04/06/2009

Uma leitura global e sustentavel



Leituras possíveis para compreensão da Praça do Comércio e da função do Terreiro do Paço de uma forma Global e Sustentável


Na descrição dos objectivos estratégicos da Sociedade da Frente Tejo para a Frente Ribeirinha da Baixa Pombalina diz na sua página web, que “…O conjunto das intervenções tem como objectivo recuperar o papel histórico e simbólico desta zona da cidade (?) … e fazer da Praça do Comercio/Terreiro do Paço uma marca cosmopolita…”
Ora, “cosmopolita”, significa: S.1) Pessoa que, considerando o mundo como pátria; não reconhece a diferença de nações; 2) Pessoa que está em qualquer país; Adj. 3) Que é de todos os países.
Sendo assim o estudo prévio apresentado encontra-se totalmente desajustado, e desarticulado com a descrição nomeadamente na página – Espaço de Poder/Espaço Monumental, senão vejamos:

1º A Praça do Comércio tem uma entidade própria, por este motivo deve ser dissociada da malha urbana da Baixa Pombalina, não fazendo sentido alinhar os passeios com aqueles das Rua do Ouro e da Rua da Prata, pois justamente confere-lhe o carácter urbano que nunca teve, esvaziando todo seu conteúdo e valor histórico e simbólico.
No estudo prévio a geometria e stereotomia utilizada é dada uma extraordinária relevância à estátua equestre – o Rei, e ainda acentuada a centralidade deste naquele espaço. E portanto, não considera o “mundo como pátria”. A única forma de responder a esta questão será justamente com uma nova geometria, autónoma e gerada pelo próprio espaço urbano deixando o “centro”, o sagrado vazio de uma forma ecuménica. O único instrumento possível para de facto ligar as pessoas ao lugar, de forma a ser uma praça para se estar, para qualquer um “de todos os países” e “de todas as nações”, passa pela utilização de simbologia universal materializada no pavimento desta forma estaremos sempre em qualquer lugar, numa determinada posição.

2º A maior característica deste espaço urbano que o torna único é justamente a sua dimensão, e de como se encontra envolvido (materializada pela arquitectura ou seja pelos edifícios), pela simetria e portanto de uma ordem transmitida pelos alçados nascente-poente e pelos alçados Cidade-Rio, ou seja o conhecido e o desconhecido. Não é por acaso que os torreões balizam o “conhecido”, e portanto a “Cidade”, como se de uma guarita de um forte se tratasse. Esta relação é na realidade a essência de Portugal.

3º A valorização do eixo monumental tem na realidade uma dimensão superior, e está já invariavelmente marcado no nosso imaginário colectivo, pois todos temos a noção do eixo vertical perpendicular ao rio do vale da Avenida da Liberdade, esse sim monumental. Desta forma, o Cais das Colunas está para a Cidade de Lisboa, como o Praça do Comércio/Terreiro do Paço para Portugal. Este nosso imaginário colectivo, na realidade é constituído pelo somatório do tempo, por acção de uma assimilação ao longo dos vários séculos de onde várias gerações contribuíram. E, sendo assim fará todo o sentido colocar as coberturas nos torreões de forma a pontuar o espaço urbano da Capital, da Cidade de Lisboa.

8 comentários:

Anónimo disse...

bonito dim, mas completamente utópico.

não sei ajuda á actual discussão.

Anónimo disse...

Nao percebi um corno!

Anónimo disse...

Pois eu percebi.
Bastava seguir o processo nos jornais e espreitar a pagina da SFT.
O projecto é muito estranho e não faz muito sentido.
Não sei se concordo com as coberturas dos torreões.

Discomplex disse...

Eu também sinto ter percebido... mas achei o argumento demasiado esticado em diversos pontos, sobretudo para tentar manter uma certa erudição que não me parece a mais adequada à discussão de algo que se quer 'simples'. Dois pontos apenas, entre muitos:

Primeiro ponto referente à ideia: "não fazendo sentido alinhar os passeios com aqueles das Rua do Ouro e da Rua da Prata, pois justamente confere-lhe o carácter urbano que nunca teve, esvaziando todo seu conteúdo e valor histórico e simbólico." Teria todo o gosto em encontrar a sua justificação para o desalinhamento inicial do terreiro do paço como prova do seu "não-urbanismo", e mais, deste "não-urbanismo" como prova do seu carácter histórico e simbólico. Afinal, falamos de um terreiro pré-pombalino?

Segundo ponto: "Não é por acaso que os torreões balizam o “conhecido”, e portanto a “Cidade”, como se de uma guarita de um forte se tratasse. Esta relação é na realidade a essência de Portugal." Bom, palavras para quê? Como estudioso de outras áreas olisopográficas que não esta "essência nacionalista" do terreiro, nunca encontrei contudo algum ideia semelhante de parelelismo entre um Portugal conhecido e oceano desconhecido, vs. Lisboa e Tejo nas mesmas condições... aliás, mostra talvez um certo desconhecimento e mesmo desrespeito pelas ligações entre uma cidade "capital imperial" e as populações do arco ribeirinho sul (nunca território simbolica ou materialmente desconhecido!) que tanto contribuíram para a sua construção e sobretudo para as ligações fluviais de Lisboa ao resto do território circundante.

