Exma. Senhora
Directora-Geral do Património Cultural,
Dra. Isabel Cordeiro
Tomámos conhecimento muito recentemente, via press release da Associação Portuguesa de Arte Outsider (em anexo), da entrada nos Serviços que V. Exa. tutela, a 22 de Março de 2013, de um Pedido de Classificação para uma série de edificações sitas no antigo complexo do Hospital Miguel Bombarda, edificações todas elas de grande importância e até agora sem classificação alguma, que não o de fazerem parte de uma ZEP dos edifícios classificados como CIP, i.e., do Pavilhão de Segurança e do Balneário D. Maria II, de que destacamos:
1. Edifício principal do antigo Hospital, antiga Casa da Congregação da Missão de S. Vicente de Paulo e Igreja (1720-1740), sobrevivente ao terramoto e praticamente inalterado, incluindo Igreja em raro estilo rococó parisiense, celeiro com arcadas em lioz, cerca de 70 quartos inalterados, salão nobre, gabinete onde o Prof. Miguel Bombarda foi assassinado, escadaria principal, sala com decoração alusiva, de um dos primeiros Museu de pintura e escritos de doentes do mundo (1898), etc.
2. Edifício de enfermarias em 'poste telefónico' (1885-1894), da autoria do Arq. José Maria Nepomuceno, o primeiro edifício que se conhece no mundo, com implantação racionalista e piso rodeado de jardins, para segurança dos doentes.
3. Edifício de enfermarias em 'U' (1900), dos primeiros no país com lajes e vigas em betão armado, disposição funcional inovadora e sistema de renovação de ar com altas chaminés.
4. Laboratório (1898), ainda genuíno e por onde o Prof Marck Athias (Sorbonne) iniciou a moderna investigação médico-científica, formando fora da Faculdade, toda uma nova geração de investigadores.
5. Telheiro (1894), do Arq. José Maria Nepomuceno, enorme mas elegante, para o passeio dos doentes, muito raro em termos internacionais.
6. Cozinha (1906), exemplo de grande valia arquitectónica-industrial, com destaque para a sua cobertura piramidal formada por tirantes e amarrações em ferro.
7. Poço tanque e nora da antiga Quinta de Rilhafoles, memória da Lisboa agrícola, com cerca de 500 anos.
Em nosso entender, trata-se de uma excelente oportunidade para a Direcção-Geral do Património Cultural proceder à protecção e salvaguarda de um conjunto de edificado e de memória único na cidade e no país, pelo seu carácter de quase imutabilidade em mais de 100 anos e por apresentar em contínuo, ao longo da sua existência, uma capacidade extraordinária em ter conseguido manter o equilíbrio perfeito entre Ciência-História-Património, algo que, há que referi-lo, está completamente arredado dos projectos em desenvolvimento neste preciso momento para aquele local. Mais, esta nova classificação porá um ponto final à ameaça, real, quer da demolição integral de todos estes edifícios como à previsível violação da Zona Especial de Protecção dos CIP já referidos, Pavilhão de Segurança e Balneário D. Maria II.
Só assim, aliás, terá sido possível a este Pedido de Classificação ser subscrito por entidades como a Congregação da Missão, Sociedade Portuguesa de Arte Terapia, Sociedade Portuguesa de Neurologia, Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental e Associação Portuguesa de Arte Outsider, e com manifestações de apoio de personalidades como a Prof. Raquel Henriques da Silva ou o Prof. Vítor Serrão, directores dos Institutos de História da Arte, respectivamente, da Universidade Nova e da Faculdade de Letras de Lisboa.
Realçamos, a este propósito, os termos do comunicado recente conjunto ICOM/ICOMOS a propósito das operações de loteamento em curso e promovidas pela ESTAMO e para CML para 4 dos antigos Hospitais Civis de Lisboa, cujo texto anexamos, e que julgamos aplicarem-se na justa medida ao caso presente do complexo do antigo Hospital Miguel Bombarda.
Nesse sentido, somos a APELAR à Direcção-Geral do Património Cultural para que dê provimento a este Pedido de Classificação, procedendo oficialmente à Abertura do Processo de Classificação, tão breve quanto possível e nos termos das suas competências e atribuições previstas na Lei.
Lisboa e o país agradecem.
Melhores cumprimentos
Paulo Ferrero, Bernardo Ferreira de Carvalho, Luís Marques da Silva, Fernando Jorge, Júlio Amorim, Virgílio Marques, Irene Santos, Jorge Miguel Batista, João Oliveira Leonardo, Alexandre Marques da Cruz, Nuno Caiado, João Mineiro e Rita Silva
2 comentários:
Parabéns ao Fórum, a atuar com precisão e qualidade, para a salvaguarda do património EM RISCO dos Hospitais que a Estamo/Min. Finanças quer lotear, como couves na praça.
Realmente, é impressionante a descrição dos notáveis e muito originais edifícios do Hospital Miguel Bombarda, além do Balneário e do Pavilhão de Segurança - Museu, que todos os lisboetas devem visitar, aos sábados 14-18h e quartas das 11 -13h.
Fica protegido, e quem paga pela reabilitação?
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