Mas não... aqui são publicadas, principalmente, denúncias, indignações e palavras de pasmo de como o lisboeta trata e vive a sua cidade. Os políticos? São reflexo direto dos cidadãos.
Assim sendo, não podendo fazer do meu post uma excepção - e sabe Deus como gostaria de poder ser a excepção - trago mais uns desenvolvimentos do caso do magnífico prédio de gaveto de que se tratou aqui neste artigo e noutros.
Estas imagens pertencem ao folheto da Cobertura Imobiliária que comercializa este empreendimento.
Na descrição lê-se «... edifício residencial edificado no séc. XIX ... com uma arquitetura Fin de Siécle...»
Como podem ver os interiores originais foram demolidos, sem excepção, e o edifício cresceu em altura numa descontinuidade declarada de estilo. O que resta da tal arquitetura magnífica fin de siécle ? A fachada, que agora é um mero objecto desconjuntado, num puzzle onde as peças não encaixam.
Eu sei que é difícil, nos tempos que correm, olhar para as imagens do interior e não gostar. Mas lisboetas, este edifício não fica nas Telheiras, na Alta de Lisboa ou no Parque das Nações! E interiores magníficos, de época, com materiais genuinos de qualidade que duraram mais de um século foram sacrificados. Foram para o lixo, não existem mais...
Até quando esta calamidade e crimes impunes? Quando não sobrar mais nada que nos conte como se sentia, vivia, construia antes da nossa época, resta-nos viajar e ver o que já tivemos.
Podia ter sido feito assim:
Não há nada a crescer por cima destas coberturas de comuns edifícios parisienses. Porquê?
Os interiores preservados não têm de ser exatamente depressivos, opressores. Antes pelo contrário: interiores antigos têm um enorme potencial porque eles foram pensados exatamente com a função de representação do dono da casa.
Estes interiores, goste-se ou não, nada têm de opressor ou depressivo. E as possibilidades decorativas são infinitas. |
Vamos lá Lisboetas. Vamos mostrar que podemos aprender com os bons exemplos. Vamos mostrar que o génio português não se esgota no abarracamento e no kitch moderno e no pseudo-design. Vamos ser esclarecidos quando colocamos cruzes em boletins de voto, vamos olhar com olhos de ver quando andamos pelas ruas. Vamos discutir estes assuntos com os amigos de forma a criar sensibilização e consciencialização para este problema que já tem contornos de urgência. Vamos mostrar que gostamos verdadeiramente da nossa cidade.
PS - façam ouvir a vossa indignação escrevendo para a imobiliária Cobertura, em cobertura@cobertura.pt
penalizando-a por aliar-se a mais um caso de crime patrimonial. Quantos mais emails mais efeito terá a nossa voz de protesto por isso divulguem.
7 comentários:
Esses edifícios em Paris tiveram manutenção ao longo das décadas. Nunca sofreram com rendas a 15 Euros, nem passaram pela burocracia infernal para fazer o que quer que seja. Não podemos comparar Lisboa com Paris. Pois se quiserem comparar eu também posso argumentar que Paris tem uma La Defense com torres de grandes empresas e Lisboa não.
Nada melhor que um artigo deprimente (com fotos de cidades civilizadas) para aconchegar a alma, antes de ir para a caminha.
Quanto à cartinha; acabo de abrir o meu email. Aqui vai ela...
Atenção!
A EPUL está a promover a comercialização de 10 lotes de imóveis para reabilitação em Lisboa:
http://www.epul.pt/concursos/hastapublica/?idc=113
Empreiteiros e arquitectos foleiros e novo riquistas, que agora já não podem fazer grandes condomínios em Odivelas e vêm destruir o centro de Lisboa. (sem ofensa..)
Mas tenham algum respoeito pelo nosso património, viagem e vejam se aprendem alguma coisa do que significa reabilitar uma cidade!
Isto que se passa em Lisboa é vergonhoso. Mas como diz Manuel Salgado: aprove-se! (custe o que custar à nossa cidade, acrescento).
Não era possível fazer as coisas BEM?!
Caro Paulo,
o que escreve é verdade mas não afasta o argumento que é possível recuperar criteriosamente porque estamos a fazer referência a edifícios que são recuperáveis (na realidade sempre são, depende da vontade). A razão porque acabam por não ser recuperados prende-se com o facto de, onde há um apartamento hoje, com a destruição dos interiores vão haver dois, ou mesmo três. O argumento de monta e diretamente responsável pela destruição de património edificado prende-se com a ambição grosseira de quem constrói e promove estes crimes, e uma classe política eleita para facilitar operações deste género.
Não vejo qualquer tipo de relação entre o que descreveu e o facto de não se proteger e recuperar criteriosamente um edifício mas o seu argumento é exatamente o que quem faz este tipo de coisas alegam. Arranjem melhores argumentos ou sejam sinceros!
Na mouche Anónimo da 1:33.
NA MOUCHE!
Falácia, teias de interesses, incompetência, ignorância, mau gosto.. Chega a ser pouco para descrever as monstruosidades que tem aparecido aos molhos, nesta cidade, há já algum tempo.
O autor do post é livre de comprar um prédio devoluto (é o que não falta) e reabilitá-lo da forma que acha esteticamente agradável.
Criticar o trabalho dos outros é fácil.
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