In Público (27/4/2013)
Por Inês Boaventura
«O arquitecto, vencedor de um concurso promovido pela Câmara de Lisboa, propõe para este espaço “incaracterístico” uma intervenção “discreta”, que acredita que será “bastante consensual”
O arquitecto João Luís Carrilho da Graça projectou para a antiga Praça da Ribeira Velha, conhecida como Campo das Cebolas, “uma intervenção que, com o mínimo, potencia o máximo”. A intenção é que este troço da frente ribeirinha de Lisboa, que hoje é “um espaço urbano incaracterístico, um somatório de situações, espaços sobrantes e necessidades”, se aproxime simultaneamente do Tejo e da cidade.
O arquitecto foi o vencedor de um concurso público lançado pela Câmara de Lisboa no ano passado, para a elaboração do projecto do Campo das Cebolas/Doca da Marinha. Antes disso, Carrilho da Graça tinha já sido escolhido, no âmbito de um outro concurso público da responsabilidade da Administração do Porto de Lisboa, para a construção de um terminal de cruzeiros em Santa Apolónia.
Na memória descritiva do projecto para “a antiga Ribeira Velha, hoje erradamente denominada Campo das Cebolas”, o arquitecto explica que no essencial aquilo que propõe é a “criação de um espaço urbano de conforto, através de um conjunto de operações sobre o território muito contidas, de grande serenidade”. “Uma intervenção discreta”, continua Carrilho da Graça, pensada para um espaço que apesar de “uno” tem “duas partes constituintes, com histórias diferentes”.
Numa dessas partes, “o quarteirão triangular entre a Rua da Alfândega e a Rua dos Bacalhoeiros”, serão plantadas árvores exóticas, “de várias origens e cores” que constituirão um contraponto à oliveira do memorial a José Saramago, explicou ao PÚBLICO o arquitecto. “Tem que ver com as plantas que fomos trazendo com os Descobrimentos” do à loja da fundação. “É um volume translúcido, com um alpendre prolongado, cujo extremo pousa no dorso de um elefante de pedra”, lê-se no documento.
Do outro lado da Rua da Alfândega, no rectângulo entre esta artéria e a Avenida Infante D. Henrique que hoje está entregue aos automóveis, vai nascer uma nova praça, pensada para devolver ao lugar “a capacidade de ser palco de vida urbana”. O plano existente será deformado, adquirindo uma forma côncava, criando-se “um desnível suave que nos conduz ao interior da praça”, diz-se na descrição do projecto. Aí serão plantados pinheiros-mansos.
Quanto à Avenida Infante D. Henrique, a ideia é que, como explica, completa o arquitecto paisagista Victor Beiramar Diniz.
Na memória descritiva acrescenta-se que se propõe “uma entrada na Fundação José Saramago mais suave, através da modelação do pavimento e a definição de um novo banco, que confere ao memorial o espaço de reserva e recato de que é digno”. No remate desse quarteirão vai nascer um edifício, destina Victor Beiramar Diniz, esta passe a ter “um perfil bastante mais estreito do que hoje”, sendo o trânsito junto ao edifício do Ministério das Finanças reservado aos transportes públicos. Na sobreposição com a Praça da Ribeira Velha, o pavimento será diferente, para mostrar que este é “um espaço do domínio do peão, onde o automóvel pode passar”, diz o arquitecto paisagista.
Quanto à Doca da Marinha, a ideia da Câmara de Lisboa sobre a qual a equipa de arquitectos trabalhou, mas que pode não ser a solução a concretizar, foi a de que este espaço seria dividido em dois: metade para embarcações históricas e a outra metade para a Marinha. Atendendo a isso foram projectados dois edifícios. Um equipamento cultural junto à Estação Fluvial Sul e Sueste, com espaço de restauração e esplanada, e outro no extremo oposto da doca para instalar serviços da Marinha e da Administração do Porto de Lisboa.
Promover uma “relação mais directa” do Campo das Cebolas com o Tejo é, confessa Carrilho da Graça, uma das ambições deste projecto. Sendo certo que, como constata Victor Beiramar Diniz, “aqui o rio não tem uma presença tão encenada como no Terreiro do Paço nem tão próxima como na Ribeira das Naus”.
Mas quer-se também aproximar da própria cidade um sítio que “está um bocado perdido”, acrescenta Carrilho da Graça. “Com este tipo de intervenção em que se dá importância ao espaço público dá-se a ver a cidade a quem lá vive e a quem a utiliza. E há uma espécie de onda positiva”, percepciona o arquitecto.
