31/12/2014

Postais da Baixa


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«Bom dia

Sou uma das leitoras do blog e pensei que seria útil um testemunho de uma pessoa que, sendo residente na zona da Baixa, sente que mora numa cidade de um país subdesenvolvido. Morar no centro de Lisboa significa conviver com uma inexistente fiscalização de estacionamento indevido, constantes situações carregadas de falta de civismo e verdadeiros atentados à liberdade das pessoas que circulam e habitam na cidade. Neste momento o dia a dia na Baixa é condicionado pelo excesso de veículos, pela diminuição do espaço pedonal, pelo excesso de turismo e pelo comércio direcionado ao turismo, que destrói a vida cultural da cidade, a sua história e o comércio tradicional que existia para servir os habitantes da cidade. Não existe qualquer regulação da publicidade agressiva e da ocupação do espaço pedonal por expositores de postais, menus de restaurantes, etc. No prédio onde habito a entrada era feita por uma das lojas típicas da baixa, com balcão de atendimento, o mesmo que foi destruído e ocupado por vitrines ambulantes com souvenirs. Para entrar e sair do prédio tenho que esperar que o senhor (um dos muitos estrangeiros agora detentores da maioria dos espaços comércio da baixa), se levante do seu banquinho e desvie todos os acessórios da loja. A entrada do meu prédio devia ser alvo de preocupação da Câmara de Lisboa pois era uma entrada com um desenho histórico que pertencia não só ao nosso prédio mas ao património cultural da cidade. Não entendo como este senhor pode ter destruído património cultural da cidade sem ter até agora encontrado qualquer entrave, qualquer fiscalização. A destruição da cidade em prol do turismo deveria ser regulada de modo a que este turismo seja sustentável a longo prazo. A transformação da cidade num hotel gigante faz com que os turistas dentro de algum tempo não o queiram vir visitar, pois esta deixará de ter qualquer interesse. Com os prédios a serem ocupados por hotéis e não havendo o mínimo esforço para atrair novos residentes para o centro da cidade, daqui a uns tempos não haverá vida cultural de bairro na Baixa e esta vai desaparecer enquanto bairro. Deste modo, penso que não será muito atrativa para o tão ambicionado turismo.

A regulação do trânsito e estacionamento, ou a inexistência dela, torna a cidade num espaço condicionado pelos carros. A ausência de fiscalização resulta não só na dificuldade de acesso ao estacionamento, por parte dos residentes, provoca também um excesso de veículos em circulação no centro da cidade uma vez que, o estacionamento no centro é facilmente conseguido e as infrações não são punidas. Diariamente tenho vários veículos estacionados em frente ao meu prédio, sendo este numa das perpendiculares à rua Augusta onde a circulação de carros é proibida. Para além destes, existem ainda os carros da polícia que, mesmo tendo estacionamento próprio, insistem em estar parados por períodos longos no meio da rua de São Julião e agravar gratuitamente a circulação na rua. Tal como uns tantos outros polícias tantas vezes convivem pacificamente com os vendedores de droga que desfilam pela rua Augusta. Cada vez que esbarro com estes carros da polícia, com os carros estacionados diariamente nas ruas pedonais, sem nunca serem bloqueados e com o comércio local destruído para fazer mais uma loja de lembranças, sinto que não vivo na Europa. Juntando a isto o facto de na Baixa não existir modo de fazer separação do lixo para reciclagem, o que me parece grave dado a quantidade abismal de lixo produzido por todos os hotéis, restaurantes, lojas… Lisboa parece ser gerida por amadores e dirigentes incapazes de perspetivar as consequências que as mediadas de hoje terão a longo prazo. O mais curioso é que estes problemas já não se colocam em imensas cidades de países da Europa pelo que não se pede que apareça nenhum génio com soluções brilhantes, basta alguém capaz de copiar. Alguém capaz de aplicar medidas que eduquem a população e os serviços de Lisboa, alguém que se dê ao trabalho de fiscalizar e punir.

