaram a privatização/venda de parte substancial dos edifícios ministeriais que contém a praça (comércio-escritórios-hotéis), subtraindo-os no domínio e na forma de uso à capacidade de intervenção pública". O que, no entender do candidato do PCP, que votou vencido no executivo, "prefigura uma séria ameaça à unidade formal da praça". As opções do projecto "não comprometem irreversivelmente a salvaguarda dos valores arquitectónicos patrimoniais em questão".

Helena Roseta
Independente

A candidata do movimento Cidadãos por Lisboa, Helena Roseta, usa as palavras aberração e escândalo quando se quer referir à forma como está a ser conduzido
o processo de remodelação do Terreiro do Paço. A vereadora foi das primeiras a lançar o alerta sobre o regime de excepcionalidade das obras da cargo da Sociedade Frente Tejo, tendo ido à Assembleia da República falar com vários grupos parlamentares por causa da falta de transparência e do abuso de poder que, no seu entender, este estatuto propicia. E não consegue ver qualquer ligação entre a frente ribeirinha e o centenário da República. "As pessoas não vão calar-se sobre este processo", diz, ao mesmo tempo que defende a elaboração de um plano de ordenamento para toda a frente ribeirinha. »

7 comentários:

Ferreira arq. disse...

"...aberração e escândalo..." referiu Helena Roseta.

É uma pena o nosso povo não se insurgir mais, para fazer sentir devidamente a quem manda, que o espaço público tem como premissa ser de todos e para todos, sobretudo quando se trata de locais de referência.

O projecto que querem implementar não tem coerência com o local, não se integra, não salvaguarda o património, não valoriza a utilização da praça na vivência da cidade, não quis perceber a motivação social da baixa pombalina e não quiseram devolver a este espaço a alma que já há muitos anos lhe tiraram.

Como se lê agora, está também em causa a VENDA! do património público nos edifícios das arcadas...
Claro que não querem saber de dar alma à Praça do Comércio. Nem querem lá colocar árvores.
Querem vender a Praça do Comércio, tal como se vende e usa uma área num centro comercial.

É o negócio que agora algum tipo de promotores privados sabem fazer!
Não se pretende defender a cidade nem a sua população. Estão apenas a ser defendidos interesses privados na exploração de um espaço.

Vamos admitir isto na principal praça do país, que devia ser o orgulho de um país civilizado? E que passará apenas a ser a referência de negócios do tipo terceiro-mundistas?

Com a qualidade do plano da estrutura urbana subjacente à implementação desta praça, há mais de 200 anos, com todos os seus valores técnicos e sobretudo sociais, como pode cair aqui tamanha nódoa?

É muito fácil escamotear tudo isto para ... "uma querela das elites artístico-intelectuais.", sem querer perceber que o que está em causa é de facto a forma da população viver na cidade, numa atitude de retrocesso com mais de 200 anos!

Está assim assumida a goludice dos intervenientes, assim como a apatia de um povo que não faz respeitar o seu património, nem honra o mérito dos antepassados, que criaram aquela obra.

Quando não se respeita a cultura nem o património e se valoriza apenas a utilização pontual e pessoal, de pouco servirá o que irá restar.

Tem, pois, toda a razão Helena Roseta, quando refere que É UMA ABERRAÇÃO E ESCÂNDALO!

Mentiroso disse...

Eu ainda acredito que o Zé Embargador embargue a coisa.

Anónimo disse...

o único comentário possível...

Portugal, infelizmente, é assim...

filipa lex disse...

Essa da celebração do centenário da república é uma fantasia maçónica à qual o povo tem mais é que anuir. Terreiro do Paço, Fundação Champallimaud ...e mais hão de vir para consolidar o fervor faraónico de um bando de lobbistas que adora o requinte das vestes e a ternura dos segredos partilhados entre amigos.

Anónimo disse...

Filipa lex,
Você conseguiu descobrir uma conspiração tenebrosa. Parabéns!
já agora eles também são culpados pelo aquecimento global, não são?...

Anónimo disse...

Para "homens de bem", podiam de facto fazer mesmo muito mais, pelo planeta, pelo futuro de todos, em vez de pugnar apenas por defender interesses privados que nada têm que ver com valorização da sociedade!

Anónimo disse...

Pois pois Sr Luís Fazenda, mas no dia 5 de Junho de 2009, na Assembleia da República, o BE, ao abster-se, comprometeu uma proposta para suspender a obra do Museu dos Coches, votada pelo resto da oposição e ainda por Manuel Alegre e outro deputado PS.