A escola saiu do palácio por este estar em "risco de ruína
Por Inês Boaventura in Público
A associação de pais diz que os alunos, que hoje estudam na junta de freguesia, "foram escorraçados" do Palácio Sinel de Cordes
A associação de pais da escola que até há alguns anos funcionou no Palácio Sinel de Cordes, no Campo de Santa Clara, está contra a cedência do espaço à Trienal de Arquitectura e quer que a Câmara de Lisboa denuncie o protocolo e permita o regresso de cerca de 100 alunos "àquela que é de direito a sua casa".
Desde que a notícia da cedência foi dada a conhecer pelo PÚBLICO, na sexta-feira, a Associação de Pais e Encarregados de Educação do Agrupamento de Escolas Gil Vicente tem-se desdobrado em protestos, que já fez chegar a vários responsáveis da Câmara de Lisboa e da própria Trienal de Arquitectura. Até à tarde de ontem, nenhuma resposta tinha sido dada.
Nuno Barradas, presidente da associação, relembra que, há sete anos, os alunos da Escola n.º4 Infanta D. Maria "foram escorraçados" do Palácio Sinel de Cordes devido à necessidade de requalificar o imóvel. As obras e o regresso foram sendo adiados e os pais receberam a informação da Câmara de Lisboa, segundo conta este encarregado de educação, de que o edifício estava em risco de ruína e apresentava problemas estruturais cuja resolução obrigaria a uma empreitada de quatro milhões de euros.
A solução encontrada pela autarquia foi adquirir o Convento do Desagravo (também junto à Feira da Ladra, onde até há poucos anos funcionava o Colégio de Santa Catarina, da Casa Pia de Lisboa), para aí instalar não só a Escola Infanta D. Maria mas também outros quatro estabelecimentos de ensino municipais da mesma zona da cidade. Até a transferência para esse novo espaço ocorrer, a escola que antes estava no Palácio Sinel de Cordes mantém-se em funcionamento no edifício da Junta de Freguesia de São Vicente de Fora, em instalações partilhadas com a autarquia, com um café-restaurante e com a Piscina Municipal de Alfama.
Nuno Barradas não esconde a indignação que a notícia sobre a cedência à Trienal de Arquitectura lhe provocou, até por o presidente desta entidade ter declarado que a mudança para o palácio ocorreria em Março e que uma das vantagens da antiga escola primária era não precisar de obras profundas. "Afinal não havia problemas estruturais nem risco de derrocada iminente. Era tudo mentira", reage o presidente da associação de pais.
"A Escola n.º4 ainda tem alunos que gostariam de saber o que é uma escola com dignidade", diz-se na carta aberta enviada pela associação ao presidente da Câmara de Lisboa. A missiva a António Costa termina com a exigência de que este "denuncie de imediato o protocolo com a Trienal de Arquitectura de Lisboa, que faça de imediato as pequenas obras necessárias e que Escola n.º4 retorne, já em Março, àquela que é de direito a sua casa".
O presidente da Junta de Freguesia de São Vicente de Fora considera que a notícia da cedência "cria justas apreensões aos pais", ainda mais por nem estes nem a junta disporem de qualquer informação oficial sobre quando começam as obras no Convento do Desagravo. "A Câmara de Lisboa não dá cavaco à junta. A desinformação é grande, não sabemos como é que as coisas estão", queixa-se Vítor Agostinho.
Questionado pelo PÚBLICO sobre a situação da Escola n.º4 Infanta D. Maria, o vereador da Educação da Câmara de Lisboa recusou pronunciar-se sobre a cedência do Palácio Sinel de Cordes à Trienal de Arquitectura, por essa não ter sido uma decisão da sua competência ou sobre a qual tenha sido ouvido. Ainda assim, Manuel Brito referiu que, para que o imóvel voltasse a receber um estabelecimento de ensino, "era preciso fazer obras monumentais". "Por alguma razão a escola foi encerrada", concluiu.
Quanto à transferência anunciada desta e de outras quatro escolas (da Sé, da Madalena, de São Miguel e a Marqueses de Távora) para o Convento do Desagravo, o edil adiantou que o projecto está praticamente concluído. "É um projecto de arquitectura muito grande, muito complexo. E está lindíssimo", disse, acrescentando que está em causa uma empreitada de cerca de seis milhões de euros.
