02/10/2007

Dos limites de velocidade

O aumento dos limites de velocidade nos troços «tipo via rápida» sujeitos a vigilância por radar vai ser discutido hoje na primeira reunião da comissão para avaliação do sistema de radares de Lisboa. Em resumo, os que defendem o aumento da velocidade máxima de 50 para 80 km/h sustentam a sua pretensão no facto de haver vias com duas ou mais faixas de rodagem em cada sentido, separador central e passagens superiores de peões.
Na cidade assumo duas naturezas, a de peão e a de automobilista, sendo que (julgo) isso me permite abordar a questão com suficiente isenção (mais a mais, nas minhas deslocações pendulares apenas posso usar o meu carro). Assim, creio que o aumento dos limites de velocidade é um erro monumental. E julgo que o erro dos "velocistas" nasce de uma confusão que os "caracóis" não souberam nem conseguiram desfazer, ora vejamos:
  1. O facto de numa via existir mais que uma faixa de rodagem em cada sentido, significa tão somente que se pretende que passe mais que um carro ao mesmo tempo, e não que se circule mais depressa. Pretende-se assim maior fluidez na circulação e não mais velocidade.

  2. O facto de numa via existir um separador central, significa tão somente que, ou se entendeu que se trata de um troço com propensão para as colisões frontais, ou se pretendeu colocar vegetação para embelezar a via, ou ainda que se pretendeu facilitar a circulação de peões e evitar a inversão do sentido de marcha. Não se pode retirar que tal sirva apenas para proporcionar uma maior velocidade;

  3. Quanto à existência de passagens superiores para peões a coisa fia mais fino... É que a existência desse tipo de passagens significa a Cidade entende que, entre um peão e um automóvel, o esforço de atravessamento deve ser maior do lado do peão. Se a passagem superior é pedonal, isso significa que para atravessar uma estrada, o peão deverá percorrer uma distância quase sete vezes superior à da largura daquela (veja-se a imagem infra, da segunda circular na zona de Telheiras). Assim, a existência de passagens superior deveria ser simplesmente combatida (pela inclusão de limites de velocidade mais reduzidos, de lombas, de semáforos, de rotundas...) e não ser utilizada como argumento para criar mais muros para os peões...

12 comentários:

Anónimo disse...

Excelentemente apresentado, parabéns. De facto a existência de duas ou mais vias em meio urbano (vulgo avenidas, e não vias rápidas) serve apenas para aumentar o fluxo de tráfego, e não para diferenciar velocidades. As avenidas onde se quer implantar o limite de 80km/h são uma autêntica aberração urbana, pois não só aumenta o ruído, como a insegurança (pedonal e até criminal, pela ausência de pessoas nos passeios, pela inóspitalidade)

Luís Pedro Correia disse...

"A Cidade entende que, entre um peão e um automóvel, o esforço de atravessamento deve ser maior do lado do peão". Claro, os peões que arranjem também um motor. E potente , de preferência, porque as distâncias a percorrer são ainda maiores.

Anónimo disse...

É curioso que nos acidentes morrem muito mais condutores de veículos do que peões...

F. Penim Redondo disse...

O Nuno Santos Silva está bastante confuso. Vou responder ponto por ponto:

1. A diferença entre fluidez e velocidade não faz muito sentido para o cidadão comum que só está interessado em evitar barreiras absurdas no caminho para casa.

2.Se como diz "se entendeu que se trata de um troço com propensão para as colisões frontais" e se essa propensão deixou de existir, então passou a ser seguro andar mais depressa. Quanto aos peões é bom não esquecer que as regras de trânsito lhes destinam as passadeiras, onde os carros são obrigados a parar. A lei tem que ser para todos.

3.O argumento é falacioso pois, se o peão se se continuar a deslocar na mesma direcção depois de atravessar, acaba por andar exactamente o mesmo.

O caso apresentado é um caso particular destinado a confundir os leitores.

Seja como for o Nuno parece considerar justo que meia duzia de peões, que é o que acontece na maior parte dos locais dos radares, para não se incomodar a andar mais uns metros, obriguem milhares de pessoas a andar mais devagar.

O Nuno pertence ao grupo dos que pensam que o objectivo é andarmos mais devagar. Está enganado. O objectivo é andar o mais depressa possível mantendo os acidentes num nível aceitável, já que o zero é impossível.

Andar mais devagar tem custos enormes para a sociedade.

Num país como Portugal, por exemplo, passar a velocidade média de circulação de 60 para 50 km/h, é desperdiçar 14 milhões de dias/homem.

14 milhões de dias/homem passados dentro dos carros em vez de estar a trabalhar, a estudar, a acompanhar os filhos ou os pais, etc, etc...

14 milhões de dias/homem que podiam salvar muitas vidas.

Anónimo disse...

