In Jornal de Notícias (23/11/2009)
TELMA ROQUE
«Terreno baldio é local de pernoita de dezenasde cidadãos estrangeiros que vivem da mendicidade.
De dia, espalham-se pela capital pedindo dinheiro ou arrumando carros. Ao final da tarde, e com o rigor de um horário de trabalho rígido, regressam em bando a um terreno baldio no Areeiro, onde comem, tomam banho e dormem.
Não "picam o ponto", mas regem-se por uma pontualidade semelhante à de operários comandados por sirenes que anunciam a mudança de turnos. Os moradores da zona garantem que, cerca das 17 horas, dezenas de mendigos, quase todos romenos, regressam ao descampado nas traseiras da Avenida Almirante Gago Coutinho, junto às bombas de gasolina da BP.
O fenómeno é mais ou menos recente. Por vezes, esbate-se. As autoridades "baixam a guarda", a Junta de Freguesia do Alto do Pina respira de alívio e os moradores, sobretudo os que têm vista privilegiada para o terreno, voltam a ter vontade de contemplar as vistas.
"A qualquer hora do dia somos confrontados com a população, em trajes menores, a realizar a sua higiene pessoal, ou a fazer as necessidades, sem pudor ou cuidado em ferir susceptibilidades", denuncia um dos moradores da zona, acrescentando que o sentimento de insegurança tem aumentado devido ao "bairro clandestino".
Clara Pacheco, que trabalha numa agência de viagens com vista para o acampamento, reforça as preocupações, lamentando que ainda ninguém tenha colocado um ponto final na situação. "Isto até chega a ser caricato. Ao final do dia, chegam quase todos ao mesmo tempo. Alguns vêm com muletas, mas assim que passam para as traseiras da Almirante Gago Coutinho, longe dos olhos das pessoas, metem-nas debaixo do braço e caminham sem problemas".
Fernando Braancamp, presidente da Junta, assegura que já por diversas vezes pediu a intervenção da Câmara Municipal. Afirma que, este Verão, o fenómeno quase desapareceu e lamenta que não haja uma maior colaboração e diálogo entre as duas autarquias.
A Polícia Municipal (PM) de Lisboa tem marcado presença assídua no local, mas há uma espécie de jogo do gato e do rato entre os agentes e o grupo nómada. "Assim que os polícias viram as costas , eles voltam logo", sublinha Clara Pacheco.
André de Jesus Gomes, comandante da PM, confirma ao JN que os agentes se deslocam periodicamente ao Areeiro e que a "Polícia Municipal está atenta ao problema". O responsável revela que, já este mês, a PM e o Departamento de Higiene Urbana da Câmara efectuaram uma limpeza na zona.
Estas acções fazem com que alguns elementos do grupo nómada montem e desmontem os abrigos de forma diária. Alguns têm barracas mal amanhadas sempre montadas, mas outros, para não perderem os poucos haveres, guardam-nos em viaturas e, ao anoitecer, estendem mantas, cobertores, madeiras e plásticos para dormir.
Luís, adolescente romeno de 14 anos, chegou ao terreno do Areeiro há seis meses, com os pais, irmãos e tios. "Por vezes, estamos em Portugal, outras em Espanha. Quando está frio, dormimos numa carrinha", explicou, assumindo que a família vive da mendicidade. Quando não estão a pedir, no metro ou junto aos semáforos, arrumam carros ou ajudam em mudanças.
Ao final do dia, os mais velhos preparam pequenas fogueiras para improvisar as refeições. Água para cozinhar e para se lavarem vão buscar à bomba de gasolina. Os espelhos dos carros ajudam os homens a fazer a barba. »
23/11/2009
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4 comentários:
Pois, e se quem se queixar não for acusado de xenofobia ou racismo está cheio de sorte.
Nem é preciso usar esse argumento de xenofobia ou racismo, basta queixarem-se que estão lá construções ilegais, lixo e pessoas em condições precárias que a CML tem obrigação de actuar. Poderia acontecer com portugueses tambem.
Esse local é muito apetecido. Antes eram milhares de barracas, e pelos vistos não se consegue acabar com elas, o terreno já esteve limpo por pouco tempo e já está com barracas outra vez. O mesmo acontece por outras zonas de Lisboa.
Infelizmente Lisboa está cheia de habitantes que vivem abaixo do limiar da pobreza. Uns portugueses outros estrangeiros.
É claro que com os problemas dos outros podemos nós bem, mas vão a Paris e vejam o que por lá se passa quanto à mendicidade nas mais famosas ruas desta cidade.
Alguma coisa que se compare?
Não me faça rir...
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