Reformado desde 2009, Décio Ferreira acha "ofensivo" o valor que lhe ofereceram para continuar. Sai triste e angustiado, sobretudo pelos doentes
João Décio Ferreira, o único médico do país que fazia cirurgias de mudança de sexo, pendurou a bata. O clínico decidiu sair do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, onde desde que se reformou passou a receber apenas seis euros por hora. Na mesma semana em que o Presidente da República promulgou a lei que simplifica a mudança de sexo e de nome próprio no registo civil, a vida dos transexuais sofreu assim um irónico revés - apesar de o conselho de administração do hospital garantir que "fez tudo" para o manter no lugar.
O cirurgião plástico reformou-se em 2009, aos 65 anos, mas continuou a trabalhar na instituição. Contudo, por considerar que os novos valores propostos aos reformados que se mantenham no Serviço Nacional de Saúde são "ofensivos", decidiu colocar um ponto final na situação.
"Propuseram-me um horário de 35 horas semanais pagando-me um terço da reforma ou um terço do ordenado, conforme eu quisesse; isto é, no meu caso, seis euros por hora brutos (antes de descontar o IRS). Por dez horas de bloco operatório receberia 60 euros, ou seja, ganhava mais ou menos 40 euros depois de descontar o IRS", conta o cirurgião, num comunicado onde explica a sua saída.
Ao PÚBLICO, Décio Ferreira mostrou-se triste e angustiado com o desfecho. Sabe a situação difícil em que deixa muitos doentes que agora vão poder mudar de nome e "não vão poder adaptar o corpo ao género", mas também sente que não podia continuar a dar cobertura a uma oferta "ofensiva".
O cirurgião começou a fazer estas cirurgias em 2005 e já soma quase dez casos de mudança do sexo masculino para o feminino e mais de 20 casos de mudança do sexo feminino para masculino. Pelo caminho, deixa muitos casos incompletos. No entanto, está disponível - por motivos deontológicos e "por amor à camisola" - para colaborar em casos pontuais e urgentes. Sobre o futuro tem uma proposta de um hospital privado com acordos com a ADSE. O problema é que quem não tem este subsistema fica de fora.
O presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar Lisboa Norte, do qual faz parte o Hospital de Santa Maria, garante que fez tudo o que estava ao seu alcance para travar a saída de Décio Ferreira e que fez "as diligências" que podia junto de quem devia. "Fizemos tudo o que podíamos para chegar a um acordo e houve boa vontade de ambas as partes. Mas a legislação para aposentados tem regras rígidas e inultrapassáveis", explica João Correia da Cunha. Uma situação corroborada por Décio Ferreira, que reconhece os "constrangimentos" do hospital. O Ministério da Saúde recusou comentar a situação.
Décio Ferreira, na nota onde explica a sua saída, deixa várias críticas: "Após 41 anos de descontos e 65 de idade reformei-me. Fiquei com uma só reforma calculada a partir dos descontos que fiz nesses 41 anos. Outros, coitados, como acontece com algumas pessoas importantes em Portugal, que toda a gente conhece, devem ter descontado 80 ou mesmo 120 anos para ter direito a duas ou três reformas. Tenho recebido assim todos os meses na minha conta bancária 1911,79 euros líquidos desde que me reformei em 24 de Junho de 2009. Agora parece que vai ser reduzida para, voluntariamente obrigado, contribuir para pagar o buraco do BPN, as segundas e terceiras reformas milionárias de alguns importantes, os "brinquedos" das Forças Armadas, as mordomias dos políticos tão necessárias ao país, como todos sabem".
Menos que a mulher-a-dias
O cirurgião esclarece que, após a reforma, ainda ficou a trabalhar quase dois anos em Santa Maria e que aceitou a proposta para não deixar os doentes sem resposta e para dar tempo para preparar um sucessor. Só que o interno da especialidade ainda tem dois anos pela frente e fica sem "tutor" para treinar.
O cirurgião critica, por isso, que o Ministério da Saúde venha dizer que criou um regime excepcional para voltar a contratar os reformados de áreas necessárias para o SNS, quando o que propõem é "seis euros à hora brutos", defendendo que uma mulher-a-dias recebe mais e que é um valor que "qualquer pessoa minimamente na posse das suas faculdades psíquicas teria vergonha de propor".
"Não me parece que qualquer licenciado e ainda por cima no topo da sua carreira profissional permita ser assim tão achincalhado. Há limites que a própria honra impõe", insiste.
O cirurgião plástico reformou-se em 2009, aos 65 anos, mas continuou a trabalhar na instituição. Contudo, por considerar que os novos valores propostos aos reformados que se mantenham no Serviço Nacional de Saúde são "ofensivos", decidiu colocar um ponto final na situação.
"Propuseram-me um horário de 35 horas semanais pagando-me um terço da reforma ou um terço do ordenado, conforme eu quisesse; isto é, no meu caso, seis euros por hora brutos (antes de descontar o IRS). Por dez horas de bloco operatório receberia 60 euros, ou seja, ganhava mais ou menos 40 euros depois de descontar o IRS", conta o cirurgião, num comunicado onde explica a sua saída.