Poderia continuar, mas... gostaria mesmo era de assistir a uma discussão sobre a não desvirtuação arquitectonica da Praça do Comércio (e não insistemente terreiro do paço) na sua requalificação necessária, sem visóes continuístas da história ou saudosismos de um passado muito distinto deste presente, e simbologias que não nos servem mais. Existe hoje um metro e um eléctrico, ministérios "quase" ao abandono, uma estação sul-sueste em vias de "refuncionamento" e muitas coisas mais entre habitantes, migrantes e visitantes, que não agradecem de forma alguma os debates do conceito!

P.S. Árvores! Plantem árvores! E transformem as arcadas em comércio "representativo" da cidade e da praça em si mesma no inicio do século XXI ou mesmo no final do século XX!

G disse...

Da literatura que tenho lido sobre a cidade de Lisboa – alguma dela especializada na época pombalina e reconstrução –, sinceramente, nunca vi referidos alguns dos conceitos apresentados neste artigo, seja no ponto 1, 2, ou 3, que no mínimo são um conjunto de noções, ideias e visões da praça bastante discutíveis, senão mesmo erradas.

Não me apetece de facto pegar ponto a ponto, mas acho que devia fazer esta chamada de atenção, para os menos críticos daquilo que lêem.

Anónimo disse...

Já agora, o "sustentavel" do título leva acento no "a".

Gonçalo Cornelio da Silva disse...

Esta é a minha leitura, haverá outras certamente. Resulta de trabalho de dois anos numa universidade americana onde estive como bolseiro dessa universidade da FCG e da FLAD.

Sugeria aos comentadores a leitura do artigo no Publico de hoje 5-6, sobre o conceito de praça barroca.
A leitura, não deve ser historicista, ou saudosista ou ainda seguidora. O cosmos e os problemas existenciais do homem do século XX e do XXI obriga a outras leituras e interpretações, e sendo assim têm obviamente outras formas de "estar" e "usufruir" a Cidade.
Se a praça barroca celebrava a "Vida", hoje por razões óbvias também se deve celebrar a “Vida”. Mais ainda, quando as cidades estão em competição umas com as outras. Por exemplo, a Torre Eifel é um símbolo de Paris, apesar de ser uma estrutura obsoleta e não fazer hoje qualquer sentido, apesar de tudo o seu significado demonstra progresso.
Ora, o urbanismo pombalino é o 1º case study mundial de Urban Renovation, reveste-se de grande sobriedade, de inovação técnica e de uma extraordinária equidade social, isto no século XVIII.
De que forma Portugal se distingue dos demais parceiros Europeus?
Vamos continuar à boleia dos Descobrimentos? De como e fomos grandes no passado?
Não me parece, deveríamos sim demonstrar que fomos nós que iniciámos a globalização no século XVIII, percorremos o Mundo e que essa é a nossa “Dimensão”.
Este é O Desafio do Século XXI de um Portugal Humanista, o Projecto de Reconstrução da Cidade de Lisboa não está terminado. A Cidade de Lisboa é o Nosso maior armazém de memória cultural. Esta será sem dúvida a maior oportunidade para projectarmos a Nossa Imagem ao mundo e posteridade. As grandes cidades do passado nas quais ainda vivemos, falam pelos seus sonhos e aspirações das suas sociedades, e devem entender a Memória não como uma nostalgia de glórias vãs mas como uma inspiração para as realizações dinâmicas e contemporâneas.

Ferreira arq. disse...

Dou os parabéns ao G C S pelo estudo.
É uma das abordagens, entre várias outras, mas é uma posição erudita de que gostei.

É fundamental que a obra a desenvolver entenda este carisma de viver a cidade naquilo que é a vida real dos cidadãos, e não como o palco de vaidades em que querem transformar o local.

Fundamental também é o sentido de actualidade.

Sem conseguir ter aqui já qualquer vanguarda mundial, em termos nacionais é preciso dar uma sapatada de cultura:
-a proposta tem que ser motivadora de atitudes ambientalistas, que tenham também repercussão nas restantes intervenções urbanas que estão para ser feitas no país.

A vivência urbana tem que ser conciliada com a capacidade de regeneração do meio ambiente.
Fazer intervenção urbana com o nível de reflexão luminosa que o projecto actual propõe, numa área tão grande, é neste momento criminoso.

É comprometer o nosso futuro. Temos que reformular a forma de viver urbana, atendendo, em todos os casos, a que seja minorado o impacto ambiental até ao limite do possível.

Aqui há uma proposta que não pode ser preterida: para além de todas as restantes considerações, TÊM QUE LÁ SER COLOCADAS ÁRVORES, que desenvolvendo o sentido humanista e social da praça, diminuem e de que maneira a reflexão da luz.

Há que dar o exemplo.