O tamanho conta, dizem habitantes das Avenidas Novas
Por Ana Henriques in Público
As divergências irreconciliáveis entre homens e mulheres quando se põem a discutir questões de tamanho ficaram bem patentes anteontem à noite no jardim do Palácio Galveias, em Lisboa, durante uma sessão destinada a esclarecer os habitantes das Avenidas Novas dos planos da Câmara de Lisboa para alterar o trânsito nestas artérias.
"Não cabe", argumentavam, exaltadas, duas moradoras perante um especialista da autarquia com manifesta falta de pachorra para as reclamações de praticamente todos os habitantes presentes na sessão. "Minhas senhoras, cabe perfeitamente. As coisas estão bem levantadas", respondia o dito assessor do vereador da Mobilidade, Mendes dos Reis. As moradoras voltaram à carga: a intenção da Câmara de Lisboa de colocar os autocarros da Carris a circular nos dois sentidos da Av. João Crisóstomo, diziam, esbarra numa impossibilidade física relacionada com as dimensões da rua no seu último quarteirão. "Cabe, garanto que cabe", insistia o assessor, que às tantas confessou não ter "nem idade nem paciência" para aturar pessoas que tinham "ido ali para criar conflitos" com os técnicos municipais, responsáveis por vários levantamentos e contagens de tráfego. Coube a um habitante da artéria em discussão, José Sarnica, deixar a frase da noite: "A vida das Avenidas Novas não cabe nos mapas que os senhores da Câmara de Lisboa estão aqui laboriosamente a apresentar."
Não é de hoje o descontentamento dos habitantes desta zona da cidade para com os planos rodoviários da autarquia. Os engarrafamentos criados pela introdução de dois sentidos de circulação na Rua D. Filipa de Vilhena, há um ano, ainda hoje faz arrepelar cabelos. Daí que o anúncio de novas medidas, nalguns casos destinadas a humanizar as ruas e a incitar a circulação a pé e de bicicleta suscite a indignação quase generalizada. "Toda a gente está mais satisfeita com a actual situação, Por que é que insistem em mudá-la?!", atirou outra residente, Joana Rocheta. Arrastou com ela um coro de protestos: "Não queremos os dois sentidos! Queremos mais lugares de estacionamento!"
Aquilo que os moradores consideram um atentado aos seus direitos pode até ter uma solução no mínimo original: o puro e simples desaparecimento dos técnicos camarários. Se se trataria de um desaparecimento natural, Joana Rocheta não especificou. Limitou-se a aludir a um desejo de desmaterialização dos responsáveis por medidas de tráfego deste quilate. Mendes dos Reis é que não levou a bem: "Pela parte que me toca, muito obrigada! Registei!", abespinhou-se. Ninguém ficou a saber se foi este o argumento que convenceu o assessor, que ainda disse não ter "nenhum prazer sádico em bloquear os moradores". Certo é que no final do debate concedeu: "Bom, se chegarmos à conclusão de que é necessário passar para um sentido far-se-á." Mas nesta altura já muitos residentes tinham abandonado o jardim.
9 comentários:
Se o sujeito que não tem idade nem paciência para ouvir queixas razoáveis fosse aposentado para a semana, não se perdia nada...
Lá está! como argumentei num post da autoria do presidente da associação de moradores parece que os moradores preocupam-se, principalmente com os lugares de estacionamento. Os seus carros acima e antes de tudo.
Vergonhoso! Tem que se eliminar o maior número possível de estacionamento à superfície. Quem tem carro tem de saber que tem de ser responsável por ele, tem de ter uma avença num parque caso não tenha garagem. Eu tenho carro e não ocupo as passadeiras, passeios e as faixas de rodagem com ele.
As ruas aos cidadãos, chega desta mentalidade burguesa de levar o carro para todo o lado e exigir estacionamento à porta. Somos subdesenvolvidos sem dúvida!
Caro Anónimo,
Prazer em revê-lo por estas andanças. Penso que para si eu já não sou anónimo...
Deixe-me dizer-lhe uma coisa. 184 lugares de estacionamento à superficie que a CML prevê criar com estas obras. O problema não é o estacionamento mas sim as obras! Lanço-lhe um desafio... experimente circular, por exemplo, na Rua D. Filipa de Vilhena às 8h30 da manhã mas entrando pela Rua do Arco do Cego. Depois diga-me a que horas chegou ao cruzamento da Duque de Ávila! Esse é que é o problema meu caro anónimo. Estão a introduzir alterações nos esquemas de circulação e, com isso, a sobrecarregar vias que deveriam servir apenas como alternativa. Como também já lhe tinha dito, gostaria de o conhecer e de ouvir as suas ideias. Contacte-me para o e-mail da Associação que está disponível no nosso facebook!
Cidadão Comum, voltas a dar razão ao Anónimo que diz que estes moradores pensam n"Os seus carros acima e antes de tudo".
Eu não moro nas Avs. Novas, mas trabalho lá.
Chego todos os dias ao trabalho a pé (saído do metro) ou de bicicleta.
Como alguém que usufrui da zona, eu estaria muito interessado em que a CML: melhorasse as condições que a zona oferece aos peões (silêncio, redução e acalmia de trânsito, mais e melhores espaços públicos pedonais).
