Escondido no segundo andar do antigo Convento de Jesus, na Rua da Academia das Ciências, o Museu Geológico é um segredo bem guardado. Tão bem guardado que nem os moradores da zona sabem que existe.
A geologia nasceu no Príncipe Real
Museu Geológico, uma coleção única no mundo
“A geologia não pode limitar-se às salas de aula”
Sentado numa mesa comprida, Miguel Ramalho recortava fotocópias coloridas sobre os primeiros homens. “Estou a preparar uma nova vitrina”, disse sorridente enquanto afastava os papéis. Ao fundo do escritório, um velho rádio preto dava a quarta sinfonia de Felix Mendelssohn. Nas estantes altas, amontoavam-se dossiers com etiquetas como “para ver” ou “para localizar”, entre dinossauros feitos de plástico e velhos glossários de geologia. Eram cinco da tarde, e o museu estava vazio.
Situado na Rua da Academia das Ciências, junto ao Café Flor da Selva, o Museu Geológico é um dos segredos mais bem guardados de Lisboa. No bairro do Príncipe Real, onde foi fundado na década de 1870, há até quem não saiba da sua existência. “Não há muitos portugueses que conheça o museu”, admitiu Miguel, diretor pro bono há oito anos. “Aliás, às vezes encontro aqui pessoas do bairro que me dizem: ‘Imagine! Moro aqui há 20 anos e não sabia!”
O museu está aberto de segunda a sábado, das dez da manhã às seis da tarde. Entre uma e outra hora, pouco muda no seu interior. “Costumam ter cá muita gente?” A segurança, uma das poucas funcionárias, encolheu os ombros. “É mais turistas.” Mas as contas da direção são outras. O Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG), que gere o museu, garante que cerca de 70% dos visitantes são portugueses, que costumam aparecer já perto do final da tarde e aos fins de semana. Isto se conseguirem estacionar. “Estamos em pleno coração da Lisboa antiga, em que os arruamentos são estreitos e o estacionamento é muito difícil. Essas coisas pesam muito”, garantiu Miguel Ramalho. “Mas não pretendemos ter aqui multidões — pretendíamos era que o museu fosse mais conhecido.”
E razões não faltam. Nos corredores estreitos, em armários e vitrinas, estão armazenados milhares de fósseis, rochas e minerais, colhidos ao longo de várias décadas por geólogos portugueses e estrangeiros. Ao todo, são mais de quatro mil. E não faltam pequenos e grandes tesouros, como o crocodilo gigante de Chelas, o hipopótamo de Condeixa-a-Velha ou os fósseis quase microscópicos das cobras mais antigas do mundo. Para as dezenas de especialistas que o visitam todos os anos, a importância do Museu Geológico é inquestionável. Mas a maioria dos portugueses parece desconhecer o que escondem as paredes do antigo Convento de Jesus.
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