04/10/2007

CML pede contas à Fundação Champalimaud

In Público (4/10/2007)
Ana Henriques

«Leonor Beleza negociou construção de centro de investigação à beira-rio em Pedrouços com porto de Lisboa, mas autarquia quer ter uma palavra a dizer

O presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, chamou ontem Leonor Beleza para almoçar com ele e com vereadores das restantes cores políticas. Objectivo do repasto: saber pormenores sobre a instalação da fundação Champalimaud em Pedrouços, à beira-rio, aparentemente decidida sem que a autarquia tenha sido consultada sobre o assunto.
Apesar de a futura construção de um centro de investigação em neurociências e na área do cancro, bem como de um hospital de dia, ter sido noticiada há seis meses, na sequência de negociações entre a administração portuária e a fundação gerida por Leonor Beleza, foram vários os autarcas que ontem se mostraram surpreendidos com o facto, que tem como pano de fundo uma guerra antiga.
Há muito que a câmara lisboeta reivindica a gestão das zonas ribeirinhas desafectadas da actividade portuária, queixando-se de que os administradores do porto aqui cortam e riscam sem dar cavaco à autarquia, licenciando novas construções. António Costa frisou ontem que desde 1999 que os licenciamentos de obras nas zonas não portuárias da cidade, como é o caso dos terrenos da Docapesca, em Pedrouços, competem à autarquia.
O vereador Carmona Rodrigues, que foi informado das intenções da fundação quando era presidente da câmara, no anterior mandato, explicou que o projecto pertence ao arquitecto de origem goesa Charles Correia, que concebeu um equipamento do género para o Massachusetts Institute of Technology. Os seus planos para Pedrouços consistem num edifício de dois andares acima do solo e os restantes pisos enterrados, a construir na zona onde hoje existe uma escola de pesca, inserido numa nova zona verde de acesso público com um anfiteatro aberto para o rio. "Tipo Gulbenkian", sintetizou o autarca. Em troca da cedência dos terrenos pela administração portuária a fundação poderá oferecer cursos e bolsas de investigação, acrescentou. "O Governo gostaria que tudo ficasse pronto até às comemorações do centenário da República", ou seja, dentro de dois anos.
A instalação da fundação na cidade é consensual entre os vereadores, muitos dos quais defendem no entanto a sua integração num plano de ordenamento da frente ribeirinha, e não o seu crescimento avulso à beira-rio em jeito de facto consumado, como parecia estar prestes a suceder.»

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