14/04/2013

Ups! He Did it Again!



Escrevia um simpático leitor de um anterior artigo (aqui)  na caixa de comentários que não há espaços intocáveis e que, na realidade, todos os espaços são passíveis de serem intervencionados.
Não podia dar-lhe mais razão mas temo que o que nos põe em extremos é a ideia que temos de intervenção. É que tenho para mim, e parece-me que partilhado pela maioria das autoridades internacionais que regem património, que as intervenções em áreas consolidadas históricas e que refletem aquilo que uma sociedade entendia como urbano e estético em determinado momento devem manter-se na forma que reflita o mais exatamente esse(s) momento(s). Não quer isto dizer que não se adaptem os edifícios, na medida do possível, às exigências modernas de vida - sendo certo que música ambiente, video-vigilância, antenas parabólicas e muitas outras coisas não fazem parte desse rol que, mesmo que legítimas, podem ser usufruidas nos locais certos, isto é, em edifícios modernos em zonas de expansão urbana.
Assim, todos os espaços são passíveis de intervenção, na medida e no tipo adequado sendo que em espaços de expansão urbana a intervenção é criadora e inovadora, em espaços consolidados históricos a intervenção é de conservação e restauro.

Desta feita questiono-me como deglutir o Centro Cívico que Gonçalo Byrne riscou para a cidade de Leiria.

Este intruso “extraterrestre”, dentro de uma malha apertada de casario antigo, porventura abandonado e negligenciado, é a solução para a revitalização do centro histórico!

Esta “praça” foi a solução encontrada pelo douto arquiteto para a obrigação de prever uma praça de fruição pública. Ponham uns bancos no declive, com rodas e será um parque de diversões. Ou então cestos, como na Madeira. Pelo menos não há problemas com a chuva, com o sol, com a vista do céu…


O que dizer de um edifício cuja única vantagem é refletir outros, como o castelo?
E quando começar a refletir o sol e brasear tudo à volta? Podem revitalizar as outras casas abandonadas com lojas de óculos de sol, oftalmologistas e vendedores de ar-condicionados.

Caro Sr. Presidente da CM de Leiria, é esta a solução que a autarquia tem para a revitalização do centro histórico? É com essa estratégia que se pode contar? Fale com os seus colegas autarcas de Évora, e como a praça ao pé do teatro Garcia de Resende com os seus arranjos modernos alienaram as pessoas, ou como a praça do Governo Civil de Aveiro é tão inóspita que ninguém a usufrui.
Continuam as obras de regime por este país fora. Podendo usar estes recursos, porventura escassos, para expropriar e recuperar o casario abandonado, ou mesmo fazer um museu a Eça de Queirós que viveu numa casa, agora em ruínas, mesmo ao lado deste novo espaço, ou mesmo usar o casario e fazer o centro cívico em vários polos, venceu o argumento betão e vidro (com assinatura de arquiteto famoso).
Continuamos todos de parabéns porque afinal o que nos trouxe à situação onde estamos hoje... é para continuar.

4 comentários:

J A disse...

Continuem a ceder património para as brincadeiras do sr. Byrne....este homem é elefante em casa de vidro.

Anónimo disse...

Eu estive em Leiria a semana passada.
Supérfluo e descaracterizante!
Foram os primeiros adjectivos em que pensei quando olhei para o edifício e a envolvente, fiquei incrédulo!
Não tem um "fio" que se lhe pegue em relação com a envolvente.
Foi como entrar em uma loja de antiguidades e ver exposta, para venda, uma bijutaria rasca, daquelas que se vende no chinês....
Só de pensar que é o mesmo que quer colocar as mãozinhas no Palácio Nacional da Ajuda.

Rui Mascarenhas disse...

Com estes projectos estes arquitontos só demonstram uma tremenda falta de competência no que diz respeito à elaboração de novos projectos em zonas sensíveis, projectos que deviam entender e respeitar mais as zonas históricas.
Mas não, é "largar" a primeira porcaria que lhes passa pela cabeça...
Estou a ver que o dos Coches não chegou....
É para continuar...?

Anónimo disse...

Sou de Leiria e também fiquei chocado com esta solução. Os responsáveis tentam sempre justificar estas obras como método de "revigorar o centro histórico". Não é assim desta maneira.
O Arquivo Distrital de Leiria já está no limite mas ainda assim aceitável, mas este destrói completamente o espaço.