Caro Penim,

A diferença entre fluidez e velocidade é fundamental e já lhe foi explicada várias vezes. Como não o considero burro, nem incapaz de recolher informação, começo a pensar que é má-fé. Resumindo: a) a capacidade de uma via (número de carros por hora) é optimizada entre 40-50 km/h; b) a capacidade de um percurso é sempre determinada pelo os pontos de capacidade mais baixa - os cruzamentos; c) a velocidade máxima tem muito pouca relevância, em percursos urbanos, para a velocidade média e consequentemente para a duração de uma viagem.

Também já lhe foi explicado várias vezes que os peões têm o direito pelo código da estrada de atravessar uma via, se estiverem a mais de 50 metros de uma passadeira. Quanto maior a velocidade do automóvel, mais difícil é para o condutor e peão calcularem distancias. Também devia saber, porque já lhe foi dito várias vezes, que 1/3 das mortes de peões acontecem em passadeiras.

Como qq pessoa poderá facilmente compreender, o último argumento só na cabeça do Penim é que é falacioso. De facto só é igual no caso particular a que se refere - esquece-se no entanto de mencionar que o peão (que pode ser um idoso, uma criança ou alguém em cadeira de rodas) tem sempre que subir e descer 5 metros. A maior parte dos casos sem rampa. O Penim pode fazer petições mas deverá ter mais cuidado ao insultar a inteligência de todos.

A suas últimas contas são um total absurdo matemático - nem me vou dar ao trabalho de o desmontar.

Economicamente, basta por a cabeça a pensar porque é que em TODOS os países da Europa a tendência dos últimos anos é precisamente baixar as velocidades máximas. São todos fundamentalistas - menos o Penim está claro.

Paulo Andrade

F. Penim Redondo disse...

O Paulo Andrade lá vem com a "cassette" habitual de quem, por não saber ou não querer atacar as verdadeiras causas dos acidentes, opta por infernizar a vida dos cidadãos. Os engarrafamentos deste outono em Lisboa estão a mostrá-lo.

A terminar a intervenção do Paulo lá vem o argumento supremo: "TODOS os países da Europa" não podem estar enganados.
A verdade é que, no plano económico, a Europa está em clara decadência no plano mundial.
Será que os europeus passam demasiado tempo dentro dos automóveis ?

Anónimo disse...

Acho graça que a defesa dos radares tenta apresentar-se como opinião "técnica" mas depois, na argumentação, acaba por mostrar que tem a sua raíz em preconceitos ideológicos.
Veja-se a este propósito a maneira como a questão dos peões é tratada...

Anónimo disse...

Pelo seu passado, de "cassetes" deve saber o Penim. :-)

O hábito sempre fica:

Pensei que a "cassete" da decadência da Europa pertencia ao um tal de Jorge Campos. :-)

...que a "cassete" das causas ideologias por traz dos fanáticos a favor dos peões, era de um tal de Penim Redondo. :-)

Jaime Dias

Anónimo disse...

Caro Penim,

Confesso. Com a sua habitual perspicácia, mais uma vez conseguiu chegar ao âmago dos meus preconceitos: sou um "comuna" ludista que no fundo, no fundo pretende que todos os Lisboetas andem de patins.

Sugiro que elabore um ensaio sobre as motivações ideológicas dos fanáticos e já agora peça ao igualmente sagaz Jorge Campos para nos explicar como é que os radares estão a contribuir para a irreversível e mais que óbvia decadência económica da Europa.

O pessoal das filas de trânsito de outono anda a precisar de dar umas boas e sonoras gargalhadas ao volante.

PA

F. Penim Redondo disse...

Para o Paulo Jaime Andrade Dias,

realmente quando falo de cassettes sei do que estou a falar, sou um verdadeiro especialista. Por isso vos detectei sem qualquer dificuldade.

Infelizmente as cassetttes não são exclusivo dos comunas, coisa em que também sou especialista.

Seja como for manifestam um irreprimível tendência para interferir com a vida dos outros, contra toda a razoabilidade, impondo-lhes à força uma "verdade" inquestionável.

Eu pelo menos curei-me disso...

Anónimo disse...

O Penin nunca para de espantar com as suas inúmeras especialidades e muito portuga à vontade de teorizar sobre tudo o que lhe cruza o caminho.

Palavras para quê? É um artista português e usa restaurador Olex.

Jaime Dias

Anónimo disse...

Eu acho que a questão que leva à discordia do post prende-se com a escala de análise: Uns defendem a solução imediata e limtada que é resolver os entraves ao trânsito (enxotando os peões das vias, p.ex.), e outra, que defendo, por ser intelectualmente superior, a escala dos valores, da cidadania, da sociabilidade entre individuos, da cidade humana e com qualidade de vida, onde o automóvel deve ser apenas tolerado. Realmente, enquanto a mentalidade fôr imediatista, Lisboa vai continuar a morrer.