22/03/2009

A praga vem calçada

Foto: Manuel João Ramos, na cidadanialx (data...?)

Em cada metro quadrado de calçada que instalam ou renovam, as câmaras municipais arranjam mais "lenha para se queimarem".

A calçada é o pavimento mais caro de manter, e nos dias que correm é, sem dúvida, o mais mal executado.

O estacionamento de automóveis nos passeios e as obras de subsolo encarregam-se de dar, depois, o "golpe de misericórdia" num pavimento que está geralmente mal nivelado e mal compactado, com peças mal (pessimamente) emparelhadas.

Por isso é que depois as câmaras municipais nunca têm meios para assegurar a manutenção das suas calçadas, por mais que prometam os alcaides e vociferem os munícipes. E é por isso que a calçada se transforma rapidamente na lástima que se vê por todo o lado.

Mas não é só isso que está em causa.
Devido às suas irregularidades, falta de manutenção e partes polidas pelo uso, a calçada é um pavimento que causa imensas quedas e um notório desconforto nos peões E é dos pavimentos menos acessíveis para todos, especialmente para idosos e pessoas com deficiência. Já para não falar do desconforto causado pelo elevado grau de reflectância (a superfície branca reflecte a luz solar, o que nos Verões de Lisboa, nas nossas ruas gloriosamente carecas, vem mesmo a calhar).

E adivinhem lá, já agora, qual é o pavimento mais difícil de limpar...? Exacto, a calçada. Basta perguntar a qualquer almeida, que logo vos conta como é frustrante varrer e lavar, para no fim tudo parecer sujo na mesma.

Vale a pena notar que, tal como hoje é executada, com um traço (mistura) de cimento no areão (a camada onde as pedras assentam), a calçada fica completamente impermeável. Já nem essa vantagem tem, portanto...

A calçada original, bem feita, era de facto um ex-libris da cidade de Lisboa. A calçada que hoje se faz é uma praga. Não tem nada de "very typical". Não é "castiça", é rasca.

Há tantas soluções alternativas no mercado (e noutras cidades portuguesas) que já é tempo de experimentar algo diferente. Era óptimo se a vereação (toda junta, de preferência) assumisse essa vontade política.

24 comentários:

Filipe Melo Sousa disse...

Subscrevo o texto na íntegra. A calçada lisboeta reúne o pior dos dois mundos: cara e má.

Anónimo disse...

o que tu queres sei eu, pavimentos de betão, não é?....

Anónimo disse...

No tempo do Abecassis também se julgou que era tempo de experimentar outras soluções mais "limpas e baratas".
Podem ir passear entre o largo de S. Paulo e o Conde Barão para ver como a alternativa não é nem mais limpa nem mais cómoda e de certeza que não é mais bonita.

lfgalvao disse...

Subscrevo inteiramente e já agora deixo uma cópia de um comment que havia feito há uns meses a outro artigo:

A questão do tabu "calçada portuguesa". Que tal repensar o uso de calçada portuguesa por toda a cidade de Lisboa? Porque não deixá-la apenas em determinadas zonas consideradas de importância histórica e cultural e passar a usar o tipo de material que se usa no resto das cidades civilizadas na europa? É que queiramos quer não, e apesar de ser muito bonita para se ver, a calçada portuguesa não é nada prática para se caminhar e, na maior parte das vezes, está em mau estado, com ervas e buracos. Não seria do elementar bom senso usar um material mais resistente, prático, barato e que requeresse menos manutenção? Afinal de contas, uma cidade não é um museu, mas sim um espaço vivo que evolui na medida das necessidades dos seus habitantes e da disponibilidade de novas tecnologias e materiais.

Pedro Homem de Gouveia disse...

