30/06/2010

Mas não há quem ponha termo a isto?

São Sebastião da Pedreira exige reabilitação das ruas afectadas por obras do metro

A freguesia de São Sebastião da Pedreira, em Lisboa, está inconformada com o atraso, já de 10 meses, da reabilitação das ruas afetadas pelas obras de prolongamento do metro, alegando que o “caos” provocado é “impossível de sustentar”.

Em declarações à Lusa, o presidente da junta, Nelson Antunes (PSD), contestou o facto de as intervenções na zona não terem sequer começado, apesar de a construção das estações Saldanha II e São Sebastião II e de a ligação das linhas vermelha e amarela terem sido concluídas em agosto do ano passado.

Entretanto, continua a haver barreiras em “jerseys” de cimento, áreas interditas ao trânsito, vias esburacadas, estacionamento vedado ou amontoado e carros impossibilitados de sair das garagens, sendo que as poucas soluções aplicadas são apenas temporárias.

O espaço entre a Avenida Marquês de Tomar e a Rua Marquês de Sá da Bandeira é o mais afetado.

Em causa está, segundo o autarca, uma “falta de coordenação” e de conjugação de esforços entre o Metro de Lisboa, responsável pelas obras, e a câmara, a quem cabe definir as características da intervenção.

“As negociações deviam ter sido um ano antes de terminarem na parte subterrânea, para começar assim que acabassem a nova ligação do metro. Já tive um projeto na mão, dado pelo Metro, mas com a mudança de vereador da Mobilidade [com as eleições de outubro] parece que está a ser repensado, a própria câmara não se entende”, afirmou Nelson Antunes.

O presidente da junta considera que a autarquia “não se preocupa porque é outro a pagar” e, por outro lado, questiona se o Metro terá verbas para avançar com as obras, tendo em conta o seu endividamento.

Para tentar inverter a situação, o responsável levou na terça feira à assembleia municipal uma moção que repudia os atrasos e solicita o “plano de pormenor das obras a realizar” e as opções rodoviárias e de estacionamento.

O documento, aprovado com os votos favoráveis de toda a oposição (PSD, PCP, CDS, BE, PEV, MPT e PPM) e os votos contra do PS e dos independentes eleitos na lista do partido, exige que a câmara reponha a circulação na Avenida Duque D’Ávila “até que os projetos definitivos sejam aprovados” e que a reabilitação tenha início.

No entanto, a junta de freguesia não teve ainda nenhum sinal de que as reivindicações vão ser atendidas e mostra-se reticente: “Existe sempre da parte da câmara um autismo muito grande”
In IOnline
A solução planeada para a Deque D'Avila era muito interessante, será uma pena se após toda esta procrastinação acabar por não sair do papel

Levantamento dos principais problemas do Parque Florestal de Monsanto.


INTRODUÇÃO AO ESTUDO SOBRE A BIODIVERSIDADE NO PARQUE FLORESTAL DE MONSANTO


Na sequência de diversas reuniões da Plataforma por Monsanto com vereadores de diferentes forças políticas, com deputados municipais e com a Comissão Municipal de Ambiente foi proposto, por esta última, que fosse elaborado um levantamento dos principais problemas do Parque Florestal de Monsanto na perspectiva desta mesma Plataforma.

Sendo este o ano Internacional da Biodivesidade e tendo em conta a extrema importância do Parque Florestal de Monsanto para o aumento desta na cidade de Lisboa foi proposto que fosse também elaborado um pequeno estudo sobre a Biodiversidade no Parque. É esse documento que agora apresentamos á Comissão Municipal de Ambiente e a todas as forças politicas representadas na Câmara Municipal de Lisboa.

Agradecemos desde já a atenção dispensada e esperamos contribuir desta forma para que estes problemas sejam resolvidos. Estaremos sempre disponíveis para um diálogo construtivo e para acções concretas que contribuam para ajudar na preservação do Parque Florestal de Monsanto.


Agressões ao Parque Florestal de Monsanto


Como já foi referido no estudo sobre a biodiversidade o Parque Florestal de Monsanto foi criado com o conceito de Parqueway. Era um local onde poucas pessoas se deslocavam, fazendo-o principalmente de automóvel, parando neste ou naquele jardim e disso não passava muito. Hoje e tendo em conta as modificações da sociedade e do próprio parque a realidade é completamente distinta sendo este cada vez mais frequentado por milhares de visitantes que nele procuram a calma e a tranquilidade que não lhes é permitida no resto da cidade, o contacto com a natureza e uma fruição descontraída e informal do espaço. Poderíamos falar de tudo o que o Parque tem de bom, das suas potencialidades, mas foi-nos pedido que falássemos dos seus principais problemas. Assim faremos, o mais sucintamente possível.:


Campo de tiro

Nas comemorações do dia da Biodiversidade realizadas no espaço Monsanto grupos de crianças aprendiam, num espaço de eleição, como preservar e proteger a natureza. Ouviam técnicos da CML que lhes proporcionavam essa e outras aprendizagens. Travavam conhecimento com muitas coisas que no seu dia a dia apenas aprendem nos livros. Enriqueciam-se e eram alertadas para a urgente necessidade de preservação e de respeito por todos os seres vivos que connosco habitam o planeta.

Estas crianças que visitavam nesse dia essa zona foram, como tantas outras diariamente, recebidas por um ruído ensurdecedor e constante e por autênticas chuvadas de chumbo. Essas crianças, se procurassem um pouco, descobririam um solo completamente coberto de chumbo. São essas mesmas crianças que muitas vezes questionam os mesmos técnicos da CML, são essas mesmas crianças que perguntam como é possível o técnico dizer o que diz e ali ao lado acontecer o que acontece. Este é apenas um exemplo da incoerência que este equipamento hoje representa.

O campo de tiro é o maior paradoxo do PFM. Se por um lado a CML promove a preservação e a educação ambiental no espaço Monsanto e na sua zona vedada por outro permite e até promove a infracção e o total desrespeito pela natureza, pelos habitantes e pelos visitantes do parque. Se por um lado forma técnicos competentes por outro retira-lhes toda a credibilidade pois não é ela própria capaz de dar o exemplo fazendo cumprir o que ensina.

O Clube Português de tiro a chumbo encontra-se instalado em Monsanto desde 1963 e devido ao seu cada vez maior impacto negativo e a crescente contestação por parte da população viu a renovação do seu contrato de concessão denunciado em Agosto de 2007.

Todos os estudos apresentados por esta entidade foram consecutivamente chumbados pelos técnicos camarários que há muitos anos defendem a sua retirada do Parque.

Apesar da denúncia do contrato, dos impactos altamente negativos e do perigo que representa para os utilizadores do parque o campo de tiro continua a funcionar.


Transito

O PFM é diariamente atravessado por milhares de automobilistas que tentam fugir ao trânsito da Cidade. Sendo este cada vez mais utilizado por pedestres e ciclistas é urgente uma regulamentação adequada a esta realidade dentro do parque. Velocidade excessiva, falta de passadeiras, deficiente sinalização, falta de fiscalização são alguns dos problemas mais comuns nesta área que há muito necessita de atenção mas em que todos os executivos camarários têm tido um incompreensível medo de tocar.

A realidade do parque exige a tomada de mediadas urgentes.


REN

A instalação de uma nova sub-estação da REN em Monsanto representou mais uma diminuição significativa da área do parque que nenhuma compensação pode atenuar. Não foi sujeita a estudo de impacto ambiental, que apresentaria alternativas ou a estudos credíveis sobre os seus impactos. Representou uma total subserviência aos interesses desta empresa e do Governo e demonstrou uma total falta de poder de negociação e contestação da CML, comprometendo até, pela sua actuação, deliberações da própria no sentido de evitar a obra. Apenas teve, da sua parte, em conta a negociação de contrapartidas.

Foram pedidas explicações a esta obra por parte do Sr. Provedor de Justiça que manifestou na altura “reservas” á legalidade da obra. A Assembleia da República aprovou recentemente uma recomendação ao governo para que não permita a instalação da REN no Parque Florestal do Monsanto.


Panorâmico de Monsanto.