PArece-me claro que, ao dificultar a circulação automóvel (o tal exemplo que referes), a CML está a contribuir para melhores condições para as pessoas (enquanto peões) que moram e trabalham na zona.
Não estou dentro do assunto.
Compreendo o teu argumento das obras que vocês receiam que estão para vir e para durar.
Mas agora o argumento do "é mais difícil andar de carro", parece-me muito inconsistente com o vosso discurso.
"PArece-me claro que, ao dificultar a circulação automóvel (o tal exemplo que referes), a CML está a contribuir para melhores condições para as pessoas (enquanto peões) que moram e trabalham na zona."
E quem mora longe e que, se usar transportes públicos nas deslocações chega a casa tarde e a más horas, que se foda, não é?
Insistem na estupidez das bicicletas para todos. Maoistas e reaccionários mal enterrados, está visto.
Ah, pois é.
Até vi anunciado um passeio de bicicleta Lisboa-Almada para o dia 22 de Setembro.
Devem ter ido todos de bicicleta pedalando sobre as águas do Tejo, uma vez que as bicicletas não passam nas pontes...
Bicicletas, sim, maluqueiras não.
"Bárbaro dos Subúrbios":
Não sei se percebeste no meu comentário: o cerne da discussão é o facto de alguns *moradores das Av. Novas* (não eu) usarem argumentos de que a maior dificuldade em usar carro prejudica a sua vida.
Esse argumento, em minha humilde opinião, não parece válido: como moradores eles deveriam priveligiar obras que melhorassem a qualidade de vida dos peões.
"Bárbaro dos Subúrbios", como tu e muitos milhares, eu trabalho nas Avs. Novas mas não moro lá.
Para me deslocar para o trabalho, procuro usar as muitas alternativas que existem de transporte que me façam chegar de forma confortável ao trabalho mas nunca esquecendo a minha responsabilidade social de não contribuir com mais um automóvel privado para uma zona que precisa de mais espaço público, ar limpo e mais calma.
Há poucos anos morava em Oeiras e chegava às avs. novas de comboio + metro, em cerca de 50min, os quais grande parte eram passados no comboio a trabalhar.
Certamente, se procurares bem, encontrarás uma alternativa responsável para chegares do subúrbio ao trabalho. Se estamos a falar das avs. novas, há muitas alternativas - até a possibilidade de conduzires até um parque junto ao metro e continuares de metro até ao trabalho.
Basta pensare nisso e experimentares.
Certamente concordas que as avenidas novas estão muito bem servidas de opções por transporte público.
E certamente concordas que o uso de automóvel particular (fundamentado ou por mero comodismo) faz mal à cidade e a todos que a usufruem (desde quem vem do subúrbio trabalhar a quem lá mora).
No entanto, falas como se estes dois factos não fossem verdade.
joao
João, peço desculpa mas não considero que esteja a dar razão ao anónimo no que quer que seja. Se verificar o meu comentário eu refiro que o trânsito está caótico na Rua D. Filipa de Vilhena (o que só passou a acontecer após a introdução de dois sentidos há cerca de um ano atrás). Mas pelo trânsito estar caótico não quer dizer que a culpa é dos moradores. A maioria do trânsito que atravessa essa artéria é precisamente trânsito de atravessamento pois ou destina-se à Pç. do Chile ou à Estefânia, e provem do Cp. Pequeno.
Há que distinguir as coisas. Quanto à tão badalada questão do estacionamento... quer dizer, pelo facto de morar nas Avenidas Novas não posso ter carro? Eu que comprei uma casa já há 40 anos e que naquela altura não era obrigatório haver lugares de garagem (hoje já é!) e que sempre deixei o meu carro na rua... não vejo que venha mal ao mundo nisso! E mais, se eu trabalhar fora de Lisboa e precisar de utilizar o carro? Sou comodista por isso? Acho sim é que devemos ter bem presentes os argumentos das pessoas e não devemos querer ser mais papistas que o Papa.
Caro Cidadão Comum,
por impossibilidades de trabalho vi-me afastado desta discussão por um tempo. Não, não está anónimo, sei que é o presidente daquela associação que defende os interesses egoistas dos moradores das avenidas novas, avenidas essas que, pelos vistos tem pessoas com o poder de desmaterializar pessoas. Não sei bem o que significa mas a senhora que o proferiu ou é cientista, ou uma psicótica assassina.
Pois é, deu-me razão. Não faça esses percurso de carro, vá a pé ou de tranportes públicos. Quanto ao trânsito de atravessamento, estão a defender que se fechem ruas e que passem a pedonais? É que aplaudo de pé!
Olhe, e já agora diga aos moradores que representa que a seção da Avenida Defensores de Chaves, entre a Duque de Ávila e João Crisóstomo é de estacionamento proibido junto ao passeio. E não diga que são as pessoas que trabalham porque essa seção está coberta de estacionamento ilegal de noite também, e a isso agradeça à polícia por demissão de funções. Existem estacionamentos subterrâneos suficientes para não haver estacionamento ilegal. Sejam urbanos, hajam com urbanidade!
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