Filipe Melo Sousa: ena, estamos de acordo numa coisa! Ainda bem que é nesta :-)

Aos anónimos com medo do betão: compreendo os vossos receios, mas asseguro-vos que:

a) não estava a pensar especificamente em betão quando escrevi o texto (embora já tenha visto belíssimos pavimentos em betão muito bem executados, que ficariam muito melhor do que algumas calçadas);

b) não me parece que o pavimento usado na Rua da Boavista seja um bom exemplo de pavimento em betão bem executado (pelo contrário);

c) como é óbvio, o betão NÃO é a única alternativa à calçada...! Recordo-me que há cerca de 10 ou 15 anos a única alternativa era de facto essa, ou uns blocos em betão da Soplacas, cinzentos... hoje em dia, há uma diversidade enorme de soluções no mercado. é uma questão de querer procurar, e de discutir as opções que melhor se ajustariam a Lisboa, só isso.

J A disse...

Sinceramente...não encontro tantos defeitos na VERDADEIRA calçada portuguesa que, sem dúvida nenhuma, gera o mais belo passeio deste planeta. Talvez manter umas partes impecáveis em zonas mais importantes e, para o resto, encontrar melhores alternativas.
Porque a porcaria de imitação rasca que hoje se vai fazendo..não interessa.

Anónimo disse...

É preciso não pensar sempre pelo denominador mais baixo. Eu costumo pensar exactamente o contrário do que aqui se defende: porque não ter calçada em TODA A CIDADE? Somos únicos ao menos na calçada, nenhuma cidade tem passeios tão bonitos como Lisboa, uma verdadeira obra de arte artesanal sob os nossos pés. Querem tirar-nos isso? Ficamos em nada, porque tudo o resto está a cair. É tudo para abater e substituir por lindos caixotes de cimento.

Vera Nobre

Anónimo disse...

discordo em absoluto!

Anónimo disse...

Vale a pena ver o exemplo de Cascais, que mantém as calçadas na zona histórica e exige outros pavimentos nos novos loteamentos (pudera, é a câmara que depois tem de pagar a manutenção!).

Esteban disse...

Como cidadão tendo uma deficiência numa dos pés, gostaria que os passeios portugueses se tornassem mais fáceis de caminhar. Acontece-me muitas vezes ter de caminhar para o espaço reservado aos veículos porque o alcatrão é mais regular e não me aleija tanto o pé.

As principais queixas que faço aos passeios portugueses:
- não são planos, principalmente devido à irregularidade da superfície das pedras, o que torna um castigo para o pé.
- são escorregadios
- muitas vezes têm buracos, a calçada tem essa tendência a desfazer-se facilmente

No entanto reconheço que a calçada portuguesa faz parte do nosso património cultural e teria todo o gosto em que seja mantida em zonas históricas e zonas pedonais mas que sejam correctamente executadas e mantidas. Agora em todo o lado, não! À porta da minha casa (já fora de Lisboa), não me interessa ter uma calçada possivelmente bonita para o turista ver, o que eu quero ter à porta da minha casa é um passeio confortável, seguro (e livre de carros) para eu caminhar.

Tendo vivido grande parte da minha vida em Paris, acrescento que existe lá uma rua com uma calçada branca próxima da portuguesa e que é até hoje àquela que eu vi com melhor estado de conservação (Rue Montorgueil http://images.france-for-visitors.com/images/large/montorgueil.jpg )

Diogo Moura disse...

Quem concorda com a calçada em tudo quanto é canto da cidade é porque não vive o drama latente em várias zonas. Já tentaram descer zonas como a Colina do Castelo, Arroios, Lapa e outras tantas em dias de chuva?
E que dizer das calçadas mais que polidas?
E dos buracos? E das ervas? E dos entorses?
E dos carrinhos de bebé que têm de ser levados pelo asfalto?

Diogo Moura disse...

Mantenha-se nas zonas históricas da Baixa e Belém e, de resto, se arranje outra alternativa.

Anónimo disse...

Sim eu desço todos os dias da Graça ao Martim Moniz a pé e quando chove há sempre uma duzia de idosos no chão e as urgências do São José entopem com esse "drama latente"...
Buracos acontecem em todos os pavimentos, todos, o que importa é a manutenção. E quanto aos carrinhos de bebé o problema não é o piso mas a largura minuscula de alguns passeios e da incuria dos que estacionam em cima deles.
E vejam se se decidem, ou bem que a calçada aparenta estar sempre suja por mais que se limpe ou é tão luminosa e relexiva que nos cega a vista.

