31/01/2012

Estação da Reboleira do Metropolitano de Lisboa pronta em 2014

In Público (31/1/2012)
Por Inês Boaventura

«Dificuldades de financiamento explicam atraso

A transportadora garante que apesar de atrasado o projecto "não foi abandonado"

O Metropolitano de Lisboa garante que o prolongamento da Linha Azul à Reboleira "não foi abandonado". Segundo a empresa o projecto está a ser revisto e a obra deve ser inaugurada em 2014. [...]»

Greve na Soflusa afectou 24.500 passageiros



Por Inês Boaventura in Público

Sindicatos reclamam 100% de adesão à greve, que voltou a transtornar a vida dos utentes entre as duas margens do Tejo

A greve de ontem dos trabalhadores da Soflusa afectou, segundo as contas de empresa, cerca de 24.500 passageiros, que se viram privados da ligação fluvial entre o Barreiro e o Terreiro do Paço.
A greve decorreu em dois períodos: entre as 4h45 e as 10h40 e, à tarde, entre as 16h e as 19h45. A Soflusa disse ao PÚBLICO, através da sua assessoria de imprensa, que estava em causa a realização de 54 carreiras entre as duas margens do rio Tejo. Como sempre, a transportadora e os sindicatos não se entendem quanto aos números de adesão à greve. Em relação ao primeiro período de paralisação, por exemplo, a Soflusa fala numa adesão de 84% e o Sindicato dos Transportes Fluviais, Costeiros e da Marinha Mercante garante que foi de 100%.
A empresa já tinha anunciado que não seriam disponibilizados transportes alternativos e que os títulos de transporte da empresa serão válidos em todas as ligações da Transtejo. O Grupo Transtejo, que detém a Soflusa, considerou que as duas greves agendadas por trabalhadores da empresa são "excessivas e inúteis".
Os grevistas estão contra o Plano Estratégico dos Transportes que prevê, nomeadamente, a fusão entre a Transtejo e a Soflusa. Os trabalhadores criticam também a redução prevista do número de ligações fluviais, que dizem ascender a um total de 49 (43 ao fim-de-semana e seis nos dias úteis).
No passado dia 19, a Junta Metropolitana de Lisboa deu um parecer positivo às alterações previstas pelo Governo, considerando que a última versão do documento representa uma evolução em relação àquela que os vereadores da Mobilidade rejeitaram. Esse documento, consideraram, penalizava os serviços das ligações fluviais, contemplando, por exemplo, o fim da ligação entre Trafaria e Belém.
Na quinta-feira, dia de greve no sector dos transportes, os funcionários da Soflusa voltam a parar durante parte do dia, juntamente com os da Transtejo. Na Carris, Metropolitano de Lisboa e CP, a paralisação é de 24 horas.

Passe do metro e da Carris que inclui estacionamento aumenta para 51,5 euros


O passe mensal que inclui o estacionamento nalguns parques de Lisboa e a utilização do metro e da Carris vai passar a custar 51,5 euros, em vez dos actuais 49 euros. A oposição do vereador da Mobilidade de Lisboa terá travado a intenção dos operadores de transportes de aumentarem o preço deste título em 22,4%.
Este passe foi lançado em Outubro de 2011, depois de vários meses de negociações para se chegar a um acordo sobre como seria feita a repartição das receitas entre as entidades envolvidas. "É um passo de gigante que foi tirado a ferros", admitiu na altura o vereador Fernando Nunes da Silva. A partir de amanhã, este título com pouco mais de três meses de vida vai custar 51,5 euros. Mas o vereador garante que a vontade dos operadores de transportes que integram o sistema de park&ride, defendida junto da Autoridade Metropolitana de Transportes de Lisboa, era aumentar o seu preço em 22,4%.
Aliás, na informação sobre o novo tarifário disponível na página da Internet do Metropolitano de Lisboa constava ontem a indicação de que o passe Carris/metro/estacionamento passaria a ter um custo de 60 euros.
Já o passe que permite aos seus utilizadores viajarem no metro e estacionarem no parque de Alvalade vai sofrer um aumento de 14%, de 41,2 para 47 euros.
Ontem a Comissão de Utentes da Linha de Sintra e a Comissão de Utentes da Mobilidade e Transportes de Sintra contestaram, em comunicado conjunto, o "aumento dos preços, a supressão de serviços e a privatização das empresas de transportes públicos", considerando que está em causa "um ataque aos direitos dos utentes". I.B.in Público

Ascensor do Lavra parado devido a rotura





O ascensor do Lavra, em Lisboa, foi encerrado há 15 dias e assim vai permanecer durante pelo menos mais três semanas, devido a um abatimento do pavimento, em consequência de uma rotura de um colector de águas.
O ascensor faz a ligação entre o Largo da Anunciada e a Rua de Câmara Pestana. O abatimento do pavimento obriga à correcção do piso da calçada do Lavra e do nivelamento da via-férrea. Segundo Luís Vale, o secretário-geral da Carris, a câmara vai proceder à reparação e vai fazer "uma inspecção a todo o colector, até ao fundo da Calçada do Lavra, porque admite que podem existir outras roturas que terão também de ser reparadas". Embora reconheça que não existe uma alternativa directa, a Carris sugere aos passageiros com destino ao Campo dos Mártires da Pátria o autocarro 790, a partir do Martim Moniz ou da Praça da Figueira. O ascensor do Lavra é o mais antigo de Lisboa, inaugurado em 19 de Abril de 1884, e está classificado desde 2002 como monumento nacional.

30/01/2012

A Presidente nacional do ICOMOS a propósito do Jardim Botânico, Évora, Douro... Património classificado!

Reveladora entrevista com a Dra. Ana Paula Amendoeira, Presidente do ICOMOS Portugal. Ainda bem que ainda temos vozes como esta que se comprometem pela defesa da cultura e não se vendem ao poder económico e/ou político-partidário nem se deixam tolher pela diplomacia. A verdade é para ser dita em voz alta. Houvera mais gente assim a liderar as nossas autarquias, Ministérios, institutos, etc.


Ainda na escola secundária deixou-se deslumbrar pela História e pelo património do seu concelho, “em particular Monsaraz e o seu fantástico território”, hoje é uma das mais importantes especialistas de património em Portugal, presidente nacional do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS), entidade a quem cabe fazer avaliação do estado dos monumentos de Évora e do Alto Douro Vinhateiro, que este ano cumprem 25 anos desde a sua classificação como património mundial. (...)

Acha que os políticos se preocupam a sério com o património ou é apenas retórica? Acho que para uma grande maioria é retórica, mas não são só os políticos. Eles também têm muitas vezes as costas largas.
Estamos numa época de crise económica, normalmente, nestas alturas, o património sofre por dois motivos, por falta de verbas e por falta de capacidade argumentativa face a necessidades consideradas mais importantes. Teme pelo que vai acontecer ao património em Portugal nos próximos anos? Já está a acontecer, não começou agora. Apenas vai continuar e agravar-se. Eu não temo só pelo património mas pela nossa terra, que é muito mais do que património, e pela forma como a entendemos e como a queremos ou não cuidar.
Quais são neste momento as áreas mais problemáticas em termos de preservação do património? É difícil dizer porque há tantos problemas, talvez as nossas cidades históricas sejam as que neste momento estão mais ameaçadas, sobretudo se a nova Lei da Reabilitação não regular consistentemente os tipos de intervenção adequados aos centros históricos de maior valor.
Tem uma posição crítica em relação à classificação do património, porquê? A minha posição é crítica porque a classificação do património neste momento tem cada vez menos sentido, a lei não é cumprida em muitos e importantes casos, quer se trate de património mundial ou de monumentos nacionais. Dou-lhe o exemplo do Douro, como património mundial, e do jardim botânico de Lisboa, como monumento nacional, em que a lei do património não é pura e simplesmente aplicada. Hoje foge-se do acompanhamento e do controlo activo dos monumentos classificados, tal como a lei obriga, porque outros valores mais baixos se levantam.
Há coisas que não deviam ter sido classificadas? Duvido, a classificação informa-se numa teoria de valor, se a coisa tem valor classifica-se, o contrário não é verdadeiro. A nossa Lei quadro é uma das mais esclarecidas do mundo e a teoria do valor do património português está muito precisamente estruturada, a sua aplicação é que tem sido medíocre! (...) in Jornal i

PROCURAM-SE MANIFESTOS: último dia

O que queremos para nós próprios? O que queremos para o nosso prédio, para o nosso bairro? O que queremos dos nossos políticos, artistas, juízes, administradores, cientistas, professores? Quais são as visões do futuro que nos mobilizam? O que é preciso mudar?

