10/04/2006
Agência Europeia de Segurança Marítima no Cais do Sodré: mais um obstáculo à fruição pública do rio
No seguimento de notícias relativas à instalação da Agência Europeia de Segurança Marítima (AESM) e do Observatório Europeu da Droga e Toxicodependência (OEDT) em edifícios a construir nos terrenos à beira do Tejo, entre o Cais do Sodré e a Ribeira das Naus, junto ao relógio que dá a hora oficial em Lisboa, cumpre-nos comentar e sugerir o seguinte à CML e ao Governo:
1. Apesar de ser uma boa notícia a vinda para Portugal da AESG, não será uma boa notícia para Lisboa a sua instalação naquele espaço, juntamente com o OEDT, de acordo com o projecto divulgado. Será um excelente negócio para o Porto de Lisboa, já que a APL irá arrecadar, durante um período mínimo de 25 anos, qualquer coisa como 37 mil contos/mês pelo arrendamento a ambos os organismos dos futuros edifícios, mas representa o atropelo ao usufruto pelo público da zona ribeirinha da antiga Ribeira das Naus, acessível há seis décadas, desde a abertura da Av. Ribeira das Naus.
Tal como consta das respectivas maquetes (ver projectos polémicos), os edifícios, tal como acontece com o novo terminal do Cais do Sodré, ocuparão espaço que deveria manter libertado para fruição pública, de acordo, de resto, com uma tradição já antiga.
Em especial, o edifício projectado para a Agência Europeia de Segurança Marítima, de acordo com a maquete, passará a ser mais um obstáculo à circulação do público à beira-rio, a juntar ao que representa o novo terminal fluvial. Não vemos nenhuma razão para que o edifício tenha de estar naquele sítio, uma vez que há espaço suficiente para recuá-lo em direcção à Av. Ribeira das Naus, mantendo livre o passeio à beira-rio. Para além disso, verificamos que o projecto divulgado é omisso em relação ao estacionamento das centenas de funcionários europeus que aí trabalharão, e ficamos apreensivos com a possibilidade de que o espaço disponível na zona seja ocupado com mais um parque de estacionamento, tendo em conta as conhecidas dificuldades de construção subterrânea naquela zona.
2. Pensamos que, uma vez que se anuncia como sede temporária da AESM a zona da antiga Expo, até que os novos edifícios estejam prontos, será melhor que por lá fiquem, uma vez que se trata de uma zona já urbanizada, e portanto, onde será inexpressivo o impacto visual e logístico de mais um novo edifício. Em alternativa, sugerimos que o OEDT continue nas instalações que ocupa presentemente em Santa Apolónia, e que a AESM seja instalada no Cais do Sodré nas instalações previstas para o OEDT.
3. Mais valia, portanto, que as entidades que nos governam se preocupassem em reparar de vez o relógio da hora oficial, que ainda há dias se mantinha avariado, com um cartaz no mostruário que dizia, qual anedota, "em reparação", e em recuperar o tão degradado jardim-passeio entre o Terreiro do Paço e o Cais do Sodré.
Paulo Ferrero, Pedro Ornelas e Júlio Amorim
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