24/02/2006

O Capitólio na lista dos monumentos ameaçados

Foi com muito interesse que lemos no PÚBLICO uma notícia [na edição de 22 de Fevereiro] da intenção da vereadora do urbanismo da Câmara Municipal de Lisboa, Gabriela Seara, em preservar o Capitólio (1931) no Parque Mayer. No entanto lamentamos que não tenha sido feita qualquer referência ao facto de o Capitólio estar presente na lista bienal da World Monuments Watch - 100 Most Endangered Sites de 2006.

A selecção do Capitólio foi anunciada em conferência de imprensa na sede da World Monuments Fund (WMF) em Nova Iorque no passado dia 21 de Junho de 2005. Um painel de peritos mundiais da área da conservação (UNESCO, Icomos) seleccionou os 100 monumentos depois de analisar 334 candidaturas de todo o mundo.

A WMF é uma organização privada, líder mundial na preservação do património. Desde a sua fundação, em 1965, já trabalhou na salvaguarda de mais de 400 monumentos em 83 países - incluindo Portugal. Esta selecção representa uma chamada de atenção e uma oferta de ajuda da comunidade internacional. Naturalmente, a WMF está a convidar-nos a preservar e a devolver o Capitólio a Lisboa, a Portugal.

O restauro desta importante obra da arquitectura portuguesa coloca muitos desafios - o seu estado de conservação é de facto muito grave. Mas seria um erro fecharmo-nos na crença de que o restauro do Capitólio é "quase impossível". É importante salientar que a WMF só selecciona monumentos para a sua lista quando acredita que a sua recuperação é viável.

O sucesso da recuperação de obras-chave da arquitectura moderna do século XX tem provas dadas em muitas cidades europeias: desde o exemplo do município de Barcelona que reconstruiu o Pavilhão Mies Van Der Rohe (1929) entre 1983 e 1986 ( www.miesbcn.com) até à pequena cidade inglesa de Bexhill que concluiu em 2005 o restauro do primeiro grande edifício modernista do Reino Unido, o De La Warr Pavilion (1935) / (www.dlwp.com).

Tendo em consideração estes bons exemplos de restauro de grandes obras do início do Movimento Moderno, a recuperação integral do Capitólio - e nunca apenas a fachada - apresenta-se para nós como uma prioridade. O restauro do Capitólio deve ser uma condição central de qualquer projecto de intervenção para o Parque Mayer, independentemente do proprietário ou do arquitecto responsável.

A integração do Capitólio na lista dos 100 monumentos mais ameaçados do mundo tem um significado claro: a WMF acredita que o seu valor histórico e cultural justifica o esforço conjunto de todos no sentido do seu restauro. A WMF e o Grupo de Trabalho "Cidadãos pelo Capitólio" estão confiantes que a CML vai reflectir e integrar o projecto de restauro integral do Capitólio no plano geral de intervenção para o Parque Mayer.

Fernando Jorge

2 comentários:

Anónimo disse...

"Mas seria um erro fecharmo-nos na crença de que o restauro do Capitólio é "quase impossível"."

sim....seria um erro mesmo, pois NENHUM edifíco que se mantem de pé
por as suas próprias estruturas, é
impossível de restaurar.

JA

Anónimo disse...

1 -A CML procedeu, entre 2003 e 2005, a importantes intervenções de conservação e restauro em monumentos sedeados nos bairros históricos da cidade;
2 - A mesma Câmara com oura vereação autorizou a demolição da casa Garrett em 2006;
3 - O Capitólio está classificado como imóvel de interesse público o que significa que o proprietário, neste caso a CML, é obrigada a proceder à sua recuperação.
Como a autarquia tem dois pesos e duas medidas, todo o cuidado é pouco. Felizmente que há o alerta da WMF.
Aguardemos pelas cenas dos próximos capítulos.
josé rocha