Em 2005, os artistas finlandeses Tellervo Kalleinen e Oliver Kochta-Kalleinen organizaram o primeiro Complaints Choir (Coro de Queixas) na cidade de Birmingham. O sucesso foi imediato e, em vez de patentear a ideia, os artistas decidiram disponibilizar o conceito na Internet em open source. Os coros de queixas começaram a emergir em todo o mundo: Helsínquia, Hamburgo, São Petersburgo, Melbourne, Jerusalém, Budapeste, Chicago, Florença, Vancouver, Singapura, Copenhaga, Filadélfia, Milão, Hong Kong, Tóquio, Roterdão…O Coro de Queixas verbaliza as queixas reais dos habitantes de uma cidade. No contexto do tema Manifesto, resgatamos a ideia e transformamo-la: o que iremos cantar não são queixas, mas sim vontades. Passamos da queixa à exigência, do descontentamento à formulação de alternativa. O Coro das Vontades cantará os vossos sonhos, desejos e vontades. Recolhemos os vossos manifestos — uma frase, um parágrafo, um texto — até ao dia 31 de janeiro. O material enviado será editado pelo músico Tiago Sousa e adaptado para um concerto no dia 14 de julho, Dia do Manifesto, que encerrará a temporada do Teatro Maria Matos. A totalidade dos textos será editada numa publicação online.

Os textos podem ser enviados por e-mail e correio ou entregues na bilheteira do nosso Teatro.

Teatro Maria Matos

Coro das Vontades

Rua Bulhão Pato 1B

1700-213 Lisboa


Fotos: Rossio e Praça da Figueira

Piscinas do Areeiro e Campo Grande.


Fonte: Carlos Caria,facebook

Capital Europeia da demolição: Rua das Amoreiras 56

De Campo de Ourique às Avenidas Novas, das Amoreiras a Alcântara, Lisboa continua sem competição em matéria de demolição do seu património arquitectónico. E nos bairros históricos "clássicos" também vemos cada vez mais demolições - mas aí o decoro manda que se faça atrás das antigas fachadas "recuperadas" para que a obra possa entrar nas estatísticas e assim engordar, de forma fraudulenta, os números da "Reabilitação" - à portuguesa, claro está que na Itália, Reino Unido ou na França tudo isto seria prontamente classificado de políticas promotoras de descaracterização e de mediocridade urbana em cidades históricas. Lisboa não merece mais?

Material da mostra sobre Darwin custou 375 mil euros a Oeiras e não serve para expor


A exposição registou grande afluência de público na Gulbenkian e no Porto

Por Marisa Soares in Público

Autarquia recebeu da Gulbenkian peças da exposição A Evolução de Darwinpartidas e apodrecidas. Técnicos camarários dizem que o material não tem condições para ser exposto

A Câmara de Oeiras financiou a exposição A Evolução de Darwin,promovida com grande sucesso pela Gulbenkian, em 2009, na condição de ficar com parte do acervo para o futuro Museu da Ciência do concelho. Mas o material que recebeu no ano passado está "em mau estado" e, segundo técnicos camarários, não serve para voltar a montar a exposição.
Com pompa e circunstância, a autarquia assinou um protocolo com a Gulbenkian, em 2008, no qual se comprometia a contribuir com meio milhão de euros (do qual já pagou 375 mil euros) para a exposição comemorativa dos 200 anos de Charles Darwin, em troca de parte dos materiais da exposição. Além disso, a fundação apoiaria tecnicamente o município na montagem da exposição no futuro Museu da Ciência, que deverá ficar sedeado na Fábrica da Pólvora de Barcarena (ver caixa).
Depois da Gulbenkian, a exposição seguiu para Granada, Espanha, e para a Casa Andresen, no Porto, onde esteve até Julho de 2011. O que chegou a Oeiras em Agosto foi "material expositor na sua maioria em mau estado, desconjuntado, apodrecido, algumas coisas partidas e outras sem qualquer aproveitamento", lê-se em documentos internos da câmara. Em resposta escrita ao PÚBLICO, a autarquia diz apenas que os materiais "estão acondicionados nas melhores condições, tal como vieram da exposição do Porto". O problema é que muitos deles já chegaram ao Porto estragados e nem sequer foram expostos.
A maior parte do conteúdo científico e das réplicas de animais que integravam a exposição pertencem a outras entidades - como o Museu de História Natural de Lisboa ou o Aquário Vasco da Gama -, que no fim reclamaram as peças. Por este motivo, o que foi para Oeiras é "muito mais uma lista de material de equipamento de suporte físico à exposição" do que "o conteúdo de uma exposição", revelam os documentos municipais.
A Oeiras chegaram vitrinas, prateleiras, vidros, painéis, floreiras, suportes, alguns computadores, alguns monitores LCD, bancos e outras estruturas de suporte. Mas o material para expor é reduzido: existe uma "ilha de bichos", uma figura de Darwin em cera, parte do Beagle (navio utilizado pelo naturalista nas suas pesquisas) e alguns pássaros, bem como fotocópias de livros do cientista.
A lista de material recebido não corresponde na íntegra à listagem anexa ao protocolo, negociado entre o ex-chefe de gabinete de Isaltino Morais, Nuno Manalvo, e o administrador da Gulbenkian Diogo de Lucena. Mesmo assim, a lista inicial "não é suficiente para construir uma exposição", referem os técnicos municipais.
Em Outubro, a câmara pediu à fundação que fosse criada uma equipa técnica mista para fazer o inventário e a avaliação patrimonial do material depositado em Oeiras, com vista ao "cabal esclarecimento" do valor do acervo e das condições de viabilidade de concretização do projecto do Museu da Ciência. O PÚBLICO questionou a Gulbenkian sobre este processo, mas a instituição escusou-se a prestar quaisquer declarações.

Classe média está em risco de “implosão”


"Não responsabilizo especialmente as pessoas, do ponto de vista individual. Não tenho dúvidas de que se tratou de um programa de facilitação do crédito estrategicamente montado, planeado e orientado por parte da própria banca", comenta Elísio Estanque. Considera que as consequências, "que hoje estão à vista", "foram agravadas, por um discurso político que, ao invés de ter um teor pedagógico e preventivo, instigou ao consumo e ao progressivo endividamento".

“No livro, o investigador fala desta classe média atribuindo-lhe "vivências de carácter bipolar", em que "um quotidiano depressivo se conjuga com técnicas de dissimulação e disfarce". Estanque chega a afirmar que o quadro roça "a patologia social", já que um grupo continua "a negar a todo o custo uma realidade, mesmo quando já mergulhou nela até ao pescoço".

"São professores, juristas, arquitectos, engenheiros", enumera Eugénio Fonseca. E não procuram apenas o que comer: "Pedem ajuda para pagar a renda, a água, a luz, as propinas dos filhos", completa Lino Maia. Deram origem a um novo conceito, o de pobreza envergonhada, e começaram há dois ou três anos a aparecer nos noticiários sob a designação de "novos pobres", falando sempre sob anonimato, com a voz distorcida, filmados ou fotografados de costas ou em contraluz.”


"Quando falam dos perigos da conflitualidade social, os agentes políticos só pensam nas manifestações de rua. Esquecem que esta forma de sofrimento é uma outra forma de conflitualidade, muito mais corrosiva, muito mais destruidora da afirmação do sujeito na sua relação com os outros", alerta o sociólogo.


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29.01.2012 Por Graça Barbosa Ribeiro in Público

Ensaio divulgado esta semana

Num ensaio que esta semana chega às bancas, o sociólogo Elísio Estanque analisa a ascensão e declínio dos segmentos sociais que hoje estão rotulados como "os novos pobres".

Quando entram no Gabinete de Apoio ao Sobreendividado da Deco, a primeira pergunta que as pessoas fazem é: "Esta conversa fica só mesmo entre nós?" A resposta - "sim" - é essencial para o prosseguimento do diálogo. Algumas têm os vencimentos penhorados e já cortam na própria alimentação, mas fora daquelas quatro paredes agem como se nada tivesse mudado, mesmo junto de familiares e de amigos. Fazem parte de uma classe média "doente" e "em declínio", tema do ensaio do sociólogo Elísio Estanque que avisa que "os poderes políticos deviam estar mais preocupados com a possível implosão deste grupo do que com a sua eventual manifestação nas ruas".

No seu escritório, na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, o investigador do Centro de Estudos Sociais folheia um jornal. Pode ser o do dia, o da véspera ou o da semana anterior, "não interessa", diz - "Todos os dias há algo de novo: o acordo de concertação social, o anúncio de uma nova vaga de excedentários na função pública, o abandono da universidade pelos estudantes, as novas vagas de desemprego, o aumento das taxas moderadoras, a desmontagem do Estado Social – está tudo a acontecer de uma forma extraordinariamente rápida e intensa", comenta. Aponta o livro editado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, que este fim-de-semana chega às bancas com o título A Classe Média: Ascensão e Declínio, e admite: "Se fosse hoje, provavelmente trocaria o termo "declínio" por "queda"".

No ensaio, Elísio Estanque vai para além da sistematização teórica. A segunda parte do livro é dedicada às particularidades do caso português, no que respeita "à célere e pouco sustentada ascensão da classe média" e também à forma como ela "agora se desmorona, de maneira igualmente rápida e abrupta, na sequência do "empurrão" da crise e das medidas de austeridade".