Ao PÚBLICO, Décio Ferreira mostrou-se triste e angustiado com o desfecho. Sabe a situação difícil em que deixa muitos doentes que agora vão poder mudar de nome e "não vão poder adaptar o corpo ao género", mas também sente que não podia continuar a dar cobertura a uma oferta "ofensiva".
O cirurgião começou a fazer estas cirurgias em 2005 e já soma quase dez casos de mudança do sexo masculino para o feminino e mais de 20 casos de mudança do sexo feminino para masculino. Pelo caminho, deixa muitos casos incompletos. No entanto, está disponível - por motivos deontológicos e "por amor à camisola" - para colaborar em casos pontuais e urgentes. Sobre o futuro tem uma proposta de um hospital privado com acordos com a ADSE. O problema é que quem não tem este subsistema fica de fora.
O presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar Lisboa Norte, do qual faz parte o Hospital de Santa Maria, garante que fez tudo o que estava ao seu alcance para travar a saída de Décio Ferreira e que fez "as diligências" que podia junto de quem devia. "Fizemos tudo o que podíamos para chegar a um acordo e houve boa vontade de ambas as partes. Mas a legislação para aposentados tem regras rígidas e inultrapassáveis", explica João Correia da Cunha. Uma situação corroborada por Décio Ferreira, que reconhece os "constrangimentos" do hospital. O Ministério da Saúde recusou comentar a situação.
Décio Ferreira, na nota onde explica a sua saída, deixa várias críticas: "Após 41 anos de descontos e 65 de idade reformei-me. Fiquei com uma só reforma calculada a partir dos descontos que fiz nesses 41 anos. Outros, coitados, como acontece com algumas pessoas importantes em Portugal, que toda a gente conhece, devem ter descontado 80 ou mesmo 120 anos para ter direito a duas ou três reformas. Tenho recebido assim todos os meses na minha conta bancária 1911,79 euros líquidos desde que me reformei em 24 de Junho de 2009. Agora parece que vai ser reduzida para, voluntariamente obrigado, contribuir para pagar o buraco do BPN, as segundas e terceiras reformas milionárias de alguns importantes, os "brinquedos" das Forças Armadas, as mordomias dos políticos tão necessárias ao país, como todos sabem".
Menos que a mulher-a-dias
O cirurgião esclarece que, após a reforma, ainda ficou a trabalhar quase dois anos em Santa Maria e que aceitou a proposta para não deixar os doentes sem resposta e para dar tempo para preparar um sucessor. Só que o interno da especialidade ainda tem dois anos pela frente e fica sem "tutor" para treinar.
O cirurgião critica, por isso, que o Ministério da Saúde venha dizer que criou um regime excepcional para voltar a contratar os reformados de áreas necessárias para o SNS, quando o que propõem é "seis euros à hora brutos", defendendo que uma mulher-a-dias recebe mais e que é um valor que "qualquer pessoa minimamente na posse das suas faculdades psíquicas teria vergonha de propor".
"Não me parece que qualquer licenciado e ainda por cima no topo da sua carreira profissional permita ser assim tão achincalhado. Há limites que a própria honra impõe", insiste.
21 comentários:
vamos lá moderar os posts assim como os comentários são mederados!
estou no blog certo?
Senhores comentadores,
aparentemente o assunto causa-vos algum desconforto. Este espaço, segundo a minha leitura, é de facto sobre Lisboa e seus problemas. O que aqui se pode tirar deste artigo, ainda que seja um assunto nacional, de facto é também um assunto de Lisboa porque o único médico com capacidade para fazer este tipo de cirurgias, no principal hospital de Lisboa, já não lá trabalha mais. Isto afeta Lisboa, isto afeta os portugueses.
Já sei que vão escrever aqui, principalmente o tal de Xico, que não lhes afeta nada porque não precisam da especialidade deste médico mas tal só significa que, também nestes assuntos, vocês estão a borrifar-se para os outros.
Caros,
Também eu tive dúvidas se este post caberia aqui. Cheguei à conclusão que sim. Posso obviamente estar enganado.
Não é a primeira vez, aliás, que me questiono se este ou aquele post têm que ver directamente com Lisboa.
Se vamos a ser tão rigorosos, posts como os do IPO, manifestações da geração à rasca e outros a nível nacional mas que influenciam a vida na nossa cidade ou mais dúbios não têm aqui lugar. Estancamos isto e falamos apenas de urbanismo, mobilidade e estacionamento dentro de fronteiras bem delimitadas. A qualidade da saúde, da Educação ou da Cultura também aqui têm lugar e uma medida de nível nacional, que até é passada em Lisboa, Hospital de Santa Maria, pode influenciar a vida na nossa cidade. O que se passa aqui tem dimensão nacional mas passa-se num hospital Lisboeta, assim como o que se passa no IPO que tem pelo menos dimensão regional.
