07/02/2012
Crónica de Henrique Raposo , hoje no Expresso online
Livrai-nos do cavalheiro do haxixe, dr. António Costa
Henrique Raposo (www.expresso.pt)
8:00 Terça feira, 7 de fevereiro de 2012
É um hábito em desuso, eu sei, mas gosto de andar a pé na rua, e não numa passadeira de ginásio. Gosto de andar no meio da malta, e não no meio de senhoras de maiô. Sou, portanto, um sujeito terrivelmente fora de moda. E há um eixo que percorro com especial, vá, denodo: Saldanha-Avenida-Baixa-Cais das Colunas. Gosto de andar por ali. Gosto de ver as brasileiras grã-finas (e de maiô) a torrar dinheiro nos hotéis. Gosto de ver as angolanas do regime (e de maiô) a torrar dinheiro nas lojas da avenida. Gosto de trabalhar nos cafés/quiosques que estão a dar vida nova à avenida. Gosto de mergulhar na multidão de turistas da Baixa. Gosto de chegar ao Cais das Colunas e ficar ali um bocado. É dos poucos sítios onde as pessoas estão caladas. O Tejo tem um efeito narcótico na malta. E não é do cheiro.
Contudo, há diversos obstáculos nesta utopia lisboeta. Para começar, a calçada lisboeta é um tormento. Torcer o pé é o pão nosso de cada dia. Não entendo, aliás, como é que as mulheres ainda não fizeram uma campanha contra esta aberração arquitetónica. Mas, de facto, a coisa mais irritante é uma personagem (na verdade, são várias) que anda sempre na Rua Augusta. Passo por lá há anos, e este cavalheiro de uma certa-de-determinada-etnia-que-eu-não-posso-identificar-porque-seria-logo-rotulado-de-racista tenta sempre vender-me tijolos de haxixe. Não são tirinhas de meio conto. São sabonetes. É assim, repito, há anos. O cavalheiro, ainda por cima, não compreende a palavra não e, por vezes, faz lembrar um turco do Grande Bazar na forma como aplica as técnicas do, digamos, marketing agressivo. Eu sei que tenho cara de agarrado, mas não é preciso insistir tanto.
Eu não sei se o dr. António Costa anda (ou não) a pé pela cidade. Eu não sei se a equipa do dr. Costa anda (ou não) a pé pela cidade. Tenho, porém, a certeza de que não andam a pé pela Rua Augusta. Também sei que o dr. Costa não é polícia, mas, depois de ouvir pela trigésima sexta vez o "queres comprar? É bom, ah!", acho que ganhei o direito de pedir uma coisa ao edil da minha cidade: livrai-nos do cavalheiro do haxixe, dr. Costa. E, já agora, livrai-nos dos arrumadores, que estão a fazer várias OPA sobre novas áreas da cidade. Solte o Rui Rio que há em si, dr. António Costa.
Ler mais: http://aeiou.expresso.pt/livrai-nos-do-cavalheiro-do-haxixe-dr-antonio-costa=f703007#ixzz1lhJQRU7O
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13 comentários:
Tb me acontece esta situação inúmeras vezes. Resido em Lisboa e tb gosto de andar a pé, Faço percursos enormes, desde Saldanha para o Marquês, subo ao rato, desço pela Politécnica para o Chiado, depois subo a Liberdade e eis que aqui estou quase novamento no saldanha. Tb me deparo na baixa com estes senhores que se tornam incomodos. Mas que vamos fazer nós. Já levo o não dentro do bolso como quem leva a moeda para o arrumador :-/
Foi mais importante "livrar" a Rua Augusta dos que ganhavam a vida com trabalho ali ao pé do Arco....
Eu sei que o dr. António Costa não anda a pé pela cidade ou então que é ceguinho.
Das duas, uma.
(nem ele nem o Zé a quem aquela barrigaça não fazia falta...)
Não há explicação nem desculpa para a vergonha que é a Rua Augusta e os seus vendedores de haxixe. Gostava de ouvir alguém da Câmara dizer uma palavra sobre isso.
"Gosto de chegar ao Cais das Colunas e ficar ali um bocado."
Há dois passeios muito lindos para quem chega ao Cais das Colunas. É seguir a pé no sentido da nascente do Tejo ou da foz. Este último é o meu favorito: a zona da Av. Ribeira das Naus está fantástica.
Já me sucedeu e perguntei à polícia que disse "Se fosse haxixe já não estava lá a vender...", e pronto!
Agora quando me pretendem vender, respondo, "Queres ir dormir à Gomes Freire?"
Pedem desculpa, e ficam a praguejar do azar que têm...simpático!
Deixei de frequentar a Rua Augusta, não por causa destes "cavaleiros", mas por causa dos "cavaleiros" dos cartões de crédito e férias. No dia em que cheguei a vias de facto com um deles, foi a última vez. É com grande pena minha, mas é intolerável o ambiente numa das mais belas ruas de Lisboa.
De uma certa e determinada etnia, qual? Ovimbundo, banto ou dradiviano? E o quê que isso importa para a discussão do problema?
Por acaso já encontrei várias vezes o António Costa no Metro, por isso se anda de Metro também deve andar a pé. O que me explicaram foi que esse tipo não vende droga, mas sim algo a simular droga, por isso anda por ali feliz e contente...
Quando à calçada subscrevo. É vergonhoso o estado da calçada em Lisboa. Porque raio insistem numa calçada que depois não tem manutenção?
cachucho
http://www.virtualtourist.com/travel/Europe/Portugal/Distrito_de_Lisboa/Lisbon-286122/Warnings_or_Dangers-Lisbon-Hassles_from_people_on_the_street-BR-1.html
O sr. Henrique Raposo, diz que "a calçada lisboeta é um tormento". Para ele. Favor não generalizar. Deve ter a doença dos pezinhos ou fazer deslocações minimalistas. Concerteza que não é uma pessoa que tenha andado muito a pé. Eu que já vivi anos em Londres e Paris, acho que é muito mais cansativo e difcil andar em terreno perfeitamente liso, como nestas duas simáticas urbes,do que na muito mais bonita e andável calçada lisboeta. Chamar aberração arquitectónica a uma calçada que nos distingue doutras muito mais triviais é muito provinciano. Quererá ele fazer o up-date? E fazer o favor a uma série de patos-bravos e empreiteiros mortinhos por retirar a calçada à portuguesa? Que é feita à mâo coisa preciosa nos nosss dias?
ao
Miguel Drummond de Castro disse...
O sr. Henrique Raposo, diz que "a calçada lisboeta é um tormento". Para ele. Favor não generalizar. Deve ter a doença dos pezinhos ou fazer deslocações minimalistas...
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Tens toda a razão no que dizes, mas se fosse eu a fazer esta intervenção era censurada. A partir de agora os meus comentarios vão anónimos ou noutro nome. Como ainda não és cá conhecido deixam-te passar as intervenções, apesar disto ser um circulo fechado dumas 20 pessoas.
Há gente que nem ler sabe, até irrita. "há um eixo que percorro com especial, vá, denodo: Saldanha-Avenida-Baixa-Cais das Colunas". Isto é uma distância minimalista para maratonistas quenianos, arre.
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