O ponto de chegada do sociólogo é uma classe média " fraca e ameaçada de ‘proletarização’"; o ponto de partida de uma sociedade "que em escassas dezenas de anos passou de predominantemente rural a marcadamente urbana". Os dados são objectivos: a população activa no sector primário encolheu de 43,6 por cento em 1960 para 11,2 em 1991 e a do sector terciário cresceu, no mesmo período, de 27,5 para 51,3 por cento.

O peso da classe média - "que até 1974 era absolutamente residual", nota o investigador – resulta, na sua perspectiva, de vários factores conjugados. Refere-se à progressiva generalização da frequência do ensino superior que se reflectiu na proliferação das profissões liberais; e também ao crescimento do sector público, que vê como o principal canal de mobilidade ascendente para as classes trabalhadoras, graças às políticas centradas em áreas como a Educação, a Saúde, a Justiça ou a Administração Pública.

A afirmação do Estado Social e os fenómenos de litoralização do país e de concentração urbana são outros dos factores que na sua óptica "se viriam a mostrar decisivos quando, após a instabilidade dos anos 80, Portugal entrou numa espécie de euforia política e económica", acentuada pela entrada de fundos da Comunidade Europeia.

Despido da fundamentação teórica, o retrato é quase caricatural. Elísio Estanque fala dos grupos instalados nas periferias urbanas que alimentam a ambição de ascensão social tendo como termo de comparação o mundo rural, contingente e precário da geração dos pais. Considera que aqueles grupos, ao conquistarem empregos "limpos", que imaginavam estáveis e seguros, acreditaram estar, "desde logo, confortavelmente instalados na classe média". É neste contexto, analisa, que se dá o "casamento" que o investigador considera "fatal": a ânsia daqueles grupos de adoptarem padrões de vida europeus, modernos e urbanos coincide com o florescer do mercado do crédito.

"Não responsabilizo especialmente as pessoas, do ponto de vista individual. Não tenho dúvidas de que se tratou de um programa de facilitação do crédito estrategicamente montado, planeado e orientado por parte da própria banca", comenta Elísio Estanque. Considera que as consequências, "que hoje estão à vista", "foram agravadas, por um discurso político que, ao invés de ter um teor pedagógico e preventivo, instigou ao consumo e ao progressivo endividamento".São inúmeras as testemunhas directas dos acontecimentos de que fala o investigador, algumas delas colocadas em postos de observação privilegiados. É o caso de Natália Nunes, responsável pelo Gabinete de Apoio ao Sobreendividado (GAS) desde que aquele foi constituído, em 2000. Recorda-se de que os primeiros consumidores a pedirem auxílio à DECO tinham recorrido ao crédito para comprar casa, carro, mobílias, computadores ou electrodomésticos". Hoje a situação é diferente: de uma forma genérica, diz, as pessoas não conseguem identificar o que as levou a pedir empréstimos. Por uma razão simples: "A maior parte das famílias tem cinco ou mais créditos, sendo que os mais recentes são contraídos para fazer face aos antigos...", explica Natália Nunes.

Em 11 anos multiplicaram-se os pedidos de apoio ao GAS, que em 2000 deram origem à abertura de 152 processos, em 2010, a perto de três mil, e no ano passado a 4288. E Natália Nunes não hesita em situar as pessoas que hoje vivem as situações mais graves no grupo estudado por Elísio Estanque, a classe média. Do total de consumidores apoiados, 61 por cento têm idades compreendidas entre os 30 e os 50 anos; 45 por cento concluíram o ensino secundário ou universitário e a maior parte tem rendimentos superiores a 1500 euros por mês. São pessoas reais, que aparecem diluídas no ensaio de Elísio Estanque, enquanto membros de um segmento social que se tornou vítima da "progressiva redução dos direitos sociais e laborais, do consequente aumento da insegurança, do desemprego e das medidas de austeridade".

No livro, o investigador fala desta classe média atribuindo-lhe "vivências de carácter bipolar", em que "um quotidiano depressivo se conjuga com técnicas de dissimulação e disfarce". Estanque chega a afirmar que o quadro roça "a patologia social", já que um grupo continua "a negar a todo o custo uma realidade, mesmo quando já mergulhou nela até ao pescoço".

A descrição corresponde ao mundo em que se move, diariamente, o presidente da Caritas, Eugénio Fonseca. "As pessoas recusam-se a assumir a perda de status, aguentam muito para além do limite do razoável, procurando manter a aparência de um estilo de vida que já não são capazes de pagar. E quando finalmente nos procuram, a gravidade das situações é tal que ultrapassa, em muito, a nossa capacidade de intervenção", lamenta.

Natália Duarte lida com o mesmo tipo de comportamento: "As pessoas pedem ajuda sob a condição de total confidencialidade. Escondem a sua situação dos vizinhos e até dos familiares que, temem, se afastariam se dela tivessem conhecimento", afirma. O presidente da Confederação Nacional das Instituições Particulares de Solidariedade Social (CNIPE), o padre Lino Maia, confronta-se com os mesmos problemas, mas sublinha que as pessoas sobreendividadas "preocupam-se, principalmente, com a iminência de as dificuldades afectarem os filhos, aos quais procuram proporcionar o mesmo estilo de vida que tinham antes, ainda que eles próprios estejam, já, a cortar na sua alimentação".

As próprias instituições de apoio social têm vindo a ajustar protocolos para acolher estas pessoas, que na necessidade de ajuda e na situação de pobreza se somam aos sem-abrigo, mas têm um perfil muito diferente.

"São professores, juristas, arquitectos, engenheiros", enumera Eugénio Fonseca. E não procuram apenas o que comer: "Pedem ajuda para pagar a renda, a água, a luz, as propinas dos filhos", completa Lino Maia. Deram origem a um novo conceito, o de pobreza envergonhada, e começaram há dois ou três anos a aparecer nos noticiários sob a designação de "novos pobres", falando sempre sob anonimato, com a voz distorcida, filmados ou fotografados de costas ou em contraluz. "Nesse aspecto, a situação piorou: hoje dificilmente se consegue que estas pessoas falem, mesmo nessas condições", diz Lino Maia. O que aconteceu? "As pessoas estão deprimidas", diagnostica o presidente da Caritas. Elísio Estanque hesita em falar de um grupo social "doente". Mas acaba por assumir a expressão, para designar "o estado de segmentos da população que em duas décadas alimentaram expectativas fortíssimas e legítimas de mobilidade social ascendente e que agora caem na pobreza, sem perspectivas de retornar, sequer, à posição anterior". "É doentia", considera, a forma "envergonhada, calada e silenciosa" como esta frustração está a ser vivida por aqueles que ao mesmo tempo "encenam uma normalidade que já não existe".

"Quando falam dos perigos da conflitualidade social, os agentes políticos só pensam nas manifestações de rua. Esquecem que esta forma de sofrimento é uma outra forma de conflitualidade, muito mais corrosiva, muito mais destruidora da afirmação do sujeito na sua relação com os outros", alerta o sociólogo.

Elísio Estanque considera que "não estão a ser devidamente avaliados os custos, a médio prazo, de uma sociedade doente, incapaz de responder às necessidades do país". Eugénio Fonseca, da Caritas, recorre à experiência de contacto com estes grupos, no terreno, para avisar que, "só do ponto de vista da saúde pública, os custos já serão tremendos". "Não há dados, não há estudos, ainda está tudo a acontecer. Mas temo bem, devido a alguns casos concretos que conheço, que estes "novos pobres", com qualificações superiores e sem perspectivas de recuperar o estatuto social perdido, sejam os responsáveis pelo engrossar das estatísticas do consumo de ansiolíticos e até de suicídios", avisa o presidente da Caritas.

O próprio Elísio Estanque prepara um trabalho académico nesta área, centrado nestes segmentos "que caíram um ou dois degraus na pirâmide social". Afirma que não quer ser dramático e que "confia na capacidade da sociedade de se regenerar", mas em relação à forma como tal acontecerá não arrisca qualquer hipótese. Tem "poucas ou nenhumas dúvidas", no entanto, "de que as consequências serão gravíssimas no que respeita ao acentuar das desigualdades entre ricos e pobres" – "Nesse aspecto, não sei como é que se pode evitar um retrocesso".

29/01/2012

O abate das raras colunas de iluminação

Estas colunas de iluminação, do séc. XIX e únicas na cidade, estão a ser abatidas pela CML desde o início da intervenção na Praça do Comércio. Estas que ainda se podem ver estão lá porque as obras na praça estão paradas...
Fernando Jorge


Mas atenção, que "eles ainda andem aí"...!

Coluna


Coluna nova


Fuste


Coluna, base

Fuste, folhas loureiro

Fuste, lanterna

Fuste

Fuste

Fuste

"Apontamentos" no Terreiro do Paço

As fotos de Fernando Jorge ilustram o desleixo dos serviços competentes(?) que têm a estrita obrigação de cuidar destes "pormenores".