Tem a CML a intenção de transferir bombeiros e protecção civil para este restaurante há muito abandonado. O projecto inicial constituía um crime contra o parque devido á sua dimensão e aos impactos no arvoredo existente. Hoje o projecto foi reformulado e a Plataforma por Monsanto aguarda a consulta dos projectos e estudos actuais para se poder prenunciar sobre o assunto.

Ainda assim gostaríamos de assinalar o seguinte: O abandono do restaurante panorâmico do Monsanto não pode ser resolvida criando um problema mais grave. Esta proposta destina-se apenas a mais uma vez utilizar terrenos do Monsanto a custo zero para actividades que não são compatíveis com a sua génese.

Aquele local é servido apenas por um acesso íngreme e estreito, numa via de um só sentido e partilhada com uma ciclovia. Estes acessos parecem-nos muito insuficientes para a realidade que se prevê e colocam muitas dúvidas quanto ao futuro da via que serve o actual restaurante prevendo a plataforma a inevitabilidade de no futuro esta ter de vir a ser alargada com todos os impactos dai consequentes.

Em caso de catástrofe todos os acesos á cidade são feitos por cima ou por baixo de viadutos. No caso de catástrofe natural, como um sismo é natural que todos esses viadutos ruam. Existe ainda o problema do caneiro de Alcântara que se tornará numa barreira enorme e intransponível para a cidade. Pela zona ribeirinha também, previsivelmente, não se poderá circular por isso pensamos ter pertinência a pergunta: Em caso de Sismo os bombeiros e a protecção civil saem por onde?


Manutenção

Recentemente numa campanha chamada “limpar Portugal” foram retirados, num só dia, de Monsanto, apenas por uma das brigadas presentes, mais de 3 toneladas de lixo e cerca de 200 pneus.

Estes números são surpreendentes e se demonstram a falta de civismo de muitos cidadãos demonstram também a incapacidade dos responsáveis para lidar com este problema. A manutenção do parque é deficiente e ineficiente na maioria do seu território e deveria, salvo raras excepções, ser feita por pessoal da câmara formado para essa actividade o que a tornaria muito mais eficiente e economica. Para além destes problemas de manutenção diária do parque outros surgiram no decorrer do ano que passou, como a limpeza de infestantes, necessária, mas que levantou muitas dúvidas relativamente ao seu método e execução.


Grandes Eventos

A insistência na realização de grandes eventos no parque, como a realização do festival Deltatejo, é altamente nociva para o mesmo. Milhares de pessoas ao mesmo tempo, obras pesadas que destroem o coberto vegetal, terraplanagens, movimento de grandes veículos pesados, redes que se erguem privando os utentes da usufruição do espaço, ruído excessivo para animais, residentes e visitantes, consequências irreparáveis na biodiversidade do parque. A sobreposição do interesse privado sobre o interesse público a troco de umas quantas e discutíveis compensações.

Uma iniciativa a que urge colocar um final.


Ex- Aquaparque

Problema que se arrasta há anos. Recentemente foi dada, em tribunal, razão a associação de moradores (AMBEX - Associação de Moradores de s. Francisco Xavier e Santa Maria de Belém) que integra a PPM e que há anos luta pela restituição deste espaço ao parque.

Esperamos que esta resolução sirva para ajudar a CML a resolver este problema.


Filosofia do Parque.

Cada vez mais o Parque é visto como um “banco de terrenos baratos” onde tudo se pode colocar. Não é respeitado nenhum plano e tudo se tenta lá colocar aleatoriamente.

São variadíssimos os exemplos disso e nos últimos tempos essa tendência tem vindo a agravar-se de forma alarmante. Este é o maior problema do parque, a falta de uma estratégia, de um plano que realmente o proteja de todas as constantes tentações de lá colocar tudo e mais alguma coisa, sem nexo.

É a falta deste plano que permite que muitos problemas de Monsanto subsistam e que regularmente apareçam novos, com que esta plataforma e toda a sociedade têm que

se preocupar pois o Parque Florestal de Monsanto, tem hoje, um valor enorme e uma importância fundamental para a qualidade de vida e para o equilíbrio ambiental não só de Lisboa mas de toda a sua área Metropolitana.


Plataforma por Monsanto Maio 2010


Estudo sobre a biodiversidade no Parque Florestal de Monsanto.

PARQUE FLORESTAL DE MONSANTO – RESERVA CONSTRUÍDA DE BIODIVERSIDADE


ESTUDO


Quando foi criado, na década de 1930, o objectivo do Parque de Monsanto era oferecer a possibilidade de fruição do ar livre, para os habitantes da região de Lisboa. Esta fruição far- se-ia sobretudo através das actividades tidas como saudáveis para os padrões da época: desporto de ar livre (aquilo que hoje chamamos o jogging, o cicloturismo ou o trekking / senderismo / randoné), e passeios de ar livre, em família, incluindo ou não o pic-nic e com possibilidades de serem realizados a pé ou de automóvel (na altura ainda muito pouco democratizado) [Alguns pretendem mesmo ver na concepção do traçado de algumas vias, os primeiros parkways em Portugal e mesmo no Mundo].

A partir daí poderemos considerar que o projecto foi sendo puxado para dois lados diametralmente opostos. Por um lado, a vegetação introduzida, muita nunca antes testada, na generalidade reagiu bem. A regeneração natural conduziu ao enriquecimento em biodiversidade e ao aumento de espécies e de efectivos nas espécies autóctones.


BIODIVERSIDADE


As novas espécies que foram sendo plantadas, por iniciativa dos Silvicultores responsáveis pela gestão (sobretudo Joaquim Rodrigo e Carlos Souto Cruz) deixaram tanto de ter o objectivo do recreio de sombra inicial, para um mostruário da vegetação que naturalmente aqui teria existido antes da ocupação agrícola e silvopastoril que chegou até ao século XX. (Estava-se no advento e crescimento das teorias da Ecologia a nível global.) Mais do que promover novas introduções, interessava disponibilizar o material genético (propágulos vegetativos) e esperar a resposta do ecossistema.

O Parque Florestal de Monsanto estava a evoluir para a estabilização da sua importância, não só enquanto substrato de recreio, mas também enquanto Parque Florestal Peri-Urbano com importância visceral na qualidade do Ambiente na cidade de Lisboa e mesmo na malha urbana consolidada da Área Metropolitana mais directamente afectada.

A massa florestal ganhou expressão, e adquiriu importância ecológica regional, passando a integrar uma rede de corredores ecológicos (continuum naturale) a possibilitar migrações (sobretudo de aves) a partir do Pinhal das Matas da Caparica e a ligar a um cordão litoral em Queluz – Belas – Sintra – Mafra. Este corredor traz consigo novas espécies (nunca antes introduzidas) como por exemplo as Sabinas das Praias.


Repita-se que a regeneração natural continuou a constituir uma importante contribuição para o enriquecimento em biodiversidade e ao aumento de espécies e de efectivos nas espécies autóctones. Ao mesmo tempo, a sociedade moderna foi fazendo o trabalho contrário. O de geração de poluição sonora e atmosférica, com a consequente perda de tranquilidade e alguns usos do solo, que nada tinham a ver com a filosofia de gestão do Parque: São disso exemplos:

1. A construção da auto-estrada Lisboa – Estádio Nacional a partir o Parque literalmente a meio. (Década de 1940)

2. A realização de provas de velocidade em automobilismo (o famoso Circuito de Montes Claros) (Finais da Década de 50, início da de 60)

3. Em 1974 a abertura da possibilidade de construções de “utilidade pública” em Monsanto (nomeadamente a Sede da RTP, do ACP e do futuro Hospital Ocidental) (Felizmente que logo após o 25 de Abril este Decreto-Lei foi imediatamente revogado o que teoricamente impediria este aparecimento, mas os edifícios lá foram surgindo: Universidade Técnica de Lisboa – pólo II no Alto da Ajuda, Hospital de São Francisco Xavier, Central da EDP no vale de Algés, junto à CRIL, Centro Social da Associação Casapiana, junto ao Bairro da Boavista, realojamentos dos Bairros da Serafina, Boavista, etc...)

