01/03/2013

Imagens de Marca Lisboa/Portugal (continuação)



No último artigo onde se dissertou sobre o que faz de um país uma marca de referência, com atratividade e força de mercado, tive a oportunidade de chamar a atenção dos leitores deste espaço sobre o que tem sido e é, a política da preservação do património edificado – nem quero entrar pela preservação do património monumental porque me levaria a conclusões ainda mais amargas. E enquanto escrevia vinham a lume notícias desencorajantes sobre o projeto que a EDP quer ver construído na frente ribeirinha de Belém, ao lado da Central Elétrica, que obrigará à demolição de edifícios de serviços da central. Não posso deixar de pressentir que Belém se está a transformar numa Expo II, depois dos projetos do novo museu dos coches – projeto devastadoramente instrusivo – e do tal hotel “à beira-mar plantado” pelos lados da Torre de Belém, entre outros. Como referi, por coincidência preparava, na mesma altura, este artigo onde me iria debruçar sobre o saldo final destas décadas de esbulho patrimonial. A minha conclusão é a que esperam já: no livro de contabilidade sobre os edifícios de Lisboa, somadas as duas colunas, a dos “Em Risco” e a dos “Desaparecidos”, mesmo equacionando as boas obras e intervenções, o saldo é avassaladoramente negativo e já estamos em “dívida” para com a cidade.
Sem que possa ilustrar minimamente o que quero aqui expressar porque os exemplos são infindáveis, deixo alguns exemplos para vossa consideração de edifícios malogrados ou que estão no caminho do “buldozer” da especulação, insensibilidade do abandono e da impunidade.

Este belíssimo edifício, com uma cobertura única de mansarda em cúpula, viu autorizada a demolição integral de interiores e cobertura. No processo ruiu completamente, levando com ele o prédio à esquerda. Vejam o que se escreveu aqui neste espaço, para mais pormenores

Deste, no gaveto da Alexandre Herculano,  resta a fachada e a entrada. As obras estão em curso e salvo reconstruam os interiores, temos uma perda total.

Demolido. No gaveto da Avenida Defensores de Chaves ergue-se, agora, uma caixa de betão e vidro, igual a mil outras, por todo o mundo.

Em frente ao anterior. Resta a fachada e claro, o logradoro já não existe.

Neste edifício do início da Avenida Casal Ribeiro viveu Fernando Pessoa. Agora um prédio de muitos andares ocupa o mesmo espaço, fazendo sombria a Rua Almirante Barroso com os seus maravilhosos jacarandás. Qual é que vai sair para deixar a luz entrar? Quem aposta no prédio? Perdeu...

Na Avenida Casal Ribeiro, no número 14, este eleganíssimo prédio Arte Nova recebeu um daqueles tratamentos e só lhe sobrou a fachada, e esta com janelas a fingir que são as antigas...

Já não existem... A Praça Duque de Saldanha é um desastre...
 É claro que todos se lembram o que aconteceu recentemente a um elegante palacete da Avenida Duque de Loulé (aqui) e outros nessa artéria, da casa onde morreu Almeida Garret (aqui), com o nº 25 da Avenida da República (aqui) e a muitos, muitos outros.
Quando acordarmos deste pesadelo vamos estar a viver numa cidade que é igual aos seus subúrbios.
O admirável mundo novo!
Continua...

1 comentário:

Miguel de Sepúlveda Velloso disse...

Penso que é urgente salvar o património Arte-Nova e Art-Déco que resta em Lisboa. Toda a zona das grandes avenidas e avenidas novas, está a ser desfigurada e destruída. É imperioso que se organiza uma conferencia internacional sobre o património edificado nesses períodos como forma de sensibilizar as autoridades e o público.

Os edifícios Arte-Nova e Art-Déco sao as primeiras vítmias do saque a que Lisboa está votada. Uma cidade que pouco respeita o seu legado histórico e que maltrata a sua incomparável beleza.