In Público (20/2/2008)
José António Cerejo
«Universidade diz que não teve qualquer culpa e que se não fossem as suas obras teria sido "muito pior". Nível da água mostra que as obras esqueceram a drenagem
Cerca de uma dezena de estabelecimentos comerciais e de habitações foram anteontem inundadas no Campo Grande, junto às instalações da Universidade Lusófona. Comerciantes e moradores, que pedem para não ser identificados, apontam o dedo às obras ilegais que a universidade ali fez nos últimos meses. Um dos responsáveis da instituição nega qualquer responsabilidade.
Visto dos andares superiores dos edifícios contíguos ao antigo quartel do Campo Grande, onde funciona a Lusófona, o novo parque de estacionamento da universidade parece estar na origem do susto e dos dissabores dos seus habitantes. Iniciadas no Outono passado, em terrenos arrendados à Câmara de Lisboa, as obras do novo espaço de estacionamento foram embargadas em Novembro por falta de licenciamento - mas os trabalhos foram retomados pouco depois e ainda continuam.
Neste momento os quase 8000 m2 de terrenos municipais, que até há poucos anos eram ocupados por hortas, atrás do antigo restaurante Quebra Bilhas, estão já a ser utilizados para estacionamento, embora as obras ainda não estejam acabadas. Mesmo assim, o espaço, fortemente inclinado em direcção às traseiras dos edifícios do Campo Grande, foi compactado e coberto de gravilha, sendo agora muito menos permeável do que era antes das obras.
"Comecei a ouvir uns estrondos e só ao fim do dia é que percebi o que era", conta um dos moradores dos edifícios cujos quintais têm um muro a separá-los do parque de estacionamento. Os barulhos ouvidos na madrugada de anteontem eram apenas o princípio do que podia ter sido uma tragédia: era o muro do quintal, situado a um nível bastante inferior ao dos terrenos camarários, que rebentava aqui e ali, mas que conseguiu resistir.
Durante o dia, mostram-no fotos e vídeos feitos pelos moradores, a água saía em jacto através do muro, como se estivesse todo furado, e inundava quintais, jardins e casas, obrigando a evacuar alguns residentes. Lojas, estabelecimentos de restauração e até uma oficina de automóveis queixam-se todos do mesmo.
Ontem as marcas deixadas nos muros do rectângulo ocupado pelo estacionamento mostram que a água acumulada no fundo da parcela atingiu mais de um metro de altura, numa área de centenas de metros quadrados. "Estou aqui há mais de 50 anos e isto nunca aconteceu, o problema foi terem impermeabilizado os terrenos com o parque e nem sequer terem previsto a drenagem da chuva", acusa uma moradora.
"A universidade não tem culpa nenhuma. Isto já aconteceu com certeza muitas vezes porque o terreno é muito inclinado e se não tivéssemos feito as obras era muito pior", contrapõe Faria Ferreira, director de infra-estruturas da Lusófona, garantindo que o parque não impermeabilizou o terreno. "As redes de esgotos entupiram, a água até saiu pelas sanitas, e agora querem atirar as culpas à universidade, diz Faria Ferreira.
A câmara embargou em Novembro as obras do estacionamento da Lusófona, bem como as de um muro feito em terrenos municipais e de um edifício no recinto da universidade. "Nenhum cidadão ou instituição está isento [de cumprir a lei na cidade de Lisboa", disse então o vereador do Urbanismo, Manuel Salgado. Afinal, as obras prosseguiram e o parque já está a funcionar. »
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