4. Começaram a surgir clubes restritos a poucos utilizadores com fortes impactos para fora das suas instalações (Clube Português de Tiro a Chumbo, Clube de Radiomodelismo Automóvel)

5. O crescimento da malha urbana periférica tornou o Parque uma zona de atravessamento rápido automóvel (sem engarrafamentos) o que aumentou a pressão de tráfego e o Parque foi definitivamente fechado nas suas ligações com a malha urbana com vias rápidas (Av. de Ceuta, Radial de Benfica e CRIL). (Por esse motivo, já no século XXI foram fechadas algumas vias ao trânsito automóvel e foram construídos alguns acessos à cidade (Passagens sobre a Radial de Benfica e ligação verde Parque de Monsanto – Parque Eduardo VII, ... eternamente adiada na sua conclusão)

6. E começaram também a surgir actividades festivas mais ou menos ruidosas mas com forte impacte sobre a paisagem sonora do parque, quer com repercussões sobre a tranquilidade dos animais, quer dos outros utilizadores... Os pic-nics familiares converteram-se nos grandes espectáculos do tipo Piquenicão, com muitas centenas ou mesmo milhares de participantes e com aparelhagens sonoras audíveis até à cidade, surgiram festivais no Alto da Ajuda (como a Festa do Avante), provas de Motocross (no local onde hoje existe o Parque Infantil da Serafina / Reserva dos Índios), etc... Mais recentemente os Palcos criados com o objectivo de gerar pólos de actividades animadoras do espaço (Teatros, espectáculos de Declamação, concertos de pequenos grupos musicais...) viram-se invadidos também por espectáculos de Rock com muitos decibéis acima do permissível na cidade (Lei Geral do Ruído), mas que aqui... acabam tolerados.


Como resultado destes dois puxões, o que resultou?

Sob o ponto de vista florístico,

a. As espécies existentes dos ecossistemas agrícolas permaneceram (reduzindo a abundância, mas mantendo a biodiversidade).

b. As espécies florestais introduzidas instalaram-se (na generalidade)

c.A regeneração natural diversificou o número de espécies quer nos ecossistemas florestais (de coníferas e de folhosas), quer nos ecossistemas de orla (interfaces urbano-florestal e agrícola-florestal) O reequilíbrio agora encontrado é mais biodiversificado, mais estável, mais sustentável, e mais homeostático.

Do ponto de vista faunístico.

As espécies existentes dos ecossistemas agrícolas permaneceram (reduzindo muito a abundância, e alguma biodiversidade sobretudo os efectivos de rapinas de voo rápido, de estepárias e de Perdizes em particular).

As espécies florestais surgiram espontaneamente (através dos corredores) e instalaram-se muito bem A criação dos lagos da Zona Vedada do então Parque Ecológico (hoje Espaço Monsanto) veio colmatar o mais importante factor limitante para a fauna no Parque, a falta de água e veio criar pela primeira vez um ecossistema aquático, com a fauna a ele associada directamente e com a fauna de bordadura (orla dos ecossistemas aquático-florestal.

A libertação dos esquilos como recuperação de uma espécie que já teria existido no Parque a resultar muito bem .

A criação e instalação de caixas ninho, agora necessárias face à supressão das plantas e ramos mortos por necessidade higio-fitossanitária e que resultou com taxas de ocupação excepcionalmente alta.

O surgir do CRASPEM com o tratamento e largada de animais recolhidos noutros locais veio diversificar muito as existências pois alguns dos animais gostaram do ecossistema e ... ficaram.


CONCLUSÃO


Como conclusão, dir-se-ia que:


- a Biodiversidade no Parque de Monsanto é excepcionalmente elevada, sobretudo se comparada com os padrões europeus (graças também à riqueza em Biodiversidade dos ecossistemas ibéricos por se localizarem na sobreposição da Fauna africana com a euro- asiática).

- Esta Biodiversidade é sistémica, específica e genética. Existem diversos ecossistemas no Parque, existe um número, como se disse, excepcionalmente alto de espécies diferentes e existe mesmo alguma riqueza genética peculiar, embora eventualmente ainda a carecer de estudo mais aprofundado. (Existem algumas Orquídeas silvestres que parecem possuir características suficientemente diversas para constituir património genético exclusivo do ecossistema.

- Alguns dos ecossistemas já estão protegidos (Reserva Botânica Pereira Coutinho na Tapada da Ajuda e alguns núcleos dentro do próprio parque de Ecossistemas de Matagal Mediterrânico alto ou de povoamentos de Pinheiro das Canárias), e existem certamente outros que careceriam de estudo mais aprofundado.

Curioso é que esta Reserva de Biodiversidade tem como estrutura de partida um ecossistema artificialmente construído pelo Homem, mas não se advogue este como o grande responsável por este enriquecimento biológico. Tenhamos consciência que foi o contributo espontâneo da Natureza a sua razão de existência. Lamentavelmente muito pouco se tem feito pelo aumento da abundância faunística e muito se tem feito no sentido de a afastar: alguém imagina o que acontece a um qualquer Passeriforme em noite de Festivais Rock nos Palcos da Alameda Keil do Amaral?


PRINCIPAIS CAUSAS DE AGRESSÃO Á BIODIVERSIDADE


Efectivamente as três principais causas de agressão à Biodiversidade no Parque de Monsanto são:


i. O alastramento da mancha construída ou impermeabilizada (seja qual for o pretexto) ocupando os diversos habitas naturais ou naturalizados, destruindo-os irreversivelmente. Este problema nunca deixou de existir: uma vezes mais ou menos legalmente (como por exemplo a Ocupação dos mais de 50 ha da Universidade Técnica de Lisboa no Alto da Ajuda) outros mais discretamente (como por exemplo a recente ampliação da Estação da EDP na encosta da Portela), uns antigamente, outros na actualidade.

ii. O intenso tráfego automóvel de atravessamento do Parque. Nunca foi o tráfego dos utilizadores o causador de problemas. O tráfego de atravessamento quer de Norte – Sul, através da Mata, quer Leste – Oeste (sobretudo através da A5) sempre causaram problemas: é fácil verificar por um lado os elevados valores de poluição atmosférica sobretudo nos sentidos ascensionais da auto-estrada, havendo mesmo resultados obtidos através de bio-indicadores (estudo da Univ. de Lisboa). Nas plantas surgem toda a sorte de fumaginas identificadas sobretudo sobre Folhados, Medronheiros e outros arbustos mais baixos, que levam à sua morte, criando uma mancha estéril no espaço mais próximo da auto-estrada. Um percurso a pé nestes locais também é denunciador deste “deserto” também em relação à avifauna inexistente que por isso não se ouve cantar até uma distância significativa da auto-estrada.

iii. Finalmente, quer o tráfego automóvel, quer os eventos (excessivamente) ruidosos que têm lugar no Parque provocam a fuga dos animais ali existentes devido à Poluição Sonora. Consoante os tipos de ruído, (de fundo ou de pico) e a sua durabilidade assim as consequências são diversas. Por exemplo os sons mais curtos e intensos geram a fuga rápida mas possibilitam a recuperação lenta e gradual à medida que o sossego se volta a instalar, mas festivais que durem vários dias, provocam geralmente uma fuga irreversível nessa geração...


Maio de 2010


O futuro do Jardim Botânico da Politécnica decide-se hoje ... e as preocupações são muitas

É hoje votado em reunião pública da Câmara Municipal de Lisboa, às 15h, o plano de pormenor do Parque Mayer, Jardim Botânico e zona envolvente. A CML diz querer a participação pública neste processo, o que é de saudar. O que não é de saudar é fazer o convite em cima do dia e disponibilizar uma ligação ao Plano de Pormenor com 791 MB de dimensão, um download impraticável para a maior parte das pessoas (demorei 2 horas a fazê-lo; gravo os ficheiros de bom gosto a quem quiser), sem uma ligação alternativa mais leve. Note-se também a data de votação: 30 de Junho de 2010. Dia após jogo do Mundial de Futebol que envolve Portugal. Dia anterior ao início de férias de muitos portugueses. Dia anterior ao início da entrada em vigor em Portugal dos novos escalões de IVA. Quer a CML mesmo incentivar a participação pública e o conhecimento de todos? A mim parece-me um bom dia para enterrar notícias e assegurar a menor polémica e resistência possível.

