21/02/2021

Demolição do chalet Froebel - protesto e pedido de esclarecimentos à CML

Exmo. Senhor Presidente
Dr. Fernando Medina


Cc. AML, JF e media

Vimos pelo presente manifestar a V. Exa. a nossa estupefacção e o nosso repúdio veemente pela demolição integral do Chalet Froebel, no Jardim da Estrela, que foi concretizada ontem, conforme se documenta em fotos tiradas no local.


A nossa estupefacção prende-se com o facto de a CML ter anunciado publicamente (https://www.lisboa.pt/atualidade/noticias/detalhe/antiga-creche-do-jardim-da-estrela-da-lugar-a-biblioteca-do-ambiente?fbclid=IwAR1rKPBvw8MQUY-eYP8j53m8CAK8O5eAelO9uSfPM4dxoKju4yzQwZ2qnQQ) que aquele chalet histórico (http://www.monumentos.gov.pt/site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=7831&fbclid=IwAR3Z5-JuPquOOXeACfGxBMfDoWp0yvewmZxzAYre_5eXMktgH0Y5sEf3FqA), por cuja recuperação e bom uso há anos vimos pugnando, seria alvo, finalmente, de uma operação de conservação e restauro. Por isso, essa notícia foi oportunamente objecto do nosso aplauso, independentemente do uso pretendido - biblioteca "verde" - ser passível de discussão e de, mais uma vez, a CML não ouvir os munícipes para este tipo de projectos.


Daí a nossa maior estupefacção ontem, acrescida pelo facto de aparecer hoje mesmo na página da CML, após polémica acesa nas redes sociais, a justificação que "durante as obras de requalificação, verificou-se que cerca de 70% dos materiais de origem não estão em condições de ser restaurados, pois encontram-se comprometidos na sua integridade estrutural. De acordo com o projeto inicial, o material que pode ser reutilizado na reconstrução foi selecionado e guardado, e será utilizado no edifício".

Perguntamos como é possível que se avance com a obra sem haver relatórios prévios sobre o seu estado de conservação? Consideramos que uma explicação pública plausível e fundamentada sobre essas patologias, prévia ao anúncio de "intervenção de conservação e restauro" teria evitado toda esta situação. É do senso comum que são raras as estruturas de madeira em palácios e edificações antigas que não albergam térmitas, se for esse o caso, e em todas elas se intervém de modo a exterminar as pragas e recuperar e conservar as madeiras, pelo que se nos afigura caricata esta justificação, uma vez que em pleno século XXI as técnicas e os materiais para o combate adequado a este tipo de praga estão mais do que divulgados. 

Finalmente, ficam mais algumas questões de que gostaríamos uma resposta cabal da CML:

1. Esta obra é da responsabilidade de que Pelouro da CML?
2. No caderno de encargos estava prevista a destruição do chalet?
3. Qual é exactamente o mal de que padecem os materiais de origem, que levou à completa destruição do chalet?
4. A reconstrução vai reconstituir os interiores?
5. A reconstrução vai reproduzir fielmente as fachadas do chalet quer em materiais utilizados quer na qualidade dos mesmos?
6. Quais as madeiras do chalet destruído que vão ser reutilizadas?

Tememos que, mais uma vez, estejamos perante uma obra que privilegia o "pastiche", rápido e menos oneroso, o que sendo numa obra da CML, em património histórico, é de rejeitar liminarmente.

Com os melhores cumprimentos

Paulo Ferrero, Bernardo Ferreira de Carvalho, Jorge Pinto, Gustavo da Cunha, Nuno Caiado, Pedro Jordão, Júlio Amorim, Maria Isabel Ferreira, Rui Pedro Martins, Pedro Fonseca, Jorge Lima, Virgílio Marques, Maria do Rosário Reiche, Sofia de Vasconcelos Casimiro, Inês Beleza Barreiros, Rui Pedro Barbosa, Fátima Castanheira, Helena Espvall, Marta Saraiva, Pedro de Sousa. Ana Celeste Glória, Carlos Moura-Carvalho, Paulo Trancoso, Miguel de Sepúlveda Velloso, Pedro Henrique Aparício, Rui Valada, Ricardo Mendes Ferreira, Pedro Cassiano Neves, Ana Alves de Sousa, Carlos Boavida, Bruno Santos Palma, Irene Santos, Beatriz Empis, Michael Hagedorn, Maria Ramalho, Fernando Jorge, Teresa Silva Carvalho, António Araújo, Irina Gomes, Paulo Guilherme Figueiredo e Matilde de Sousa Franco

3 comentários:

J A disse...

Talvez sejamos os primeiros a conseguir conjugar conservação, restauro....e demolição. E isso é obra....

Anónimo disse...

Quem proíbe que a reconstituição integral da casa/Chalet se faça?
Gostaríamos de saber.
Nunca se reproduz a obra do autor, por direitos de autor, respeito pelo arquitecto, ou por impossibilidade da reconstituição e inexistência das plantas?
Ou por correntes de património, de arte, ou de estética, que "proíbe"?
Não decerto por ausência de materiais, porque madeiras idênticas haverá sempre em Portugal ou por outras latitudes.
De qualquer forma antes da precipitação deveria ter sido feita uma avaliação rigorosa do estado de conservação e a Câmara terá de ser questionada e responder de forma concisa à questão.
Se não terá de ser responsabilizada politicamente ou de outra forma.
Obrigado.
Vizinhos, visitantes e antigos alunos, esperam respostas.

F disse...

Que vergonha... que vergonha! vou estar atento ao progresso desta situação e votar de acordo com o que verificar