Anónimo disse...

E queriam tirar a calçada dos bairros históricos da Mouraria, castelo e Alfama? É que se as excepções iam ser estas, é precisamente nestes bairros que se encontram as ruas mais inclinadas.

Arroios e Anjos iam ficar horriveis sem calçada! Arroios e Anjos são bairros tipicos de Lisboa e devem ser tratados como tal. São bairros tipicos do principio do seculo XX, diferente doutros bairros doutras cidades de Portugal. Eu nesses bairros sinto-me em Lisboa. Mas por mal nas novas urbanizações ponham passeios de granito. Sempre é uma rocha portuguesa.

Anónimo disse...

LOBO VILLA,22-3-09

A calçada "á portuguesa",como aqui está dito á exaustão,resume o drama de tudo o mais "á portuguesa".
-É mau,mas ...
-Não funciona mas...
-É á portuguesa mas...
-Calçada ? Qual calçada ?...
Em várias cidades do Brasil há abaixo-assinados CONTRA a calçada dita "á portuguesa",as quais subrescrevo inteiramente.
Porque já não é "útil", já ninguém a sabe fazer...e sobretudo porque hoje é um HORROR !
Perguntem ás senhoras e aos brasileiros...

Anónimo disse...

Eu enquanto português nunca tive problema algum a andar na calçada. E adoro a respectiva calçada.

Paulo Ferrero disse...

Caro Pedro, bem recordada essa coisa da calçada. Só que o problema é mais vasto. Que é feito da escola de calceteiros? Por que razão as empresas que fazem trabalhos na rua têm os seus calceteiros? O que está em jogo? A calçada portuguesa é das coisas mais bonitas e específicas de Lisboa, e uma mais valia em termos de imagem de ruas, na maior parte das vezes porcas, sem árvores e com mobiliário urbano inestético. Mas em muitas das ruas o que existe não é calçada portuguesa, são buracos, são pedras dispostas sabe-se lá como. O que já se percebeu é que quem de direito não tem o mínimo interesse em corrigir a situação, pelo que mais fácil, um dia destes, será correr tudo a laje ou a cimento.

M Isabel G disse...

Concordo inteiramente
Já o escrevi por diversas vezes.
A calçada é "Um atraso de vida" como diria um amigo

Pedro Homem de Gouveia disse...

Nada tenho contra a calçada bem executada (vide Avenida da Liberdade, Restauradores, etc.).

Tenho tudo contra as pedras metidas a eito por gente sem formação, a trabalhar à pressa.

A primeira torna a cidade bonita.

A segunda torna a cidade feia e disfuncional, é um sorvedouro de dinheiros públicos e um pesadelo para muita gente.

Anónimo disse...

lisboa ficaria linda com passeios de cimento.

juntem-lhes a sujidade e os prédios a cair....

Anónimo disse...

num mundo de globalização, a diferenciação faz toda a diferença.

acabar com a calçada é tirar parte do rendimento da cidade.

Pedro Homem de Gouveia disse...

Caros anónimos,

Disse e repito:

1) o cimento não é a única alternativa;

2) não está em causa "acabar" com a calçada, o que defendo é que se acabe com a má calçada.

Defender a manutenção da má calçada porque atrai os turistas é a mesma coisa que dizer que mais vale manter o esgoto a céu aberto em Bombaim e Nova Dheli porque é uma característica local que atrai a atenção mundial e que serviu de cenário a um filme que até acabou de ganhar vários óscares.

depois as pessoas iam à ìndia ver o quê?!

Anónimo disse...

está visto que não há discussão...quem não alinha com os iluminados do blogue é estúpido.

Filipe Melo Sousa disse...

Iluminadíssimos. Que o resto do mundo tenha encontrado formas mais baratas, estéticas e funcionais para pavimentar as ruas é-lhes perfeitamente indiferente.