15/07/2013

A economia de casino acompanhada da destruição sistemática dos valores competitivos da Cidade de Lisboa....

 
..um dos tristes resultados de um país "novo rico"....

 

Consumo com crédito fácil ofusca criação de riqueza


"Adesão à Comunidade Europeia abriu portas aos grandes mercados de venda. Híper, supermercados e centros comerciais surgiram como cogumelos. Generali-zou-se e facilitou-se o crédito. Portugal aproximou-se do nível de vida europeu, mas nos últimos dois anos perdeu terreno. A convergência com os padrões europeus foi me-nos acentuada na criação de riqueza que sustenta o consumo. E são grandes as disparidades entre regiões e cidadãos.

 
A maioria chega por telefone, mas também há relatos desesperados pessoais ou por e-mail. De quem deixou de ter poder de compra e ganhou dívidas, o que em grande parte coincide com a perda do emprego e cortes salariais. Pedem ajuda à Deco para se encontrar uma solução, onde lhes perguntam: "Quais são as causas das dificuldades financeiras? Qual é a composição do agregado familiar? Quais são os rendimentos? Quais os encargos além dos créditos (luz, água, alimentação, transportes, impostos, telecomunicações, etc.)? Quais são os créditos (habitação, automóvel, pessoal, cartões)? Como é que pensa pagar?" Abre-se, então, um processo e um técnico do Gabinete de Apoio ao Sobre-Endividamento tentará negociar as dívidas com os credores. Mas também há casos em que não se abre processo porque aquela pessoa não tem hipóteses de pagar, e esses estão a aumentar.
A pergunta que se impõe a Natália Nunes, coordenadora do gabinete, é: "Vivemos acima das nossas possibilidades? "Não podemos concluir que os portugueses viveram acima das possibilidades. O que verificamos é que em 1990 e início de 2000 havia uma contratualização menos responsável por parte das famílias, a quem estava fechado o mercado de crédito e que a ele passou a ter acesso. Não tinham conhecimentos e não lhes foi dada informação sobre esta nova realidade e deixaram-se seduzir. Contratualizaram produtos e serviços além das suas capacidades de esforço", explica, confessando a irritação que lhe causa tal afirmação. Além de que também atribui responsabilidades aos bancos. No entanto, "o problema hoje não tem a ver com o facto de as famílias não respeitarem a taxa de esforço, tem a ver com a redução de rendimentos", sublinha Natália Nunes. Taxa de esforço é o dinheiro afetado aos créditos e que não devem exceder 40% do rendimento mensal.
Consequências de uma "esperada melhoria do nível de vida e de novos meios e formatos de comercialização", refere o estudo "25 anos de Portugal europeu". Foi nas despesas de consumo que os portugueses mais rapidamente se aproximaram da UE, já que "na capacidade de criação de riqueza que o sustenta" a convergência foi bem inferior (gráfico Produção e Consumo). E isso é um problema, como a atualidade o demonstra. "Nos últimos 25 anos, o indicador de expectativa de compra de bens duradouros passou da "euforia" à "depressão", atingindo mínimos históricos."
Despesas potenciadas pelo crescimento exponencial das grandes superfícies, de supermercados e de centros comerciais. Estes alteraram "radicalmente os modelos de consumo das populações, contribuindo para uma maior associação entre as atividades de consumo e de lazer das famílias", diz a análise coordenada por Augusto Mateus. E as cadeias lançaram produtos, o que levou a um aumento de 5% para 28% da quota de mercado das marcas de distribuição. Os dados referem--se a 2009, quando os portugueses gastavam uma parte cada vez maior do ordenado em consumo, apenas ultrapassados pelos cipriotas e os gregos. Quatro anos depois, o panorama é bem diferente, basta ver as diversões que fecharam nesses espaços comerciais e a venda das marcas de distribuição estagnou devido às promoções das marcas do fabricante.
Os portugueses gastam mais do que a média dos europeus em saúde, transportes e hotéis e menos em lazer, recreação e cultura, vestuário e calçado. A alimentação, rubrica em que os nossos parceiros mais despendem, embora ainda domine nos orçamentos nacionais, perdeu importância para habitação, água, luz, gás e outros combustíveis.
O acesso ao crédito de consumo tinha por base uma melhoria dos rendimentos. Foi entre 1986 e 1992 que o nível de vida português mais subiu, de 65% para 79% do nível europeu, um ritmo que teria permitido ao País alcançar a média europeia em 2000. Isso não aconteceu e apenas atingiu os 81%. "Portugal foi incapaz de aproveitar as condições económicas favoráveis para relançar a competitividade", assinala o estudo. A crise financeira levou a uma diminuição de consumo, situando-nos agora nos 75% do nível de vida europeu. Portugal está na 18.ª posição (PIB per capita), aproximando-se mais dos países do alargamento (Chipre, Malta e Leste), incapaz de acompanhar o ritmo mais acelerado dos parceiros da coesão (Espanha, Grécia e Irlanda ).
Para o economista Eugénio Rosa, a melhoria de rendimentos não foi generalizada, existindo até "um agravamento das desigualdades e o acesso ao crédito camuflou essa realidade". E sublinha: "Não digo que uma parte da população não tivesse rendimento suficiente para o que consumia, mas o Estado em vez de ser um instrumento de diminuição de desigualdades, acabou por ser um motor de agravamento."

por Céu Neves in DN, 2013-07-15
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Pena que todos estes anos de consumo chorudo não nos levaram a consumir mais cultura e valores reais já existentes. Pelo contrário, fomos desprezando uma rica herança arquitectónica e aos poucos matando a galinha de ovos de ouro. Com um plano de reabilitação sério e coerente, respeitando o que já cá estava, Lisboa seria hoje uma das cidades mais visitadas do mundo. O lucro a curto prazo (para alguns), a corrupção, os interesses e amizades dentro do sistema politico, quiseram outra coisa e, foram constantemente lançando o osso do consumo para o povo se distrair. Os resultados estão à vista nos nosso bolsos....e nas nossas ruas.

1 comentário:

Anónimo disse...

E quem é que tem casa ali, quem é?