Passeio

Passeio


Nicho

Nicho

Fachada

Quem disse que as lojas novas são melhores do que estas?

Por Cláudia Sobral in Público
Todas as semanas a Arqueolojista publica no seu blogue mais um "achado arqueolójico". Esta é uma viagem pelas lojas-avós, as lojas da Lisboa antiga

Tudo começou com Mami Pereira a distribuir castanhas assadas na Baixa de Lisboa. O senhor David, sócio de uma loja de pijamas e lingerieda Praça da Figueira, disse-lhe que passasse por lá, que lhe oferecia um copo de água-pé para ajudar a empurrar as castanhas. Ela lá foi. Mal sabia que a sua vida nunca mais seria a mesma depois daquela conversa. Hoje diz que foi aí que se apaixonou pelas "lojas antigas" e teve vontade de fazer "alguma coisa".
Por isso, a jornalista e fotógrafa agora é também Mami, a arqueolojista - que é o mesmo que dizer "pessoa apaixonada por lojas antigas que se dedica à caça, descoberta e catalogação dos achados do comércio tradicional", como a própria faz questão de explicar no blogue A Arqueolojista, onde conta as histórias destes estabelecimentos que têm vindo a desaparecer.
Este projecto "não é lá qualquer coisa", esclarece Mami ao "freguês" que tropece na página do Facebook: é um blogue "dedicado às lojas avós, também chamadas antigas" e aos seus "reclames vintage, ao bric-a-brac, aos fregueses, às etiquetas do tempo da monarquia, aos sorrisos de quem está atrás do balcão, aos galhardetes, ao granel, ao fiado". O comércio tradicional pode já não ser o que era, mas as "lojas com barbas" ainda existem. E isso vê-se pelos achados que a arqueolojista colecciona na sua página. Por uma tarde, Mami faz de guia por algumas das suas "descobertas arqueolójicas", por aquelas lojas que ainda têm tudo atrás dos balcões. "Antigamente estava tudo atrás do balcão", diz. "Hoje em dia não, porque o que as pessoas menos querem é meter conversa com quem está na loja."

Até os sapos fumavam

Mas há as lojas que resistem à mudança e é dessas que a arqueolojista anda à procura. Como a Tabacaria Mónaco, no Rossio. Desde a remodelação que se fez em 1894 pela mão de artistas portugueses como Rafael Bordallo Pinheiro e António Ramalho, pouco mudou, resume Carlos Oliveira, o sócio maioritário.
Tirou-se a cabine telefónica, "uma das primeiras cabines públicas de Lisboa" e a bilha em barro com a água de Caneças, "onde as pessoas vinham beber de um copinho" - deixou de fazer sentido com o avançar dos tempos. Por toda a galeria, continuam os painéis de Bordallo Pinheiro, com os sapos que fumam, lêem jornais e bebem água de Caneças, e, no tecto o fresco de António Ramalho, com as famosas andorinhas.
"Às vezes custa falar disto", começa. Há 41 anos entrava por aquela porta como marçano, para fazer o que fosse preciso. E assim ficou, até acabar por tomar conta do negócio, deixado em testamento pela patroa. Na Mónaco, uma publicação de número único editada a propósito da inauguração da tabacaria depois da remodelação, o escritor Fialho de Almeida chamou-lhe "capela de S. João Baptista dos charutos". "Eu já lhe mostro o jornal", insiste.
"Naquela altura tínhamos uma saída para a rua de trás, como o Nicola", paredes meias com a tabacaria. "E antes de a Bertrand importar revistas a Mónaco já tinha revistas inglesas", frisa Carlos Oliveira. "A Baixa era muito melhor antes de aparecerem os centros comerciais", lamenta Tomé Repas, que trabalha na Mónaco e trabalhou noutras tabacarias que entretanto desapareceram para dar lugar a lojas novas.
Sobre a Mónaco, Mami já escreveu, mas muitas das lojas que já visitou e fotografou não estão ainda no blogue, que todas as semanas é actualizado, mas com apenas uma ou duas "descobertas arqueolójicas", para "as pessoas terem tempo de passar por lá". A mais recente é o Franco Gravador, na Rua da Vitória, uma loja de "plaquinhas e emblemas, sinetes para lacre, medalhas e todo o tipo de carimbos".

A arte de "bem servir"

A loja onde começou a - ainda curta - história da arqueolojista é a Alberto Ferreira dos Santos, Lda. e Higino David, que se cruzou com Mami enquanto oferecia castanhas, numa acção de promoção de uma empresa, é um dos dois proprietários. A loja é a sua vida. E também a de Fernando Laranjeira, o seu sócio. "Temos gosto na vida que temos", sublinha o segundo, que ali começou a trabalhar aos 14 anos. "Era a esta loja, hoje centenária, que chegavam muitos clientes da província, não só à procura da última moda mas sobretudo das últimas notícias da capital, locais para trabalhar ou, simplesmente, novas amizades", lê-se no texto da arqueolojista sobre a Alberto Ferreira dos Santos.
Hoje, enumera, compram-se aqui "um grande sortido de malhas quentinhas", pijamas e camisolas interiores, "combinações vaidosas", roupa para bebé, "lenços de cache-nez, aventais para o serviço, xailes-de-avó", cuecas e culotes (que, conta o senhor David, se vendia muito para a apanha do arroz) e ainda barretes de campino.
A boa disposição dos dois amigos tráz-lhe à memória um sketchdos Malucos do Riso: "Servir bem, bem servir, dá saúde e faz sorrir." Não é preciso explicar porquê, basta entrar e ouvi-los a falar, sorriso sempre rasgado, beijinhos a pretexto de tudo. "Eles eram miúdos que vinham para cá da província, novinhos, que varriam o chão, faziam recados, tudo, e às vezes acabavam por viver também com a família dos patrões", conta Mami. "Depois eles acabam por lhes deixar isto."
Quanto às castanhas que a fizeram descobrir esta loja, eram da "tia Lila", uma das vendedoras mais conhecidas por estas bandas, que também tem um espaço na página da arqueolojista, onde se encontram "sítios chiques que já vestiram janotas e madames", também "tascas para grandes patuscadas, tabernas para a boa da pândega", ou ainda "românticas floristas, cheirosas drogarias, curiosas tabacarias, luvarias, retrosarias, livrarias, leitarias e barbearias".

Ervilhas telefone

Diferente de tudo isto ainda é a Soares & Rebelo - Hortelão, a loja de sementes da Rua do Amparo. Quase só sementes, explica Vítor Folgado ("só de nome", diz ele). E sementes de tudo - até daquilo que muitos nunca terão imaginado que existe. Um exemplo, mesmo junto à porta: a ervilha maravilha, a ervilha torta, a ervilha telefone. Ou uma prateleira que quase atravessa a loja de ponta a ponta só para sementes de diferentes variedades de alface.
Não longe dali, na Rua das Portas de Santo Antão, fica a Ferragens Guedes. Dá ideia de ser mais uma loja de fechaduras e puxadores. Mas só até Fernando Silva chegar e, sem serem precisas perguntas, começa a contar: "A história da loja... é uma loja que abriu em 1922." E depois de elencar - quase de cor - os nomes de todos os sócios que saíram e entraram ao longo de 90 anos, solta um desabafo, que resume a história do fim de muitas destas lojas: "Entretanto ficou Guedes só. O último. O filho dele não irá seguir, está noutra área diferente, mas vamos lá ver." "Eu que estou aqui há 43 anos é que tenho sido a mola disto. Faço tudo, tudo, tudo."
Vai andando por todas as caves e sub-caves, que são armazéns, também pela oficina, com um certo orgulho. São salas de caixinhas e embrulhinhos até ao tecto. Fernando mostra o puxador das portas laterais do Teatro Nacional D. Maria II, outro que fizeram para o Éden, ainda mais um do Colégio Militar. Mami vai tirando mais fotografias. Aos pormenores. Ela gosta dos pormenores. Sobre esta loja ainda não escreveu, mas já avisou no Facebook que "daqui a uns dias" vai revelar onde se compram "as famosas mãozinhas", que noutros tempos faziam a vez das campainhas.
Sorte diferente destas lojas têm tido outras. É o caso da famosíssima alfaiataria Picadilly, da Rua Garrett, no Chiado, que deu lugar a uma casa de sandes. "Estavam a ter imensa pressão para sair dali", lamenta Mami. Os clientes passaram a ser atendidos num atelier no primeiro andar de um edifício próximo. "Estas lojas é que chamam turistas, estas lojas é que tem interesse manter e o que estamos a fazer é um bocado o contrário. Daqui a uns anos as pessoas vão ter é saudades destas lojinhas."
A arqueolojista tenta remar contra a maré. Passa o tempo à procura de lojas, em conversas com donos e empregados, máquina fotográfica e caneta atrás. E já tem várias ideias - mais ambiciosas - em mente. Um dia, quando tiver reunido mais lojas, ainda haverá roteiros arqueolójicos em Lisboa. Para já, os "achados" vão sendo coleccionados no blogue www.arqueolojista.com.