Este caso é um exemplo do desgoverno, da hipocrisia, do desbaratar de meios e de dinheiro de quem nos governa e é extensível a todas as áreas, mesmo às municipais, onde não há dinheiro para nada menos para sustentar clientelas e gente que diz servir o País ou a cidade mas que nos rouba e chula há uma data de anos. Quem trabalha tem que ganhar cada vez menos e pagar cada vez mais impostos, para que gente que pouco fez e faz tenha mordomias, salários e reformas milionárias pagas por nós, pois nesses direitos adquiridos não se pode mexer. Custa muito a quem simpatiza com os poderes ler as verdades que estão neste artigo, mas são as verdades. Multiplicadas por milhares. Também aqui em Lisboa.
Obrigado.
Ps. Paulo , se achar que este artigo não tem aqui cabimento por favor apague, sem problema,ok. :)
Sr. Xico,
Tem todo o direito à sua opinião. Mas num país livre, o seu comentário também poderá levar alguns a concluir que o senhor é também uma aberração. São opiniões, e numa sociedade livre e diversa, há apenas que respeitar ou pelo menos tolerar os outros.
Já que o senhor diz respeitar a natureza, quando tiver um problema de saúde ou o seu corpo não condizer com o seu estado de espírito ou com a sua mente, não procure ajuda médica ou os avanços científicos para se tratar. Será a natureza, e o senhor tem todo o direito a "respeitá-la."
Joana
Lisboa
Xico205,
aberração é o seu comentário ignorante. Não percebe, claro, que o argumento da natureza já não serve para defender posições ignorantes como a sua? Já pensou que natureza é tudo o que se apresenta logo se alguém nasce com uma dismorfia entre o corpo e o género que o seu cérebro lhe diz ser então tal é natural, ou não? Pois saiba que na natureza existem animais que mudam de sexo ou passam a desempenhar o papel do sexo oposto em situações determinadas.
Em todo o caso não me cabe explicar-lhe ou convencê-lo de coisa alguma, somente sublinhar que a ignorância é muito atrevida e no seu caso também ofensiva.
Ó Xico, como é que será viver assim tão burro, estúpido e sem capacidade de raciocínio? Ainda bem que és feliz. Ignorance is bliss.
Adorei essa do há 100 anos, dos carros, dos peixes e insectos. E a dos ovos foi ainda melhor. És limitado mas infelizmente ainda não existe operação para inteligência ou educação sem esforço.
E felizmente que nem toda a gente é como tu, ou a esperança de vida seria ainda de uns 20 anos ou nem sequer já haveriam homo sapiens.
Xico205,
continua a dar corda para te enforcares. Dá-nos mais desses argumentos para queimares a réstia de credibilidade que ainda podes ter.
Eu surpreendo-me quando alguém faz referência a um período de há 100 anos e depois vem falar de carros, Rovers e Fords o que me suscita algumas perguntas:
-O que têm carros a ver com a condição humana?
- O carro que usas evoluiu alguma coisa desde os carros de há 100 anos?
- Se a natureza não te obriga a andar a pé em vez de usar algo tão pouco natural que é a locomoção mecânica?
- Se só compreendes e apoias algo que tenha experimentado e para que tenhas capacidade mental, como é que conseguiste sair da caverna onde nasceste?
Pois é,
o Xico esperto não respondeu a nenhuma das minhas perguntas. Eu não preciso que me diga que há 100 anos já haviam carros, eu perguntei se houve alguma evolução nos carros desse tempo para cá.
É que na realidade, já que pegou nos carros para comparar com a complexidade humana(?)vou também pegar no mesma figura comparativa para constatar que os carros de que tanto gosta evoluiram mais desde há 100 anos que você, que ainda não saiu das cavernas ou da escola primária com argumentos pífios, egoistas, maldosos, ignorantes e doentios.
PS - se as pessoas que convive tem as suas ideias então são tão anormais como você!
Pois quem parece que não leu foi o Xico esperto. Eu agora confirmei aquilo que eu já suspeitava: o Xico sofre de aliteracia.
Não percebeu os posts, responde tudo ao contrário, está obcecado em afirmar a sua masculinidade (suspeito!), só dá erros ortográficos, não parece saber muito para além do seu mundo (carros), tem uma fortíssima necessidade de se afirmar (falta de auto-estima). Com isto tudo posso concluir que o grande e mais premente problema do Xico está longe de ser a mudança de sexo. Ele é demasiado primitivo para ter problemas tão complexos. A vida dele deve ser preenchida com decisões sobre onde vai comer e beber para manter aquele lindo corpinho obeso, e quando está na altura de mudar o óleo ao carro. Literatura que lê regularmente: Automotor, lida na casa de banho!
Eu também apoio a decisão de ignorar por completo este tipo! Li agora uns posts dele mais acima e é de bradar aos céus.
Pelo tipo de infantilidade de discurso e de raciocínio chegamos à conclusão que ele aqui procura protagonismo e afirmação pessoal e responder-lhe é fazer isso mesmo, o que resulta nele uma sensação de afirmação, obviamente ilusória.
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