Segundo Manuel Brito, o concurso público para esta obra decorrerá no segundo e no terceiro trimestres de 2012, devendo os trabalhos no terreno arrancar no quarto trimestre deste ano. A expectativa do vereador da Educação é que a transformação do Convento do Desagravo esteja terminada no terceiro trimestre de 2013. Em Setembro do ano passado, o autarca tinha dito que as obras deviam começar em Janeiro de 2012.
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Mamma Mia ! Seis Milhões !!
Estamos nesmo em Austeridade ….
“ o vereador da Educação da Câmara de Lisboa ( Manuel Brito) recusou pronunciar-se sobre a cedência do Palácio Sinel de Cordes à Trienal de Arquitectura, por essa não ter sido uma decisão da sua competência ou sobre a qual tenha sido ouvido”
( ...) "É um projecto de arquitectura muito grande, muito complexo. E está lindíssimo", disse, acrescentando que está em causa uma empreitada de cerca de seis milhões de euros.”
(....)"A Câmara de Lisboa não dá cavaco à junta.”
Parece que a C.M.L. também não dá cavaco ao próprio Vereador da Educação … ou estará ele realmente “desinformado”?
Bem, de qualquer maneira ainda estão surpreendidos com a indignação expressa ?
A fresca e criativa tentativa de consolidar a sua popularidade junto das gentes das Arquitecturas e Designs, parece que está a sair cara políticamente a António Costa …
António Sérgio Rosa de Carvalho
6 comentários:
Uma vergonha a direcção da Trienal de Arquitectura deveria se demarcar imediatamente deste tipo de situações e actuações.
Não podemos aceitar a qualquer preço.
Não se compreende também como será possível a existência 6 milhões de euros de valores de empreitada, para uma obra onde não consta ter existido concurso publico.
C. Silva arquitecto
Somos a Associação de Pais que manifestou a sua indignação, e queremos deixar claro que nada nos move contra a Trienal de Arquitectura, que respeitamos e até apreciamos. Acreditamos também que nada sabiam sobre o enquadramento deste edifício e que ele é de uma Escola que ainda existe, e que tem alunos em condições lamentáveis, e que cem metros acima há outra escola básica em contentores no meio do cimento.
No entanto, consideramos que este Palácio é a Escola nº 4, tal como o foi durante décadas. Não precisa de milhões de euros de obras para o pôr a par com a legislação actual, precisa apenas de obras mínimas para o pôr como estava há 7 anos - uma Escola em funcionamento, num edifício muito melhor do que todas as alternativas até agora encontradas, e melhor do que a maioria das escolas básicas do Agrupamento Gil Vicente.
A responsabilidade é da Câmara Municipal de Lisboa, que retirou os alunos das escola nº4 e nº 199 dos seus edifícios há 7 anos atrás (um ano antes de António Costa se tornar o Presidente da CML), e depois se esqueceu deles. Tanto esqueceu, que ao entregar o Plácio Sinel de Cordes à Trienal, pensava que a escola teria encerrado. Não encerrou, está ali a dois passos, onde os alunos têm aulas numa Junta de Freguesia onde dividem o espaço com um café e com a piscina de Alfama!
Estamos em acção, podem seguir no nosso blogue:
http://apeegilvicente.blogspot.com/
Obrigado pela divulgação
não serve para escola mas serve para Trienal de Arquitectura algo que a maioria das pessoas não sabe o que é. Já agora a EDUCAÇÃO já não é importante para a sociedade?
Exmos Senhores APEEGIL o vosso comunicado foi de grande correcção.
Mas, com certeza conhecem o ditado popular, "quem não quer ser lobo não lhe veste a pele?"
Ontem à noite a ver o jornal da SIC, por volta das 20:50, entrevista de uma escola dentro de contentores. Fiquei chocado, pois acabei por perceber que estava relacionado com esta historia que tinha lido aqui no Forum.
Quando no parlamento os deputados do PS estavam indignados por este governo acabar com as Novas Oportunidades, ensino geriático que se propõem dar diplomas a idosos para ficar bem na fotografia ou nas estatisticas, facilidades que o PM Socrates nos tinha habituado.
É uma vergonha Antonio Costa não se demarcar de imediato desta situação. Assim não Antonio Costa, e não vale a pena virem falar em projectos pois já ninguém acredita. Parece que a crise não é para todos.
morador da Graça
Claro que a crise não é para todos, a politica do PS continua a ser endividar por endividar sem saber se há sustentabilidade.
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