Joana Nogueira»

9 comentários:

Julio Amorim disse...

Este turismo que se está a criar à martelada vai ficar caro. Alguém acredita que esta economia de camisinhas ronaldo, menus photoshop e invasões tuk-tuk....é sustentável a longo prazo ?

Anónimo disse...

Diariamente constato que este turismo de massas alegremente promovido por inconscientes está a tornar a vida em Lisboa muito problemática para o cidadão que aqui mora e tem a sua vida (e paga os seus impostos). Até porque uma não desprezável percentagem dos visitantes parece limitar-se a atravancar o centro histórico e a nele vaguear, dedicando-se à bebida e a sonoros festejos aparvalhados, adoptando um tipo de comportamento que provavelmente não seguirá nos bairros onde habita, nos seus paises.

Anónimo disse...

Estas lojinhas de gente que fugiu do seu país, vieram encontrar em Lisboa o paraíso, com os nossos "mandantes" a deixar-lhes fazerem tudo o que lhes apetece...
Pobre Lisboa!...
Até quando?...

Anónimo disse...

Uma pergunta para a Srª residente: Faz parte de que escalão de rendas na freguesia de S. Nicolau?

Até 60 Euros (54,4%)
De 61 a 200 Euros (24,3%)
De 201 a 500 Euros (13,85)
Mais de 500 Euros (7,5%)

Se pertencer aos 2 escalões mais altos tem razão em reclamar. Caso contrário...

Anónimo disse...

Lisboa é a minha terra á 4 gerações - sempre foi linda

Anónimo disse...

Caro anónimo das 3:21 da tarde:

Não tire conclusões precipitadas!

Sei que pode parecer impossível mas se calhar até é um dos poucos proprietários que vive lá!

Miguel de Sepúlveda Velloso disse...

reagindo ao anónimo das 7.11 da tarde,

O número de gerações é irrelevante, Lisboa, é hoje, uma cidade emporcalhada, desmazelada, em ruínas em grande parte do seu centro histórico, com uma noite absolutamente selvagem. Não Lisboa, não é linda. Já há muitos estrangeiros que afirmam que nunca mais cá porão os pés, tal é a desordem, o nojo,
os prédios podres e devolutos, as ruas absolutamente impraticáveis, a insegurança, a droga vendida à luz do dia, os tags, os jardins cheios de terra e sem flores e um enorme, etc.

JJ disse...

"Não Lisboa, não é linda. Já há muitos estrangeiros que afirmam que nunca mais cá porão os pés, tal é a desordem, o nojo."

Adoro a rapidez e a fluidez com que certas personagens se apressam a descascar a mais pequena réstia de positivismo ou de outra coisa que não seja deitar abaixo, desprezando-a como vinda sem margem para dúvidas de alguém tolo e alienado.

A realidade cinzenta e angustiada do empedernido, lúcido e experiente cidadão Miguel Sepúlveda Velloso é a única verdadeira e aceitável, a única com certificação de qualidade Cidadania LX.

A portugalidade encarquilhada não passa sem expelir uma dose diária de bílis. Muitos o fazem, ao volante, nos fóruns televisivos ao telefone, nos comentários às notícias.

Este senhor e outros como ele fazem-no em forma de câmara digital, de prosa desencantada de blogue, de cartas à CML (tratando-a hilariantemente por "tu" como uma velha amante), explorando com um deleite mais que evidante as várias variantes das palavras "incúria" e "nojo".

De facto, apesar do cabeçalho do blog que resiste há mais de uma década com a sua mensagem politicamente correcta sobre "aplaudir e apupar" e "não dizer mal por dizer", a pluralidade de opiniões não é aceitável, só mãos com pedras para arremessar aos bodes expiatórios do momento, sejam eles Santana, Carmona, António Costa ou quem for.

