06/12/2011

Proprietários querem transformar antigo cinema Odeon em recinto comercial


Arquitecto diz que os emblemáticos varandins "vão ser replicados"

Por Ana Henriques in Público

Velho espaço de cinema dará lugar a outras valências culturais, como exposições, livraria e loja de discos. Especialistas em património da Câmara de Lisboa condenam a reconversão

A reconversão do velho cinema Odeon em espaço comercial com valências culturais foi aprovada pelo Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar) e deverá ser também autorizada pela Câmara de Lisboa. Os técnicos da autarquia que analisaram o valor patrimonial do edifício construído em 1927 na Rua dos Condes discordam da decisão.
O plano de reconversão passa por demolir o interior do cinema, para nele instalar um restaurante/bar com uma pequena orquestra, uma sala de exposições, uma leiloeira de arte, uma enoteca, uma loja gourmet, uma livraria de primeiras edições e uma loja de discos especializada em música contemporânea. "As fachadas manter-se-ão rigorosamente idênticas ao que foram", explica o autor do projecto, Luís Pereira Coelho, do atelier 9H. Os emblemáticos varandins metálicos fechados e rendilhados, com vidros coloridos, "vão ser replicados", prossegue o arquitecto: "São impossíveis de recuperar, porque as lages que os seguram ao edifício estão partidas." A memória descritiva do projecto prevê a recuperação dos elementos interiores do edifício considerados mais marcantes: o tecto em madeira pau-brasil e o frontão art déco sobre a boca de cena, bem como as colunas que o sustentam. Duas das quatro caves serão para estacionamento.
O valor arquitectónico
"O edifício está fechado há 17 anos, por não ser viável do ponto de vista económico", diz Luís Pereira Coelho. "Tanto o presidente da câmara como o vereador do Urbanismo estão empenhados em que esta ruína seja transformada numa coisa utilizável." Foi já em meados de 2010 que o Igespar emitiu um parecer favorável, embora condicionado, sobre a reconversão do Odeon. "Face à impossibilidade da manutenção do interior do edifício, dado o seu avançado estado de degradação, consideramos que o resgatar para a cidade de pelo menos a sua imagem exterior e alguma da memória interior é já uma mais-valia a considerar", opinaram os técnicos do instituto. "A proposta de continuidade de um uso público e cultural para o imóvel é outro aspecto positivo a considerar."
Mas, em Agosto passado, os serviços camarários com competência para zelar pelo património - o Núcleo Residente da Estrutura Consultiva do Plano Director Municipal - emitiram um parecer contrário: "Verificada a recuperabilidade do edifício, confirmado o seu valor arquitectónico e tendo em atenção a importância que lhe é atribuível em termos culturais, considera-se que o programa de demolições não tem enquadramento no Plano de Urbanização da Av. da Liberdade." O projecto, notam, não garante "a preservação da identidade arquitectónica e construtiva do edifício".
"Felizmente não se trata de um parecer vinculativo", ressalva Luís Pereira Coelho, acrescentando que os entraves à reconversão serão ultrapassados com a entrega à câmara, pela sociedade proprietária do velho cinema, a Parisiana, de um relatório mostrando que a conservaçáo do edifício é técnica e economicamente inviável.

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"Felizmente não se trata de um parecer vinculativo"
O que vai acontecer, brevemente, quando o novo PDM for implementado e o Núcleo Residente da Estrutura Consultiva do Plano Director Municipal for definitivamente exterminado ... ?
Salgado continua a avançar ... inexerovalmente com o seu "Master Plan" ...
António Sérgio Rosa de Carvalho.

9 comentários:

Anónimo disse...

Se o "espaço comercial" for algo como o Centro Comercial Bombarda no Porto, valerá a pena. Caso contrário, não tou a ver como mais um típico "shopping" seja viável. Veja-se o triste "Espaço Chiado".

Anónimo disse...

Ainda não aprenderam é muita imcompetência.O espaço demasiado pequeno não permite uma galeria comercial é uma perfeita estupidez.
O arquitecto Manuel Salgado está a permitir a destruição da cidade.

Anónimo disse...

Incompreensivel!!!

Anónimo disse...