O plano em si é profundamente danoso para os interesses  e missão do Jardim Botânico (JB) enquanto património dos lisboetas, dos portugueses e do mundo, deixemo-nos de papos na língua que os valores em causa são demasiado importantes.

Confesso já a minha ligação, profissional e afectiva, ao Jardim. Tirei o curso de guia do jardim há 3 anos e de Setembro de 2009 a Maio de 2010 guiei 26 visitas. Destas, 9 foram feitas pro bono e as restantes encontram-se por pagar que a Universidade de Lisboa não é de todo imune a problemas financeiros; são estes problemas financeiros que nos apresentam uma universidade conivente com este ataque à integridade física do JB. Não me move qualquer interesse financeiro mas uma enorme paixão por aquele espaço e pela riqueza há muito desprezada e incompreendida que alberga. E contra os meus próprios interesses falo. Financeiramente, a minha actividade profissional, enquanto lojista perto do jardim e guia, só tem a ganhar se forem para a frente as propostas em cima da mesa.

Mas, acima dos meus interesses individuais estão os interesses colectivos e a integridade física e de missão do JB. Mais pessoas no jardim? Fantástico. Mas não assim, sacrificando a missão do JB.  E esta missão sairá, no meu entender, comprometida se este Plano de Pormenor avançar.

Muito mais do que a Universidade de Lisboa, que tutela o JB mas que, assustadoramente, apoia o que é proposto, tem sido a Liga dos Amigos do Jardim Botânico (LAJB), organização de que sou sócio, a fazer um trabalho heróico de defesa do JB. E é através da LAJB que nos surgem os alertas. No blog Amigos do Botânico foi publicada uma carta, datada de 27 de Junho de 2010 e enviada a várias entidades, com as preocupações principais da LAJB em relação ao que se prevê venha a ser aprovado para o JB. Note-se que desde Junho de 2008, há mais de 2 anos, que a LAJB expressa as suas preocupações, por escrito, para a CML e para o atelier Aires Mateus, ao contrário do que é afirmado hoje publicamente de que estas preocupações seriam novas. Aliás, existe uma reportagem de televisão com o Arquitecto Ribeiro Telles a expressar ao Vereador Sá Fernandes publicamente o seu desacordo ao que se pretende fazer, invocando, por exemplo, o problema da circulação do ar entre as colinas e a baixa, que será fortemente perturbada.

Nada disto é novo. Mas, como a escolha da data indica, o importante para a CML, para a UL e para os projectistas parece ser marcar golo a qualquer custo e o mais rápido possível, mesmo se com uma mãozinha dentro da área. Ao contrário do que afirma o vereador Manuel Salgado na moção a votos hoje, penso não estarem respeitados todos os preceitos legais. Tanto quanto sei, por exemplo, não foi ainda a consulta pública a Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) sobre as profundas alterações que a CML quer para todo o eixo da Avenida da Liberdade, incluindo as alterações implicadas neste plano de pormenor. Como escrevi acima, estranho a pressa, estranho a data.

Mas, afinal, quais são as preocupações da LAJB - e minhas? O que é que está em causa? A ir para a frente o plano apresentado, a LAJB teme que (coloquei entre aspas excertos da carta da LAJB):

1. Será feira a desafectação de uma grande área e demolição de infraestruturas vitais a um Jardim Botânico. "As estufas de exibição e estufas viveiristas, os herbários e laboratórios e todas as oficinas de carpintaria, mecânica e armazéns de máquinas e alfaias (tractores, etc) serão demolidos para darem lugar a novos imóveis que não servem a missão de um Jardim Botânico. (...)" Note-se estes novos edifícios serão galerias comerciais e afins.

2. Que a construção do novo edifício de entrada no Jardim Botânico terá consequências negativas. "A sua construção, no alinhamento do final da Rua Castilho, ocupa e impermeabiliza a totalidade da actual área dos viveiros do jardim. O plano propõe que as "estufas" passem para cima deste edifício. Esta solução não é viável porque as diferentes estufas de um Jardim Botânico têm características arquitectónicas e exigências de localização muito diversas. As estufas de investigação e viveiristas devem estar longe das entradas e circuitos de visitantes enquanto que as primeiras, de investigação, devem, também, estar junto dos laboratórios. Já as estufas de exposição ao público, onde se incluem plantas de grande porte, precisam de pé direito alto e localização central."

3. Seja construído um estacionamento subterrâneo no subsolo do jardim, em toda a área da entrada sul. Note-se que como não conseguiram fazer este estacionamento subterrâneo no Jardim do Príncipe Real atacam agora no Jardim Botânico. "Esta intervenção pesada, com abertura de caves, implicaria o abate de várias árvores da colecção viva. Uma impermeabilização destas compromete, também, a viabilidade de espécimes devido à limitação de desenvolvimento de raízes. A proposta demolição do edifício da antiga Cantina (1940) é desnecessária (porque recuperável) e nefasta à colecção contígua de Plantas Xerófitas, onde se incluem dragoeiros de interesse histórico e a iuca gigante."

4. Se avance com edifícação encostada à cerca pombalina do Jardim Botânico. "Esta intenção resultaria em mais uma impermeabilização maciça e contínua em quase toda a envolvente de logradouros confinantes com o Jardim Botânico - isto inviabilizaria as intenções de manter um anel de protecção ecológica do jardim. Esta zona tampão não pode ser destruída para garantir o regime hidríco, a saúde do sistema radicular e a circulação de ar. Esta alteração radical da zona de protecção degradaria irreversivelmente o ambiente e os exemplares deste Monumento Nacional."

"Apesar de se afirmar que os propostos edifícios encostados à cerca pombalina corresponderiam a «um aumento da área do Jardim Botânico» temos de alertar que um edifício com uma cobertura em laje de betão revestida de plantas nunca cumprirá a função na ecologia urbana de um logradouro ou jardim."

5. Que o novo percurso pedonal que ligaria a Rua da Escola Politécnica à Rua do Salitre e ao Parque Mayer destrua parte da Cerca Pombalina e roube área ao jardim. "Esta proposta implicaria a destruição de largos sectores da Cerca Pombalina e retiraria áreas de colecção viva. A suposta localização deste percurso no exterior do Jardim implicaria complexas expropriações de áreas privadas. A sua eventual construção iria aniquilar a ligação do Jardim ao seu anel de protecção ecológico. O trecho inical proposto (Alameda das Palmeiras até ao topo Norte) subtrairia, ainda, um corredor de jardim, com espécies internacionalmente protegidas, apenas para dar acesso a uma galeria comercial."

6. Que se avance com o aumento das cérceas defendido para vários edifícios na Rua do Salitre. "Este problema já se constata nas intervenções mais recentes e a decorrer. A ser continuamente implementado este aumento das cérceas, o Jardim passaria a estar limitado por uma frente de edifícios que, devido à nivelação de todos os prédios pela cota mais alta, terá um efeito de muro em quase todo o seu perímetro. A circulação de ar ficaria impossibilitada e a temperatura no interior do jardim aumentaria significativamente. Esta alteração micro-climática levaria à perda de espécies, que não suportarão as novas temperaturas, diminuindo a diversidade do Jardim e o seu efeito amenizador no clima da Lisboa histórica. Outro efeito negativo seria a destruição do sistema de vistas entre as colinas de Lisboa e o Jardim."

No seu conjunto, estas medidas resultarão num jardim mais pequeno, que perde as estufas originais do século XIX, que não as vê satisfatoriamente substituídas, que tem de abdicar de áreas de colecção viva para várias novas edificações e que vê o seu clima profundamente alterado, com flutuações mais extremas de temperatura e humidade, perdendo parte do seu espólio vivo, plantas, muitas de grande porte, que não se conseguirão adaptar às novas circunstâncias.