Desconhece-se qual o conceito de felicidade de pessoas como o Sr. Velloso. Suspeita-se que tenha sido afogado algures nos anos 60, quando outros cidadãos experientes e empedernidos mandavam espancar uma geração que ia a concertos de rock e ousava quebrar o respeitinho e o temor a deus que os seus pais lhes tinham incutido.

Os senhores deste blogue que vão dar um passeio ao Kosovo, à Serra Leoa, às favelas do Rio, à Europa de Leste profunda, ao verdadeiro terceiro mundo, a locais onde se mata e viola por capricho e onde a rotina diária é levar um tiro por ir ao supermercado errado.

Que visitem também megalópoles como Nova Iorque, Londres, Dubai e Pequim para ver o que se esconde por trás do cartão postal, como funciona o modelo tão civilizado, capitalista e recheadinho de capital que tanto gostam de apreciar e que pregam para um país e uma cidade que sim, são pobres de espírito, são pobres em prioridades, são pobres em respeito pelo património mas que ainda podem ter pessoas felizes, que ainda pode ter gente (e cada vez mais estrangeiros, por mais que se pasme) que gostem de cá morar, por mais que você e outros grisalhos fundamentalistas como você insistam em rodear-se de grafittis, lixo e bocas políticas que não passam de um discurso de taxista bem refogado em refluxo mental incessante.

Miguel de Sepúlveda Velloso disse...

Caro JJ,

A bílis afinal parece ser sua.

A menos que me conheça pessoalmente não sabe se sou ou não grisalho.

Se sou ou não taxista

Se sou ou não viajado.

A Europa de leste profunda não sei onde fica. Já estive em Budapeste, Buacreste, Praga, Bratislava, etc. À excepção de Bucareste, nenhuma das outras apresenta uma situação de desmazelo, nojo e incúria, sim incúria, por muito que lhe custe a palavra, como Lisboa.

Não se anda de máquina em punho por capricho. Só não vê quem não quer ver. Acreditar que os senhores que escrevem bem sobre Lisboa nas páginas das revistas sonantes internacionais, fazem-no porque subitamente caíram de amores pela cidade-luz, é querer tapar o sol com a peneira. esses estadas são pagas pela ATL e pela CML, tendo a primeira afirmado que estes convites, com percursos à la carte, são mais eficazes na angariação de turistas do que grandes campanhas. É um acordo comercial e ponto. Pagamos tuido, para o sr. ou sra dizerem bem. Os turistas vêm uma vez, mas muitos já não voltam.

Não sr. JJ, não trato a CML por tu e nem a queria como amante.

O Sr. JJ deve ser tb muito viajado.

Nova-Iorque??? Fique sabendo que não se passa 1/5 do que se passa na noite selvagem de Lisboa

Londres???? Em nenhum lado há a praga dos tags que desfiguram irremediavelmente a cidade

Pequim, não é comparável, é a capital de uma ditadura

DUbai é a meca da arquitectura moderna (goste-se ou não)


O sr. pode criticar o que quiser relativamente aos autores que aqui publicam. A má-vontade não é nossa. A verdade é que Lisboa está num estado deplorável.

Esperemos que com a sua ajuda possa melhorar.

Organizou o sr. os percursos Norte Júnior, os das Vilas oprárias? Organizou o sr. a confereência sobre os Palácios Históricos, partrimónio riquíssimo a cair? organizou o sr. as conferências sobre a arquitectura fim-de-século? É que aqui a malta do "bota-abaixo" ainda tem tempo e paciência para se dedicar em regime de voluntariado a essas patifarias: procurar soluções, dar a conhecer a cidade, etc.

Afinal tudo coisas que não interessam ao sr.JJ. O que lhe interessa é dizer bem por dizer numa falta à verdade tão infantil como grisalha, afinal a ingenuidade não tem idade.

Por mim, e apesar de poder ser acusado de prtaicar censura, conversa encerrada. Há muitos barretes, cada um enfia o que quer.