04/12/2009

Começou uma qualquer fase da reabilitação do eixo da Almirante Reis ao Intendente (da maneira mais estúpida possível)

Eu sei que tenho mau feitio. Concedo que sim. Está-me nos genes e, inclusive, no apelido que recebi do meu pai, e ele do seu pai, que, por sua vez, também o recebeu do lado paterno, apesar de o meu bisavô Correia nunca ter usado o apelido "Ralha" por vergonha de tão disparatado nome.

Por isso, desculpem-me qualquer coisinha, e aqui fica o disclaimer.

O Executivo camarário, a Junta de Freguesia - sei lá eu bem quem, procurei informação sobre o assunto e não encontrei em lado nenhum - começou, há cerca de uma semana, uma primeira fase da badalada requalificação da Almirante Reis, eixo do Intendente (onde eu, corajosa, adquiri uma habitação própria permanente).

E agora perguntam-me: começaram a limpar a avenida? A calcetar os passeios esburacados? A implementar programas de recuperação e integração de toxicodependentes e prostitutas? Aumentaram o policiamento? Começaram a reabilitar os minúsculos espaços verdes existentes? Indagaram o problema das tílias "bonzai" do separador central, que há mais de uma década que não crescem mais do que uns meros centímetros?

(Suspense, porque, lá está, eu tenho mau feitio e um grande parêntesis para explicar o que é morar na Almirante Reis, ao Intendente)

Viver na Almirante Reis ao Intendente é ter o carro assaltado todos os meses - e rezar aos Santos que as seguradoras automóveis continuem a garantir a cobertura de quebra isolada de vidros.

Viver na Almirante Reis ao Intendente é acordar às sete e picos da manhã com gritos lancinantes de prostitutas toxicodependentes que lutam por uma dose, e ter camarote de luxo para uma cena de facada entre proxenetas em plena avenida (ainda ontem, com grande aparato, seis carros de polícia, trânsito cortado, ambulância do Inem, polícia agredido a soco, proxeneta esfaqueado na perna, prostitutas algemadas no passeio).

Mas deixem-me, por favor dizer, que viver na Almirante Reis ao Intendente, é ter, também o maior colorido da cidade. É ter mercearias e frutarias de portas abertas até à meia-noite, é cumprimentar e estimar cidadãos de todo o mundo, de todas as cores, de todos os credos. É ter à porta o Sr. Hussein, que reza a Alá por toda a nossa família, é jantar com os vizinhos chineses em restaurantes em que a ementa não está escrita em caracteres ocidentais. É perceber que, atrás de situações limite, estão pessoas que são apenas como nós.

E depois deste pequeno enquadramento, um rewind de três parágrafos.

Sim, começou uma qualquer fase da reabilitação da Almirante Reis ao Intendente.

E sim, eu tenho mau feitio, mas quem decidiu que a primeira prioridade na minha avenida - que, por vezes sangra, que, por vezes grita - era a substituição dos pilares de cimento por pilares de metal cinzentos - e que, ainda por cima, nem são iguais aos do quarteirão da Igreja dos Anjos -, está a gozar com toda a gente que ali insiste em viver; está a gastar dinheiro disparatadamente numa questão que não resolve nenhum problema daquele eixo.

Francamente...

11 comentários:

FJorge disse...

Quanto ao alinhamento de tílias plantadas no eixo da via: foi um erro da década de 80 que terá de ser corrigido no futuro.

Primeiro, é paradigmatico de como se plantavam árvores para os carros em vez de para os peões! É nos passeios laterais que as árvores fazem falta para melhorar não só o conforto de quem anda a pé mas também para quem ainda vive no eixo Av. Almirante Reis/R. da Palma.

Segundo, as tílias são árvores de grande porte, com copas de forma oval que são incompatíveis com a circulação viária intensa desta avenida (basta ver a quantidade de ramos partidos por autocarros e camionetas!). E já repararam nas caldeiras minúsculas que lhes deram no separador central? Apenas árvores de pequeno porte poderiam viver em caldeiras tão pequenas. Esperemos que em breve se proceda ao transplante das tílias para outros locais mais adequados, onde o seu crescimento não esteja sujeito a tantas hostilidades. Em seguida a CML devia arborizar os passeios laterais.

Anónimo disse...

As situações com que deparamos nesta nossa desgraçada capital convertem o mais paciente e condescendente cidadão numa pessoa de mau feitio.

Arre, que é incompetência demais!

Fernando Correia de Oliveira disse...

belo texto, trágica situação

Raul Nobre disse...

Ralhe, ralhe porque talvez o seu ralhar surta efeito, apesar da surdez dos responsáveis.
Parabéns pela sua escrita.

Xico205 disse...

Costuma fazer queixa na esquadra quando lhe assaltam o carro? E ja alguma vez ouviu dos agentes a resposta: Ponha um pit-bull dentro do carro que pode ter a certeza que não o assaltam mais!

Eu já.

Anónimo disse...

pobres árvores! todos os anos várias dezenas são atropeladas!

Sandra disse...

Esta avenida está uma desgraça!

Anónimo disse...

esta avenida está doente

Anónimo disse...

Esta avenida é muito bem servida de transportes públicos e só isso lhe asseguraria um enorme potencial.
É pena que a CML nunca tenha apostado nisso, tendo optado por votar a zona ao abandono e à sua própria sorte.
Também moro na Almirante Reis, aos Anjos e sei bem os problemas que descreve a Diana Ralha.
Luís Alexandre

Anónimo disse...

esta rua já não é uma avenida. é uma auto-estrada, via-rápida. uma avenida urbana não é assim, não pode ser assim!

Xico205 disse...

Tem que ser esburacada para ser uma rua ou avenida?
A unica diferença de hoje para o antigamente é um tapete de alcatrão novo, finalmente decente.