Só um grande movimento cívico pode atenuar o que se propõe fazer. Informem-se, divulguem esta questão. Façam-se sócios da LAJB (por uma anuidade de 10€ têm acesso gratuito ao Jardim Botânico todo o ano), ajudem a criar uma plataforma cívica sobre esta questão. A LAJB, um conjunto de pessoas com vidas profissionais cheias que doam o seu escasso tempo, está a defender o que é de todos nós, precisa do nosso apoio

Ajudem a travar a violação à integridade do Jardim Botânico da Politécnica. O JB precisa de ser melhorado, apoiado, mas não pode ser esquartejado nem usado como moeda de troca da Universidade de Lisboa para conseguir o apoio da CML à recuperação do Museu Nacional de História Natural. Este jardim é Património Nacional. É altura de tratá-lo como tal.

PS- se quiser gravar os ficheiros do Plano de Pormenor basta passar na Rua do Monte Olivete, 40, Lisboa, entre as 12h e as 20h durante a semana, 10h-18h ao Sábado e trazer um DVD virgem (791 MB não cabem num CD).

Universidade concorda com Plano Pormenor do Parque Mayer

In Diário de Notícias (30/6/2010)
por CARLOS DIOGO SANTOS

«Ligação pedonal com o Jardim Botânico mereceu já críticas, mas a Universidade de Lisboa desvaloriza e lembra que mancha verde será preservada. Câmara debate hoje o plano

O Plano Pormenor do Parque Mayer e da sua área envolvente é hoje discutido na Câmara Municipal de Lisboa. O projecto prevê a construção de novas infra-estruturas junto ao Jardim Botânico, ligando-o, com uma passagem pedonal, ao Parque Mayer. A Universidade de Lisboa diz que o município respeitou sempre a sua vontade, mas a Liga dos Amigos do Jardim Botânico de Lisboa assegura que as medidas são prejudiciais para o espaço.

As alterações previstas contemplam a requalificação da zona circunscrita entre a Rua da Escola Politécnica e a Avenida da Liberdade. No que diz respeito ao Jardim Botânico, para além da ligação pedonal com o Parque Mayer, o projecto sugere também a recuperação do Museu da Ciência e História Natural e do Observatório Astronómico.

Maria Amélia Loução, vice-reitora da Universidade de Lisboa, salientou ontem, em declarações ao DN, que as medidas propostas "são o sinal claro de uma grande preocupação do município com a preservação desta mancha verde. A única coisa que falta saber realmente é onde e como será feita a ligação com a Rua do Salitre".

Desvalorizando as críticas da Liga dos Amigos do Jardim Botânico de Lisboa, que consideram que a proposta põe em causa a qualidade da investigação, a responsável chamou ainda atenção para o facto de tudo estar em aberto. "Quem não concorda ou tiver sugestões deverá comparecer, no local correcto e dar a sua opinião."

Quanto à possível deslocação de algumas estufas, Maria Amélia Loução diz não se tratar de um problema. "Não é preocupante. Há sempre alguns efeitos negativos no momento, mas futuramente estas medidas darão frutos".

Fonte da Liga dos Amigos do Jardim Botânico considera dramático e afiança que se assistirá a uma diminuição do espaço deste Jardim. "Se metermos uma rã em água a ferver ela foge, se a metermos em água fria e a aquecermos devagar ela sente o calor, mas só dá por si quando está cozida. Nós não vamos cozer, mas vamos ficar sem árvores sem darmos por isso", refere a mesma fonte.

Já para o Parque Mayer, o Plano Pormenor prevê, para além da requalificação do Capitólio e do Teatro Variedades, a criação de vários parques de estacionamento subterrâneos e de um auditório com capacidade para 600 pessoas.

O documento, desenvolvido a partir da proposta de Aires Mateus, vencedora do concurso de ideias para o local, tem ainda em conta a alteração e reabilitação do parque urbano histórico. Fonte da CML disse que apesar de algumas alterações "de carácter programático e de pormenor", a proposta final não inclui mudanças "de fundo" em relação ao que foi submetido a discussão pública. [...]»

...

O JB sabe perfeitamente quem são os seus amigos. Está tudo dito. A ver vamos.

29/06/2010

Alameda D. Afonso Henriques




Já que por esta altura somos tão patrióticos o que diria o fundador da nacionalidade se soubesse que na alameda com o seu nome continua a ser legal destruir bens públicos bastando para isso colocar uma moedinha no parquímetro?
O fim do estaleiro na alameda foi pois mais um oportunidade perdida para acabar com esta situação degradante. Se é convicção de quem de direito que o parque subterrâneo diariamente vazio não chega para suprir as necessidades de estacionamento na zona então que seja assumida essa visão e se criem os respectivos recortes porque esta situação como está é degradante.

TEATRO DO PALÁCIO DAS LARANJEIRAS

enviado por mail

O antigo Teatro do Palácio das Laranjeiras, - um teatro privado, pertencente ao Conde de Farrobo, e ardido no séc. XIX, - vai ser arranjado.

O mesmo conde tinha também no nosso concelho uma grande quinta com grande palácio, a Quinta do Farrobo (próxima da Loja Nova, Cachoeiras); cujo havia dentro um outro teatro, onde houve recitais e óperas de que se perdeu a conta, com actuação de aquele e de artistas ou companhias italianas.

Era também proprietário da Quinta das Torres, em VFX.
Era rico: o pai fizera fortuna no Brasil.

A recuperação é do arquitecto Gonçalo Byrne, um mestre. Já interveio em muito património. A requalificação do D. Maria II é dele.

http://www.publico.pt/Local/antigo-teatro-da-altaroda-em-sete-rios-transformase-em-auditorio_1443779

Acaso se queira conhecer o Palácio das Laranjeiras.

http://www.mctes.pt/?idc=9

Rui Perdigão

PUBLI-CIDADE: Av. Fontes Pereira de Melo


sem comentários...

Plano do Parque Mayer preocupa amigos do Jardim Botânico

In Público (29/6/2010)
Por Patrícia de Oliveira


«Abate de árvores, demolição de estufas e destruição de troços da cerca pombalina são alguns dos problemas apontados pela Liga dos Amigos do Jardim Botânico ao plano de pormenor do Parque Mayer.

Apesar de reconhecer a urgente necessidade de intervir neste espaço, o movimento cívico considera o plano "muito nefasto" e critica a prevista "demolição de infra-estruturas vitais a um jardim botânico". "A estufa de exibição daria lugar a uma galeria comercial", exemplifica, condenando o desaparecimento de herbários, laboratórios e oficinas de carpintaria.

A construção de um novo edifício de entrada no jardim, no alinhamento do final da Rua Castilho, ocupando e impermeabilizando "a totalidade da actual área dos viveiros", é também repudiada por esta associação. Tal como a proposta do plano de passar as estufas para cima deste edifício. Quanto à ideia de criar um percurso para peões ligando a Rua da Escola Politécnica à Rua do Salitre e ao Parque Mayer, "implicaria a destruição de largos sectores da cerca pombalina e retiraria áreas de colecção viva". O trecho inicial deste percurso "subtrairia um corredor de jardim, com espécies internacionalmente protegidas, apenas para dar acesso a uma galeria comercial".

Alvo dos reparos da Liga dos Amigos do Jardim é ainda o estacionamento subterrâneo previsto para o subsolo do jardim, em toda a área da entrada sul: "Esta intervenção pesada, com abertura de caves, implicaria o abate de várias árvores da colecção viva. Compromete, também, a viabilidade de espécimes devido à limitação de desenvolvimento de raízes".

Por fim, a associação alerta para o perigo de aumentar a altura dos prédios que cercam o jardim, o que criaria "um efeito de muro em quase todo o seu perímetro". Resultado: "A circulação de ar ficaria impossibilitada e a temperatura do interior do jardim aumentaria significativamente." Muitas espécies não resistiriam a um recinto não só mais quente como mais seco.

"A verificarem-se estas alterações, o actual contributo do Jardim Botânico na amenização do clima de Lisboa, assim como a sua contribuição para o sequestro de carbono e partículas poluentes ficariam gravemente comprometidos", avisa a liga.

