Presidente da Câmara Municipal de Lisboa
Vereador dos Espaços Verdes
Presidente da Junta de Freguesia da Estrela
Como é do conhecimento de V. Exas., o Jardim Nun’ Álvares, vulgarmente conhecido como Jardim de Santos, é um excepcional representante dos pequenos jardins românticos da Lisboa de ‘900.
Estes jardins tinham, entre outros, o objectivo de se constituírem como alternativa aos Jardins Botânicos mais associados às Academias, tornando mais universal e acessível o conhecimento e a riqueza botânicas numa capital que, em virtude da sua privilegiada situação geográfica, permite que no seu solo se desenvolvam espécies que têm a sua área de origem a muitos quilómetros de Lisboa.
Poderemos dizer, sem exageros, que estes jardins românticos são uma verdadeira biblioteca da história e da diversidade botânica, marca insubstituível de Lisboa.
Assim, foram plantados um pouco por toda a parte, autênticos “gabinetes de curiosidades” botânicos que fazem de Lisboa uma referência incontornável no mapa dos jardins românticos da Europa.
O jardim de Santos não é excepção e nele podemos encontrar várias espécies exóticas que no seu conjunto deveriam ser suficientes para fazer desta área verde um exemplo de gestão e de classificação do património vegetal da cidade.
Aqui podemos encontrar uma galeria colossal de 8 (oito) tipuanas, felizmente classificadas, um numeroso e monumental grupo de belas-sombras e uma quantidade assinalável de grandes jacarandás, presentes no interior e nas franjas leste e norte do jardim. Para além deste notável grupo de árvores, poderíamos, ainda, acrescentar, uma estrelícia-gigante (strelitzia nicolai) e o grupo de olaias no qual uma se salienta pela sua dimensão e idade centenária.
Este jardim é a referência emblemática do bairro de Santos e os moradores têm nele um espaço de lazer e de contemplação.
Apesar desta invulgar riqueza botânica, o jardim mantém-se num estado de degradação e incúria alarmante e escandaloso, o que é incompatível com a imagem de Lisboa cidade-capital empenhada em promover-se nos mercados turísticos mundiais. E o seu estado de ruína entra em arrepiante contradição com o que se espera dos nossos órgãos autárquicos: instâncias modernas, democráticas e legítimas.
A degradação, a incúria e o desleixo a que o jardim tem sido votado, encontram-se espelhados nos seguintes factos:
- A intervenção camarária de 2013 resultou num completo fracasso, uma vez que toda a zona é agora área de divertimento nocturno, sem qualquer tipo de controlo, perdendo-se assim verbas consideráveis do erário camarário, no que se configura nem acto de gestão irresponsável;
- O arvoredo mantém-se alvo de toda a espécie de vandalismo (graffiti nas cascas, pernadas arrancadas, o coberto sub-arbóreo e as flores então plantadas foram eliminados pelo excesso de pisoteio). Não há um único canteiro ocupado;
- O interior do jardim é utilizado como parque de estacionamento nocturno;
- As caldeiras das árvores nunca são tratadas. A propagação de infestantes é norma. O solo nunca é arejado, a rega nunca é feita;
- As 4 (quatro) palmeiras centenárias foram eliminadas como resposta à praga do escaravelho-vermelho, em mais uma prova do total desinvestimento no combate a esta praga, que tem dizimado as palmeiras de Lisboa;
- A Junta de Freguesia protagonizou, recentemente, um dos casos mais infelizes ao permitir que se podasse selvaticamente a mais monumental bela-sombra do jardim.
Resumindo, TODO o jardim é utilizado como lixeira e casa de banho a céu aberto, com óbvias consequências para o seu pleno usufruto por parte dos moradores e para as condições edáficas, cuja qualidade é essencial para o vigor do coberto vegetal.
Assim, EXORTAMOS a Junta de Freguesia da Estrela e a Câmara Municipal de Lisboa para que em conjunto levem a cabo as seguintes sugestões.
1 - Elaboração de um plano de renaturalização do Jardim de Santos.
2 - Replantio urgente de todos canteiros.
3 - Trabalhos de manutenção e de enriquecimento do solo e das caldeiras.
4 - Levantamento exaustivo do estado fitossanitário de todas as árvores, recorrendo a métodos para lá do “método à vista”.
5 – Elaboração de um guia do Jardim de Santos para que o seu evidente valor botânico seja conhecido e salvaguardado.
6 - Replantação de palmeiras em substituição das já abatidas;
7 – Abertura de procedimento de classificação de Interesse Municipal dos seguintes conjuntos: a) belas-sombra; b) exemplar centenário de olaia; c) todos os jacarandás;
8 – Manutenção e (re)colocação do mobiliário urbano de época, que tão bem caracteriza/caracterizava este jardim (bebedouros, lanternas das colunas de iluminação, bancos).
É nossa firme convicção que só com uma acção robusta e célere poderemos, ainda, salvar o jardim de Santos.
Com os melhores cumprimentos
Paulo Ferrero, Miguel de Sepúlveda Velloso, Bernardo Ferreira de Carvalho, Maria do Rosário Reiche, Alexandre Marques da Cruz, Luís Serpa, Júlio Amorim, Virgílio Marques, António Branco Almeida, Rosa Casimiro, José Filipe Soares, Jorge Lima, Guilherme Pereira, Pedro Fonseca, Inês Beleza Barreiros, João Pinto Soares e Beatriz Empis.
(junto anexamos fotos de 1911, de Joshua Benoliel, do Arquivo Municipal de Lisboa, e fotos actuais)
3 comentários:
Não vale simplesmente a pena.
A fauna animalesca que por ali acampa até o sol nascer vandaliza sistematicamente tudo.
Já repararam que agora até se entretiveram a colocar uns sobre os outros uns matacões que supostamente vedariam a entrada de automóveis no passeio e no próprio jardim?
Muito mal gasto foi o dinheiro aplicado há um ou dois anos na "recuperação" daquilo, onde jardineiros andaram horas infinitas para nada.
Só vedado durante a noite - mesmo assim, a vedação seria vandalizada em menos de nada.
O pessoal que lá deixou aqueles cepos das palmeiras abatidas também fez um trabalho excelentissimamente excelente.
Assim como o do Príncipe Real, já foi bem bonito...
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