28/01/2012

Arquitectura Pombalina desfigurada: Rua da Padaria 44

A CML continua a autorizar a destruição/alteração brutal de vãos pombalinos para abertura de portas de garagem. Apesar de se ter comprometido a não fazê-lo no recentemente aprovado Plano de Pormenor da Baixa. Perto deste local, na Rua de São Mamede, outra rua ainda muito autêntica na sua arquitectura pombalina, foi fotografado por nós idêntica brutalidade. E não é nossa preocupação apenas a destruição física dos vãos originais. Também nos preocupa o facto de cada entrada de garagem significar menos uma hipótese de estabelecimento comercial, tão vital a um centro histórico de boa saúde - algo que a Baixa actualmente não tem como bem sabemos! No âmbito da consulta pública do PP da Baixa, o FCLX chamou atenção para este problema e, pelo que ficou registado oficialmente, o PP iria acautelar estas situações à maneira do que se faz noutros centros históricos da Europa. Vemos agora que não é verdade. Para a CML, estacionar 2 ou 3 carros numa antiga loja pombalina é mais importante do que o património arquitectónico ou o comércio futuro do bairro. Se no limite a CML vai permitir que todos os prédios pombalinos tenham garagens no piso térreo, que hipótese teremos de ver um dia a Baixa com vida comercial activa e atraente?

Lá Vamos .... Brincando e Rindo ... por António Sérgio Rosa de Carvalho



O Porto estremeceu, por breves momentos, ao ver-se confrontado com tamanha "brincadeira" Assim:

"É caso para dizer, parafraseando Mark Twain, que a notícia de que a Casa de Serralves ia ser pichada e vandalizada foi manifestamente exagerada. Por outro lado, o fenómeno dos últimos dias nas redes sociais, em reacção à notícia de que Serralves ia poder ser vista como nunca o tinha sido até aí, veio demonstrar o afecto que este património já conquistou junto da comunidade e, simultaneamente, mobilizar um debate sobre arte, crise, tecnologia e realidade virtual. Mas também confirmar que a estratégia de marketing do Museu de Arte Contemporânea e da Samsung deu os seus frutos..."

ou ainda Assim :

"Nas redes sociais, há quem condene os “vândalos”, autores das “pichagens” num imóvel de interesse público. A culpa é de uma imagem que mostra a Casa de Serralves aparentemente vandalizada: na verdade, as inscrições pintadas no edifício só serão visíveis com um smartphone ou tablet, graças à tecnologia de realidade aumentada."

Portanto... o artista mostra-se satisfeito com os seus cinco minutos de "Glória", e impacto mediático ...
"As pessoas não se dão sequer ao trabalho de ver aquilo para que estão a olhar', afirma Feliciano, para quem a discussão acabou por se tornar 'num bónus' em relação ao projecto."

Embora tenha as minha dúvidas sobre o bom gosto e a ambiguidade pedagógica de tal gesto ... no entanto o Porto teve mais sorte que Lisboa ... pois aqui, a coisa não se resumiu ao Virtual mas concretizou-se ...
Afirmei na altura:


No caso especifico na Fontes Pereira de Melo, e daquele que constituiu um magnifico exemplo de um conjunto dos finais do sec XIX, juntamente com o Palacio Sotto Mayor e o Valmor sede do Metro ... depois do seu esventramento ... a intervenção “grafitti”, só serviu para alimentar e reforçar os argumentos relativizadores do Valor Patrimonial e ajudar à desresponsabilização dos responsáveis por essa decisão, e daqueles que pretendem concluir que “aquilo” ... "já não vale nada”.
Verdadeiro crime de Lesa-Património, esta intervenção “emite” em termos de Pedagogia o pior “sinal”possivel ... desprestigia o pouco que resta, nesta zona, do Património do Sec.XIX e ilustra a confusão de valores e a incompetência, disfarçada de sofisticamento cultural, que impera nas cabeças dos Vereadores da C.M.L. responsáveis por este atentado.

E agora vou também ter direito à minha brincadeira - “collage” …
Afirma o artista de Serralves referindo-se à sua intervenção no respectivo Video :


Não é Hiper-Realismo
Não é graffitti
Não é ilustração

é disparatado
é absurdo
é uma experiência
é técnicamente impreciso
é conscientemente horrível, feio e estúpido


É possivel colar este "Manifesto" ... à intervenção física e omnipresente na Fontes Pereira de Melo?




O embaixador de Paris é um conservador de património em Lisboa



Louvável o interesse da França, aqui representada por um Embaixador de ascendência Portuguesa, em proteger e conservar a sua propriedade altamente prestigiante e representativa … e também notável Património de Portugal e Lisboa.
Mas … não intencionalmente, este título transporta uma ironia … amarga … porque inevitávelmente temos que fazer uma associação comparativa com a forma de como a nossa Cultura Governamental trata e cuida oficialmente do Património Nacional …
Qual sera o efeito que a leitura deste artigo provocará na Secretaria de Estado da Cultura … ?
Com o estado de conservação dos nossos Monumentos Nacionais … os nossos Palácios …Com um silêncio absoluto sobre …o Museu dos Coches … a “restruturação” do Património já para sete meses …depois deste anúncio : Lembram-se ? : na época do S.E.C. Elísio Summaviele.

"Mil processos de classificação à beira de prescrever
Existe património que espera, há dezenas de anos, por classificação que o proteja. Mas, por decreto, todos esses processos podem ir para o lixo em semanas.(D.N.)
Governo vai retirar da lista património protegido por lei
Um total de 964 monumentos que se encontram em vias de classificação pelo Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar) pode perder todas as protecções legais já em Outubro. Isto porque o Ministério da Cultura publicou, no ano passado, o Decreto-Lei 309/2009, segundo o qual "os procedimentos de classificação de bens imóveis em curso caducam se não for tomada a decisão final no prazo de um ano".
O PÚBLICO tentou obter explicações sobre estas matérias junto do Igespar, sem sucesso. Liderada pelo antigo director do Instituto do Património, Elísio Summavielle, a Secretaria de Estado da Cultura também não quis prestar qualquer esclarecimento. "Não é matéria para o senhor secretário de Estado",

Será desta vez que iremos ter uma Secretaria de Estado da Cultura ou iremos continuar a ter uma Secretaria do Estado da Cultura … ?
António Sérgio Rosa de Carvalho.
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O embaixador de Paris é um conservador de património em Lisboa

Por Por Lucinda Canelas (texto) e Dário Cruz (fotografia) in P2 Público

Há uma nova monografia sobre o Palácio de Santos que o faz entrar, ao lado do Palácio Farnese, de Roma, para uma colecção já com nove volumes sobre as residências oficiais francesas. O embaixador Pascal Teixeira da Silva faz visitas guiadas ao palácio como se fosse um director de museu

Naquela noite de 1981 Pascal Teixeira da Silva não foi ao jardim nem à sala das porcelanas Ming. Assim, na sua primeira visita ao Palácio de Santos, a embaixada francesa, não viu o rio nem a pirâmide que se transforma em poço no tampo espelhado da mesa desenhada por Hubert Le Gall. "Deste jardim o Tejo parece o mar", diz o embaixador de Paris em Lisboa, a viver na cidade desde Setembro de 2010. "Não há muitas salas de visita com esta vista."
Aos 54 anos, e a poucos dias do lançamento de uma monografia sobre o Palácio de Santos, escrita por Jean-Pierre Samoyault, um especialista dos museus de França, Pascal Teixeira da Silva transforma-se por duas horas num conservador de património, caminhando pelas salas e corredores do palácio, parando para chamar a atenção para uma tapeçaria da Manufactura dos Gobelins, do século XVII, para uma mancha na parede causada por infiltrações ou para as obras de Maria Helena Vieira da Silva (1982-83), que nos surpreendem ao entrarmos na sacristia da pequena capela coberta de pinturas, talha dourada e azulejo. "Parte da minha missão é esta: proteger um palácio que o Estado francês comprou há mais de 100 anos, mas que é património de Portugal e que tem um lugar importante na sua história. É um privilégio viver ao pé de tudo isto."
E para proteger, nada melhor do que conhecer. A obra de Samoyault que é hoje apresentada na embaixada, às 18h30, "é o estudo mais completo" sobre o palácio ( Le Palais de Santos - o anterior, de Hélder Carita, é mais breve e saiu em 2007, também em edição bilingue) e faz parte da colecção Résidences de France, do Ministério dos Negócios Estrangeiros francês, já com nove volumes. "É um livro muito completo que traça a evolução do palácio - funções, arquitectura e interiores -, e que ao mesmo fala dos protagonistas que aqui viveram ou que o visitaram, dos reis aos nobres de Portugal, passando pelos ministros de França e pelos embaixadores. Ter na mesma colecção o Palácio de Santos e o Palácio Farnese [embaixada em Roma], com os seus frescos de [Annibale] Carracci, é muito significativo. Nós temos uma colecção de pratos "azul e branco" com mais de 400 anos", diz o diplomata. " Unique ", faz questão de acrescentar, sorrindo e deixando para trás o português que herdou do avô e que só começou a falar depois dos 20 anos.