Segundo informações do gabinete do vereador do Urbanismo da Câmara de Lisboa, Manuel Salgado, as objecções dos Amigos do Jardim Botânico foram reencaminhadas para os arquitectos que têm o projecto em mãos, do atelier Aires Mateus. Ontem este arquitecto não conheciam ainda o teor destas críticas.»

...

Convenhamos que a imagem final do projecto (foto abaixo) diz bem do nível de construção que será uma realidade se este PP for avante tal como está - parece mais um "Plano de Urbanização dos Logradouros da Alegria e do Salitre"-, aliás sem ter tido em conta os contributos/críticas remetidos à CML aquando do período legal de discussão públicas (i.e., participação pública para inglês ver), e que da nossa parte foram estas; pelo que o futuro ali passa por construir betão "amigo do ambiente", ou seja, edifícios com coberturas em relva.

Proposta para o OP 2011:

Exmos. Senhores


Em virtude do aparente bloqueio que se verifica hoje, dia 29 de Junho, no sistema de registo automático do site da CML, serve o presente para remeter a esses serviços a proposta do Fórum Cidadania Lx para o OP 2011, que é a seguinte:



"Requalificação do eixo Camões-Príncipe Real em prol do transporte público (reintrodução eléctrico E-24) e dos moradores, com redesenho do espaço público para conforto e segurança dos movimentos pedonais, incluindo pessoas de mobilidade reduzida. Tal implicará transformar partes deste eixo em zonas mistas peão/ eléctrico/automóvel (ex. “pedonalização” da R.Misericórdia e R.S.Pedro Alcântara, troço Lg.Trindade-R.Taipas). Este projecto impede o tráfego de atravessamento deste eixo, sendo que o relativo à Rua do Século e à Rua da Rosa pode ser impedido alterando sentidos de circulação (anexo)."


Melhores cumprimentos

Paulo Ferrero, Bernardo Ferreira de Carvalho, Miguel Atanásio Carvalho, Fernando Jorge, Júlio Amorim, Luís Marques da Silva, Jorge Santos Silva, João Diogo Moura, João Oliveira Leonardo, Nuno Vasco Franco, Artur Lourenço, Renato Grazina, José Morais Arnaud e António Branco Almeida.


28/06/2010

à atenção dos serviços municipais competentes

1. apesar das promessas há longos meses de substituição das guardas metálicas da rua da escola politécnica (frente à IN), nada aconteceu e o aspecto deplorável das actuais é o que a foto mostra; numa zona nobre da cidade é incompreensível o desleixo municipal, igualmente demonstrado desde há muitos anos no largo do rato onde perduram restos de guardas em péssimo estado





2. na esquina da escola politécnica com s. marçal (ou talvez cecílio de sousa, não estou seguro) este pilarete foi recentemente abalroado, fic ando torto e em mau estado
sugere-se substituição ou reparação



cumprimentos
NC

27/06/2010

TUDO ISTO EXISTE, TUDO ISTO É FADO ... Na Baixa ...

Em 2005 a Laurinda, jurista na C.M.L., e o António, arquitecto, decidiram mudar de vida e, ao surgir a oportunidade de adquirirem um grande e tipicamente ancestral espaço pombalino, na Baixa, tomaram o risco e iniciaram um projecto de Super-Mercado ( tão necessário na Baixa, visto que o único em funcionamento permanente é o "Bronx"-Pingo Doce da 1º de Dezembro) e de cafetaria.
As características patrimoniais do espaço ofereciam grande potencial de calibre ancestral, e a sua sensibilidade patrimonial e a actividade do António, levaram a uma intervenção exemplar e conseguida, com o acompanhamento do IPPAR.
Depois de dois anos de espera ansiosa pelos licenciamentos da C.M.L., em 2007 o espaço "Vossemecê" finalmente abriu na Rua de Santo António à Sé, 14-20.
A ideia era servir o bairro com o super-mercado e o eixo estratégico de passagem turística, com a cafetaria.
O projecto do Super-mercado, por inexperiência do casal e inaptidão do pessoal .... falhou com muitas preocupações e prejuizos ... e em 2009 decidiram manter apenas o espaço restaurante e cafetaria a funcionar durante o dia para o fluxo turístico e à noite como espaço "alternativo" para jovens talentos do fado ...
Assistimos portanto ao início de uma nova "casa de fados" com preços normais de restaurante ... num espaço interessante que se tornou um simbolo de resistência à adversidade e à decrepitude da Baixa ... e embora sirva de palco para novos talentos do fado ... resiste heróicamente à fatalidade ...
Saudações 'alfacinhas' e encorajantes de António Sérgio Rosa de Carvalho











26/06/2010

Rua dos Retroseiros. Museus sem bilhete


In Diário de Notícias (25/6/2010)
por FERNANDA CÂNCIO

«Na Baixa de Lisboa, a Rua da Conceição e as suas lojas de retrós encenam há mais de cem anos um desfile quieto de estilo. O pronto-a-vestir ainda não derrotou estes pequenos templos da moda - assim à mão

O sortilégio começa cá fora, nas tabuletas arte nova e art déco e nos nomes arrevesados - Arqui-chique, Bijou - que prometem outro século, rendas e chapéus, mãos enluvadas e tempo, um tempo longo, de gente que deixava carruagens à espera ou vinha de "americano", para ver, escolher, hesitar, voltar outra vez. Começa nas montras misturadas, botões e cintos e lantejoulas e elásticos, bolsas e tules, lãs e fios, algumas ainda com a traça desenhada em 1900 e qualquer coisa, e continua lá dentro, nas fileiras de caixas de botões, botões de massa, de madrepérola, de metal, de pedras, de madeira, de osso, de vidro (caixas de cartão bege compradas às centenas a uma fábrica que entretanto fechou, onde, no topo, as amostras dos vários tamanhos e cores e formatos de botões estão cosidas ou agrafadas, uma a uma, por funcionários e proprietários, num labor de paciência que transforma as casas em galerias garridas, cintilantes, irresistíveis). E continua lá dentro - quer se entre só para ver, para descobrir ou para comprar.

Por exemplo o número 87/89 da rua da Conceição - ou dos Retroseiros, como também é conhecida, graças à acumulação de casas do ramo (hoje são dez, mas já foram mais) - no balcão de madeira escura, o trabalho de minúcia aproveita um tempo morto: organza branca é colocada, com cuidado infinitesimal, sob a pequena maquineta, e encaixada entre duas pequenas peças redondas. Um clic e sai botão. São 40, para um vestido de noiva - diz o bilhete ao lado, escrito à mão e preso ao tecido com um alfinete. Mariana Nóvoas, 55 anos, está há 39 ao balcão da Mário Ramos Lda. Foi o seu primeiro emprego e tudo indica será o único. "Gosto, é bom. Só é complicado quando não temos clientes, as horas passam e torna-se muito difícil estar aqui. E as pessoas às vezes não sabem os nomes das coisas. Eu também me confundia: isto é um mundo."