Se bem percebi, o espaço está fechado em avançado estado de degradação. O edifício até já está cercado por causa de vários elementos do prédio já terem caído, podendo magoar algum transeunte. Se não há viabilidade para o recuperar nas suas funções antigas, porque não adaptá-lo a uma nova realidade? E, se também percebi bem, não será um centro comercial vulgar. Será mais voltado para a parte cultural, com exposições, leilões de arte antiga, etc. É claro que terá forçosamente de ter uma componente comercial, se assim não fosse quem iria investir uns milhões, penso eu, em algo não lucrativo. Filantropos não existem neste momento. Todos nós sabemos disso. A mim agrada-me voltar a ver aquele espaço com vida. Estamos a deixar degradar toda a cidade que é lindíssima.

Paulo Ferrero disse...

Pois, o problema é que o edifício não está em avançado estado de degradação, muito menos em ruína. Depois, a cerca foi montada por foi pedido à CML que o fizesse, uma vez que o revestimento do suporte da galeria inferior, junto ao antigo Condes desprendeu-se e caiu no passeio. Ponto.

Anónimo disse...

Peço desculpa de o contradizer sr Paulo Ferrero. O sr por acaso já lá foi dentro? Sabia que as escadas que levam à parte superior estão a cair, fazendo com os próprios técnicos tenham medo de lá entrar? O miolo do edifício está extremamente degradado. Só algumas partes se podem salvar por serem mais resistentes ao passar dos anos e à falta de manutenção do edifício. Depois crê que alguém tem capacidade financeira, neste momento, para investir no que antigamente era o propósito "Cinema"? É preferível deixá-lo degradar-se mais, cair, e depois já existe a hipótese de se fazer qualquer "mamarracho" que não tenha nada a ver com o sentido arquitectónico da zona. É isso? Falar por falar às vezes não é medíocre, é mesmo mau.

Paulo Ferrero disse...

Muita agradecida fica a cidade ao prezado anónimo que revelou tanta coragem em subir os degraus de cimento que vão desde a porta ao lado da cabine de projecção ao telhado (será esta escada?, ou será a escadaria que leva do 1º balcão ao 2º - aqui já terá sido ainda maior a coragem, cuidado com o estuque caído do lado da parede da fachada traseira!!), sim senhor, a cidade agradece.

Anónimo disse...

Embora concorde que o espaço deva ser recuperado:

uma leiloeira de arte: TALVEZ

uma enoteca: este tipo de lojas está a desaparecer. Não há dinheiro.

uma loja gourmet: o principal negócio de uma loja gourmet não são os vinhos?

uma livraria de primeiras edições: interessante embora não me pareça viável. Basta ver os livreiros antiquários de Lisboa, que vendem meia dúzia de livros por mês (e é quando vendem) e que só se aguentam porque têm rendas muito antigas ou são proprietários das lojas. Mais uma vez, não há dinheiro.

uma loja de discos especializada em música contemporânea: numa época em que tudo se tira da net?

Só tenho uma palavra: Ridículo.

Anónimo disse...

De "anónimo" para "anónimo"

Sabe com certeza, disso não tenho dúvida, que um loja que só vende vinhos é uma "garrafeira". Há uma excelente em Campo de Ourique na rua da Anunciação. Uma loja gourmet, além do dever de ter bons vinhos, tem obrigatoriamente de ter outros produtos de excelente qualidade. Podem ( e quanto a mim, devem) ter produtos nacionais, certificados é claro, mas que sejam de tradição artesanal. Bom fumeiro, boa queijaria, bom azeite, bons chás (e os Açores é um óptimo fornecedor), mas também outros produtos que se integrem num espaço desta condição. Além disso, todos nós sabemos que é uma zona muito utilizada por estrangeiros que provavelmente serão os maiores frequentadores. Vejam-se as lojas de marca que proliferam por toda a Av. da Liberdade! E não me venham dizer que a crise, blá, blá, blá, porque essas mesmas lojas têm sempre clientes dispostos a pagar fortunas pelos seus artigos. Ou não querem que pessoas com dinheiro frequentem este espaço? é preferível deixá-lo cair? É por isso que o "núcleo duro" da CML não quer aprovar o projecto? Senhores os tempos mudaram e temos de nos ajustar a essas mudanças. E se o podermos fazer preservando o máximo possível do edifício, tanto melhor.