Questionado sobre a possibilidade de este projecto, que embora tenha sido publicamente apresentado em Fevereiro foi ainda pouco divulgado, ser contestado (como aconteceu no Terreiro do Paço), o seu autor afasta essa possibilidade. “Acho que é bastante consensual. Não me parece que possa gerar polémica.”
O PÚBLICO perguntou a Manuel Salgado, vereador da Reabilitação Urbana da Câmara de Lisboa, quando se prevê que a requalificação do Campo das Cebolas se concretize, e a única resposta que obteve foi que ainda havia questões fi nanceiras a acertar.
Estacionamento em estudo
Depois de a assembleia municipal ter rejeitado, em Fevereiro, a construção de um silo automóvel no Campo das Cebolas, a câmara e a equipa de Carrilho da Graça estão à procura de uma alternativa. “Felizmente, a assembleia municipal chumbou”, diz o arquitecto, adiantando que uma hipótese m cima da mesa é criar um estacionamento subterrâneo com “volumes de apoio acima do solo”. Questionado sobre se o seu projecto prevê o abate de árvores, questão que muita polémica tem provocado na Ribeira das Naus, Carrilho da Graça adiantou que as palmeiras hoje existentes irão ser transplantadas para outro local, ainda por definir, dentro da área de intervenção.»
9 comentários:
Árvores exóticas para serem um contraponto à oliveira?
Ai, tirem-me daqui!!
Mais um «estacionamento subterrâneo com “volumes de apoio acima do solo”» também me agrada imenso...
«palmeiras hoje existentes irão ser transplantadas para outro local» também é porreiro. E porque não deixá-las em paz no mesmo local (cuidando de que não morram, como tantas) em vez de proceder a essa tortura?
E por falar em árvores:
Desci há minutos a Rua de São Mamede que vai da Politécnica até São Bento e estavam duas carrinhas cheias de troncos de árvores, ao pé de um jardim/casa abandonada, mesmo a seguir ao arco.
A ver, mas muito preocupante esta retirada de árvores para outro lugar...porque não conciliar o plano com a existência das arvores, para não acontecer dramaticamente na Ribeira das Naus...
Projecto parôlo que só serve para promover o autor. Não acrescenta em nada ao espaço publico e não resolve o problema da cidade/baixa.
Esta area pertence ao municipio e não parece ser oportuno gastar estas verbas para uma intervenção saudosista.
Um verdadeiro desastre a frente rio está a tornar-se numa manta de retalhos provincianos sem nexo e desagregadora e desarticulada nem o convencimento do grande mestre urbanista salgado salva a situação antes pelo contrario.
Vão mudar as palmeiras de sítio OUTRA VEZ??? Não se lembram que foi por ocasião da Exposição XVII que a CML as andou a roubar noutros bairros? Estão assim tão mal? Não podem deixá-las em paz?
As árvores que querem lá pôr serão assim tão melhores?
Porque é a CML e estes arquitectos não ganham um grama de humildade pelo sítio, pelos moradores, pelos lisboetas? Porque é que podem fazer o que querem, sem contraditório, sem ouvir a população, sem convidar os lisboetas a participar?
E porque raio vão construir mais estacionamento, caramba?! A área já tem Metro, autocarros, comboios, barcos, e três parques de estacionamento nas imediações!
Cambada de labregos armados em visionários, é o que digo. Que miséria.
Gostava de saber se as pessoas que comentam aqui sobre as palmeiras, tem lá passado recentemente? A maioria das palmeiras estão mortas, vai pra dois anos...
O celebre escaravelho dizimou as palmeiras daquela zona. Basta ir la e ver.
faz tanto sentido ter arvores de porte no campo das ceboulas como.. no terreiro do paço! as palmerias deveriam ser replantadas na via que liga o campo das ceboulas a estaçao de santa apolonia. A praça precisa que se veja a casa dos bicos, a sé e desnudada de verde vista do rio. Mais! o estacionamento previsto ara ali é patetico! sai mais barato requalificar so a superficie. A doca da marinha pode perfeitamente com custos menores ser transformada num estacionamento subterraneo e cresçer ganhar ao tejo a frente uma doca à medida das necessidades seja da marinha. havia uma doca mais a leste que foi aterrada servia perfeitamente para turismo, mas será havia tanta necessidade do seu aterro para parqueamento de bus!? entao e o espaço mais a leste junto à santa apolonea nao seria alternativa!? enfim a visao global faz falta e vão se fazendo as coisas ao sabor da maré e nao uma visao integrada
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