Um mundo, sem dúvida. Um universo a dar para o infinito. Basta olhar em volta: prateleiras e mais prateleiras, gavetas e mais gavetas, e armazéns do chão ao tecto (altíssimo) disto nas traseiras, onde os clientes mais afoitos têm por vezes a honra e delícia de poder entrar, em busca de um botão retro há 50 anos perdido nas catacumbas, entre caixas e mais caixas de cartão com dizeres misteriosos - "Extrafort" [fita para costura] ou "Perlé" [fio de algodão para tricotar ou bordar], por exemplo. "As pessoas vêm aqui e pedem 'trasfor' e 'pirolés'". Na Adriano Coelho (números 121-123), rebenta uma gargalhada nos donos e empregados. "E quando me pedem 'felcro'? Eu pergunto: 'Mas quer feltro ou velcro?' Ou 'galamares' - aí digo 'Isso é ali no restaurante', eheheheh - as pessoas querem dizer alamares [um tipo de fecho, geralmente usado em casacos; no dicionário é "requife ou cordão metálico que guarnece, pela frente, uma peça de vestuário, de um lado ao outro da abotoadura"]. Mas a melhor de todas foi uma senhora que queria comprar '10 centímetros de cerzideira [cerzir é recuperar tecidos danificados - traçados ou esburacados de outra forma qualquer - com os próprios fios do tecido, reconstituindo-o numa espécie de filigrana de precisão. Uma actividade em vias de total extinção e muitíssimo cara e disputada pela sua dificuldade: na Adriano Coelho ainda se aceitam peças de vestuário para cerzir, mas só vale a pena, assevera um dos proprietários, se for "algo muito bom, porque pode chegar aos 200 euros o arranjo"]". Susana Pais, 31 anos, é a caçula da rua. Num negócio onde a maioria das caras têm mais de 50 anos e décadas de atendimento (nem sempre prazenteiro), é, na sua energia e jovialidade, uma promessa. "Estou aqui há seis anos. Sou filha de um dos donos e resolvi largar o que estava a fazer - na área do turismo - para vir ajudar a família. O filho do outro proprietário também trabalha aqui. E conheço os funcionários desde que nasci." Uma família, precisamente: é o que se sente quando se entra na Adriano Coelho, cujos actuais proprietários, antigos empregados - José Guilherme Pais, 60 anos, e Orlando Mateus, 71 - compraram o negócio aos herdeiros do fundador que lhe deu o nome, em 1912. No grande armazém de chão de laje (igual ao da Sé de Lisboa) e tectos abobadados que fica nas traseiras da loja cujos móveis de mogno foram algures nas últimas décadas - aposta-se nos anos sessenta - pintados cor de baunilha ("Uma pena, diz Susana, "Agora é muito difícil restaurar") e as portas e montra originais substituídas, nos anos 80, por janelões de inox escuro ("Antigamente não se dava valor ao antigo", arrepende-se Orlando Mateus), o escritório ao fundo ostenta ainda os retratos dos primeiros sócios, dois senhores de ar grave e composto. Nas abóbadas de pedra ecoa uma lenda trágica: diz um dos donos que se terá ali enforcado o avô de Vasco Santana. Muito mais histórias, tragédias, comédias ou a mistura das duas que faz a vida normalmente correram decerto por aqui, nesta loja e nas outras que fazem da rua uma espécie de centro comercial do retrós - isso que dá nome às retrosarias e é no dicionário "fio de seda torcido geralmente usado na costura". Um fio sedoso, colorido, caprichoso que se enrola e desenrola, como um bruxedo ou um sortilégio, e nos traz sempre de volta a esta rua e a estas lojas - as lojas onde, como conta Hugo Barreiros, co-proprietário, com o pai, José Reis Barreiros (aos 84 anos, é o ancião da rua, com 70 de balcão) da Nardo e da Mário Ramos, "os estrangeiros entram e ficam de boca aberta, a olhar". Os estrangeiros e os estranhos e mesmo os habituais, que ainda encontram, após anos e anos de frequência, motivos para maravilhamento. Como Ana Reis, proprietária actual da antiga Luís Fernandes, hoje Casa Brilhante, número 79/81, um dos maiores e mais cuidados estabelecimentos da rua e, segundo a dona, o mais antigo (datará a abertura de 1909). Consultora, acabou por "pegar" na loja que o pai e um sócio, ambos antigos empregados do "tal Luís Fernandes", dirigiam há décadas. "Nunca pensei ter uma loja, ou que iria ser dona de uma retrosaria. Aconteceu mais ou menos por acaso. Era suposto o meu pai ficar mais tempo e acabou por não ficar... E fiquei eu." Ao sábado, dia em que, ao arrepio das outras retrosarias, Ana decidiu manter a loja aberta à tarde (também fez um ajuste nos horários dos dias "normais", abrindo mais tarde, às 10, e fechando às 19.15 - "A minha experiência diz-me que faz sentido ir à procura dos horários que dão jeito aos clientes e tem corrido bem, já temos os clientes dos sábados"), costuma estar no atendimento. E quanto mais "mexe" mais descobre o prazer de mexer. "Sou adepta da reciclagem e cada vez tenho mais tentação porque cada vez entro mais nisto, descubro coisas... Este será sempre mais um negócio de afectos e prazeres que de lucros, sem dúvida. Qualquer pessoa que entre para este negócio tem de pensar com o coração, porque se pensa com a cabeça não se mete. Mas acho que é um negócio com futuro - é um negócio da reciclagem e do embelezamento." Recentemente reabilitada, a Brilhante também já não tem a montra e portas originais. E se o arranjo e o cuidado postos na decoração disfarçam um pouco o facto de a frontaria ser de banal alumínio castanho, o contraste com a Bijou e a sua fachada Arte Nova é descoroçoante. Verdadeiramente a jóia da rua, a Bijou é um cochicho, um rectângulo de uns dois metros e meio por seis (e outro tanto, ou talvez mais, de armazém), de móveis e montra a pedir restauro, o tecto trabalhado desfeado por lâmpadas de halogéneo, o chão de madeira substituído por laje de pedra escura, a máquina registadora antiga, belíssima, sobre o balcão do fundo, discreta - mas mesmo assim, como diz Vítor Monteiro, um dos empregados, há 42/43 anos (não sabe precisar) àquele balcão onde começou aos 16/17, "Mais fotografada que a Claudia Schiffer". Pendurado à porta esteve antes um cisne de ferro, até que o seu peso (30 quilos) e o risco de cair levaram, segundo o dono da loja, José Vilar, a Câmara a solicitar a sua retirada. "Está lá para cima, para o armazém" (a maioria das retrosarias tem um armazém maior num andar superior do mesmo prédio), afiança o jurista de 55 anos, que se divide entre o tribunal e o negócio que herdou da família, onde muitas vezes está, tal como a irmã, ao balcão. "Vim para aqui com 12 anos, sobretudo para fazer companhia, recados. Estava cá ainda o meu avô, que tomou a loja em 1922 ao então patrão. Ele saiu em 1969 e ficou a minha tia a tomar conta disto, porque o meu pai era engenheiro e não tinha queda. Agora não estou cá de forma permanente, mas ainda cá venho para atender um bocado." À rendibilidade do negócio encolhe os ombros, mesmo se ali mais atrás, no número 83, o negócio da Arqui-Chique também é sua propriedade, pelo menos formal. "Fiz isso mais para ajudar, pediram-me", certifica. "Mas todos os negócios com mais de 100 anos não são rentáveis." Valem as rendas baixas, talvez, e o facto de, como comenta Ana Reis, haver muita gente para quem "isto é um entretém". Há quem, no entanto, se não entretenha. Se o empregado da Bijou garante que acha o trabalho de toda a vida "uma seca", "com clientes muito chatas, que não sabem o que querem, e muitas vezes estão aqui imenso tempo e não levam nada" (e ele a ir e a voltar com caixas, caixinhas e caixetas e "Não é bem isto", "Não, era mais outra cor...", "Desculpe, vou procurar nas outras lojas, talvez volte"), na Arqui-chique um ex-empregado, Bernardino de Jesus, 76 anos, que vem conversar para passar o tempo, faz um rol sardónico das suas aventuras nas retrosarias. "Comecei no David & David [loja situada no Chiado, junto à Brasileira, classificada pela sua beleza, e que foi trespassada nos anos 90, sendo neste momento um pronto-a-vestir], aos 12 anos, como marçano. Ia buscar coisas ao armazém, e assim. Depois fui para a Bijou, onde varria e tudo. E vim para aqui, para a Arqui-chique, com 15 anos. Aprendi a vender - a enganar o cliente." Faz uma pausa para sorrir. "As clientes? Exigentes e mal educadas. Entram e não dizem boa tarde." E antes? "Antes a maioria eram modistas. Compravam e gamavam." Ao balcão, as ex-colegas Flora Tavares, 68 anos, e Maria Francisco, 43, riem. Flora Tavares começou por trabalhar na mesma rua, mas na Casa Grilo, que vendia espartilhos, barbas, cintas, e tinha um desenho de montra magnífico do qual nada resta - o prédio foi entaipado há muitos anos. "Quis ficar com a loja mas a Câmara queria o prédio por causa das galerias pombalinas, e afinal a loja fechou e aquilo está anos naquela figura. Uma pena." Maria Francisco, 43 anos, recebeu o nome em honra do fundador da casa - Francisco Coucellos, diz a placa art déco dentro da loja - herdou a casa da madrinha, filha do Coucellos, aos 25. "Vinha para cá com ela desde pequena, tenho gosto nisto." Paquita (é assim que lhe chamam) acabou por vender o negócio a José Vilar (da Bijou) mas continua gerente. "Eu por mim não vendia, mas não podia aguentar isto sozinha."

