Na década de 50 do séc. XX, o edifício agora livremente demolido, era motivo de orgulho ao ponto de figurar num postal «Um trecho da Avenida Almirante Reis». A forma como o proprietário se comportou - assim como a CML na figura do seu Vereador do Pelouro do Urbanismo - só pode ser qualificada como BARBARIE CULTURAL & VERGONHA NACIONAL. Um acto e cenário digno de uma República das Bananas. Em matéria de salvaguarda e defesa do Património Modernista da capital, haver ou não haver Pelouro do Urbanismo é igual ao mesmo. E já agora Senhor Vereador, ponha no caixote do lixo a palhaçada que é a pomposa e inútil «Carta Municipal anexa ao PDM de Lisboa» porque desde obras do Arq. Ventura Terra passando por Raul Lino até à melhor arquitectura do Movimento Moderno, quase tudo pode afinal ser destruído. Se alguém o desejar muito, poderá sempre contar com a cumplicidade amiga de uma fiscalização camarária cega, apática e lenta.
Câmara condicionou obra à manutenção da fachada e embargou-a na
terça-feira. O prédio já estava praticamente demolido.
A história voltou a repetir-se: um edifício com valor
patrimonial, cuja demolição integral a Câmara de Lisboa proibira, impondo a
manutenção da fachada, foi quase todo abaixo antes de a fiscalização actuar. Na
terça-feira, duas semanas depois de o blogue do Fórum Cidadania tornar público
o início da demolição, e um dia depois de ali ter sido escrito que os três
pisos superiores do prédio já tinham sido destruídos, o vice-presidente da
câmara, Manuel Salgado, mandou embargar as obras. "Desconformidade com o projecto
aprovado" foi o motivo da decisão, informou ontem o Gabinete de
Comunicação da Câmara, em resposta ao PÚBLICO.
Construído nos anos 30 no gaveto da Av. Almirante Reis com a
Praça João do Rio, perto do Areeiro, o imóvel de habitação colectiva que o arquitecto
Cassiano Branco projectou e está inscrito no Inventário Municipal do Património
encontrava-se devoluto há vários anos. A empresa proprietária (Hotel do
Aeroporto, Actividades Hoteleiras, SA) é presidida pelo anterior grão-mestre
adjunto do Grande Oriente Lusitano (2005-2011), o gestor António Justino Alves
Ribeiro.
O PÚBLICO tentou ontem contactar o responsável pela sociedade,
mas não conseguiu localizá-lo. A Hotel do Aeroporto tem sede numa moradia
classificada como imóvel de interesse público, projectada por Porfírio Pardal
Monteiro e situada no n.º 290 da Av. 5 de Outubro, junto às antigas instalações
da RTP. No mesmo edifício, ao qual foi atribuído o Prémio Valmor de 1930 e é
conhecido como Moradia António Bravo, está também sediada uma empresa
denominada Residências Sénior do Areeiro - Instalações para Idosos, SA,
igualmente dirigida por António Justino Alves Ribeiro.
De acordo com o blogue noticioso O Corvo, os proprietários do
edifício da Av. Almirante Reis já em 2006 tinham apresentado à câmara um
projecto para a construção de um hotel, prevendo então a demolição integral do
imóvel.
O pedido foi indeferido, mas, em 2009, viria a ser aprovado pela
autarquia (com 13 votos a favor e três abstenções) um outro projecto com a
mesma finalidade hoteleira, que contempla a demolição integral do interior e a
construção de um piso suplementar, em mansarda. A proposta de aprovação,
assinada por Manuel Salgado, impôs, contudo, a "manutenção das fachadas
principais" pela empresa.
O hotel então viabilizado terá seis pisos acima do solo (como
tinha o projecto de Cassiano Branco), mais o piso amansardado na zona da
cobertura e três pisos subterrâneos.Desde essa altura, porém, o prédio, cujas
janelas e portas estavam emparedadas há vários anos e tinha grande parte das
paredes cobertas por graffiti,
não foi objecto de qualquer intervenção, acentuando-se a sua degradação.
Em Julho de 2010, segundo consta do aviso afixado no estaleiro,
o vereador Manuel Salgado aprovou formalmente o início dos trabalhos, mas o
alvará de obras só foi emitido, a pedido dos proprietários, a 24 de Abril deste
ano, tendo a demolição começado pouco depois.
Tal como aconteceu há alguns meses num outro importante conjunto
arquitectónico existente na Av. Duque de Loulé e cuja licença de obras obrigava
a manter as fachadas e parte dos interiores, a fiscalização camarária só
interveio na Almirante Reis quando a destruição já era irreversível. No
primeiro caso nem chegou a haver embargo. No prédio de Cassiano Branco, Manuel
Salgado mandou parar a demolição quando só restavam dois pisos em pé. in PÚBLICO, 15-6-2013
1 comentário:
E hoje retomaram as obras de demolição dos restantes dois pisos!
Vergonhoso!
Quanto à fachada ser em betão, como alegou o sr. arquitecto Manuel Salgado para justificar a não manutenção da fachada... hum!... não me parece, aquilo que lá está (e não por muito tempo é uma estrutura mista de alvenaria de pedra e betão, este último apenas ao nível das estruturas salientes e do tecto do rés-do-chão, que tem por baixo uma loja.
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