Cavaleiros e armadores

No edifício que hoje vemos, já pouco resta do que foi a residência real nos séculos XV e XVI. Por ali passaram, entre outros monarcas, D. Manuel I e o jovem D. Sebastião, que, dizem, tomou no jardim a sua última refeição antes da partida para o Norte de África, onde acabou por desaparecer (a mesa de pedra em que o terá feito, olhando o Tejo, ainda lá está, no meio do jardim).
Mas, antes do convento que deu origem ao palácio, foi construída naquela colina uma pequena capela para honrar os três irmãos que morreram às ordens do imperador Diocleciano há 1700 anos - Máxima, Júlia e Veríssimo -, que viria a crescer no tempo dos visigodos, sendo mais tarde destruída pelos mouros. Foi preciso esperar por D. Afonso I e pela tomada de Lisboa, em 1147, para que o templo fosse reconstruído e passasse de capela a igreja. Quase 50 anos depois, D. Sancho I doa-a, com as terras que a rodeavam, à Ordem de Santiago de Espada, fundamental à reconquista. Mas os cavaleiros não ficam por ali muito tempo, deixando o edifício às suas viúvas e filhas.
Samoyault explica que, apesar de viverem num ambiente religioso, estas mulheres, muitas vindas da mais alta nobreza, podiam casar-se. Mas no final do século XV também elas se mudaram para um novo mosteiro, que ficou a ser conhecido como Santos-o-Novo, e este foi alugado pela primeira vez, a um banqueiro. Foi das mãos de Fernão Lourenço, armador e um dos grandes financiadores da Expansão, que passou para as de D. Manuel e se tornou residência real, com obras de adaptação a cargo de um dos grandes arquitectos do reino, João de Castilho, e até teve honras de boda real (foi ali que o monarca se casou com D. Isabel de Aragão). "Era uma residência de recreio em cima do rio", explica o embaixador. "Se imaginarmos que o Tejo quase batia nos muros do jardim naquela altura, é fácil acreditar que D. Manuel gostava de aqui estar."
D. João III (1502-1557), que, quando era ainda criança, quase morreu ao cair de uma das varandas do palácio, não partilhava o entusiasmo do pai pela casa e, por isso, afastou-se dela. As primeiras referências à família Lancastre e à sua ocupação do palácio são deste período. Luís de Lancastre (c. 1505-1574) e o monarca eram primos - o seu pai, Jorge, era um dos filhos ilegítimos de D. João II, primo de D. Manuel I, seu sucessor. "O brasão dos Lancastre é muito semelhante ao de Portugal por causa disso", explica o embaixador.
D. Sebastião (1554-1578), O Desejado , voltou a transformar o palácio em residência real e foi depois de uma missa em Santos-o-Velho que partiu para a sua trágica campanha no Norte de África, em Junho de 1578. Nesta cruzada em que Portugal perdeu um rei e boa parte da nobreza de corte morreram três Lancastres e outro foi feito prisioneiro. Luís, neto de Jorge Lancastre, regressou de Marrocos depois de pago um avultado resgate e comprou o palácio às religiosas de Santos-o-Novo (até aí, os reis pagavam-lhes renda), embora o negócio só seja definitivamente aceite pela coroa em 1629, 16 anos depois da sua morte, quando era já o seu filho Francisco Luís o senhor de Santos-o-Velho.

Uma família

Os Lancastres viveram no palácio quase 300 anos e são obra sua algumas das principais jóias arquitectónicas e artísticas. A capela, por exemplo, foi mandada construir por José Luís de Lancastre e pela sua mulher, Filipa de Vilhena, e é por isso que os brasões das duas famílias ladeiam o altar neste espaço marcado por pinturas em que são evidentes, por exemplo, a Ressurreição e Ascensão de Cristo.
"Gosto de lhe chamar oratório porque é um espaço pequeno, intimista", diz Pascal Teixeira da Silva, apontando para o novo sistema de iluminação, patrocinado por duas empresas francesas (a Cegelec e a Henner), primeiro projecto de mecenato do Palácio de Santos. "Os custos de manutenção de um edifício como este são muito elevados", diz, sem querer falar em números. "Poder recorrer a empresas é fundamental. Hoje as coisas são muito mais rigorosas do que no passado - não posso pegar no telefone e ligar para Paris a pedir dinheiro para trabalhos de restauro constantemente. Tenho de encontrar outras formas de financiamento."
A última grande campanha de restauro e conservação aconteceu em meados dos anos 90, sempre a cargo dos Monumentos de França. Mas, desde então, muitos foram os trabalhos adicionais no edifício, na maioria das vezes motivados por infiltrações que levaram, recentemente, a que se alterasse o coberto vegetal do jardim.
"Este palácio é como um organismo vivo, sempre a envelhecer - quando acabamos de um lado, temos de começar do outro." Na Sala da Música, que impressiona pelos espelhos, mobiliário e pintura de temas mitológicos de Pedro Alexandrino de Carvalho (1804-05), há paredes a precisar de uma intervenção por causa da humidade que vinha das buganvílias que antes cobriam uma das fachadas que dá para o jardim. Dentro de uma semana ou duas, Pascal Teixeira da Silva conta começar o levantamento das prioridades de trabalho nesta residência diplomática que começou a ser alugada por Paris em 1870 e foi comprada em 1909. "As pinturas da Sala da Música serão das primeiras, não tenho dúvidas, mas também é preciso substituir portas e janelas, e mexer nas fachadas exteriores."

Colecção única

Onde não é preciso intervir, pelo menos para já, é na Casa das Porcelanas, espaço privilegiado do palácio onde o embaixador escolhe almoçar quando os convidados são poucos. Olhando para o tecto piramidal, encontramos parte da valiosíssima colecção de porcelanas Ming dos Lancastres, com 261 pratos, muitos deles raros, dos séculos XVI e XVII. Na monografia Le Palais de Santos , Samoyault cita Daisy Lion-Goldschmidt, autora de um estudo aprofundado da colecção: "A quantidade numérica, a qualidade e a diversidade das peças do século XVI [ali reunidas] constituem um facto inigualável."
Para Teixeira da Silva, a colecção de porcelanas dos Lancastres, que segundo um inventário de 1704 era bem mais vasta (tudo o que não estava preso ao tecto desapareceu do palácio), é ainda um "documento" da presença de Portugal no mundo. "Naqueles séculos os navegadores e comerciantes portugueses eram fundamentais aos contactos entre a Europa e o Oriente. Muito do exotismo que chegava até nós através de bens de exportação vinha através deles."
O embaixador gosta de arte e, tendo raízes familiares em Castelo de Paiva (o avô que se instalou em Bordéus), interessa-se particularmente pela História de Portugal e, sobretudo, pelos Descobrimentos. No seu escritório tem a reprodução de um mapa-mundo do século XVI que o acompanha sempre: "Em primeiro lugar agrada-me como objecto, mas gosto que tenha sido feito por um cartógrafo chamado [Domingos] Teixeira e que seja uma das primeiras visões do Novo Mundo."
O interesse do embaixador pelo património que a França possui em Portugal passa também pela Igreja de S. Luís, perto do Coliseu dos Recreios. Fundada em 1552, segundo o Dicionário da História de Lisboa , sofreu grandes danos no terramoto. Treze anos mais tarde, e por encomenda de Luís XV, a igreja onde todos os domingos ainda se reúne a comunidade católica francesa recebe três altares de mármore criados pelo mestre genovês Pasquale Bocciardo. "As pinturas estavam muito danificadas, as das paredes e os quadros", explica Manuel Pourtales, vice-presidente da Fábrica da Igreja, que gere o espaço, apontando para uma representação da cidade de Lisboa pré-1755, que já viajou para exposições da Europália (Bruxelas) e da Smithsonian Institution (Washington). Pourtales acompanhou o complexo processo de restauro que terminou no ano passado e envolveu obras profundas, com técnicos de Paris e mecenato português e francês. "Poucos conhecem esta igreja em Lisboa e ela vale mesmo a pena, sobretudo quando o órgão de Aristide Cavaillé-Coll está a tocar."

27/01/2012

Câmara de Lisboa lança campanha de alerta telefónico para socorro a idosos

In Público, 27-01-2012. Por Carlos Filipe e Marisa Soares.

A Câmara de Lisboa vai lançar, na próxima semana, uma acção de sensibilização para o problema da solidão dos idosos sem assistência nas suas residências. Segundo o plano camarário, um telefonema pode prevenir a repetição de casos como o das duas irmãs que, na quarta-feira, foram encontradas sem vida no apartamento onde viviam, na freguesia das Mercês.