O melhor tempo das retrosarias, afiança Carlos Calheiros Cruz, da J. R. Da Silva, passou há pelo menos 30 anos. "No anos 60/70 havia muitas modistas. Éramos dez ao balcão e tínhamos fila de três clientes para cada um. Agora são quatro: ele, que é proprietário, o sócio, Mário Carreira (como ele, era empregado dos anteriores donos), de 63 anos, a mulher Fábia Carreira, de 60, e o empregado Carlos Clara, de 53. "Às vezes estou farto, mas é melhor que estar em casa. E quando nós nos fartarmos de vez, é o fim: os nossos filhos não querem nada com isto." Pena, dirá Leontina Martins, cliente "há muito", mesmo antes de ser funcionária do ministério das Finanças, ali no Terreiro do Paço. "Antes mandava fazer roupa, agora compro e altero. Adoro alterar: mudo os botões, por exemplo, e fica logo uma peça diferente." Mas, lá está: "Não conheço muita gente que faça isto. Tenho uma amiga que também frequenta as retrosarias, mas é raro." Do tempo "bom" fala também, com nostalgia, Alfredo Ricardo, o proprietário da Alexandre Bento, Lda., no número 67/69. "Vinham estafetas de todo o Alentejo, uma vez por semana, com as encomendas das modistas. O último que conheci morreu há uns 15 anos..."

Ainda assim: se o pai, José Reis Barreiros, sumariza a prosperi-dade - "O negócio é tão bom que com 84 anos estou atrás de um balcão" -, Hugo Barreiras, da Nardo e da Mário Ramos, uma de cada lado da rua, veio de oficial do exército e depois chefe de compras de uma fábrica de confecções para retroseiro e parece capaz de acompanhar as evoluções do mercado - e, sobretudo, compreendê-las. "É verdade que de há uns 12 anos para cá isto não está regular. Há muito menos pessoas a trabalhar nesta área e menos pessoas a coser. E uma mudança de mentalidade que é perfeitamente normal nos consumidores: entram aqui como num supermercado, e aqui têm mesmo de ver, escolher, pedir, esperar. Faz parte..." Tão parte como o gosto com que ele e Ana Reis, da Brilhante, falam dos produtos que vendem, dos serviços que comercializam, dos clientes de décadas que reconhecem ao longe na rua e cumprimentam como velhos amigos a quem na maior parte dos casos nunca souberam o nome. "Forramos sapatos, malas, fazemos malas de raiz, pochettes, cintos, forramos fivelas, plissados de variados feitios, flores da forma tradicional antiga com ferros quentes, de qualquer tecido, pregamos fecho-éclairs, fazemos pequenos arranjos, transformações de vestuários, até anéis e brincos com botões..." A lista parece infinita, como o desejo - assim o desejo de ter e ser diferente, único, o prazer de fazer e escolher e procurar permaneça. Assim haja quem se encante, sempre, com este nome, que, como resume José Reis Barreiros, "diz tudo": retrosaria. »

Dezasseis horas de espectáculos no Jardim da Estrela

In Sol Online (25/6/2010)

«Os poetas José Alberto Marques e António Poppe e os músicos João Afonso, Grupo Normal e PunkSinatra são alguns dos artistas que participam hoje e domingo na 2.ª Okupação do coreto do Jardim da Estrela, Lisboa

Ocupar os espaços de Lisboa com capacidade para acolher eventos culturais e que estão desocupados ou são pouco utilizados é o objectivo principal da iniciativa», disse Bibi Pereira, uma das promotoras do evento, à agência Lusa.

Embora a ocupação do coreto do Jardim da Estrela não seja promovida por Okupas – movimento que ocupa edifícios desabitados -, é a filosofia do movimento «que está um pouco por detrás da iniciativa», acrescentou a mesma responsável.

Vinte e quatro bandas de música – sobretudo alternativa e rock – e os dois poetas preenchem os dois dias da iniciativa, que começa às 15:00 e termina às 23h em ambos os dias, num total de 16 horas sem interrupções e que conta com o apoio da Junta de Freguesia da Lapa.

Original Bandalheira, Pedro e Diana, João Afonso e Grupo Normal, Marisa Gulli e Zé Trigueiros, Voz Pirata, Vale de Gato, Os Ponkies, Ventilan, Os Passos em Volta e os Mamute contam-se entre músicos e grupos participantes.

Além da 1.ª okupação do coreto do Jardim da Estrela, realizada em 2009, os promotores destas iniciativas já promoveram eventos similares numa cave de um café e na Padaria do Povo, ambos em Campo de Ourique, em Lisboa, disse Bibi Pereira.

Nestas duas iniciativas, a organização contou com muita adesão dos moradores que auxiliaram a fazer cartazes, a imprimi-los e até a criar um palco que utilizaram nas iniciativas, referiu.

Lusa / SOL»

Antigo teatro da alta-roda em Sete Rios transforma-se em auditório


In Público (25/6/2010)
Por Ana Henriques

«Projecto de Gonçalo Byrne aprovado pelo Instituto do Património prevê que edifício arruinado do séc. XIX seja recoberto de betão

Uma vida passada entre o forrobodó e os negócios

O Ministério da Ciência e Ensino Superior está a transformar um antigo teatro da Estrada das Laranjeiras, junto ao Jardim Zoológico, num auditório destinado a conferências, seminários e espectáculos.

A obra, que começou em Maio e deverá prolongar-se até ao final do ano que vem, vai custar 2,66 milhões de euros mais IVA. Obedece a um projecto de Gonçalo Byrne, em parceria com o atelier de arquitectura de Patrícia Barbas e Diogo Lopes, estando previsto que o edifício arruinado do séc. XIX seja recoberto por uma "pele de betão" pintada de amarelo e envolvido por um pavilhão transparente mais baixo do que o velho teatro.

As velhas paredes de pedra e tijolo ficarão à vista apenas no interior do edifício, naquilo que constitui, segundo a memória descritiva do projecto, a preservação do valor patrimonial da ruína. "A qualidade do projecto e do seu autor mereceram o parecer favorável do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico e da Câmara de Lisboa", esclarece uma nota informativa do Ministério da Ciência.

"Será um monólito de betão", descreve Patrícia Barbas, explicando que o telhado, há muito derrubado, será também feito neste material. A memória descritiva justifica esta opção por razões de segurança: "O risco de colapso da estrutura existente, a necessidade de voltar a construir as coberturas e principalmente a vontade de manter intacta a ruína pelo seu interior (...) reduziram as possibilidades de consolidação da construção". Também por isso, a obra está a ser acompanhada pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil.

O Ministério da Ciência salienta que a "nova imagem urbana" do Teatro Thalia é marcada "pela conservação e restauro dos volumes correspondentes aos espaços cénicos primitivos - foyer, plateia e cena", que serão rodeados pelo novo edifício em vidro, no qual funcionarão serviços de apoio ao auditório, além de uma cafetaria com ligação directa ao jardim adjacente. Em curso estão neste momento demolições de construções anexas ao teatro, "de carácter provisório e traça modesta".

A reabilitação desta sala de espectáculos frequentada pela corte e pela nobreza lisboeta do século XIX era há muito reivindicada pelo movimento cívico Fórum Cidadania, que recentemente sugeriu que ali fosse instalado o Museu da Música. "Poderia albergar um sem-número de actividades culturais, a começar por teatro infantil ou de marionetas, à semelhança de Salzburgo", defendeu antes disso o movimento, que pediu anteontem esclarecimentos a várias entidades sobre as demolições que estão a ser feitas.»

...

Uff, pensei que fosse pior. Fica a fachada principal, suponho. Não entendo é uma coisa: por que não fez o MCES não fez uma apresentação pública do projecto?!

Especificidades técnicas. E aqui