22/05/2007

“Novo” Cais do Sodré pronto em Dezembro


In Diário de Notícias de 11 de Maio de 2007
Luísa Botinas

Direito de Resposta:

Na notícia em apreço vêm referidas sob o título “Receios infundados” as críticas apontadas por organizações ambientalistas e de cidadãos sobre o impacte na cidade de Lisboa da construção no Cais do Sodré das sedes da Agência Europeia de Segurança Marítima, do Observatório Europeu da Droga e Toxicodependência e ainda do Centro de Informação Europeia Jacques Delors.

Queríamos, antes do mais, dizer que as posições tomadas pelas organizações de cidadania e ambientalistas não são irreflectidas, antes resultado de muitos anos de vivência na cidade e de trabalho pela cidade e de estudos levados a efeito no local, pelo que deveriam ter sido tomadas em linha de conta.

Menosprezar as suas opiniões e dos seus técnicos reflecte uma visão autoritária que não aceitamos. A democracia participativa e o acto de cidadania que nos move é uma atitude responsável e desinteressada de cidadãos, faz parte de uma democracia com maturidade, pela qual lutamos e de que não abdicamos.

Pensamos que já vai sendo tempo, ao fim de trinta e três anos de democracia, de ouvir a opinião dos cidadãos e de quem vive e realmente se interessa pela cidade de Lisboa. Tal opinião não foi ouvida neste caso concreto. Mais uma vez estamos perante um caso de flagrante défice democrático grave. Esperamos que a APL proceda de forma diferente de futuro.

Lisboa tem vindo a sofrer de graves erros urbanísticos, fruto de uma visão economicista e de oportunidade de negócio, de experiências urbanas, ou de técnicos mercenários. Temos plena consciência da importância para Lisboa da Agência Europeia de Segurança Marítima, do Observatório Europeu da Droga e Toxicodependência e ainda do Centro de Informação Europeia Jacques Delors, apenas criticamos a sua localização.

De todo o modo queremos aqui reafirmar inequivocamente a nossa oposição às obras no Cais do Sodré, da responsabilidade da Administração do Porto de Lisboa, pelas razões a seguir apontadas:

1. O local para a realização das obras foi mal escolhido, como dá a entender, aliás, o próprio arquitecto responsável pelo projecto, Manuel Taínha, quando diz “que não foi ele a escolher o sítio para aquelas estruturas” (Jornal de Notícias de 11 de Maio de 2007).

De facto, a introdução de edifícios apátridas na malha urbana pombalina e a volumetria excessiva dos edifícios vai comprometer de forma muito significativa o equilíbrio histórico, social e ambiental de uma das zonas mais nobres da cidade de Lisboa.

Estas obras comprometem o futuro desenvolvimento da frente histórica, a resolução dos vários problemas graves a saber: o reperfilamento da Av. 24 de Julho, a resolução dos transportes públicos, a desertificação da Baixa.

2. Para a realização de tais obras foram sacrificadas várias dezenas de árvores de uma vasta área com zonas densamente arborizadas como se pode ver pela fotografia de satélite (em anexo) que ilustra este texto.

Garante a APL que as árvores removidas serão replantadas, a glicínia centenária preservada e o relógio da hora legal recolocado e a funcionar. Estas são boas notícias gostaríamos, contudo, saber qual o número e espécie das árvores abatidas, garantindo desde já que iremos seguir atentamente a evolução da obra e certificar se as promessas agora anunciadas irão sendo cumpridas;

3. O empreendimento (em fase avançada de construção) terá também um forte impacte a nível do trânsito, e um corte de ligação com o rio que se pretendia de usufruto para a população em toda a extensão da Zona Ribeirinha, como era também vontade da CML, várias vezes expressa.

Não podemos assim, de forma alguma, estar de acordo com o Sr.Daniel Esaguy, da APL, quando prevê um passeio pedonal junto à àgua de, imagine-se, apenas cinco metros de largura!!! Cinco metros de largura não permitem uma utilização equilibrada de passeio a pé, de bicicleta, de “miradouro”, nem de local de repouso.

Da mesma forma, não podemos de forma alguma, estar de acordo com o Sr.Daniel Esaguy da APL a respeito da praça pública projectada, que será com toda a certeza miúda e promíscua, que futuramente deverá ser balizada por grades e fortemente policiada por motivos de segurança!!!

Com os melhores cumprimentos

João Pinto Soares (Associação Lisboa Verde) e Paulo Ferrero, Carlos Brandão, Carlos Leite de Sousa, Gonçalo Cornélio da Silva, Hugo Daniel de Oliveira, Júlio Amorim, Nuno Santos Silva e Odete Pinto (Fórum Cidadania Lx)

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