In Diário de Notícias (9/7/2007)
PEDRO CORREIA
VASCO NEVES-ARQUIVO DN (imagem)
«Nem sombra de aparelho partidário: "Muitos militantes do PS gostariam de aparecer, mas têm receio de sofrerem sanções disciplinares." Ela encolhe os ombros e acelera mais ainda. A hostilidade oficial do partido em que militou durante duas décadas não faz deter Helena Roseta: num ritmo frenético, a candidata independente à Câmara de Lisboa desdobra-se em actividades na improvisada sede da campanha, que ela própria recuperou, na Rua das Portas de Santo Antão. Consulta a Internet, prepara intervenções, dialoga a todo o momento com os restantes membros da sua lista, não dá descanso ao telemóvel. No piso térreo, uma apoiante dobra envelopes: Roseta fez questão de responder às 5546 pessoas que subscreveram a sua candidatura. Agradece o apoio, solicita as contribuições possíveis e manda despachar as cartas por correio azul. Já obteve respostas. Um reformado passou há dias pela sede, deixou uma nota de 20 euros. "Eu sei que é pouco, mas ajuda", disse. Deixando comovida a candidata. "Isto é a força da cidadania", proclama a arquitecta. Há ecos óbvios da campanha presidencial de Manuel Alegre nestas suas declarações.
Aqui não se oferecem canetas nem sacos de plástico, tão frequentes noutras campanhas. A verba escasseia: na pequena equipa que rodeia Roseta, ninguém é remunerado. "Só pagamos ao segurança que fica a guardar a sede, todas as noites", garante a candidata, mostrando-se indiferente às sondagens que lhe apontam uma tendência para descer: "Vai haver uma surpresa." Alegre dizia o mesmo, em Janeiro do ano passado. Tinha razão, como se viu.
Há mais de 30 anos envolvida em campanhas várias, ainda não se cansou. "Eu hoje estou com o speed todo", diz para Luísa Jacobetty, outra voluntária, encarregada das relações quotidianas com os órgãos de informação. Nesta tarde, a ex-jornalista do Independente faz também de motorista improvisada, conduzindo a candidata à zona de Chelas, onde ocorre a principal acção de campanha do dia. Roseta participa na Festa dos Lóios, no bairro homónimo, que "tem moradores muito activos". É uma área que a arquitecta conhece bem, como "defensora convicta" do artigo 65.º da Constituição da República, que consagra o direito universal à habitação.
Protegida do sol com um boné branco e calçando ténis da mesma cor para moderar o cansaço, Roseta circula descontraída entre as dezenas de pessoas na festa que promete "animação e baile", com ritmos de street dance lá mais para a noite. É hora dos comes e bebes. Cada sande de couratos custa um euro e vinte, se for com entremeada o preço sobe para 1,80. Paga-se dois euros por um pratinho de pipis, empurrado por imperiais a 1,20 cada. Há "crepes escaldantes" por um euro. E até "Ferreros Rochers caseiros" pela módica quantia de 40 cêntimos...
A arquitecta mastiga umas filhoses e deambula de mesa em mesa, lembrando a sua anterior experiência autárquica: foi vereadora em Lisboa no primeiro mandato em democracia, logo em 1976; em meados dos anos 80, presidiu à Câmara de Cascais. "Boa tarde, Dona Helena, como está?", cumprimentam-na. Uma senhora apresenta-lhe os filhos, ambos deficientes, de lágrimas nos olhos. Por momentos, a candidata que se gaba de andar "sempre cheia de speed" emociona-se também. "Não consigo fazer política sem emoção", confessa.
Chega Eduardo Gaspar, presidente da Associação Tempo de Mudar. Um homem de esquerda bem enraizado neste terreno que chama a candidata e lhe diz, olhos nos olhos, com ar sério: "Espero que a Helena Roseta não faça um acordo com o PS. Com este PS cheio de arrogância, cheio de prepotência, que tem esta postura autoritária com as pessoas. Este PS não merece esse acordo."
As colunas de som debitam música com demasiados decibéis, mas a arquitecta escutou bem a mensagem. Começa a não ser novidade: recados deste género vão-lhe chegando em número crescente. Para mais tarde recordar.| »
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1 comentário:
mais um jeitinho à roseta, não é ferrero?
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