(foto de Daniel Rocha)
Desde o início do ano, só em Lisboa, foram encontrados dez idosos mortos em casa

"Basta telefonar, que o socorro vai logo a caminho. Nós temos os meios, temos é que ser avisados para uma situação de risco que precisa de auxílio urgente", disse ontem ao PÚBLICO o vereador Manuel Brito, no final de uma reunião que juntou a Protecção Civil municipal, os Sapadores Bombeiros e a vereadora da Acção Social, Helena Roseta.

O caso das duas mulheres, de 74 e 80 anos, encontradas mortas, anteontem, no apartamento onde viviam na Travessa do Convento de Jesus, fez aumentar para dez o número de óbitos, só em Lisboa, desde o início do ano. Todos com a particularidade de se verificarem em circunstâncias semelhantes: a falta de assistência.

"A acção que vamos desenvolver apelará à sensibilização de todos, principalmente dos vizinhos e familiares, mas também das juntas de freguesia, farmácias, todos quantos saibam que há idosos sem assistência que residam nas redondezas, para que nos alertem para situações de risco", salientou Manuel Brito, que acrescentou: "Mas precisamos que nos telefonem ao mínimo sinal suspeito. Assim que ligarem o número de socorro dos bombeiros - 808215215 -, são accionadas as equipas de abertura de porta e socorro ou do Núcleo de Intervenção Social e Apoio ao Cidadão. Sempre que há aviso, há salvamento".

Em 2011, os Sapadores Bombeiros receberam 1511 chamadas para abertura de porta com socorro. Nestas intervenções foram salvas 1129 pessoas que precisavam de apoio e resolvidas 303 situações de risco (como fogões acesos ou outras), mas 79 pessoas foram encontradas já mortas nos seus apartamentos. No ano anterior, tinham sido 60.

O relatório da PSP sobre as duas irmãs idosas encontradas mortas no seu apartamento na freguesia das Mercês, em Lisboa, refere não existirem indícios visíveis de crime, revelou ontem à Lusa fonte policial. Isto porque as "janelas e as portas para o exterior estavam todas fechadas e trancadas por dentro" e estavam em casa cadernetas bancárias e algum dinheiro.

As duas irmãs não tinham mais familiares e já não eram vistas desde o início do ano. Foi um vizinho que alertou a PSP por estranhar a ausência de ambas. Os bombeiros forçaram a entrada no apartamento e encontraram os cadáveres das mulheres já em estado de decomposição.

Segundo a subcomissária da PSP, Carla Duarte, "a irmã mais nova morreu e a outra deixou de receber assistência, tendo acabado por falecer", com fome e sede. A mulher de 80 anos estava acamada e era a irmã, doente com cancro, que lhe prestava assistência.

O Chelsea Hotel de Lisboa fica no Intendente

In Ionline, por Clara Silva - 27-01-2012

Chama-se Largo Residências e funciona como hotel e residência de artistas. Amanhã organiza uma festa com a curadoria da banda PAUS



No século XIX, pensa-se que foi dada uma concessão aos carroceiros para estacionarem sem problemas no Largo do Intendente. Na altura a zona ficava nas portas de Lisboa e os carroceiros costumavam ali parar antes de transportarem azeite, alface ou outros produtos para a cidade. Nos anos 60, uma empresa de camiões descobriu o “segredo” da concessão e ocupou a praça. Mas em vez de transportar alimentos, os camiões foram usados para prostituição e tráfico de droga e o Intendente ganhou fama de ser o novo Casal Ventoso. “No número 19 da praça funcionava a pensão mais fina da zona, extra bordéis em camionetas”, conta Joana Nóbrega. “A pensão 19, como era conhecida, foi uma grande dor de cabeça. Nós chegámos aqui dois meses depois de ter sido fechada e ainda encontrámos almofadas, bonecos e quadros.”

Joana é agora uma das duas directoras do Largo Residências, o projecto que se instalou no edifício com o número 19 e que funciona como hotel e residência de artistas em simultâneo. “Quando as prostitutas aqui da zona nos viam a entrar e a sair do prédio, começou a correr o boato de que éramos prostitutas finas e íamos abrir um bordel de luxo”, ri-se Joana. “A brincar costumávamos dizer que nos iam começar a mandar currículos para fazerem um upgrade de carreira.”

Em Setembro do ano passado, os camiões do Largo do Intendente foram substituídos por gruas que puseram em marcha as obras de reabilitação urbana da zona. O Largo Residências pode ser o primeiro passo para transformar o Intendente num sítio menos perigoso. “Mas não queremos interferir na forma de funcionar do comércio local e das pessoas”, sublinha Joana. A ideia não é que a zona se transforme num novo Cais do Sodré, “nem fazer uma lavagem de cara”.

O projecto foi uma ideia sua e de Maria Silva, a outra directora, que também dirige a Associação Sou – Movimento e Arte, e tem financiamento da Câmara Municipal de Lisboa. “À semelhança do Chelsea Hotel de Nova Iorque, onde viveram artistas e boémios que criaram muitas coisas, é um bocado isso que gostávamos de ter aqui para Lisboa”, explica Joana. “Um espaço onde os artistas se possam juntar e criar. Junto a isto vamos ter residências e uma programação regular.”

Planos A inauguração oficial do espaço só será na Primavera, até porque as obras ainda não começaram no rés-do-chão. “Vai haver um estúdio para os artistas trabalharem e um espaço de cafetaria”, diz Joana. O primeiro andar também está por acabar, já que será preciso construir uma casa de banho privativa em cada um dos quartos.

O segundo andar, esse sim está ocupado e é lá que encontramos Pedro Gonçalves, dos Dead Combo, a trabalhar. “Pedi-lhes para vir para aqui uma semana”, diz. O seu escritório foi improvisado ao lado de um quarto onde a cama é feita de paletes – “foi pensada de propósito para aqui”, explica Joana – e no chão há um quadro de Amália Rodrigues com um postal de Nossa Senhora.

Alugar um quarto no Largo Art Hotel, assim se chama, custa entre 25 e 45 euros, preços pré-inauguração. “Depois disso rondarão os 40 e os 80 euros, consoante sejam singles ou duplos.”
O prédio, que pertence ao espólio da fábrica de azulejos Viúva Lamego, tem também uma residência de artistas. Para já, os quartos estão ocupados por artistas amigos e outros que apareceram entretanto, como a fotógrafa Hélène e o seu gato Raul, que gosta de fugir escadas abaixo. “O hotel é uma maneira de sustentarmos a estrutura artística, de termos um financiamento”, afirma Joana. A par disso, o Largo Residências começa a chamar a atenção através das festas que dinamiza em espaços até então desconhecidos no Intendente.
A primeira foi o lançamento do último álbum dos Dead Combo, “Lisboa Mulata”, no Sport Clube do Intendente. Em Dezembro, associaram-se à Música Portuguesa a Gostar Dela Própria para uma festa cheia de concertos (Presidente Drógado e Samuel Úria foram alguns dos músicos) intitulada “Quero Ver o Tom Waits Num Bar de Alterne do Intendente”. No mesmo espaço, um armazém perto do Ginásio Clube de Lisboa, a equipa organizou uma festa de passagem de ano que teve o DJ Ride como cabeça de cartaz. “É mais fácil trazer as pessoas a concertos e juntá-las para beber os copos e a partir daí dares a conhecer o teu trabalho”, diz Joana. “Não estamos a inventar a pólvora, a ZDB [Galeria Zé dos Bois] sempre fez isso.”
Amanhã inicia-se um novo ciclo de festas no mesmo armazém, a Trilogia da Vida. O projecto convida artistas para comissariarem um dia de programação. Desta vez são os PAUS, que decidiram trazer ao Intendente o Filho da Mãe, o projecto Montanhas Azuis (Norberto Lobo e Mário Franco) e Joana Sá & Eduardo Raon. Em Março a curadoria será dos Dead Combo.
Em Maio, começa um ciclo de programação cultural nos bares de alterne da zona, na Rua dos Anjos e do Benformoso. Nas “Noites Independentes”, assim se chamam, os bares serão animados um sábado por mês pelo Largo Residências.


Trilogia da Vida Fácil com os PAUS. Amanhã, a partir das 18h00. Taberna das Almas – Regueirão dos Anjos, 68, 70. Preço: 10 euros

Fecho do Curry Cabral levou 3 mil doentes a S. José

In Diário de Notícias, 27-01-2012. Via Lusa.

A urgência polivalente do Hospital de São José atendeu, no último mês, perto de 3.000 doentes oriundos das freguesias que integravam a rede de referenciação da urgência do Hospital Curry Cabral, desde que esta encerrou.



