In Público (9/6/2008)
Catarina Prelhaz
«No projecto era um prédio para habitação e comércio na Avenida dos Estados Unidos da América, em Lisboa, 7190 m2 de construção e três andares de altura, no terreno é um condomínio de contentores de obras habitados sobranceiro a um buraco por onde escorrem esgotos ao ar livre e ziguezagueiam ratazanas e mosquitos.
Buraco? Qual buraco? Na Av. dos Estados da América, não há um buraco, há uma cratera, atira Francisco Matos, 71 anos. A frase até já se tornou ditado entre os moradores locais, que há três anos esperam uma solução para os despojos de uma obra vizinha embargada pela autarquia.
À vista e aos cheiros que a vala com cerca de três metros de profundidade emana, juntou-se há cerca de mês e meio outro motivo de preocupação: as águas que se vão acumulando no terreno abandonado engoliram a entrada principal de dois prédios contíguos, obrigando os cerca de 120 moradores a entrarem pelas traseiras. Ao todo, têm de subir 21 degraus, quer carreguem sacos, carrinhos de bebé ou 95 anos nas pernas.
E se houver um incêndio? Como será? Os carros dos bombeiros não podem estacionar em lado algum. E se as águas que se vão acumulando a céu aberto fizeram isso à nossa entrada, imagine-se então o que não estarão a fazer às nossas fundações. Queremos que a câmara arranje isto já, adverte Francisco Matos, morador na zona há 43 anos.
António Barradas, 84 anos e porteiro de um dos edifícios afectados há 37, também censura a da autarquia. Isto é uma miséria. A Polícia Municipal veio cá e limitou-se a vedar a entrada dos nossos prédios e a câmara até hoje não fez nada. Os moradores são maioritariamente idosos até temos uma senhora com 95 anos que sempre gostou de vir dar o seu passeio à rua e muitos não podem sair de casa, porque não conseguem subir e descer estas escadas.
A empreitada abandonada não ameaça apenas os vizinhos dos lotes contíguos. Os três contentores das obras deixados no local assenhorearam-se do passeio e as centenas de pessoas que por ali circulam diariamente são obrigadas a fazê-lo em plena faixa de rodagem da Av. dos Estados Unidos da América. O que estão a permitir é um atentado à vida de todas as pessoas e não apenas dos que cá vivem: certamente não faltará muito para que tenhamos um atropelamento mortal, alerta Francisco Matos.
A segurança de todos está ainda ameaçada pela deficiente vedação da vala. Como é que os inquilinos dos contentores entram e saem? Fácil: desviam o gradeamento como quem abre uma porta, explica António Barradas minutos antes de uma criança da vizinhança fazer o mesmo noutra ponta do perímetro para ir resgatar uma bola.»
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