18/06/2009

Interesse público é quase sempre invocado

Sucessivas machadadas já tiraram 200 hectares ao parque de Monsanto desde a sua criação

17.06.2009 - 21h14 José António Cerejo

O resultado das sucessivas amputações de que o Parque Florestal de Monsanto tem sido vítima desde a sua criação, na decáda de 40 do século passado, traduz-se numa perda de cerca de 200 hectares, em relação à sua área inicial, próxima dos mil hectares. As contas são de Artur Lourenço, da Associação dos Amigos e Utilizadores de Monsanto, uma das várias entidades que intregram a Plataforma por Monsanto, movimento de cidadãos que há vários anos se bate pela preservação daquele espaço.As contas não são fáceis de fazer, nomeadamente porque a delimitação do parque tem sofrido muitas alterações, mas uma coisa é certa: o chamado “pulmão verde” de Lisboa tem encolhido a olhos vistos nas últimas décadas. As investidas iniciaram-se logo no início com a construção de bairros camarários em vastas áreas limítrofes, mas o fenómeno prosseguiu até à actualidade, quase sempre justificado pelo interesse público dos empreendimentos autorizados. No começo dos anos 70, o futuro do parque esteve em sério risco, numa altura em que foi autorizada a construção de edifícios prisionais, escolares e de saúde, entre outros. De acordo com a Divisão de Matas da Câmara de Lisboa o perigo de “loteamento” da zona acabou por ser ultrapassado em 1974, graças a uma iniciativa legislativa proposta pelo arquitecto Ribeiro Teles.A construção de grandes vias de comunicação, como a auto-estrada de Cascais, a CRIL e, mais recentemente, a Radial de Benfica - paralela a linha férrea Lisboa-Sintra –, surgiu poucos anos depois como a principal ameaça à intregridade de Monsanto. A concretização desses três projectos rodoviários teve como consequência a retirada de muitas dezenas de hectares ao parque, embora tenha sido o Pólo da Ajuda da Universidade Técnica, construído nos anos 90, o responsável pelo maior golpe das últimas décadas. No total, as faculdades de Arquitectura e Veterinária e outros instalações daquela universidade roubaram-lhe 56 hectares.Significativa foi também a entrega pela Câmara, nesse mesmo período, de quase uma dezena de hectares a uma empresa privada, que instalou em Caselas o Aquaparque, há muito desactivado e abandonado.Próximo desse local, onde João Soares chegou a autorizar a construção, depois inviabilizada, de um parque de diversões, foi também viabilizada pelo município a urbanização da Quinta de Santo António. Apesar de ser popriedade particular, a quinta estava inserida no perímetro do parque e nem o facto de estar parcialmente classificada como sendo de interesse publico evitou a sua controversa transformação num condomínio privado.Já neste século foi a vez de a Câmara da Amadora autorizar a construção de um hotel (Ibis) nos poucos milhares de metros quadrados do parque que pertencem àquele concelho, junto ao Parque de Campismo de Lisboa. Ainda mais recentemente coube ao Hospital de São Francisco Xavier, todo ele feito dentro do perímetro floresta, a última das machadadas, com a ampliação das suas instalações.E no horizonte, avisa Artur Lourenço, para lá da sub-estação da REN, já espreita a intenção camarária de transformar o Restaurante Panorâmico de Monsanto em sede do Regimento de Sapadores Bombeiros.

2 comentários:

J A disse...

O Monsanto, aos poucos, vai-se tornando no parque de reserva de terrenos de Lisboa. Na primeira metade do século passado, em plena ditadura, outros tiveram outra visão...

Anónimo disse...

Não faz mal nenhum. O que é preciso é plantar árvores no Terreiro do Paço.