A urgência do Hospital Curry Cabral encerrou às 24:00 do dia 26 de dezembro e, desde então, foram atendidos na urgência polivalente do Hospital de São José 2.924 doentes oriundos das freguesias que integravam anteriormente a rede de referenciação da urgência do Hospital Curry Cabral, dos quais 434 foram encaminhados para a urgência psiquiátrica, segundo dados do Centro Hospitalar de Lisboa Central (CHLC).
De acordo com o conselho de administração do CHLC, este número representa um acréscimo médio de atendimentos diários de 98 doentes.
Esta mudança na rede de referenciação das urgências da Área Metropolitana de Lisboa levou o CHLC a "reorganizar a composição das equipas".
Esta reorganização levou à inclusão de profissionais do Hospital Curry Cabral e à abertura de mais dois gabinetes de atendimento a doentes menos urgentes, bem como a redefinir os fluxos de doentes dentro do Serviço de Urgência Polivalente.
Para o conselho de administração do CHLC, o impacto global deste acréscimo de movimento tem sido "controlado" e resulta de "medidas previamente tomadas e organizadas".

A propósito da não- renovação da direcção de Luís Raposo no MNA



Por Raquel Henriquesda Silva in Público

Membro da Secção Museus do Conselho Nacional de Cultura, por escolha das universidades com ensino de Museologia


Debate Património e museus

Desde a tomada de posse do Governo, o sector do património e dos museus vive entregue a si próprio, com chefias a prazo e ausência total de linhas direccionais de actuação. Aguarda-se a publicação da Lei Orgânica da nova Direcção-Geral do Património que reunirá amplíssimas funções, repondo, em grande medida, o quadro existente na década de 1980. Não houve discussões prévias, reflexão conjunta, consultas a especialistas. Antes um pesado silêncio, permitindo considerar que a razão de ser de tão grande reforma é apenas financeira.
No caso dos museus, ainda tutelados pelo fantasmático Instituto dos Museus e da Conservação (IMC) e com orçamentos zero, vive-se uma situação paradoxal: por um lado, o milagre de se manterem abertos com dignidade e, em alguns casos, com excelente programação; por outro, uma inquietação indagadora e ciciante sobre as mudanças anunciadas e quem as irá desempenhar, inscrita num clima de medo.
Peso o que acabei de dizer: na ausência de articulação produtiva com o director do IMC, os directores dos museus tutelados sentem-se ameaçados com o uso discricionário da não-renovação dos seus lugares. Já aconteceu a alguns, e não a outros, pode acontecer no próximo mês ou no seguinte... Fazem-se vaticínios, procura-se compreender a lógica... Por exemplo, será que os directores que assinaram uma carta para a tutela, com algum teor reivindicativo, são os que estão a ser despedidos?
Neste contexto deprimentíssimo, eis que salta para os jornais a notícia da não-renovação da comissão do Luís Raposo (L.R.), director do Museu Nacional de Arqueologia (MNA) e presidente do ICOM-Portugal. Ao contrário de outros, L.R. não recebeu a notícia em silêncio, divulgando, com a sua habitual frontalidade, que não lhe foram apresentadas razões para o acto, comunicado por carta com atraso administrativo.
Quem acompanhou os acontecimentos dos últimos anos, sabe que L.R. confrontou duramente o IMC e o Ministério da Cultura pelas decisões anunciadas para o MNA que garantiam a sua reinstalação na Cordoaria, com a entrega do seu actual espaço ao Museu de Marinha. Além de confrontar, resistiu, o mais que pôde, à humilhação de ter que devolver àquele museu a chamada Torre Oca, sem razão de ser, senão a de executar uma decisão espúria da então ministra.
Mas, além do que diz respeito ao MNA, L.R. manifestou-se criticamente sobre outros aspectos da actuação do IMC e, no início desta legislatura, escreveu um artigo poderoso, levantando dúvidas sobre a orgânica anunciada para o Património.
Na maioria dos casos, concordei e continuo a concordar com as críticas de L.R. e admiro a sua militância, tão rara no meio dos museus em Portugal. Claro que sei que um director deve lealdade à tutela e o cumprimento das suas políticas. Mas esses pesados deveres só têm sentido quando a tutela é ela própria leal às suas equipas, coerente no enunciado das políticas e aberta à sua discussão entre especialistas. Senão, o mando é prepotência antidemocrática.
Na minha opinião, é o que acontece actualmente no IMC, autorizando a leitura, que é minha e de muita gente: a não-renovação da comissão de L.R. é acerto de contas mesquinho e exercício de falsa autoridade.
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"por outro, uma inquietação indagadora e ciciante sobre as mudanças anunciadas e quem as irá desempenhar, inscrita num clima de medo."

( ...) "os directores dos museus tutelados sentem-se ameaçados com o uso discricionário da não-renovação dos seus lugares. Já aconteceu a alguns, e não a outros, pode acontecer no próximo mês ou no seguinte... Fazem-se vaticínios, procura-se compreender a lógica... Por exemplo, será que os directores que assinaram uma carta para a tutela, com algum teor reivindicativo, são os que estão a ser despedidos?"

Perante um silêncio ensurcedor e permanente por parte de Historiadores de Arte … no que respeita as questões da Salvaguarda e Defesa do Património, permanentemente ilustradas neste “blog” ( por clima de medo ?) … louvo esta corajosa e pertinente intervenção de Raquel Henriques da Silva.
Quanto a Luis Raposo, a sua frontalidade, as possíveis consequências … e quanto ao tema interligado … as trapalhadas do Novo Museu dos Coches … depois da Notícia de Primeira Página do Público … continuamos na mesma … sem saber nada sobre o Futuro …
António Sérgio Rosa de Carvalho.

Passes do metro e da Carris com aumentos entre os 5,5 e os 21,3


Utentes da Carris e do metro pressionados a mudar para o Navegante
Por Inês Boaventura in Público

Na Transtejo/Soflusa os passes vão aumentar em média 5,8% e os bilhetes 7,8%. Na CP os títulos exclusivos têm acréscimos até 5,9%


Os passes do Metropolitano de Lisboa e da Carris, que deixarão de ser vendidos a partir de Janeiro de 2013 devido à sua substituição pelo novo passe Navegante, vão sofrer acréscimos de preços entre os 5,5 e os 21,3%. O título mais penalizado será o passe metro urbano, que a partir de quarta-feira vai custar 29 euros.
Estes aumentos de preço, significativamente superiores à subida média de 5% definida pelo Governo para os títulos de transporte das empresas públicas, pretendem convencer quem viaja no metro e na Carris a optar já em Fevereiro pela aquisição do Navegante. Mas há outro incentivo: quem tiver comprado um passe próprio de um desses operadores pelo menos uma vez nos últimos seis meses beneficiará, até ao fim de 2012, de um desconto mensal de três euros na aquisição no novo passe.
O Navegante urbano terá um custo de 35 euros e aquele que permite utilizar toda a rede da Carris e do metro ficará por 40 euros. Ambos dão direito a viajar nos percursos da CP Belém-Cais do Sodré, Benfica-Rossio, Benfica-Oriente, Oriente-Santa Apolónia e Alcântara Terra-Oriente. Também foram criados passes combinados Navegante com a Transtejo/Soflusa, com preços entre os 45 e os 56,1 euros.
Para os utilizadores ocasionais do metro, passa a haver um só bilhete, com um custo de 1,25 euros. Isto significa que quem viaja dentro de Lisboa passará a pagar mais 19% do que hoje, enquanto quem usa toda a rede do metropolitano poupará cinco cêntimos (o que equivale a 3,8%).
Na Carris os tarifas de bordo não sofrem aumento. O bilhete que permite usar esta transportadora e o metro durante 24 horas vai subir de 4,6 para cinco euros (aumento de 8,7%).

Nem os animais escapam

Quanto aos passes intermodais, tanto o L1 como o L12 e o L123 vão passar a custar mais 5%. Nos passes combinados, os acréscimos serão semelhantes. Os passes 4-18 (alunos entre os quatro e os 18 anos), Sub-23 (estudantes do ensino superior até aos 23 anos) e sénior passam a beneficiar de um desconto de 25% em relação ao passe normal, em vez dos actuais 50%.
Na Transtejo/Soflusa os passes vão aumentar, em média, 5,8%. Nos bilhetes simples as subidas serão superiores, cifrando-se numa média de 7,8%. O passe que sofre um aumento maior, de 6,4%, é o da ligação entre Cacilhas e o Cais do Sodré. Já o título mensal para o Seixal terá um acréscimo de 6,1%.
Nas ligações fluviais entre a Trafaria e Belém e entre Cacilhas e o Cais do Sodré os bilhetes simples vão passar a custar 1,15 euros, o que representa um acréscimo de 9,5% em relação aos valores actualmente em vigor. Também os animais de companhia passarão a pagar 1,15 euros em vez dos actuais 1,05 euros. Nas restantes carreiras entre as duas margens do Tejo os aumentos nos bilhetes serão inferiores.
Na CP as assinaturas mensais dos serviços urbanos de Lisboa vão ter aumentos entre os dois e os 5,9%. Nos bilhetes simples, as subidas de preços oscilam entre os 2,2 e os 5,9%.
Apesar de os novos tarifários entrarem em vigor para a semana, durante o dia de ontem decorriam ainda negociações entre a Autoridade Metropolitana de Transportes de Lisboa e os operadores para a fixação de alguns preços.