O Palácio Sinel de Cordes, do século XVIII, foi cedido pela câmara municipal, que quer transformá-lo numa âncora para a zona.
É com o lançamento, hoje à noite, do livro Eduardo Souto de Moura: Atlas de Parede, Imagens de Método (Dafne Editora) e uma conferência pelo arquitecto que a Trienal de Arquitectura apresenta o seu novo espaço em Lisboa – um palácio no Campo de Santa Clara, cedido pela câmara municipal.
Só em Março é que a Trienal se muda definitivamente para o Palácio Sinel de Cordes, mas a apresentação do livro servirá como pré-inauguração de um espaço que se pretende que seja um novo pólo dinamizador, ligado à arquitectura e ao design, da zona onde às terças-feiras e sábados funciona a Feira da Ladra.
Quarta- feira de manhã, alguns colaboradores da Trienal ainda estavam a retirar material do palácio, fechado há perto de cinco anos, desde que a escola primária que ali funcionava encerrou. Este foi um dos vários espaços que a CML mostrou a José Mateus, presidente da Trienal, quando surgiu a ideia de encontrar uma nova sede, explicou ao PÚBLICO Graça Fonseca, vereadora para a Economia, Inovação, Modernização Administrativa e Descentralização da CML. “Quando entrámos aqui, ficámos encantados”.
Trienal fará obras
Uma das vantagens era o facto de o palácio não precisar de obras profundas. O acordo estabelecido entre as duas partes prevê que a câmara ceda o Sinel de Cordes (não será paga renda) e que a Trienal se responsabilize por eventuais obras e também pela dinamização do espaço – agora que vai passar a ter programação intermédia entre os grandes eventos trienais.
“A ideia é que funcione como âncora para actividades ligadas à arquitectura e ao design”, sublinha Graça Fonseca. O Palácio Sinel de Cordes integra-se assim numa estratégia da câmara, que passa também pela incubadora de empresas que abriu na semana passada na Baixa (num edifício cedido pelo Montepio), e pela recuperação do Mercado do Forno do Tijolo, perto da Graça. “Queremos, até ao final de 2012, ter estes três espaços a funcionar como âncoras que gerem uma nova dinâmica na cidade”.
in Público
De residência da família Sinel de Cordes a escola primária
in Público
No imponente hall de entrada do Palácio Sinel de Cordes, no Campo de Santa Clara, em Lisboa, há ainda enfeites de Natal – provavelmente do último Natal, há cinco anos, em que a escola primária ali instalada funcionou. Outras marcas ficaram desse tempo: no quadro preto na parede de uma das salas de aula ainda está escrita, a letra infantil, a conjugação de um verbo.
O Palácio Sinel de Cordes – a partir de Março a nova morada da Trienal de Arquitectura – tem marcas das suas várias vidas.
Foi mandado construir no século XVIII pela família Sinel de Cordes, que, segundo os genealogistas, provém da nobreza flamenga, e que inclui entre os seus membros cavaleiros da Ordem de Cristo, membros do Santo Ofício e fidalgos da Casa Real. Instalada inicialmente na zona do Camões, a família muda-se definitivamente para o Campo de Santa Clara depois do terramoto de 1755.
Já no século XIX, o palácio é comprado pelo visconde José Correia Godinho da Costa, juiz do Supremo Tribunal Militar, e pensa-se que será então que são introduzidas algumas modificações como a balaustrada e as estátuas que ainda hoje se vêem no topo (neoclássicas, semelhantes às que decoram os nichos dos arcos de acesso ao Palácio da Ajuda), e a decoração neogótica na escadaria que acede ao piso nobre.
Mais tarde, o palácio abrigou ainda a Legação de Itália, época em que sofreu um violento incêndio, que destruiu grande parte do interior. Foi reconstruído, e foram introduzidas novas alterações. Por fim, a escola primária foi instalada e, mais uma vez, o edifício foi adaptado aos novos usos.
No piso nobre há vários salões, espaçosos e com grandes janelas das quais se vê o Panteão e, mais ao longe, o Tejo. É em três destas salas que a Trienal organiza hoje o lançamento do livro do arquitecto Eduardo Souto de Moura. Depois será preciso fazer limpezas mais profundas e melhoramentos para o espaço ficar pronto a ser utilizado.
No piso inferior existe uma cozinha, a precisar de obras de recuperação, e um refeitório, cujas portas dão para um pátio exterior. Aí ainda resistem, embora em mau estado, os velhos telheiros do tempos da escola, e ainda se vêem desenhos infantis pintados nos muros.
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Embora e infelizmente devido ao incêndio referido, posterior reconstrução e respectiva ocupação da Escola ... já pouco deve restar de Interiores com Valor Patrimonial ( nunca estive no Palácio ) ... toda a cautela é pouca com "Arquitecturas e Designs"... que em Portugal tendem sempre a serem Afirmativos, Interpretativos e Criativos ... com o Património de Todos e da Cidade ....
António Sérgio Rosa de Carvalho.
1 comentário:
A Escola Básica nº 4 Infanta D. Maria foi "despejada" deste palácio há 7 anos atrás, com o argumento de que eram necessárias obras estruturais e que a segurança das crianças estava em causa. Essa escola funciona ao fim de todo este tempo em instalações precárias, no edifício da Junta de Freguesia de São Vicente de Fora, como podem ver no blogue da associação de pais:
http://apeegilvicente.blogspot.com/search/label/EB%20n%C2%BA4
Agora, ao fim de 7 anos, parece que afinal não são necessárias grandes obras! E em vez de entrarem as crianças que de lá foram corridas, entram os senhores arquitectos.
Como é isto possível?!
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